BIBLIOTECA MUNICIPAL: PRESERVAÇÃO E ACESSO

Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, cadeira nº 28 –

O acesso e a preservação são duas funções vitais dos Centros de Documentação, mas muitas vezes são antagônicas. A primeira entendida aqui como a possibilidade de consulta, como resultado da existência de instrumentos de pesquisa e a segunda como um conjunto de atividades envolvendo o acondicionamento,o armazenamento,a conservação e a restauração de documentos. Ainda, esclarecendo esses conceitos lembramos que:

acondicionamento = embalagem destinada a proteger os documentos e a facilitar seu manuseio.

armazenamento = guarda de documentos em mobiliário ou equipamentos próprios, em áreas que lhes são destinadas.

conservação = conjunto de procedimentos e medidas destinadas a assegurar a proteção física dos documentos contra agentes de deterioração.

restauração = conjunto de procedimentos específicos para recuperação e reforço de documentos deteriorados e danificados.

E como andam estas questões na Biblioteca Municipal de Petrópolis? Bem , na semana passada, pesquisando no Diário de Petrópolis de 30 de agosto de 1987, portanto há 10 anos atrás, um artigo me chamou atenção, Biblioteca Municipal dá um passo gigantesco na sua história. Tratava-se da assinatura de um convênio da Biblioteca com a Fundação Nacional PróMemória, integrando-se no Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros, criado em 1978, que tinha como objetivo principal a identificação, a localização, a organização, a preservação e a divulgação dos periódicos editados no Brasil.

No mesmo artigo, a então bibliotecária Yedda Maria Lobo Xavier da Silva diz que o primeiro lote compreenderia todos os jornais editados em Petrópolis no século passado (de 1857 a 1900), e que depois deste todos os outros periódicos seriam também microfilmados.

Infelizmente, após quase 10 anos, constatamos que foram microfilmados apenas os jornais deste primeiro lote.

Outra vez fico surpresa, quando solicito o primeiro exemplar do jornal O Paraíba, o segundo editado na cidade, em 1857, ano da elevação de Petrópolis à categoria de cidade, e me vem às mãos o original bastante danificado.

Então começo a questionar. Esse jornal já não está microfilmado? E se está, por que não me deram o microfilme? A resposta é simples, não há uma máquina leitora. Se não há uma leitora, o acesso continua através do original e o microfilme passa a servir apenas como mais uma cópia de segurança, já que essa se encontra na Biblioteca Nacional.

Então, na verdade, o que se conseguiu foi assegurar as informações contidas nesses jornais, que são apenas uma parcela do acervo de periódicos, mas não houve a preservação dos originais nem a consulta se tornou mais rápida e eficiente, como se esperava. A falta de continuidade dos projetos fez com que aquele passo gigantesco não alcançasse nem a esquina.

A microfilmagem é uma iniciativa de fundamental importância, mas apenas com esse serviço não se resolve a questão de preservação e de acesso, já que o fato dos originais não serem mais manuseados não significa que estejam preservados, pois seriam necessárias outras medidas, como a restauração (quando necessária) dos documentos, acondicionamento em invólucros especiais, armazenamento em mobiliários adequados e arquivamento num ambiente com as mínimas condições. E o fato de ter asseguradas as informações, não significa ser possível recuperá-las, uma vez que os jornais não se encontram indexados, exigindo desta maneira que o usuário tenha prévio conhecimento daquilo que deseja consultar. Por exemplo, se um pesquisador desejar desenvolver uma pesquisa sobre qualquer assunto, terá que forçosamente fazer a leitura de todos jornais e lê-los na íntegra. Já preocupados em acessar as fontes de informação aos pesquisadores, o Centro de Pesquisa de Petrópolis (criado em 1969 e extinto em 29/10/1981) , convênio entre a Prefeitura Municipal de Petrópolis, Museu Imperial, Universidade Católica de Petrópolis e o Instituto Histórico de Petrópolis, desenvolveu, entre outros, o projeto de indexação dos periódicos de autoria de Maria Amélia Porto Migueis.

Não seria o momento de repensar e retomar alguns desses projetos? Creio que sim, pois ao ouvir a palestra da presidente da Fundação Petrópolis, Cultura, Esporte e Lazer, Kátia Chalita, proferida na Academia Petropolitana de Letras em 13/06/97, intitulada A cultura em Petrópolis: Vocação e Desafio !, na qual ela fala da importância da Biblioteca e citou ser essa a 3ª maior do Estado do Rio de Janeiro e informou que estão sendo realizadas obras no prédio que a abriga e, ainda, que acabavam de adquirir para a mesma um computador Pentium.

Finalizando, cumpre alertar para que não sejam cometidos os mesmos erros nesta nova era – a da informática – pois não adianta apenas adquirir equipamentos sofisticados, softwares, desenvolver programas, sem que a informação esteja tratada tecnicamente e os documentos preservados. É preciso levar em conta que tanto a microfilmagem como a informatização são técnicas que auxiliam e aperfeiçoam os serviços, tornando-os mais rápidos, eficientes e seguros.

A Biblioteca Municipal é uma das maiores do Estado e guarda a história da nossa cidade, razão mais do que suficiente para zelarmos pelo seu desenvolvimento e inclusive resgatarmos a sua própria história. Viva a memória!!!