CURSO DE HISTÓRIA DE PETRÓPOLIS

Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette

Módulo I

Antecedentes históricos: primitivos habitantes; penetração para Minas; as sesmarias; a Fazenda dos Correias; Dom Pedro I no Córrego Seco.

PRIMITIVOS HABITANTES

Os primitivos ocupantes do solo petropolitano foram os índios. A denominação “Sertão dos Índios Coroados”, inicialmente dada às terras que hoje constituem o Município de Petrópolis, nos leva à conclusão de que estes índios, assim denominados pelos portugueses “porque cortavam os cabelos de maneira a formar uma espécie de coroa enrolada no alto da cabeça[…]” (1), seriam os antigos goitacazes que, combatidos pelos portugueses, buscaram refúgio no sertão.

(1) DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e História do Brasil. Tomo I. São Paulo: Universidade de São Paulo, p. 52.

Por outro lado, a descoberta de vestígios de objetos indígenas nos rios de Petrópolis, reforçou a tese de que, na realidade, muitas picadas no caminho para Minas Gerais e que posteriormente foram aproveitadas pelos colonizadores, na realidade foram abertas pelos índios em seus movimentos migratórios.

Do mesmo modo, a Carta Topográfica da Capitania do Rio de Janeiro, datada de 1767, assinala uma vasta área da margem direita do rio Piabanha e da margem setentrional do Rio Paraíba, até Minas Gerais, à qual denomina “Sertão dos índios bravos”.

Por esta região erravam os índios Puris, divididos em várias tribos, constantemente em guerra. Assim, os Pataxós, da mesma raça que os Puris “habitavam as florestas do sertão à beira do rio Piabanha”. (2)

(2) DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e História do Brasil. Tomo I. São Paulo: Universidade de São Paulo, p.71.

O CAMINHO NOVO

O Caminho Novo, ligando Rio de Janeiro a Minas Gerais, foi aberto por Garcia Rodrigues Pais, filho do bandeirante Fernão Dias Pais, o “Caçador de Esmeraldas”, mediante licença concedida pelo governador Arthur de Sá Meneses.

Garcia Rodrigues Pais iniciou a empreitada com alguns homens brancos e mais de quarenta escravos, consumindo nesse trabalho “todos os seus haveres, quer os herdados de seu pai, quer os adquiridos de suas catas auríferas”. (3)

(3) LACOMBE, Lourenço Luís. Centenário de Petrópolis: Trabalhos em Comissão. Petrópolis, v. 5, p. 41, 1942.

Garcia Rodrigues Pais transferiu sua residência de São Paulo para perto da atual Penha, nos subúrbios do Rio de Janeiro e, ao finalizar o caminho, “obteve duas sesmarias sobre os rios Paraíba e Paraibuna, estabelecendo sobre o primeiro balsas e canoas para a passagem de viajantes e cargas, o que seria rendoso”. (4)

(4) TAUNAY, Affonso de E. História das Bandeiras Paulistas. São Paulo: Melhoramentos, 1961, p. 240.

A VARIANTE DO CAMINHO NOVO

Foi construída por Bernardo Soares de Proença, fazendeiro na região de Suruí, na Baixada Fluminense.

Bernardo Soares de Proença nasceu na Freguesia de São Pedro, no Bispado da Guarda, em Portugal, sendo filho de Felix Proença Magalhães e de D. Águeda Gomes de Perada.

Militar, serviu por mais de vinte e dois anos nos postos de sargento, capitão, sargento-mor e tenente coronel, “sendo promovido a Coronel de um dos Regimentos de infantaria auxiliar composto de dez companhias, no Distrito do Recôncavo”. (5)

(5) CARTA RÉGIA de 9 de junho de 1734.

Construiu a Variante, porque o trecho do Caminho Novo que subia a Serra do Mar era péssimo, a subida muito íngreme, a travessia dos rios em tempos de chuva era impraticável, verificando-se com freqüência perdas de animais, tropeiros e cargas.

A Variante do Caminho Novo partia do Porto da Estrela, subia a “serra”, indo dar no Alto da Serra. Daí, seguia pela Rua Teresa, passando depois pela Rua Dr. Sá Earp, pela Silva Jardim, pelo Quissamã e Itamarati, Correias, Itaipava, Pedro do Rio, Secretário, Cebolas, até Paraíba do Sul.

