ARTHUR CÉSAR FERREIRA REIS (PROF.) – IN MEMORIAM

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

Esta semana fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento do professor Arthur César Ferreira Reis, um dos mais expressivos valores da intelectualidade brasileira.

Nascido em Manaus, em 8 de janeiro de 1906, o professor Arthur César diplomou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da antiga Universidade do Rio de Janeiro e devotou toda a sua existência ao serviço público federal, às atividades culturais e ao magistério.

No serviço público foi superintendente da SPVEA, diretor de Expansão Econômica do Ministério do Trabalho, diretor do Departamento Nacional da Indústria, diretor do Departamento Estadual do Trabalho, de São Paulo, e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas, da Amazônia, funções que desempenhou com grande devotamento e competência.

Em 1964 integrou a delegação brasileira que participou, em Genebra, da Conferência Internacional de Comércio e Desenvolvimento, à qual compareceram representantes de 119 países.

A extraordinária competência adquirida no serviço público, aliada aos conhecimentos que possuía acerca dos problemas e necessidades de sua terra natal, contribuíram, sem dúvida, para que em 1964, mesmo não tendo qualquer filiação político-partidária, fosse eleito para o cargo de governador do Amazonas, em substituição ao sr. Plínio Coelho, cujo mandato fora cassado.

O professor Arthur César foi sobretudo um estudioso da História, tendo deixado um considerável acervo de livros, especialmente concernentes à Amazônia e à história pátria. Entre eles destacamos “A Amazônia e a Integridade do Brasil”, “A Amazônia e a Cobiça Internacional”, “Portugueses e Brasileiros na Guiana Francesa”, “O Ensino da História no Brasil” e muitos outros, aos quais se somam inúmeros artigos publicados em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras.

Sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, emprestou sua valiosa contribuição ao mesmo, não só integrando suas Comissões Permanentes, escrevendo artigos e proferindo conferências, como também sendo um dos responsáveis pela redação de sua revista especializada.

Ligado às atividades do magistério, sobretudo ao ensino universitário, o professor Arthur César lecionou por longos anos História da América, disciplina que conhecia como poucos, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade Católica de Petrópolis, à qual se referia sempre com grande afeição, não se cansando de ressaltar “o ambiente amigo, acolhedor e culto” que sempre desfrutou no seio de nossa instituição de ensino.

Como professor destacava-se por sua vasta cultura, sendo capaz de discorrer horas a fio sobre um determinado assunto, sem consultar qualquer tipo de apontamentos, numa linguagem fluente, rica e precisa.

Assim, é com profunda emoção que nos recordamos de suas aulas ministradas no Curso de História de nossa Universidade, pela riqueza de informações, pela profundidade com que analisava os fatos históricos e principalmente pelo entusiasmo com que as ministrava.

Nutrindo um particular encanto por Petrópolis, nunca deixou de participar de suas atividades culturais, proferindo palestras e escrevendo artigos para o Instituto Histórico de Petrópolis, do qual era sócio correspondente. Assim, no primeiro número da Revista do Instituto, encontramos a transcrição de uma de suas conferências, pronunciada naquela instituição cultural com o título “O Tratado de Madri – Antecedentes, Negociação e Execução”. Do mesmo modo, por ocasião das comemorações do centenário de instalação da Câmara Municipal de Petrópolis, proferiu, com raro brilhantismo, interessante palestra sobre o tema “Petrópolis, de núcleo colonial à unidade política”.

Como professor em nossa Universidade, infundiu no espírito de muitos jovens acadêmicos, que mais tarde se destacariam no exercício do magistério, o gosto pelos estudos e pesquisas, prestigiando deste modo com seus serviços as Faculdade Católicas Petropolitanas, nos primeiros anos de sua existência.

Sua morte, não há exagero dizer, abre uma lacuna no cenário cultural do país, muito difícil de ser preenchida, pelo muito que realizou no decorrer de sua longa existência.