BAUER E PETRÓPOLIS
Maria das Graças Duvanel Rodrigues
No dia 08 de junho de 2009 passei a fazer parte do Quadro Titular do Instituto Histórico de Petrópolis, IHP,ocupando a cadeira n.º 21 sob a patronímica de Gustavo Ernesto Bauer, um historiador descendente de imigrantes alemães.
Quando informada de tal distinção, busquei conhecer melhor a história de meu Patrono, por meio de informes biográficos, de seus próprios escritos e de um contato pessoal com sua filha Vera Bauer, que gentilmente colocou parte de seu arquivo documental a minha disposição para uma pesquisa.
Logo que comecei a inteirar-me das particularidades de sua vida, minha curiosidade e satisfação foram crescendo e instigaram-me a conhecer cada vez mais a trajetória desse admirável e significativo petropolitano.
Gustavo Ernesto Bauer nasceu em 23 de outubro de 1902 e faleceu em 27 de agosto de 1979. Era descendente dos primeiros colonos alemães que vieram, em 1845, para Petrópolis. Seus pais foram Ernesto Gustavo Bauer e Carolina Suzana Kling, seus avós Clemens Bauer e Catharine Judith Monken e seus bisavós Wilhelm Baur e Anne Marie Kaiser.
Bauer iniciou seus estudos no externato do professor Alberto Eckardt, à Rua Monte Caseros, n.º 549 e deu prosseguimento no Colégio São Vicente de Paulo que funcionou no Palácio Imperial, hoje Museu Imperial. Aprendeu a falar e a escrever fluentemente o alemão e conhecia bem o inglês e o francês.
Trabalhou como técnico em eletricidade e eletrônica no Banco Construtor do Brasil, responsável pelo fornecimento de energia elétrica e funcionamento dos bondes em Petrópolis. Posteriormente passou a trabalhar no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER onde, como chefe da Oficina de Petrópolis, desenvolveu alguns projetos científicos tais como o funcionamento do hológrafo terrestre com bússola eletrônica, montou os primeiros transmissores de rádio de longo alcance, desenvolveu um aparelho para pesquisas geofísicas e um sistema de segurança para prova de espoletas elétricas.
Viajou por três vezes à Alemanha, sendo a primeira em 1961 pelo DNER, para aperfeiçoamento técnico. Depois, em 1964 a convite da República Federal da Alemanha para um intercâmbio cultural e para proferir palestras em diversas instituições alemãs sobre os temas: colonização alemã e rodovias brasileiras. Na sua última viagem, em 1972, como nas duas primeiras vezes, levantou informações sobre a pátria de seus antepassados, as cidades das quais os imigrantes de Petrópolis eram oriundos, como também procurou descobrir as origens de seus ancestrais, de amigos e de famílias petropolitanas, como as de seus parentes: os Monken, os Nicolai e os Kling. Tornou-se portanto um especialista em genealogia, explicando as origens e a formação das famílias dos primeiros colonos que vieram para Petrópolis.
Nessas suas viagens, promoveu uma aproximação de Petrópolis com os centros culturais alemães, principalmente com os das regiões de Hunsruck, Mosel e Renânia, locais de origem dos imigrantes germânicos.
Bauer buscou passar seus conhecimentos adquiridos, realizando diversas palestras, conferências, seminários e até exposições sobre os temas: História e Rodovias, em instituições culturais da cidade, como ainda, escrevendo e publicando os livros “Rodovias e Histórias” editado pelo DNER em 1957 e “Plano de Luiz XV para conquistar o Brasil”.
Como grande empreendedor que foi, participou da organização do Museu Rodoviário em Paraíba do Sul, fundou a Rádio Clube de Petrópolis, a Cooperativa dos Rodoviários, a Associação dos Rádios Amadores, o Clube 29 de Junho, em 1959, que completou, em 2009, 50 anos de fundação. Além de sócio fundador, foi presidente do referido Clube que segundo Gustavo Ernesto Bauer deveria ser a exemplo da Federação dos Centros Culturais 25 de Julho de São Leopoldo RS, um local para “se reverenciar, pela prática da tradição, a memória daqueles que são os responsáveis pela nossa existência”. Seu propósito era sempre o de resgatar e manter a tradição cultural germânica em Petrópolis.