Esta variante, encurtando a viagem Rio-Minas, foi, sem dúvida, a causa do desenvolvimento de nossa região serrana.

Em 1711, requereu “uma légua de terra em quadra, atrás da “Serra” do Frade, correndo o sertão da dita légua pelo mesmo rumo que corre o caminho geral que há de abrir da Parayba e vir buscar as sahidas das quebradas da dita Serra do Frade”. (6)

(6) SODRÉ, Alcindo. Centenário de Petrópolis: Trabalhos em Comissão. Petrópolis, v. 3, p. 218., 1940.

Tornou-se assim o primeiro proprietário de terras na área urbana da futura Petrópolis, tendo construído sua residência no Itamarati.

AS SESMARIAS

Eram terras incultas ou abandonadas, que os reis cediam a sesmeiros que dispusessem a cultivá-las. Eram também chamadas “quadras” pois a sua medição era feita em léguas quadradas (1 légua de sesmaria = 6.600 metros ou 3.000 braças).

As sesmarias do vale do Piabanha foram concedidas ao longo do Caminho Novo, com as seguintes finalidades: proporcionar albergue e alimentação para funcionários, tropeiros e animais de carga, em trânsito pelo Caminho Novo; construir e conservar pontes sobre os rios; manter conservado o Caminho Novo etc.

As mais antigas sesmarias, segundo nos informa Rabaço foram:

Quadra de Francisco Matos Figueira, que se estendia do Meio da Serra até o Alto da Serra (1686);
Quadra de João Matos de Sousa, que se estendia do Meio da Serra até a Pedra do Cortiço, no Indaiá (1686);
Quadra do Secretário, José Ferreira da Fonte, localizada no vale do rio Fagundes (1703);
Quadra das Pedras, Euzébio Alves Ribeiro. O nome derivou-se do pico da Maria Comprida, onde seu proprietário desenvolveu importante fazenda (1734);
Quadra de Araras, Capitão Luís Peixoto da Silva, que vendeu a maior parte de suas terras a Manuel Antunes Goulão, que ali desenvolveu a Fazenda do Rio da Cidade (1751);
Quadra da Paciência, cortada pelo rio desse nome, na região dos atuais bairros do Carangola, Retiro e Caitetu, pertencente a Francisco Muniz de Albuquerque (1741);
Quadra do Itamarati, Bernardo Soares de Proença (1721);
Quadra de Magé, na região correspondente a Itaipava, cortada pelo Rio Piabanha, requerida por José Ferreira da Fonte (1734);
Quadra do Rio Morto, Manoel Correia Goulão, na confluência do referido rio com o Piabanha, na região onde hoje se ergue o povoado de Correias (1760);
Quadra do Alcobaça, onde se destaca o pico desse nome, concedida a Francisco Muniz de Albuquerque (1741). (7)

(7) RABAÇO, Henrique José. História de Petrópolis. Petrópolis: Instituto Histórico de Petrópolis, 1985, p. 13 – 15.

AS FAZENDAS

Com o correr do tempo estas sesmarias foram, em conseqüência da morte de seus proprietários, fragmentando-se em fazendas.

Assim, a sesmaria do Itamarati deu origem a duas importantíssimas fazendas:

a) Fazenda do Itamarati, deixada por Bernardo Soares de Proença a seu filho Antônio de Proença Coutinho, que a dirigiu de 1735 a 1752 e “defendeu o Caminho Novo, enviando à Metrópole um relatório sobre o movimento das tropas verificado nessa picada e um pedido bem fundamentado de conservá-la sempre”. (8)

(8) SCHAETTE, Estanislau Frei. Pequena Ilustração. Petrópolis, 17 de setembro de 1939.

b) Fazenda do Córrego Seco, deixada por herança ao Sargento-Mor José Vieira Afonso que a vendeu ao Imperador D. Pedro I, em 1830.

A sesmaria do Rio Morto deu origem à Fazenda do Padre Correia (Antônio Tomás de Aquino Correia da Silva Goulão), que a herdou do pai Manuel Antunes Goulão.

A FAZENDA DO PADRE CORREIA

O Padre Correia era dotado de grande capacidade administrativa e jamais se descuidava de seus deveres religiosos.

