ANTECEDENTES E A CRIAÇÃO DA IMPERIAL COLÔNIA ALEMÃ

Paulo Roberto Martins de Oliveira, Associado Titular, cadeira nº 10

Sinto-me honrado pelo convite simultâneo do Clube 29 de Junho e do Instituto Histórico de Petrópolis, para que num roteiro de recordações históricas, possamos lembrar e homenagear os pioneiros colonos alemães de Petrópolis. A viagem, a chegada e os primeiros tempos da Imperial Colônia Alemã.

Ilustres historiadores deixaram-nos registrados em livros e publicações diversas o fruto de suas pesquisas. Hoje, para percorrermos os mesmos caminhos da história, nos orientamos nestes preciosos trabalhos e ensaios, para darmos continuidade ao trabalho de nossos grandes mestres do passado. Portanto ouso a continuar ou a preencher alguns espaços através das minhas pesquisas.

Se pensarmos no tempo percorrido desde 1835, 10 anos antes da grande colonização até os dias de hoje, quando no próximo dia 29 completaremos 151 anos da fundação da Colônia, teremos uma resenha de fatos que transformaram-se em história. A história dos nossos colonizadores germânicos.

Antes dos alemães de 1845, houve uma grande movimentação de pessoas que Koeler e o Presidente da Província já consideravam como colonos: Os açorianos, que foram os primeiros, a seguir os alemães do Itamarati e outros de várias origens

Em 1835 a parte administrativa da Província do Rio de Janeiro era dividida em 4 seções. A que formavam a nossa região era a segunda, sendo o chefe o Major de Engenheiros Julio Frederico Koeler que pertencia ao corpo de Engenharia da Administração da Província. Abrangia esta seção os atuais municípios de Magé e Paraíba do Sul, além de parte de Vassouras, Iguaçu e Valença. Cobria a extensão desde o Porto da Estrela até o Rio Paraibuna, nos limites com Minas Gerais.

A única estrada que possibilitava a subida da serra era a calçada de pedra, não permitia veículo com tração animal por ser muito íngreme. Esta estrada era a principal via de comunicação entre a Corte e Minas Gerais. Foi dado a Koeler a incumbência de mantê-la em bom estado, conservando-a e de construir pontes por todo o interior para facilitar as tropas que iam e vinham com produtos agrícolas e minerais.

A princípio os trabalhadores das estradas eram os escravos que podiam ser alugados nas fazendas das imediações. Os fazendeiros nunca permitiam que eles ficassem longe da fazenda com medo de perde-los. Com a continuação das obras, sucediam-se turmas de escravos que não tinham tempo para especializarem-se.

O trabalho de recuperação das estradas era moroso e imperfeito, encarecia as obras e o tempo de conclusão era imprevisível.

Os chefes das seções precisavam de trabalhadores livres e pedidos já haviam sido encaminhados ao Presidente da Província em várias ocasiões.

Em 15.01.1836, formou-se na Corte uma Cia. denominada “Sociedade Promotora de Colonização do Rio de Janeiro, que instalou seus escritórios na Rua do Passeio e os depósitos para alojar os colonos no Largo da Lapa. Não havia necessidade de buscá-los na Europa, pois vinham em grande quantidade. A sociedade apenas pagava-lhes as passagens e as despesas da viagem, albergava-os e arranjava-lhes empregos. Fazia parte do Contrato de cada um as formas de pagamento da dívida.

Em agosto de 1836 colonos açorianos foram contratados para a construção da Ponte de Paraiba do Sul. Eram 70 famílias com cerca de 150 pessoas e entre diversos profissionais haviam canteiros, pedreiros, ferreiros e outros.

Os trabalhos de mão de obra livre eram boas e Koeler dava as melhores informações possíveis ao Presidente da Província.

Nesta época, o Porto do Rio de Janeiro era a passagem quase obrigatória para as embarcações que dirigiam-se ao Sul da África e Austrália com destino às Pocessões Inglesas.

