RUY BARBOSA

Ruy Barbosa de Oliveira, homem conhecido e acatado, que tão bem soube elevar o nome do Brasil no exterior, foi sem dúvida, uma das mais lídimas expressões da intelectualidade brasileira.

O ilustre brasileiro nasceu em Salvador, na Bahia, a cinco de novembro de 1849, sendo seus pais João Alberto Barbosa de Oliveira e D. Maria Adélia Barbosa de Almeida.

Sua alfabetização foi confiada ao competente professor Antônio Gentil Ibirapitanga, quando contava apenas cinco anos de idade.

Logo o jovem discípulo começou a manifestar seu inconfundível talento, pois segundo depoimento do consagrado mestre “em quinze dias aprendeu análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar corretamente todos os verbos regulares” (1). Posteriormente foi matriculado no ginásio Baiano onde concluiu, em 1864, seus estudos de humanidades, sendo o primeiro aluno do curso.

(1) VIANNA FILHO, Luiz. A Vida de Ruy Barbosa. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1960, p. 23.

Após cursar Direito por dois anos no Recife, transferiu-se para São Paulo, onde integrou, inicialmente como orador e, posteriormente, como presidente, uma sociedade literária de acadêmicos intitulada Ateneu Paulistano. Ruy concluiu seu curso jurídico em 1870, fez-se advogado e começou a escrever no “Diário da Bahia”, um jornal liberal do qual ele chegou a ser redator.

Em 1876, conheceu a jovem Maria Augusta Viana Bandeira, filha de um modesto funcionário público, mas pertencente a uma tradicional família baiana, de quem ficou noivo naquele mesmo ano. Por influência da noiva, embarcou para o Rio de Janeiro, hospedando-se numa pensão, no Catete e começando a trabalhar com o advogado Souza Carvalho.

Em 23 de novembro de 1876, Ruy e Maria Augusta casaram-se na Bahia e logo embarcaram para o Rio de Janeiro.

O casal permaneceu pouco tempo no Rio, logo retornando à Bahia, tornando-se Ruy diretor do “Diário da Bahia”, prestigioso órgão de imprensa no qual atuara anteriormente, ao mesmo tempo em que foi indicado como candidato do Partido Liberal à Assembléia Provincial da Bahia, iniciando desse modo uma profícua e duradoura carreira como político.

Posteriormente, eleito deputado à Corte, continuou a destacar-se nos debates políticos dos grandes temas nacionais. Em 1879, a reforma Leôncio de Carvalho deu ensejo a que ele apresentasse à Câmara um vasto projeto sobre a “Reforma do ensino secundário e superior’, no qual abordou com inteira proficiência os mais diversos problemas da educação, desde a organização do ensino, à Metodologia, à Psicologia Educacional, à Biologia, à Sociologia da Educação. A impressão causada por tal projeto, segundo nos informa Luiz Viana Filho, “foi ao mesmo tempo de deslumbramento e ceticismo” (2). Apesar do interesse demonstrado pelo próprio D. Pedro II, muitos combatiam o referido projeto por considerá-lo inexeqüível. Assim, a queda do Ministério em 1882, jogou por terra os planos de reforma da instrução defendidos por Ruy Barbosa. Entretanto, seu projeto, conforme muito bem acentua Rui de Ayres Bello “pode ser considerado, não só em ordem de antigüidade, como pela sua excepcional importância, como um dos mais completos tratados de Pedagogia Geral que já se escreveram no Brasil” (3).

(2) VIANNA FILHO, Luiz. Op.cit. p. 137.

(3) BELLO, Rui de Ayres. Pequena História da Educação. São Paulo, Companhia Editora do Brasil S. A., s.d.

Apesar da decepção, Ruy continuou a manifestar um interesse muito grande pelos problemas educacionais do país, tanto assim que logo retomou o apaixonante tema, apresentando um parecer sobre a “Reforma do Ensino Primário”, “trabalho minucioso, mais extenso e erudito do que o que fizera sobre os outros dois graus de ensino” (4). Não satisfeito, juntou-se a alguns amigos, fundando a “Liga do Ensino”, com a finalidade de divulgar métodos pedagógicos modernos.

Os serviços que prestou à causa da instrução pública foram tão relevantes que lhe valeram, ainda no império, o título de Conselheiro.

Abolicionista convicto, realizou uma ofensiva irresistível contra a velha instituição servil, realizando conferências, pronunciando discursos e escrevendo inúmeros artigos contra a nódoa da escravidão.

