BIBLIOTECA MUNICIPAL X CENTRO DE CULTURA
Raul Lopes, ex-Associado Titular, falecido –
Por volta de 1974/75/76 a Biblioteca Municipal, situada no antigo prédio que existia na esquina da atual Rua da Imperatriz com a Praça Visconde de Mauá, não comportava mais o grande acervo de volumes e documentos de que dispunha. Necessitava de novas instalações amplas que assegurassem ao acervo sua preservação e consulta.
O governo da época abriu um concurso público para o projeto de um novo prédio, ocupando toda a extensão da testada da praça. Venceu o arquiteto, pai do atual Centro de Cultura.
Alguns erros básicos não foram levados em conta pelo arquiteto, nem pela comissão julgadora. Por exemplo, as escadas de acesso da rua ao 2º pavimento e deste para o terceiro. Ninguém, talvez por serem jovens, levou em conta a existência de idosos, cardíacos e deficientes físicos. Teria sido muito mais humano e inteligente se tivessem projetado rampas elegantes e de aclive suave.
O projeto incluía uma climatização total do prédio. Chegou-se a instalar equipamentos internos interligados a uma central, central esta que nunca se viu instalada. O que aconteceu com ela, talvez ninguém saiba explicar… Muitas críticas que se fazem ao “clima” interno procede, porém no projeto a climatização constava e não era para existir o problema, se não fosse a não instalação da central. Quanto à frieza arquitetônica a comissão julgadora que explique…
Para abrigar a nova Biblioteca, símbolo de cultura moderna, o esquema inteligente que serviu de base para o projeto, foi o seguinte:
Acervo da época 80.000 volumes. Hoje muito delapidado pelo descaso sucessivo de administrações e depredações de consulentes. Era a maior biblioteca, em acervo, de todo o interior do Estado do Rio de Janeiro, um patrimônio cultural de Petrópolis.
A organização interna prevista para a nova biblioteca foi assim planejada:
Primeiro pavimento (térreo), 1.498m2: – Acervo de volumes; encadernação; administração geral do prédio; garagens, sendo que uma abrigaria a Biblioteca volante; almoxarifado e depósito.
Segundo pavimento, 1.322m2: – Chefia; grande salão para exposições (galeria de arte); sala de pesquisa e leitura; serviços técnicos da biblioteca; reprografia; biblioteca Braile; setores de: obras raras, historiografia petropolitana (Mapoteca) e arquivo histórico do Município; setor de periódicos; permuta e banco de permuta.
Terceiro pavimento, 1.322m2: – Conselho Municipal de Cultura; biblioteca infantil; mini-auditório; discoteca-áudio-visual; escolinha de arte e setor de recreação.
Todo este esquema compreenderia a nova Biblioteca Municipal de Petrópolis. A mentora desta organização foi a diretora dedicada e competente, já falecida, Yedda Maria Lobo Xavier da Silva.
E por quê não aconteceu?
O governo que iniciou as obras não as concluiu. Seu sucessor, que as concluiu, logo foi adulterando o projeto original e foi dando destino aos espaços fora do previsto, inclusive tirando da Biblioteca o domínio do prédio que, para ela, foi construído.
Em 1983, com a criação da Secretaria de Cultura, já com o prédio tomado por outras atividades culturais, passou a ser parceira do prédio juntamente com a Biblioteca, assumindo parte do 2º pavimento e totalmente o 3º pavimento.
Em 1988, com a enchente havida na cidade, o pavimento térreo foi invadido por água e lama e danificou grande parte do acervo que lá estava.
No governo seguinte, mais uma vez a Biblioteca foi confinada, sendo-lhe tomada metade do 1º pavimento para abrigar a Secretaria de Educação e o setor de Protocolo geral da P.M.P..
Neste lance de obras, parte do projeto original, com alterações, foi feito, mas não para a Biblioteca: uma sala-teatro, cinema, sala de vídeo, sala de música, espaço cultural Win Van Dijk, no 3º pavimento. No térreo (1º pavimento), além das instalações da Secretaria de Educação e do Protocolo, uma pequena e simpática galeria de exposições, uma sala de artes cênicas, uma sala de cursos e um laboratório fotográfico que teria como função o resgate da iconografia petropolitana que fosse possível e acessível. Nestas instalações a agressão da administração foi clamorosa: despejaram a cultura – segundo diziam, por um mês, e lá já se vão mais de cinco anos – para ali alojar mais uma Secretaria estranha à Cultura e à Educação.
Como se vê, o projeto para Petrópolis ter uma grande Biblioteca moderna e com todos os setores que o moderno exigia, tornou-se apenas um sonho. Acabou confinada a um terço do prédio que lhe foi destinado. Hoje seu crescimento é problemático e é vergonhoso o espaço para atender consulentes, estudantes e pesquisadores, um espaço acanhado e mal iluminado.
O projeto original tinha, ainda uma curiosidade: um teatro. Quem entra no hall do 2º pavimento vê, a sua esquerda, uma escadaria ampla que leva a “nada” . Essa escadaria seria a entrada principal para o teatro que completaria o prédio do seu lado esquerdo. Não foi construído porque, na época, seu projeto foi condenado pela então Funterj, que o considerou inviável, caro e não-funcional.
Assim a sonhada Biblioteca Municipal moderna e ampla, com todas as distorções havidas, hoje é o Centro de Cultura e de Educação Tristão de Athayde e ela, com seus 100 anos de existência, não passa de uma modesta biblioteca confinada. São estes os fatos que contam sua história de hoje.