Em sua fazenda, tornaram-se famosas suas plantações de frutas, sua fabricação artesanal de ferraduras e sua hospitalidade (boas acomodações, mesa farta e sacramentos).

Viajantes ilustres deixaram registrados inúmeros elogios ao Padre Correia e à sua fazenda. Entre eles destacamos os cientistas alemães Spix e Martius, o geólogo inglês João Emanuel Pohl, o botânico francês Saint-Hilaire, o barão de Langsdorff, cônsul da Rússia e muitos outros.

Todavia, o hóspede mais famoso da fazenda foi o Imperador D. Pedro I. Assim, a 25 de março de 1822, rumo a Minas, jornada que tão gloriosamente terminaria às margens do Ipiranga em 7 de setembro, e, a 31 de dezembro de 1830, também a caminho de Minas, e que veio a ter o desfecho trágico de 7 de abril, D. Pedro I hospedou-se na fazenda do Padre Correia.

Em várias outras ocasiões esteve o Imperador na referida fazenda, trazendo a Família Imperial para temporadas de repouso e principalmente para o tratamento da saúde de sua filha, a Princesa D. Paula.

O Padre Correia faleceu aos 65 anos, no dia 19 de junho de 1824, deixando a fazenda como herança para sua irmã D. Arcângela Joaquina da Silva, de quem D. Pedro I tentou, sem êxito, comprar a propriedade.

Foi D. Arcângela quem sugeriu ao nosso primeiro Imperador a compra das terras vizinhas, constituídas pela Fazenda do Córrego Seco.

A FAZENDA DO CÓRREGO SECO

A Fazenda do Córrego Seco constituía ¼ da primitiva sesmaria de Bernardo Soares de Proença e recebeu esse nome por causa do Rio Palatino que, em determinadas épocas do ano, ficava completamente seco.

Pertenceu inicialmente a Manuel Vieira Afonso, passando mais tarde à sua esposa D. Catarina Josefa de Jesus que a deixou a seus sete filhos.

As terras da fazenda eram frias, úmidas e improdutivas e a casa da mesma estava caindo aos pedaços, por isso foi comprada aos herdeiros por um dos irmãos, o Sargento-Mor José Vieira Afonso, por 200 mil réis.

Comprada a fazenda e trocado o seu nome para “Concórdia”, para simbolizar o desejo de D. Pedro I de que houvesse paz, amor e concórdia entre os brasileiros, trataram-se dos planos para a construção do Palácio de Verão, havendo orçamento de um engenheiro francês, Pezérat, de duzentos contos de réis.

Em 1831, com a abdicação de nosso primeiro Imperador, os planos de construção do palácio foram abandonados e a fazenda foi entregue à administração de uma firma inglesa (Samuel Phillips e Cia.), que a arrendou por um conto de réis ao ano.

Com a morte de D. Pedro I, em 1834, a fazenda foi incluída numa série de propriedades a serem vendidas para quitar dívidas pessoais do Imperador.

O Marquês do Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão, propôs uma emenda no orçamento do Império, pela qual o governo cobria com 14 contos de réis a hipoteca da fazenda, passando esta a ser propriedade de D. Pedro II.

Módulo II

A Povoação de Petrópolis: a fundação de Petrópolis; a colonização alemã; a obra administrativa de Koeler; a contribuição da imigração estrangeira.

A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS

O marco inicial da criação da povoação de Petrópolis foi o Decreto Imperial n º 155, de 16 de março de 1843.

Eis o referido decreto no seu texto integral, em grafia da época:

Tendo Approvado o plano que Me apresentou Paulo Barboza da Silva, do Meu Conselho, Official Mór e Mordomo de Minha Imperial Caza, de arrendar a Minha Fazenda denominada “Corrego Seco” ao Major de Engenheiros Koeler, pela quantia de um conto de reis annual, reservando um terreno sufficiente para nelle edificar um Palacio para Mim, com suas dependencias e jardins, outro para uma povoação, que devera ser aforada a particulares, e assim como cem braças d’um e outro lado da estrada geral, que corta aquella Fazenda o qual devera tambem ser aforado a particulares, em datas ou prazos de cinco braças indivisiveis, pelo preço porque se convencionarem, nunca menos de mil reis por braça.