(4) VIANNA FILHO, Luiz. Op. Cit., p. 139.

Quanto à sua participação no movimento republicano, é interessante ressaltar que ele nunca foi um republicano e sim um fervoroso defensor do federalismo, usando sempre a sugestiva fórmula: “Federação com ou sem a Coroa” (5). Assim, como é sabido, somente no dia 11 de novembro aderiu propriamente à conspiração republicana.

(5) VIANNA, Oliveira. O Ocaso do Império. Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 1959, p. 104

Não obstante influiu decisivamente nas grandes reformas trazidas com a República. A liberdade religiosa, a separação entre Igreja e estado, a regulamentação do registro e do casamento civil e a reforma bancária foram iniciativas suas.

Por outro lado, com seu projeto de Constituição e suas reformas de ordem econômica, foi incontestavelmente um dos políticos que tiveram participação destacada nos anos da instauração do regime republicano.

Foi porém por ocasião da Segunda Conferência da Paz, realizada em Haia, em 1907, que Ruy atingiu o apogeu de sua carreira ao “defender e proteger os interesses das pequenas nações”, elevando o nome do Brasil no estrangeiro. Alcançou, deste modo, tal notoriedade no exterior que a 14 de setembro de 1921, após ter sido indicado por oito países, foi eleito para a suprema investidura de membro da Corte Permanente de Justiça Internacional.

Como jurista sua obra numerosa foi igualmente valiosa. Sua contribuição ao direito ultrapassou as fronteiras do país, fazendo dele um mestre respeitado em todas as nações da Europa e da América. Sua ética, comenta Rubem Nogueira “era inatacável, e continua a servir de padrão para os advogados de hoje e de sempre… Sua presença no Direito Brasileiro permanece como um ponto que tanto mais avulta quanto mais se processa a evolução dos vários ramos da ciência a que ele se dedicou toda a vida, como um obstinado e generoso patrono das liberdades individuais…” (6).

(6) NOGUEIRA, Rubem. Rui Barbosa combatente da legalidade. Rio de Janeiro, Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A , 1999, p.128.

Durante algum tempo, quando procurava recuperar-se das fadigas, Ruy Barbosa e sua família buscavam refúgio na cidade de Nova Friburgo, cidade onde o casal havia passado sua lua de mel.

Assim, somente em fins de 1901, a conselho médico, devido a uma enfermidade de sua esposa, tem inicio o seu veraneio em Petrópolis, onde ele arrendou uma bela residência localizada à Rua Paulo Barbosa. A partir daí, Petrópolis passa a ser a grande paixão do ilustre brasileiro, que todos os anos afirmava: “Subirei mais cedo para Petrópolis, afim de encontrar ainda os restos da Primavera e para poder gozar as flores do meu jardim” (7).

(7a) FREI CELSO O. F.M., Revista da Semana, Rio de Janeiro, Ano XXIV, n.º II, 10/03/1927

Em 1915 comprou uma casa na rua Joinville, hoje Ipiranga, na qual fez uma série de adaptações, adquirindo inclusive, no ano seguinte um terreno contíguo, com 10 metros, para ampliar o jardim, já que era grande seu amor pelas plantas.

Nesta residência de Petrópolis, que ele apelidou carinhosamente de Sweet Home, escreveu a maior parte das conferências da campanha presidencial de 1909, concluiu a Oração aos Moços, da qual, a maior parte, foi escrita no leito, em estado febril, e também a introdução do primeiro volume da “Queda do Império” e quase toda a primeira Conferência da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Aqui pronunciou inolvidável Conferência a 17 de março de 1917, no Teatro Petrópolis, a Convite da Cruz Vermelha. Naquela ocasião, Ruy Barbosa mostrou aos que teimavam em ver na guerra um simples conflito europeu, o interesse universal na restauração da ordem legal no mundo.

De sua presença em Petrópolis, permaneceu a lembrança de suas caminhadas, dos cuidados que costumava dispensar às flores do jardim de sua residência. Aqui conseguiu descansar, buscando recuperar as energias perdidas, entregar-se ao prazer da leitura, sem nunca deixar de acompanhar com grande interesse os acontecimentos políticos do país. Aqui faleceu, a 1º de março de 1923, o insigne brasileiro que com suas grandezas e seus sofrimentos, suas imperfeições e sua pureza de coração, figura na galeria de nossos mais altos valores.

