AINDA O NOSSO TEATRO!
Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira n.º 33 – Patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia
Você já pensou se acordasse amanhã e soubesse que trocaram o nome de Petrópolis, da sua cidade querida? Que susto você levaria. Por que outro nome?
Em seguida, viriam as justificativas. Não nos interessam os “porques”. Que volte o nome antigo. Que se restabeleça o equilíbrio das coisas. Uff! Ainda bem que isso não aconteceu. Foi apenas um susto.
Já dizia Shakespeare – What is in a name? De fato, o que há num nome que nos faz tão possessivos por ele?
Quando nascemos nosso nome é escolhido por nossos pais. Passamos a responder por ele, ainda sem avaliar quanto nos será caro. Não gostamos nem quando os descuidados nos chamam provisoriamente por outro nome… Você mesmo vai moldando o nome que lhe deram, com suas habilidades, com sua inteligência, com sua simpatia enfim, com sua vivência e dele nunca vai querer se desligar.
Imagine você mais velho, saindo de uma clínica estética, depois de uma grande plástica para remoçar e quando saísse lhe mudassem o nome, um nome novo que combinaria melhor com sua nova aparência. Como você protestaria… Surgiriam as justificativas – sempre as há – mas nada justifica a mudança do nome original.
É o que está acontecendo com nosso Teatro Municipal… Está fazendo 70 anos. Passou por uma grande operação ou em linguagem técnica, por uma restauração completa. Nesse momento que a administração se empenha em devolver para a cidade o teatro que jazia abandonado, sugere, andando na contramão da Preservação, a mudança do seu nome.
Resolução tomada em cima de justificativas inconsistentes. Fossem elas consistentes também haveria protestos. É o que estamos vendo na cidade. São artigos de jornais, protestos e principalmente discordância da Preservação, que hoje já é Ciência e que diz: – preservar é guardar todos os valores herdados do passado. Não interessa restaurar um prédio histórico se lhe tiramos o que ele têm de mais precioso que é o nome.
Infelizmente, no Brasil ainda vivemos mudando o nome das coisa, sejam elas edifícios, ruas ou praças. Assim nunca resgataremos completamente o passado.
Ainda bem que o povo de cidades tradicionais como a nossa tem sensibilidade. Somos uma Cidade Imperial. Há que conservar os nomes imperiais que herdamos. Por isso mesmo, através do Instituto Histórico, mudamos o antigo nome de nossa rua principal de Av. 15 de Novembro que a República lhe deu, para Rua do Imperador, nome que já era seu e que pegou no mesmo momento. Diferentemente quando mudaram o nome da Piabanha para Presidente Kenedy, ou da Av. Ipiranga para Getúlio Vargas e outros mais, tais nomes não pegaram na língua do povo.
Temos a pretensão de Petrópolis ser um dia Patrimônio Universal. Só seremos se soubermos preservar e em preservação não se mudam os nomes…. eles seguem como os bens herdados.
Se há a intenção de procurar as cores originais do prédio para trazê-las de volta, porque não o nome que é muito mais importante do que qualquer colorido encontrado?
Na discussão presente – se mantém o nome ou se batiza de nome novo – houve um árbitro final que me emocionou. Foi o próprio Teatro. Vi pela televisão que ao descascarem as tintas antigas (diga-se de passagem, um trabalho meritório) encontraram o monograma do teatro: Teatro Pedro II. Os Irmãos D ‘Angelo quando o doaram a cidade que tanto amavam, certamente queriam ter seu nome registrado para que não fosse esquecido… e agora a própria massa fria de concreto aparente renasce do esquecimento pedindo: “já tenho um nome, Teatro Pedro II. Fui batizado no dia 2 de janeiro de 1933. Chamem-me por meu nome, por favor”!
Parece-me, que como outros, o novo nome não vai pegar. Voltaremos às raízes eternizadas no concreto.