Hei por bem authorizar o sobredito Mordomo a dar execução ao dito plano sob estas condições. E outrossim o Authorizo a fazer demarcar um terreno para nelle se edificar uma Igreja com a invocação de S. Pedro de Alcantara, a qual terá uma superficie equivalente a quarenta braças quadradas, no logar que mais convier aos visinhos e foreiros, do qual terreno lhes Faço doação para este fim e para o cemiterio da futura povoação. Ordeno portanto ao sobredito Mordomo que proceda aos ajustes e escripturas necessarias, n’esta conformidade, com as devidas cautelas e circumstancias de localidades, e outrossim que forneça a Minhas espenças os vazos sagrados, e ornamentos para a sobredita Igreja, logo que esteja em termos de n’ella se poder celebrar. Paço da Boa Vista deseseis de Março de 1843, vigesimo segundo da Independencia e do Imperio. Dom Pedro Segundo. Paulo Barboza da Silva. Conforme, Augusto Candido Xavier de Brito. (9)

(9) DECRETO IMPERIAL DE 16 DE MARÇO DE 1843. Comissão do Centenário de Petrópolis. Petrópolis, 1943.

Aos vinte e seis dias do mês de julho de 1843, foi lavrada a escritura de arrendamento da Fazenda Córrego Seco, ao Major Júlio Frederico Koeler.

O nome Petrópolis foi dado à povoação por Paulo Barbosa, conforme ele próprio confirma em um de seus escritos quando diz: “Lembrando-me de Petersburgo, cidade de Pedro, recorri ao Grego e achei uma cidade com este nome, no arquipélago Egeu, e sendo o Imperador D. Pedro, julguei que lhe caberia este nome – Petrópolis”. (10)

(10) DORNAS FILHO, João. Figuras da Província. Vol I. Belo Horizonte: Movimento Editorial Panorama, 1949, p. 29.

O nome Petrópolis apareceu pela primeira vez, oficialmente, no mesmo ano (1843), através de uma portaria do presidente da Província do Rio de Janeiro, João Caldas Viana, que mandou afixar na colônia três placas:

· Petrópolis;
· Cruz da Capela dos Finados de Petrópolis;
· Cruz de S. Pedro de Petrópolis.

Ao ser fundada, a povoação de Petrópolis pertencia à freguesia de São José do Rio Preto, que era anexa à Vila de Paraíba do Sul. Em 1 º de agosto de 1845, Petrópolis foi elevada a Curato e, em 1846, quando foi criada a Vila da Estrela, Petrópolis lhe foi anexada na categoria de freguesia.

A OBRA ADMINISTRATIVA DE KOELER

Julio Frederico Koeler nasceu na Mogúncia, Ducado de Hesse, na Alemanha, a 16 de junho de 1804. Era filho do casal George Ludwig Koeler e Elise Amelung, tendo frequentado o curso de Medicina, do qual desistiu para abraçar a carreira militar, ingressando no exército prussiano.

Em 1828, como estivesse o Brasil com carência de oficiais em suas Forças Armadas, o governo contratava oficiais estrangeiros. Koeler foi um deles, trazido ao Brasil pelo então Ministro do Exército, Barão Jorge Sheaffer. Para ingressar como oficial no Exército Brasileiro, teve que prestar rigorosos exames perante uma banca, composta de examinadores respeitáveis, sendo aprovado com distinção.

A 24 de fevereiro de 1830, casou-se com D. Maria da Carmo Rebello de Lamare, em Niterói, resultando desta união um único filho, Rodrigo de Lamare Koeler, que mais tarde foi Vereador à Câmara Municipal de Petrópolis, e participou como voluntário da Guerra do Paraguai, tendo testemunhado o celébre episódio da Rendição do exército paraguaio em Uruguaiana.

Em conseqüência de uma revolta nas Forças Armadas, da qual resultou a demissão de todos os oficiais estrangeiros, permitindo a permanência apenas daqueles que se naturalizassem, fato que levou Koeler a requerer sua naturalização, retornando ao Exército no posto de 2 º tenente.

