ANÚNCIOS DE PERDAS DE ANIMAIS NOS JORNAIS DE PETRÓPOLIS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX

Pedro Paulo Aiello Mesquita, Associado Titular, Cadeira nº 5 – Patrono Ascânio Dá Mesquita Pimentel

 

Nos dias de hoje podemos encontrar em postes e muros alguns cartazes nos quais vemos fotos de animais domésticos que foram perdidos ou fugiram, sem contar nas atuais redes sociais, que se prestam também a esses reclames. Contudo, no século XIX a mídia escrita pode mostrar que esses anúncios também eram recorrentes, tal como o que se lê abaixo, publicado na Gazeta de Petrópolis em 04 de junho de 1892:

“CAVALLO FUGIDO: Fugio um cavalo escuro, está ferido na charneira. Quem dele der notícia ou o levar ao Quissamã, à casa de Hylário de Medeios, será gratificado.

Ou ainda, no mesmo jornal e data:

vaca-perdidaw

“VACCA PERDIDA. Acha-se uma, em Pedro do Rio, no pasto de Manoel da Cunha Guimarães: pede-se a quem se julgar seu dono, dando os signaes certos, ir reclamal-a do mesmo, no dito lugar, no prazo de trinta dias. Terminado esse prazo será vendida para o pagamento das despesas”

O que desperta interesse é o fato de não haver um endereço com nome da rua, número da casa e outras referências mais específicas. No lugar disso, vê-se uma pessoalidade ao se colocar diretamente o nome do proprietário, facilmente localizado e supostamente conhecido por todos no bairro, fosse no Quissamã ou em Pedro do Rio. Ao analisarmos o que escreveu Boudon, essa relação fica clara:

“Nas sociedades tradicionais, dada a natureza pessoal da interação, os atores podem apoiar-se no conhecimento efetivo que têm uns dos outros para decidirem-se sobre os compromissos recíprocos ou sobre modalidades das respectivas interações. Nas sociedades modernas o caráter impessoal das trocas leva a que os protagonistas tenham de recorrer a meios indiretos.”

Conforme dados disponíveis em Diégues Júnior, a população de Petrópolis girava em torno de 13 mil pessoas em 1890, tendo aumentado na razão de 1800 pessoas anualmente nos trinta anos seguintes, fazendo com que girasse em torno de 67.574 habitantes em 1920.

Esse crescimento é facilmente identificável com o desenvolvimento industrial da nossa cidade, culminando em expansão demográfica e urbana. Dessa forma, há uma “modernização” na estrutura social, possivelmente refletida na nova natureza desses anúncios de perdas de animais, que já se pode constatar na Gazeta de Petrópolis de 1902, conforme se lê abaixo:

cachorro perdido

“CACHORRO DESAPARECIDO: Da Avenida 7 de setembro, n.5, desappareceu um cão da raça Fox Terrier, com duas malhas, na testa e no corpo. Dá pelo nome de Jack, gratifica-se bem quem o levar a casa acima”.

A partir deste reclame, após alguns anos de rápido crescimento industrial, pode-se perceber a impessoalidade ao não mais se associar o animal ao nome do dono, mas sim ao endereço marcado por nome da rua e número da casa, aproximando-se do modelo que parece tão natural nos dias de hoje.

REFERÊNCIAS

BOUDON, Raymond. Verbete Ação. In: Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1995.

DIEGUES JÚNIOR, Manuel. Imigração, Urbanização e Industrialização. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas e Educação. 1964

GAZETA DE PETRÓPOLIS. 1890 a 1902. Arquivo Histórico de Petrópolis. Fundação de Cultura Raúl de Leoni.