Em 29 de junho de 1981, o Clube 29 de Junho passou a realizar o “Festival Germânico” que, a partir de 1990, passou a ser denominado “BAUERNFEST”, nome sugerido por Liane Bauer, neta de Gustavo Ernesto Bauer. De acordo com Emygdia Hoeltz Magalhães Lyrio, atual presidente do Clube, “Passou a festa a chamar “Bauernfest” – Bauer = camponês, nome escolhido no gabinete do presidente da Petrotur em homenagem a Gustavo Ernesto Bauer, um dos fundadores do Clube 29 de Junho, criador do Museu “Casa do Colono” e grande historiador”. Cabe informar que a Petrotur era o órgão municipal de turismo na época e parceira na realização do evento. A “BAUERNFEST” se tornou uma festa tradicional que faz parte do calendário de eventos da cidade, ajuda a reativar as tradições culturais germânicas e atrai para Petrópolis grande público, ajudando a implementar o turismo.
Bauer demonstrava em toda oportunidade sua preocupação com o resgate da cultura germânica, pois ao apoiar a criação da Casa do Colono, preconizou que: “A futura “Casa do Colono” tem algumas características arquitetônicas, remanescentes de uma casa das margens do Mosela ou das aldeias de Kastellaun, ou Simmern”. Já sobre o Clube Excursionista do qual foi sócio afirmou “esta agremiação tinha por finalidade a prática do montanhismo e também a realização de conferências de fundo cultural em sua sede”.
Foi conselheiro do Museu de Armas Ferreira da Cunha; sócio do Instituto Histórico de Niterói, do Instituto Histórico de Petrópolis, do qual recebeu o título de sócio benemérito e sócio correspondente, do Instituto Histórico de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
Em diversas ocasiões recebeu condecorações, inclusive a “Medalha do Pacificador” outorgada pelo Ministério do Exército.
Gustavo Ernesto Bauer escreveu e publicou diversos artigos nos jornais de Petrópolis; “Tribuna de Petrópolis” e “Jornal de Petrópolis”, no jornal de Três Rios “O Cartaz”, no jornal de Portugal “O Correio da Serra” e no jornal da Alemanha “Hunsrücker Zeitung”. Na suas crônicas (em número de oito) intituladas “Conversa de Fantasmas” publicadas no Jornal de Petrópolis, em 1964, utilizou como personagem principal o professor Pedro Jacoby. Johann Peter Jacoby nasceu em 1816, na cidade de Coppel, Siméria, na Alemanha e chegou a Petrópolis em 1845, tendo se destacado na imperial colônia como professor, diretor de escola pública e também como guia evangélico da comunidade luterana. Pedro Jacoby era professor em sua terra natal antes de vir para o Brasil e aqui lecionou durante toda sua vida. Faleceu no dia 2 de abril de 1887. Nessas crônicas, Bauer vai narrando os encontros do referido professor com seus amigos imigrantes, em diversos locais da cidade de Petrópolis, explicando a origem familiar desses imigrantes, as regiões de onde provinham, suas formações profissionais e suas histórias. O autor desta forma mostrava como ficavam localizadas as praças, rios e quarteirões da colônia de Petrópolis de acordo com o planejamento de Julio Frederico Koeler. Essas histórias têm prosseguimento nas crônicas “A volta dos fantasmas”, escritas por Bauer posteriormente, em 1966 e 1967.
Percebe-se nestes e em outros escritos de Gustavo Ernesto Bauer tais como: “Entrevista com Árvores”, “Conversando com Árvores”, “Viagem ao Passado”, “Colonos, Córrego Seco e História”, “Praça da Confluência” e em inúmeros outros que Bauer, além da reverência por seus ancestrais, possuía uma cultura geral ímpar, que lhe permitia discorrer sobre a História Antiga, Medieval e Moderna como se naqueles tempos tivesse vivido. Alertava ainda para o cuidado e a preservação tanto dos documentos e monumentos como das florestas e mananciais, chegando a sugerir em seus escritos, a necessidade de conscientização do controle do desmatamento, da poluição e da utilização da água.
Seu último artigo (inacabado), escrito em agosto de 1979, intitulado “Começou a Névoa Seca” era um verdadeiro protesto contra as queimadas e a poluição, no qual mostrou o perigo do uso indevido de agrotóxicos e a necessidade da preservação do meio ambiente, tema, depois de trinta anos, tão em voga no Brasil e no Mundo.
