OS CRIADORES DO LICEU
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira
No dia 7 de novembro completará 49 anos um excelente educandário petropolitano, que vem ensinando e educando gerações de petropolitanos, respeitado, bem administrado, um estabelecimento público de assinalados serviços prestados aos estudantes e às famílias do Município. É o Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio.
Coube ao Diretor da Inspetoria de Ensino da Prefeitura, na gestão do Prefeito Cordolino Ambrósio, a idéia, o trabalho, a organização e o empenho direto para a edificação da grande obra: o extraordinário Professor Décio Duarte Ennes.
Décio era grande amigo da família Ambrósio, contemporâneo dos filhos do político Cordolino, a par de sua reconhecida e admirada vocação magisterial; possuía invejável cultura, adquirida pelo estudo diuturno e interessado, e por sua privilegiada inteligência, adorava escrever fosse poesia ou prosa, além de orador emérito que falava sempre de improviso e forma e conteúdo encantadores. Sua formação escolar coube inicialmente à sua mãe, a inesquecível professora Adalgisa Marques Duarte Ennes e, depois, ao Colégio Pinto Ferreira, aprendendo com o mestre Henrique Pinto Ferreira a universalidade do conhecimento; os professores daquele educandário, mais tarde transformado em Colégio São José, já sob o grande mestre Napoleão Esteves, foram os grandes formadores da cultura de Décio Ennes. Com apenas 14 para 15 anos já lecionava no Colégio como monitor dos mestres consagrados e, em pouco tempo, tornava-se um deles. Professor do Colégio e mais do Liceu Fluminense, Carlos Werneck e Estadual Dom Pedro II, do qual foi competente e disciplinador Diretor, Décio abraçou o sacerdócio mais puro da bela carreira do Magistério. Escreveu livros de português, poesia, prosa e colaborou assiduamente na Imprensa Petropolitana, tendo atuado na redação do Jornal do Povo na melhor fase daquele matutino já desaparecido.
Político interessado e atuante, chegou à candidatura para vereador, sem lograr êxito nas urnas; esteve sempre ao lado de Cordolino Ambrósio e, com entusiasmo, ajudou o grande amigo na Prefeitura, o que ensejou um prêmio exuberante para a Cidade, o seu Liceu, do qual foi o primeiro Diretor e Autor do Hino e quem o organizou e deu ao Educandário a forma e a respeitabilidade que hoje possui. Sua passagem pelos Colégios São José, Estadual e Liceu Municipal, notadamente, conferiram gabarito e elevaram os educandários à excelência.
Seu fim de vida foi trágico: abateu-o o álcool, assaltante de sua vida apaixonada.
Nascido em Nova Friburgo, desde os oito anos de idade em Petrópolis, aqui faleceu, estando sepultado na Necrópole Municipal. Veio ao mundo em 27 de abril de 1926; dele partiu a 16 de dezembro de 1982. Sobre Décio Duarte Ennes, escrevi e publiquei uma apreciação na Revista Petropolitana de Letras “O Poeta Duarte Ennes”, nº 15, ano IXX, agosto de 1987.
O Prefeito Cordolino José Ambrósio remeteu à Câmara Municipal em 22 de julho de 1952, mensagem visando a criação da Escola Comercial de Petrópolis e do Ginásio Municipal. Naquele tempo já o Poder Público vinha mantendo o Liceu de Artes e Ofícios. No artigo que publicou na Tribuna de Petrópolis, em 1992, na coluna do “Sesquicentenário”, o professor Jerônymo Ferreira Alves Netto assim narra o fato: “Na ocasião, vinha funcionando, mantido pela Prefeitura Municipal o Liceu de Artes e Ofícios que, além de nunca ter possuído um local condigno para o seu funcionamento, vinha ministrando cursos, diga-se de passagem, com muita eficiência, mas que não eram reconhecidos pelo Ministério da Educação e Saúde”.
Após marchas e contramarchas, discussões, encontros, foi inaugurado o Liceu Municipal em 7 de novembro de 1953, em solenidade expressiva e pomposa, com a honrosa presença do Ministro Ernesto Simões Filho, da Educação e Saúde, outras autoridades federais, o secretariado da Prefeitura, à frente o feliz prefeito Cordolino José Ambrósio e seu minúsculo (em tamanho) companheiro Décio Duarte Ennes. Muitos oradores, muita festa muita alegria que ressoam e sempre estarão presentes naquele prédio que abriga a grande meritória obra educacional.
Mais tarde, por exigência justíssima, o Educandário recebeu o nome do prefeito criador, enquanto Décio, também meritoriamente, aparece na recordação histórica e nas homenagens do Colégio representadas pela lembrança sempre eterna.
No tempo da criação e construção, questionou-se timidamente a escolha do local. Mais tarde, sob novos tempos e concepções, a grita aumentou quanto à agressão que o Liceu fez à paisagem do entorno do Palácio Amarelo. Tudo ficou agravado com a construção do barraco que abrigou o Gabinete do Prefeito por muitos anos.
Tudo isso, mesmo por justo, não retira a importância do Educandário, que serve e bem à mocidade petropolitana. Felizmente, o barraco já foi retirado, os acessos ao Liceu foram ampliados e ninguém porá abaixo o prédio, que abriga a arte incorporável de Djanira em seu salão nobre. O que pode ser feito para recuperar a paisagem perdida é aproveitar a antiga área do barracão e áreas por detrás do Palácio Amarelo para um reflorestamento de espécies que disfarcem o prédio do Liceu. Mas, também, o que fazer se lá pelos altos existe o “Bairro dos Milionários”?
Que valha a utilidade e continue a convivência do velho com o novo em proveito exclusivo de nossa mocidade. Afinal, se o Louvre recebeu na sua área uma pirâmide moderníssima, não é mesmo?