BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

O VISCONDE DE TAUNAY

Alfredo Maria Adriano D’Escragnole Taunay, militar, político, literato e musicista, nasceu no Rio de Janeiro, a 22 de fevereiro de 1843, sendo filho do Barão Felix Emílio Taunay e de D. Gabriela Hermínia de Robert d’Escragnole.

Felix Emílio Taunay, um dos preceptores do Imperador D. Pedro II, humanista de elevada cultura, renomado pintor, proporcionou ao filho esmerada educação, ele próprio supervisionando a educação do filho.

Aos doze anos matriculou-se Alfredo d’Escragnole Taunay no Imperial Colégio Pedro II, onde concluiu o bacharelado em ciências e letras, em 24 de dezembro de 1858, em cerimônia que contou com a presença do Imperador e da Imperatriz, que ele recorda com emoção em suas Memórias ao dizer: “Ao chegar defronte do Imperador e da Imperatriz deles recebi olhar tão bom, tão suave, tão enternecedor, tão de família a partilhar a alegria de um filho, que nesse dia medi a verdadeira afeição que ambos dedicavam ao bom, leal e discreto amigo Felix Emílio Taunay” (1).

(1) TAUNAY, Visconde de. Memórias do Visconde de Taunay. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército – Editora, 1946, p. 60.

Em 1859, ingressou na Escola Militar que, na reforma havida anteriormente passou a chamar-se Escola Central, no curso de Ciências Físicas e Matemáticas. Estava concluindo o penúltimo ano do curso quando irrompeu a Guerra do Paraguai, sendo então incorporado ao Corpo do Exército, que se formara para expulsar os paraguaios do sul de Mato Grosso, servindo na Artilharia e no Estado Maior, onde alcançou o posto de major. Durante a guerra desempenhou as funções de ajudante da Comissão de Engenheiros, secretário do Comando, sendo ainda responsável pela redação do Diário do Exército.

Pelos relevantes serviços prestados ao Exército durante a guerra, foi condecorado com as medalhas das Forças Expedicionárias em Mato Grosso, Constância e Valor e da Campanha do Paraguai. Foi ainda agraciado com a Ordem da Rosa, a Ordem de São Bento, a Ordem de Aviz e a Ordem de Cristo.

Retornando ao Brasil, após o término da Guerra do Paraguai, pôde concluir seu curso, sendo em seguida nomeado professor interino da Escola Militar, onde lecionou por vários anos, as cadeiras de mineralogia e geologia.

Em 1872, a Retirada da Laguna, sem dúvida, sua maior obra histórica, escrita segundo seu próprio depoimento em “vinte e poucos dias” (2), foi editada em português, sob os auspícios do governo imperial. Com relação a este importante trabalho, assim se expressou Lima Figueiredo: “constituiu um verdadeiro catecismo cívico, onde os soldados poderão beber, continuadamente, lições de heroísmo, exemplos de bravura, de abnegação, de valor e de fé” (3).

(2) TAUNAY, Visconde de. Memórias do Visconde de Taunay. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército – Editora, 1946, p. 303.

(3) FIGUEIREDO, Lima. Grandes soldados do Brasil. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1944, p. 155-156.

Em 1874, casou-se com D. Cristina Teixeira Leite, filha do Barão de Vassouras, companheira extremada e dedicada, durante toda a sua existência.

Sua carreira política foi tão brilhante quanto a militar. Nomeado presidente da Província de Santa Catarina pelo Governo Imperial, governou-a de 1876 a 1877. Posteriormente foi eleito à Câmara dos Deputados (1881), nomeado presidente da Província do Paraná (1885), novamente deputado por Santa Catarina (1886) e, finalmente, Senador, pela Província de Santa Catarina.

No governo das províncias de Santa Catarina e do Paraná, deu provas de grande capacidade administrativa, conseguindo fixar nas mesmas, milhares de colonos europeus. Como parlamentar defendeu com grande convicção a liberdade religiosa, o casamento civil e, principalmente a abolição do cativeiro.

Seu temperamento tão calmo e tão meio-termo em literatura, comenta Wanderlei Pinho “transformava-se na política em impetuoso, vibrante, apaixonado, quase agressivo” (4).

(4) PINHO, Wanderley. Visconde de Taunay. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 181: 5-43, outubro/dezembro de 1943. p. 33-34.

Com a proclamação da República, retirou-se da vida pública, dedicando-se exclusivamente às atividades literárias. Escrevendo com espantosa facilidade, deixou-nos uma vasta produção literária, na qual destacamos além da “Retirada da Laguna” e “Inocência”, incontestavelmente suas obras mais importantes, “Memórias”, “Ouro sobre o azul”, “Mocidade de Trajano”, “No Declínio”, “O Encilhamento”, “Lágrimas do coração”, “Histórias brasileiras”, ” Narrativas militares”, “Céus e terras do Brasil”, além de inúmeras peças teatrais e um número infindável de artigos na imprensa, sobre os mais variados assuntos.

