Alceu Amoroso Lima e Petrópolis

Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe

O Instituto Histórico de Petrópolis sempre reuniu, em seu quadro, pessoas identificadas com o propósito de contribuir para a história do Brasil e, especialmente, de Petrópolis. Uma dessas figuras foi o escritor carioca Alceu Amoroso Lima, eleito membro em 1940 e elevado à categoria de sócio honorário em 1943.

A sua ligação com a cidade começou cedo, desde 1894. Seu pai, Manoel José Amoroso Lima, foi fundador da Fábrica de Tecidos Cometa, que fornecia recursos econômicos e sociais à cidade. Em 1918, dr. Alceu assumiu a sua direção e nesse mesmo ano casou-se com Maria Teresa, filha do industrial Alberto de Faria, proprietário da Casa do Barão de Mauá, onde passou longas temporadas na residência, convivendo com seu cunhado Afrânio Peixoto, que escreveu a crônica “Hino a Petrópolis”, publicada na revista O Espelho (1935).

Nesse mesmo ano de 1935, dr. Alceu publicou o artigo “A obra cultural de Pedro II” na citada revista:

“Sendo um homem que sempre possuiu uma verdadeira obsessão de estudar, nunca deixou de fazer a sua pátria aproveitar dessa cultura […]. Tudo, em Pedro II, terminava no Brasil.”.

No ano seguinte, escreveu a crônica “A lição de Petrópolis”:

“o perfil estudioso de Pedro II, que compreendeu a tua alma profunda e sentia a sua alma, vacilante ao apelo das sereias de seu tempo, afinada no fundo pela tua”.

E aqui, plagiando o próprio dr. Alceu, podemos dizer: Tudo, em Alceu, terminava no Brasil.

Dr. Alceu visitou o Museu Imperial, antiga casa de verão de D. Pedro II, em 12/02/1944, e deixou a sua assinatura no livro de ouro. No mesmo ano, visitou a Biblioteca Municipal onde registrou:

“Petrópolis é um refúgio no Brasil agitado de hoje. Esta Biblioteca um refúgio dentro de Petrópolis”.

Colaborou não só com essas instituições fazendo valiosas doações de livros, mas, também com outras, como foi o caso da biblioteca do Bogari Club. Um fato pouco citado e conhecido é que Alceu, eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1935, ali exerceu o cargo de bibliotecário.

Além do Brasil e de Petrópolis, dividiram outra paixão: os livros. Eram leitores vorazes. O imperador montou três bibliotecas em São Cristóvão, com um total de 60 mil volumes.  Não foi diferente com dr. Alceu, que também formou uma preciosa biblioteca com mais de 20 mil volumes, hoje à disposição do público no Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, que funciona na casa localizada na rua da Mosela nº 289, onde o escritor viveu até 1983, quando faleceu no Hospital Santa Teresa fundado por D. Pedro II.

Alceu acolheu e foi acolhido pela cidade. Em 1973, recebeu o título de “Cidadão Petropolitano” pelos bons serviços prestados ao Município. Participou da vida da cidade. Frequentou diariamente a agência dos Correios, participava assiduamente da primeira missa na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, jantava com frequência no restaurante Copacabana e jogava tênis no Clube Petropolitano. Dentre outras instituições, contribuía mensalmente com a Associação Amigos dos Meninos Cantores de Petrópolis.

O imperador e dr. Alceu não só desfrutavam dos encantos de Petrópolis, mas preocupavam-se com a cidade. Em 1942, dr. Alceu escreveu:

“A proximidade do Rio, a magnífica estrada, o aumento e a rapidez dos meios de locomoção vêm trazendo à nossa velha cidade, ao menos durante o verão, os elementos mais perigosos para o desvirtuamento de sua natureza.
É de experiência imemorial da humanidade que as cidades se corrompem como os homens, que as cidades nascem, vivem e morrem, como os homens.
Ora, uma cidade que perde o seu caráter, é uma cidade que se suicida.”