Em 13.11.1837, aportou na Guanabara a barca francesa Justine que procedia do Havre após 65 dias de viagem. Trazia a bordo 238 passageiros germânicos que iriam para Sidney, na Austrália. Pararam no Rio de Janeiro apenas para reabastecimento, porém 235 ficaram e apenas 3 seguiram viagem.

Consta por alguns historiadores que a permanência desses alemães foi por maus tratos a bordo e por isso resolveram ficar. Com certeza ninguém sabe, pois não há qualquer documento que comprove. Acredita-se que tenha havido boa oferta pela Sociedade Promotora de Colonização e êles resolveram ficar.

Em 08.02.1838, Koeler conseguiu autorização do Sr. Paulino de Souza (Presidente da Província) para contratar 29 famílias de alemães do Justine e entre estas haviam 32 trabalhadores. Em 12 de março contratou mais alguns que, de imediato, foram trabalhar na Estrada da Estrela e ficaram acomodados ao longo da serra. Koeler viu então a necessidade de instalar estes colonos em local de clima mais adequado. Para tanto, entrou em contato com os donos da Fazenda do Itamarati e conseguiu a liberação de uma boa área de terras para instalá-los. A Colônia teve início em abril ou maio, estendendo-se até o mês de outubro de 1838, quando chegaram mais alemães, totalizando-se 51 famílias formadas por 147 pessoas.

Conforme dados pesquizados pelo historiador José Antonio Soares de Souza, em trabalho publicado no volume 322 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sob o título “A Estrada da Serra da Estrela e os Colonos Alemães”, havia as seguintes afirmaçõs: Desde março de 1838, estes alemães, trabalharam em vários pontos da estrada, sendo no trecho entre o Porto da Estrela e o Córrego Seco.

A mão de obra germânica era perfeita e rápida. Resignados sujeitavam-se a alimentos estranhos ao seu costume, acatavam as ordens e trabalhavam satisfeitos. Vale ressaltar que, os que trabalhavam na parte baixa da serra eram frequentemente atacados por moléstias. Porém tinham assistência permanente de Koeler que mandava-os para os hospitais da Província ou da Casa da Misericórdia da Fábrica de Pólvora.

Reinava boa administração e ordem na pequena Colônia. Em 14.03.1840, criaram uma escola de primeiras letras no Itamarati para os filhos dos colonos alemães. Em 12 de agosto, foi nomeado pelo Visconde de Baependi o Professor Conrado Leonardo Bitterman, com vencimentos anuais de trezentos mil reais.

O núcleo germânico tornara-se modelo e srugiam idéias para ampliar o número de colonos livres na Província, pois atenderiam melhor as obras públicas e também para aumento da população. Esta pequena Colônia, fez parte da história da Estrada da Serra da Estrela e foi justamente dos resultados obtidos desta experiência que nasceu a idéia para a Colonização alemã em Petrópolis.

A lei provincial n° 226 de 30.05.1840, por iniciativa do Presidente da Província do Rio de Janeiro, o Sr. Paulino de Souza, foi que possibilitou o contrato por intermédio da Casa Delrue aos Colonos de 1845.

O povoado de Petrópolis no início do ano de 1845, ainda que em quase toda a sua extensão fosse formada por mata virgem, já era um núcleo que começava a sua vida como sede da administração de importantes obras províncias. Com engenheiros, feitores, açorianos, alemães, trabalhadores livres e escravos. Nesta época Koeler movimentava-se com preparativos para receber os alemães contratados pela Presidência da Província do Rio de Janeiro, por intermédio da Firma de Charles Delrue e Cia de Dunquerque, Charles Vice-Consul do Brasil nesta cidade francesa.

O contrato eram de 600 casais. Porém mal interpretado pelo Vice-Consul, que mandou quase 600 famílias ultrapassando a casa de 2300 alemães entre casais com e sem filhos, solteiros e outros que vieram acompanhados até pelos avós.

A grande viagem que se inciou pelo Porto de Bremem na Alemanha, teve como escala uma demorada passagem pelo Porto de Dunquerque na França, onde desembarcados e pelos arredores do porto, já dava início a via-crucis.