Frei Celso O. F. M., que o atendeu em sua agonia, ministrando-lhe o Sacramento da Confissão e os Santos Óleos, assim se pronunciou a respeito do grande brasileiro: “Foi alentado, pois, na fé católica que o senhor Conselheiro Ruy Barbosa passou desta vida de imperfeições e de misérias para outra mais pura, mais alta, melhor, mais digna da grandeza iluminada de seu espírito e da compreensiva bondade de seu coração” (7a).

(7) SODRÉ, Alcindo. Rui Barbosa e Petrópolis. Tradição, 1947, p. 171.

JOAQUIM NABUCO

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, nasceu em Pernambuco em l849. Político, escritor e diplomata, foi uma das maiores figuras da campanha abolicionista e um dos grandes defensores de uma Monarquia Federativa para o Brasil, com a divisão territorial do Império numa Federação de Províncias.

Segundo o historiador João Camilo de Oliveira Tôrres, Joaquim Nabuco, “em sua vibrante existência, atravessou três fases: o tribuno do povo, o historiador, o diplomata” (8).

(8) OLIVEIRA TÔRRES, João Camilo de. Interpretação da Realidade Brasileira. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio, s.d., p. 228.

Como tribuno do povo, em seus pronunciamentos defende uma Lei Agrária, pregando a emancipação dos escravos e a democratização do solo e mostra a importância do operário, do artífice, chegando a afirmar num de seus discursos : “O que é o operário? Nada. O que virá a ser? Tudo!”.

Todavia, nesta 1ª fase de sua existência, sua maior contribuição foi a campanha que encetou em favor do abolicionismo, afirmando que “a escravidão constituiu um entrave ao progresso nacional, e, fundada sobre a injustiça, teria por conseqüência a miséria econômica e moral” (9).

(9) OLIVEIRA TÔRRES, João Camilo de. Op. Cit. p. 230.

Além disto era um dos que reconhecia que não bastaria a libertação dos escravos e a distribuição de terras, sendo necessária a organização do trabalho, o sindicalismo e o ensino profissional.

Procurando difundir seu pensamento abolicionista, chegou a recorrer ao Vaticano e, em conseqüência, algumas semanas após a Lei Áurea, saía a magnífica Encíclica de Leão XIII sobre a liberdade.

Como historiador, em Um Estadista do Império, Joaquim Nabuco proporcionou-nos “o levantamento do segundo reinado, com algumas páginas magistrais, das melhores que um historiador tenha escrito em português, com interpretações perfeitas e perfis de figuras imperiais por vezes definitivos” (10).

(10) OLIVEIRA TÔRRES, João Camilo de. Op. Cit. p. 236.

Além desta importante obras histórica, escreveu ainda três ensaios: o Povo e o Trono (1869), O Dever dos Monarquistas (1895) e A intervenção estrangeira durante a Revolta da Armada (1893), Minha Formação (memórias), L’Option (um livro de aforismas), Pensées Detachées et Souvenirs.

Em 1899, o presidente Campos Sales o convenceu a defender os direitos do Brasil no litígio de fronteiras com a Guiana Inglesa, missão que ele desencumbiu com o maior zelo e competência.

Em 1905, o Presidente Rodrigues Alves nomeou-o para exercer o cargo de embaixador em Washington e, em 1906, presidiu a Conferência Pan-Americana , no Rio de Janeiro.

Faleceu em 1910, nos Estados Unidos, sendo seu corpo trazido ao Brasil no cruzador North Carolina, por deferência do governo norte-americano,

Joaquim Nabuco visitava com freqüência nossa cidade, referindo-se a ela em alguns de seus escritos, com especial carinho.

Segundo nos informa Pimentel, teria residido em Petrópolis, “à Vila Itambi, situada à Rua 1º de Março, hoje Roberto Silveira, ao lado do Asilo do Amparo, nos terrenos hoje ocupados pelo Petropolitano. Foi ali, que ele resolveu iniciar as novas carreiras – de escritor, e de diplomata – que as circunstâncias abriam aos seus passos… (11).

(11) PIMENTEL, Ascânio D’A Mesquita. Nabuco em Petrópolis. Ed. Vozes de Petrópolis, março/abril, 1949.

Referindo-se à sua permanência em Petrópolis, o próprio Nabuco assim se pronunciou: “Aqui tomei o hábito de pensar sozinho, aqui realizei minha independência intelectual” (12).

(12) NABUCO, Carolina. A Vida de Joaquim Nabuco. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1928, p. 234.