CONDE DA MOTTA MAIA
Cláudio Velho da Motta Maia, filho de Manuel Domingos Maia e D. Maria Isabel Velho da Motta Maia, nasceu em Itaguaí (RJ), a 14 de abril de 1843.
Recebeu primorosa educação, dedicando-se com grande entusiasmo aos estudos, concluindo com grande brilhantismo seu curso médico. Além disto, sempre manifestou um grande interesse pelos estudos literários, tendo inclusive fundado com alguns colegas a Revista do Atheneu Médico e escrito trabalhos originais como “Tratamento dos Quistos do Ovário”, “Apreciações sobre os trabalhos do Dr. Noronha Feital, referentes a feridas penetrantes”, “Considerações sobre os trabalhos do Dr. Alfredo Gusmão, concernentes às operações de hidrocele pelo processo do Dr. Maisonneuve”, além de sua brilhante tese de doutoramento sobre o tema: “Ovariotomia em geral”, com as proposições: “Febre remitente biliosa dos países intertropicais” – “Distinção entre a morte real e a aparente”. – “Da anestesia cirúrgica”.
Formado, iniciou sua clínica domiciliar nas adjacências da Rua da Misericórdia, manifestando desde cedo seu espírito altruísta, pois atendia, sem perceber qualquer remuneração, com o maior carinho, os que não podiam pagar.
Neste sentido, é interessante lembrar que por ocasião de uma terrível epidemia que se abateu sobre o Rio de Janeiro, foi grande a sua dedicação no combate à mesma, “expondo diariamente a sua vida ao contágio da moléstia. Sua atuação no combate à doença foi tão expressiva que os moradores da Freguesia de São José lhe ofereceram, em sinal de gratidão, – um retrato a óleo em tamanho natural por Poluceno, pintor de grande nomeada, e uma série de litografias também com o seu retrato, acompanhadas de extensa dedicatória” (1).
(1) MOTTA MAIA, Manuel Augusto Velho da. O Conde da Motta Maia. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1937, p. 36
Em l868, o Imperador D. Pedro II concedeu-lhe o foro de Fidalgo Cavaleiro e logo em seguida promoveu-o a “Moço Fidalgo com exercício na casa Imperial”.
A 9 de junho de 1870, na igreja de Nossa Senhora da Lagoa, casou-se com a jovem Maria Amália, da tradicional família Cruz Vianna, cujo pai José da Cruz Vianna era grande exportador de café.
Cinco anos mais tarde foi agraciado pelo Governo Imperial com uma bolsa na Faculdade de Medicina de Paris, tendo estudado no “Collège de France” com o professor Raunier, um dos maiores especialistas em Histologia, tornando-se em profundo conhecedor do assunto.
Pela reputação adquirida e, sobretudo pela confiança que os pacientes nele depositavam, foi nomeado médico da Imperial Câmara, a 4 de maio de 1880, sendo em seguida nomeado professor de Anatomia e Fisiologia da Escola de Belas Artes.
Em retribuição aos cuidados médicos dispensados por Motta Maia à família imperial, sempre com bons resultados, foi o mesmo agraciado com o título de Barão em 1886.
Médico do Paço, acompanhando sempre o Imperador, quer na Corte, quer em Petrópolis, era constantemente visto ao lado do Imperador em suas caminhadas pela cidade.
Em Petrópolis, residiu o médico de D.Pedro com sua família num prédio situado à Rua dos Protestantes, hoje 13 de Maio, que alugara ao seu proprietário, o Padre Esch, na ocasião vigário da Matriz Velha. Posteriormente, passou a residir em uma casa localizada na esquina das atuais Avenida Koeler e Tiradentes, pertencente ao Dr. Jobim, antigo Diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Quando, em princípios de 1887, começou a manifestar-se o diabetes em D. Pedro II, o tratamento recomendado por Motta Maia produziu ótimos resultados e teve plena aprovação de seus colegas europeus, os renomados médicos Charcot, Peter e Bouchard.
Em fins de fevereiro de 1887, o Imperador adoeceu em Petrópolis, sendo examinado por Motta Maia e dois especialistas brasileiros que diagnosticaram congestão hepática e recomendaram que o Monarca fosse repousar na Fazenda de Águas Claras, encantadora propriedade, de clima ameno e seco, de propriedade do Barão de Águas Claras. Entretanto, como sua estada na citada fazenda não produziu melhoras apreciáveis, foi-lhe recomendada uma viagem a Europa para tratamento.
