Este provérbio latino é geralmente empregado quando se quer dizer que, por mais importante que seja a fonte de uma citação, deve-se antes de tudo buscar conhecer e aderir-se à Verdade. Platão foi figura ímpar na Filosofia grega mas, nem por isso, devemos acatá-lo indiscutivelmente. A verdade é o que vale. Às vezes. Platão podia não estar com a razão, isso sendo assim com todos os filósofos. Na História, tenta-se obter a verdade através da documentação fidedigna – sobretudo textual – mas também, em grande parte, naquilo que um dos historiógrafos franceses modernos costuma denominar “documento-monumento”, i.e., uma fonte relacionada à mentalidade dos homens da época histórica do fato em questão, resultando em fator imprescindível de análise mais criteriosa e menos anacrônica da História. Deve-se tentar “filtrar” na interpretação da História visões ideológicas inflamadas, expressadas muitas vezes o mais banalmente possível, como por exemplo em minúsculos programas de televisão, em filmes da indústria de cinema e mesmo em opiniões avulsas de professores. É muito comum em nossos dias transmissores de calúnias soltarem afirmações das mais absurdas, como se falassem “ex cathedra”, principalmente quando querem deslustrar – por falta de patriotismo e sentimentos do gênero – as grandes figuras do nosso Brasil-Império, nossos ícones sagrados.
Um deles é naturalmente D. Pedro I, o Fundador do Brasil! Houve quem o chamasse de traidor!!! Traidor? E por que? Porque teria pago com nosso dinheiro a dívida de Portugal à Inglaterra? É fácil abrir a boca e chamar alguém de traidor, jogando um fósforo em palha seca para fazer um incêndio, pois a “palha seca” é, infelizmente, a ignorância de nosso Povo, que a República se encarregou de promover. É fácil acusar gratuitamente, sem explicar o contexto histórico.
Depois do gesto de “panache”, quase quixotesco, às margens do Ipiranga (7 de Setembro de 1822), foi que o Imperador D. Pedro I, nos seus 9 anos de reinado, propriamente elaborou a nossa Independência: criando um Governo brasileiro, organizando a Marinha e o Exército Imperiais, outorgando uma Constituição, em 1824 – considerada por muitos juristas um verdadeiro “primor” -, expulsando as tropas portuguesas e conseguindo diplomaticamente o reconhecimento internacional da soberania do Império do Brasil, principalmente pelas grandes potências do Velho Continente.
Uma vez contextualizada a Europa de então pelo Congresso de Viena (1815) e a Santa Aliança, não é difícil compreender que as grandes nações só reconheceriam nossa Independência depois que Portugal o fizesse. O que fazer então? Bater às portas de Lisboa? Inútil. Não por causa do pai de D. Pedro, o já idoso Rei D. João VI, de boa-memória em nossa História pátria, mas sim devido à rarefeita visão política dos novos governantes da Monarquia Constitucional portuguesa, burgueses recém-alçados às decisões da Política Internacional. Como então conseguir o reconhecimento diplomático, fundamental, para a nova Nação? Aí surge a sagacidade de nosso primeiro Imperador, reconhecida herança paterna. Se a questão era contar com o apoio de um “grande”, que se batesse às portas de Londres! Os ingleses, que tinham sempre gozado de privilégios alfandegários no Brasil português agora, no Brasil livre, os tinham perdido. Não seria uma boa ocasião de recuperá-lo, atendendo às solicitações do Imperador do Brasil, a fim de que a Inglaterra “forçasse um pouquinho”, utilizando-se de seu prestígio junto ao Reino lusitano, este reconhecimento? Claro que sim! Londres envia o Embaixador Stuart às Cortes de Lisboa, o qual tudo consegue. Contudo, Portugal tinha a sua honra a zelar. Reconheceria a Independência do Brasil, mediante as seguintes condições:
1 – Dinasticamente, D. João VI cederia os direitos de reinar como Imperador do Brasil ao seu filho e herdeiro, ainda que resguardando para si a condição de Imperador Titular até a morte;
2 – O Brasil pagaria a dívida de Portugal à Inglaterra.
Sabe-se que aceitos esses pré-requisitos por Sua Majestade Imperial o Senhor D. Pedro I, o Tratado de Reconhecimento finalmente saiu, em 1825, pondo um ponto final acerca do futuro do Brasil soberano e independente. Quanto à questão financeira é bem verdade que os cofres brasileiros ficaram vazios… mas e daí? Bastaram alguns anos para que o Império se reconstituísse econômica e financeiramente. Quase todas as Nações européias iniciaram atividades comerciais com o Brasil e logo os nossos portos estavam lotados de navios, importando e exportando… Grandes negócios foram feitos! Em pouco tempo, o Tesouro Nacional já tinha tanto ouro quanto aquele que “pagara” o nosso reconhecimento. E no 2º Reinado, como é bem sabido, o Brasil-Império pôde ser considerado um país rico, sob vários aspectos com paridade de condições a muitos dos “países de 1º mundo da época”!
Dito isto, puderam notar os leitores o quanto é perigoso sair acreditando em opiniões pseudo-intectualizadas nascidas de espírito profundamente antipatriótico? Viram como conhecendo-se o contexto histórico e evitando o anacronismo, tudo muda de figura? Outros caluniados ou desmerecidos ultimamente têm sido o Imperador e Rei Senhor D. João VI – mostrado no filme “Carlota Joaquina” como um abobalhado -, o Imperador Senhor D. Pedro II – como no filme “O Imperador e o Rei”, sobre o Barão e Visconde de Mauá, lançado recentemente, onde se esquecem até de dizer que os Reis são as Fontes de Nobreza e que, portanto, os títulos de Irineo Evangelista de Souza provinham do “débil” D. Pedro I (!!!) -, a Princesa Imperial Senhora D. Isabel – ultimamente acusada até de não ter tido a menor participação no processo de Abolição da Escravatura – o Príncipe Senhor Conde d’Eu e tantos outros…
Por fim, só mesmo fazendo nossas e de todos os verdadeiros brasileiros a célebre prece de D. Pedro II: que Deus realize Sua Justiça na voz da História! E que tais torpezas nunca mais se repitam!