ANTÔNIO MACHADO E CORRÊAS
Raul Lopes
Em alguns informes do I.H.P. aparecem como fonte textos de Antônio Machado. Afinal quem é esse personagem?
A velha casa da Fazenda do Padre Corrêa, várias vezes recuperada, transformou-se, em 1919, no Hotel D. Pedro II. Teve três proprietários: Stipen & Cia. até 1921; sucedeu-os Rocha & Cia. até 1923. A partir desse ano o novo proprietário foi Antônio Machado, um bem-sucedido comerciante de fumos no Rio de Janeiro. Ele veio para Corrêas em maio de 1922, em busca de um clima saudável que lhe proporcionasse a cura de uma tuberculose de segundo grau.
Como estalajadeiro e entusiasmado pela região, adquiriu a casa da Fazenda e os terrenos que ainda lhe pertenciam. Nas horas em que as folgas o permitiam começou a pesquisar a região e seus antecedentes. Vasculhou documentos familiares e arquivos oficiais, impressos e jornais de Petrópolis e Rio de Janeiro e testemunhas que ainda viviam pela região e conheciam ou participaram da história local.
Deve-se a Lourenço Luiz Lacombe a descoberta da monografia, não publicada, sobre Corrêas, elaborada por Antônio.
No prefácio do IV volume dos Trabalhos do Centenário de Petrópolis, Lacombe explica sua participação nessa descoberta, além de nos dar um perfil de Antônio Machado.
“Corrêas, agosto de 1939”.
“Um trabalho como este dispensa apresentação; ela está contida no próprio nome do autor: Antônio Machado. Um nome que é um símbolo. Ninguém melhor para escrever a história de Corrêas, da qual era conhecedor e apreciador como nenhum outro. E era exatamente de estranhar o fato de não haver publicado… Por isso, como quem encontra uma coisa muito procurada, deparei, inesperadamente, entre papéis seus, (a mim confiados pela gentileza cativante da Exma. Viúva Machado) com o manuscrito desta monografia. Eram perto de 150 folhas de almaço, onde se alinhavam coladas, corrigidas e anotadas as suas melhores crônicas referentes ao assunto.
À primeira vista pareceu-me um trabalho pronto para imprimir. Tanto que, com a devida vênia de sua Depositária, propus-me encaminhá-lo à Comissão do Centenário para a imediata publicação. Depois de um exame e leitura demorada, concluí carecer o trabalho revisão e anotações, dispondo-me logo a fazê-lo.
Quero explicar assim, qual foi minha colaboração, profanando esse trabalho de Machado, que ora sai impresso. Em primeiro lugar achei justo retirar o pseudônimo com o qual assinava o livro, substituindo-o pelo seu próprio nome. A seguir alterei um pouco a ordem dos capítulos, reunindo os assuntos um pouco dispersos. Como o livro fosse destinado a auxiliar a conclusão das obras da Capela de Corrêas, vinha o pseudônimo seguido apenas do seguinte título: “Da Comissão Construtora da Igreja de Nossa Senhora do Amor Divino”. De fato, foi Machado membro eficientíssimo da Comissão incubida de levantar a Igreja de Corrêas, neste trabalho despendendo o melhor de seus esforços, já despertando energias para essa cruzada de fé, já doando (e que doação!) o altar, a imagem e alfaias históricas da casa onde morava, incorporando assim, definitivamente, essas preciosidades ao patrimônio do lugar.
A cláusula “destinando-se todo o resultado pecuniário da edição a auxiliar a conclusão do interessante santuário” tornava impossível a publicação deste trabalho pela comissão do Centenário. A família Machado, por sua vez, não podia, no momento, correr os riscos de uma edição por conta própria. “Assim, num entendimento havido entre a Comissão do Centenário e a Exma. Viúva Machado, ficou resolvido o impasse: a desistência da cláusula ideada por Antônio Machado.
A obra manuscrita aqui apresentada traz a data de 1932; tornava-se por isso necessário atualizar certos pontos, o que foi feito, sem alterar em nada a feição do escrito.
Machado, um mestre da história petropolitana nunca publicou um livro! Deixou porém, colecionados seus trabalhos na imprensa, anotados e modificados, completando assim dois volumes, certamente esperando vê-los impressos. Impediu-lhe este sonho a morte prematura. Sai, por isso, seu primeiro livro, com sinais evidentes de profanação, o que, infelizmente, não pôde ser evitado. A obra, porém, não foi absolutamente alterada.”