Já agraciado com o título de Visconde, por ato de 20 de junho de 1887, Motta Maia, atendendo a pedido do próprio Imperador, acompanhou-o na viagem, cercando-o sempre dos maiores cuidados, chegando, nos momentos mais graves da moléstia “a pernoitar no pequeno quarto ao lado de D. Pedro, erguendo-se durante à noite constantemente do leito, para ir espreitar o convalescente, e verificar seu estado” (2).
(2) MOTTA MAIA, Manuel Augusto Velho da. O Conde da Motta Maia. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1937, p. 126.
“O Paiz”, conceituado órgão de imprensa do Rio de Janeiro, ao comentar o estado de saúde do Imperador, então na estação termal de Aix-les-Bains, em sua edição de 12 de agosto de 1888, testemunha os cuidados do médico para com D.Pedro, dizendo a certa altura: “O Visconde da Motta Maia é de uma vigilância incansável para com o imperial doente” (3).
(3) O Paiz, Rio de Janeiro, 12 de agosto de 1888.
Em 8 de agosto de 1888, D. Pedro II desejando distinguir seu médico, o agraciou com o título de Conde. Na ocasião o novo Conde foi alvo de grandes homenagens. Assim, “… foi-lhe feita em Petrópolis, por parte de amigos, em nome do povo, uma significativa manifestação, à qual o Imperador muito espontaneamente assistiu com a Imperatriz, tendo-lhe sido entregue um valioso brinde, realizando à noite um baile com a presença do monarca e de vários membros da família imperial” (4).
(4) MOTTA MAIA, Manuel Augusto da. Ob. Cit. p. 282.
Noticiando a homenagem, “O Mercantil”, em sua edição de 24 de abril de 1888, assim se pronunciou: “Domingo passado foi entregue ao senhor Conde da Motta Maia o mimo que lhe foi oferecido por distintos amigos. Consistia em uma artística pasta de couro da Rússia, contendo onze títulos do empréstimo de 1879, de cupons, e a relação das pessoas que haviam concorrido para a offerta” (5).
(5) O Mercantil, Petrópolis, 24 de abril de 1888.
Por ocasião dos acontecimentos que precipitaram a Proclamação da República, Motta Maia julgou ser seu dever permanecer ao lado do Imperador, naqueles momentos críticos, acompanhando-o ao exílio e assistindo-o até a sua morte, a 5 de dezembro de 1891.
Retornando ao Brasil a 2 de outubro do ano seguinte, após a morte do Imperador, ocorrida a 5 de dezembro de 1891, resolveu passar algum tempo em Juiz de Fora onde residia sua irmã Francisca, ali adoecendo gravemente, com perturbações hepáticas e cardíacas, que exigiram os cuidados do médico Dr. Eduardo de Menezes, seu amigo e parente, que conseguiu recuperá-lo.
Curado, voltou Motta Maia a residir em Petrópolis, retornando a seu cargo na Faculdade de Medicina e voltando a clinicar no Rio de Janeiro, para onde descia regularmente.
Até 1897 viveu em Petrópolis, dedicando-se à educação dos filhos, vivendo na intimidade dos parentes e amigos, até que, agravando-se seu estado de saúde, retornou a Juiz de Fora, onde apesar dos cuidados do Dr. Eduardo, veio a falecer a 7 de novembro de 1897, sendo sepultado no cemitério local daquela cidade.
Em 1902 seus restos mortais foram transladados para o cemitério municipal de Petrópolis, onde repousam ao lado dos de sua esposa, falecida em nossa cidade a 22 de fevereiro de 1928.
A Condessa da Motta Maia era uma senhora de grandes virtudes, que a tornavam muito estimada na sociedade brasileira. Era progenitora dos doutores Manuel, Oscar e Cláudio da Motta Maia e de Dona Amanda Velho da Motta Maia, primeira esposa de Mário Hermes Ernesto da Fonseca, filho mais velho do Marechal Hermes da Fonseca.
Lamentavelmente poucos avaliam a importância deste grande brasileiro, profissional competente, de invulgar inteligência, com o coração cheio de amor e fidelidade para com o Imperador e sua família.
Por tudo isto, não devemos esquecê-lo; não devemos negar-lhe nossa gratidão e respeito. Devemos estar dispostos a exaltá-lo sempre.