Taunay foi um escritor casto, “nunca perdendo a compostura dos autores aristocratas que não estimam escrever o que não poderiam conversar num salão, e sabem ser realistas sem impudência, sugerindo em disfarces o que a verdade tem de imodesta ou brutal. Taunay insinua, arma as situações e silencia, deixando o leitor imaginar o que tem acanhamento de narrar” (5).

(5) PINHO, Wanderley. Visconde de Taunay. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, 181: 5-43, outubro/dezembro de 1943. p. 27.

Possuindo notável tendência para a música, Taunay foi um exímio pianista. Apaixonado pelo estilo de Chopin, compôs um grande número de peças musicais: 7 valsas, 7 peças sacras, 6 romances para canto e piano, 7 valsas de salão, 2 mazurcas, vários estudos de concerto noturno e peças para piano e violino.

A seis de setembro de 1889, foi agraciado pelo governo Imperial com o título de Visconde com grandeza.

Com a saúde minada pelo diabetes, o Visconde de Taunay faleceu no Rio de Janeiro, a 25 de janeiro de 1899, quase aos cinqüenta e seis anos de idade.

Com relação à ligação do Visconde de Taunay com Petrópolis, informa Antonio Machado: “Tendo passado aqui uma grande parte de sua meninice, revelou sempre no correr da vida grande afeição a esta cidade; e em sua seleta e copiosa bibliografia preciosissimos informes se contam sobre Petrópolis. Estudou a nossa história regional. Colaborou na Gazeta de Petrópolis, em 1893” (6).

(6) MACHADO, Antonio. Nomenclatura urbana de Petrópolis. In: Centenário de Petrópolis – Trabalhos em Comissão. Prefeitura Municipal de Petrópolis, 1938, Vol. I, p. 319.

De fato, sob o pseudônimo de Agenor, publicou na Gazeta de Petrópolis interessantes artigos sobre o Método de Tratamento Kneipp, Impressões de Viagens no interior do Brasil e muitos outros trabalhos de valor.

Quanto ao Método Kneipp, desenvolvido pelo Padre Sebastião Kneipp, vigário de uma aldeia na Baviera, é interessante assinalar que o mesmo partia da idéia de que todas as enfermidades deviam ser combatidas, antes de mais nada, pelo robustecimento do organismo, recomendando sete meios progressivos: ” Andar de pés no chão; passear na relva orvalhada; andar num córrego com água até meia canela; andar sobre ladrilho molhado; banhos frios de um minuto e vestir-se sem enxugar o corpo molhado; afusões superiores e inferiores” (7).

(7) Gazeta de Petrópolis, 9 de setembro de 1893.

Suas memórias, cujos manuscritos, ele confiou à guarda do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, com a recomendação de que só deveriam ser publicadas depois de fevereiro de 1943, cem anos após a data de seu nascimento, estão datadas de Petrópolis, 20 de julho de 1892, fato que reforça a idéia de que ele aqui possuiu uma residência de verão.

Referência curiosa à nossa cidade, encontramos em suas Memórias, quando ele se refere aos exercícios de tiro, que realizou, em janeiro de 1864, na Fábrica da Estrela, junto aos seus colegas da Academia, suportando violentíssimo calor. Na ocasião diz ele que juntamente com os colegas, resolveu subir a Petrópolis, dizendo a certa altura: “de manhã muito cedo empreendemos a viagem a pé pela estrada velha em extremo abrupta e quase de todo arruinada e impraticável… Afinal chegamos ao Alto da Serra indo parar num hotelzinho da Rua Paulo Barbosa, creio que União. Depois de uma hora de descanso, deram-nos ao almoço, e ainda me sabem, os rognons sauté (rins na manteiga) e uma omelete que serviram à mesa e me pareceram, talvez pela muita fome, saborosíssimos” (8).

(8) TAUNAY, Visconde de. Memórias do Visconde de Taunay. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército – Editora, 1946, p. 82-83.

O Visconde de Taunay faleceu no rio de Janeiro, a 25 de janeiro de 1899, quase aos 56 anos de idade. Em seu túmulo no Cemitério São João Batista foi gravado o seguinte epitáfio:

“Aqui jaz o autor de duas obras
Que alcançaram renome valioso;
De Inocência a história sertaneja
E da Laguna o feito glorioso”.

O governo municipal, procurando homenagear o ilustre brasileiro, através do Ato Nº 182, de 28 de janeiro de 1939, deu seu nome à avenida que começa na Estrada União e Indústria e finaliza na entrada principal do Castelo de São Manoel, no 2º distrito.