O CENTENÁRIO DE NELSON DE SÁ EARP
Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

Quem sai aos seus não degenera, diz o velho ditado popular. Foi exatamente o que ocorreu com Nelson de Sá Earp.

Na linha materna era ele neto de Hermogênio Pereira da Silva, o homem que deu envergadura político-administratriva a Petrópolis no início da República. Médico oftalmologista, foi várias vezes vereador entre 1892 e 1910, elegendo-se quase sempre Presidente da Câmara, à época com funções executivas. Com uma visão extraordinária da vida pública, jamais inaugurou uma obra, simplesmente entregava-a à população, pois estava no estrito cumprimento de seu dever. E não foram poucas as suas realizações nos quase vinte anos em que esteve à frente dos destinos petropolitanos.

Pelo flanco paterno Nelson de Sá Earp era neto de Arthur de Sá Earp, misto de baiano e escocês, com estágio nas Minas Gerais e pouso definitivo em Petrópolis, onde também exerceu a medicina, foi Vereador e Presidente da Câmara, notabilizando- se pelo ambicioso plano de obras que executou na primeira década do século XX.

Interessante notar que os médicos brasileiros sempre revelaram significativa eficiência e muita sensibilidade quando engajados na administração pública. Médicos foram Juscelino, A.C.M., Pedro Ernesto, Hermogênio Pereira da Silva, Arthur de Sá Earp, pai e filho, Joaquim Moreira, Oswaldo Cruz, Paula Buarque, Mário Pinheiro e também Nelson de Sá Earp.

Ungido pela Santa Cruz nasceu Nelson nesta cidade aos 3 de maio de 1911. Foi aluno do Colégio São Vicente de Paulo. Estudou Medicina no Rio de Janeiro e ali poderia ter feito carreira brilhante. Contrariando preceito milenar, preferiu ser profeta em sua terra.

Ainda na década de trinta dos novecentos firmou- se como clínico em sua cidade. Naquele tempo baldaram-se-lhe os arroubos políticos barrados pelo Estado Novo, ditadura braba que durou de 1937 a 1945.

Com a redemocratização do país a partir de 1946 afloraram em Nelson de Sá Earp os desejos de servir a seu povo como político e administrador. Ia assim cumprir a segunda vocação de seus troncos familiares.

E Nelson elegeu-se Vereador, foi Presidente da Câmara, confiando-lhe Petrópolis a Prefeitura em 1958.

Fui um de seus eleitores na primeira eleição de que participei na vida. E desde então passei a acompanhar de perto a sua eficiente e brilhante trajetória de médico e de homem público.

Não obstante tão absorventes atividades, Nelson de Sá Earp sempre encontrou tempo para cultivar o seu espírito naturalmente superior.

Homem de hábitos simples, de índole despojada, de gestos fidalgos, de conduta exemplar, acumulou invejável cultura humanista, mercê de sua sólida formação filosófica e religiosa, de seus múltiplos conhecimentos de literatura, de história e das chamadas ciências humanas.

Psicólogo nato, não tinha pressa em examinar e diagnosticar. Conversava com o paciente, perscrutava-lhe a alma, para separar o doente imaginário do doente real. E só então partia para o minudente exame, para o resultado de sua investigação e para as recomendações de praxe ligadas ao tratamento.

Com esse proceder descontraía o cliente, fazendo dele antes de tudo um amigo, um aliado na luta pela superação do mal.

Sem os recursos tecnológicos de hoje, dificilmente errava em seus diagnósticos. Confiava no seu ouvido, na sua fina sensibilidade e nos seus naturais e intuitivos conhecimentos de psicologia.

O verdadeiro médico não pode prescindir desse algo de divino que tem de existir dentro dele, para estabelecer a perfeita interlocução com o paciente e inculcar nele a confiança na cura.

Essa faceta era predominante no médico Nelson de Sá Earp, que de certo modo há de ter contaminado e norteado a sua vida pública.

Associou-se tardiamente ao Instituto Histórico de Petrópolis e, apesar do pouco tempo que ali esteve, deixou nele as marcas de seu talento e de sua cultura humanista.

Quando a morte o surpreendeu em junho de 1989 ele estava a fazer uso da palavra em seminário sobre a DOR nos seus múltiplos aspectos, a dor que ele tanto conheceu de perto estampada na face de seus pacientes, de seus circunstantes, a dor que não mais o atingiria e que nos tocou a todos que o perdemos para sempre.

Razões têm de sobra a Câmara Municipal desta urbe e o Instituto Histórico de Petrópolis para convidar através de seus respectivos presidentes o vereador Paulo Igor e Luis Carlos Gomes a população deste município para prestigiar a grande homenagem que será prestada ao Dr. Nelson de Sá Earp no Palácio Amarelo no dia 9 de maio de 2011, comemorativa do primeiro centenário de seu nascimento.