Gustavo Ernesto Bauer recebeu por homenagem, ter seu nome numa rua do Loteamento São Sebastião, no Quarteirão Siméria, e num conjunto residencial no mesmo bairro. Foi retratado pelo famoso pintor Wim Van Dijk, cuja obra se encontra em exposição no Instituto Histórico de Petrópolis e deixou um arquivo de textos, crônicas e escritos que são verdadeiros estudos históricos, genealógicos e geográficos.
Esse ilustre petropolitano jamais poderá ser esquecido por seus trabalhos, onde deixou demonstrado que, além de um apaixonado pela História, cultura e tradição dos seus antepassados e dos imigrantes alemães, foi um apaixonado pela natureza e pela cidade onde nasceu.
Bauer foi um idealista, filósofo, pesquisador, historiador, escritor, botânico, ecologista, pacifista e um especialista em diversos assuntos, principalmente naqueles que tratavam da conservação das tradições, culturas, valores, equilíbrio do planeta e sobrevivência do próprio ser humano.
Os ensinamentos deixados por Bauer levam a reflexões e servem de motivação para uma busca maior do aperfeiçoamento físico, natural, material, moral e espiritual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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OLIVEIRA, Paulo Roberto Martins. Cem anos do nascimento de Gustavo Ernesto Bauer. Jornal de Petrópolis, ano 5-nº 315, 14-20, dezembro 2002, p3.
______________________________Biografias. Gustavo Ernesto Bauer In Clube 29 de Junho, 150 anos da colonização alemã, 1845-1995. IPAG-Escola Empresa, Petrópolis, RJ, 1995, p 68-69.
KRÜGER Maria das Neves F. L. Gustavo Ernesto Bauer In Patronos do IHP, Informes biográficos. 59 anos: 1938-1997. ALVES NETO, Jeronymo Ferreira (Org) Editora Gráfica Serrana, Petrópolis, RJ. 1999, p. 80-82.
CARVALHO, Áurea M de Freitas. O Instituto Histórico quer ser a memória de Petrópolis. Tribuna de Petrópolis 22 de maio 1981, p 3.
LACOMBE, Lourenço Luis. Necrológio – Sócios Falecidos em 1979, Gustavo Ernesto Bauer. Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, 1979, p. 75-77.
FROES, José Kopke. Os Bauer, Uma Família Petropolitana. In Memorian de Gustavo Ernesto Bauer. Jornal de Petrópolis, 25 novembro 1979, p. 3.
BAUER, Gustavo Ernesto. Conversa de Fantasmas. Jornal de Petrópolis, setembro – outubro de 1964, s/p.
_______________________Colonos, Córrego Seco e História. Jornal de Petrópolis, 25 dezembro 1973, s/p.
_______________________A volta dos Fantasmas I. Jornal de Petrópolis, 25 novembro 1966, s/p.
_______________________A volta dos fantasmas II. Jornal de Petrópolis, 29 junho 1967, s/p.
_______________________Uma Escola Petropolitana em 1862. Jornal de Petrópolis, s/d.
_______________________Colonos Originários de Simmern. s/d, s/p.
_______________________Entrevista com… árvores. Tribuna de Petrópolis, Segundo Caderno , 20 setembro 1959, 1-2 p. 8 outubro 1959, s/p.
_______________________Conversando com… árvores. Tribuna de Petrópolis, Segundo Caderno, 4 novembro 1959 s/p, 1960 s/d, s/p.
_______________________Viagem ao Passado. Tribuna de Petrópolis, maio 1959 p 1ª e 6.
_______________________Praça da Confluência. Tribuna de Petrópolis, 31 maio 1960, s/p
_______________________29 de Junho de 1845, Tribuna de Petrópolis, 19 de junho 1960, s/p.
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_______________________Eschwege. Tribuna de Petrópolis. 17 setembro 1960.
_______________________Caminhos e Estradas Geografia dos Transportes. Tribuna de Petrópolis março 1960, s/p
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_______________________Recordação dos Velhos Tempos, Discurso em nome do Clube 29 de Junho, Tribuna de Petrópolis, 24 fevereiro 1959
_______________________Genealogia Kling – Dupré, Tribuna de Petrópolis, 14 e 17, maio 1961, s/p.
_______________________Água. Jornal de Petrópolis, 23 agosto 1953.
_______________________Começou a Névoa Seca. agosto 1979 (artigo inacabado), arquivo particular da Sra. Vera Bauer.