Além das atribuições militares, Koeler executou numerosos serviços de engenharia, tais como: planejamento e construção de novas estradas na região serrana e em Campos; planejamento e construção dos edifícios da cadeia, câmara e forum de Itaboraí; uma ponte sobre o Rio Paraíba do sul, no Município do mesmo nome; restauração do Atalho do Caminho Novo e outros. Foi durante este último trabalho que ocorreu o “Episódio do Navio Justine”, que levava trabalhadores alemães para a Austrália, os quais, devido aos maus tratos a bordo, revoltaram-se, obrigando o comandante do navio a aportar no Rio de Janeiro. Tomando conhecimento do fato, Koeler entrou em entendimentos com as autoridades e conseguiu o desembarque destes trabalhadores no Brasil, para serem aproveitados nos tabalhos de restauração do Atalho do Caminho Novo.

Com a criação da colônia, Koeler é designado para dirigir as duas repartições da mesma: a “Diretoria da Colônia” e a “Superintendência da Imperial Fazenda”, a 1 ª subordinada ao governo provincial e a 2 ª subordinada à Mordomia.

Como conseqüência de um atentado contra a vida de Paulo Barbosa, embora o mesmo não tivesse se concretizado, foi o Mordomo afastado do país, como medida de segurança, e enviado como embaixador na Rússia. Com o afastamento de Paulo Barbosa, Koeler perdeu um precioso aliado, até porque para o seu lugar foi nomeado José Maria Velho da Silva, inimigo de Koeler que o acusa de um desvio de verbas na Superintendência da Imperial Fazenda, fato que levou Koeler a demitir-se.

Em 21 de novembro de 1847, Koeler em companhia de um grupo de amigos, em sua chácara no Valparaiso, participava de um exercício de tiro ao alvo, quando foi ferido pela arma de um dos atiradores, falecendo em conseqüência, naquele mesmo dia, após prolongada agonia.

A morte de Koeler provocou uma série de controvérsias que parecem ter sido definitivamente esclarecidas pelo Dr. Antônio Izaias da Costa Abreu, em seu interessante livro A Morte de Koeler, quando afirma que o autor da morte do Major foi Francisco Alves de Brito e não Francisco Alves de Brito Maia, como alguns afirmavam e que “a morte ocorreu de forma acidental”. (11)

(11) ABREU, Anônio Izaias da Costa. A Morte de Koeler: a tragédia que abalou Petrópolis. Petrópolis: Fundação Petrópolis de Cultura, Esporte e Lazer, 1996, p. 85.

Francisco Alves de Brito, cumpre lembrar, esteve em julgamento por duas vezes, em Petrópolis e em Estrela, sendo sempre absolvido.

Koeler foi sepultado no antigo cemitério que então se erguia, onde hoje é o Convento dos padres franciscanos, dali transferido para o atual cemitério e, finalmentente, transferido para o monumento erguido em sua homenagem na Praça Princesa Isabel.

Ao mesmo tempo em que fazia o levantamento topográfico e traçava o plano urbanístico, Koeler foi elaborando o projeto do palácio imperial e de suas dependências, inclusive a primitiva igreja que funcionou como matriz até 1926, defronte ao palácio.

Os prazos da Vila Imperial foram aforados a pessoas que D. Pedro II desejava ter como vizinhos: nobres da Corte, diplomatas e homens de negócios.

Em torno da Vila Imperial, Koeler traçou os quarteirões coloniais, dando-lhes os nomes das localidades alemãs de onde procediam os colonos: Renânia, Westphália, Mosela, Bingen, Siméria etc.

Fato digno de nota é que o regulamento urbanístico elaborado por Koeler foi, na verdade, o primeiro código de obras petropolitano. Suas principais disposições são as seguintes:

a) concessão de terrenos em quadrilongos de 5 braças de frente por 10 de fundo (55 X 110 metros aproximadamente);
b) proibição de subdividir os prazos;
c) obrigação de construir dentro de 2 ou 4 anos;
d) prévia aprovação da fachada dos prédios;
e) construção de calçada com 10 palmos de largura em alvenaria, no prazo de 1 ano e em pedra no prazo de dois anos;
f) obrigação de cercar ou murar os prazos, dentro de 1 ano no máximo.

Concepções urbanísticas consideradas hoje modernas foram utilizadas por Koeler já naqueles recuados tempos como a de aproveitar os cursos d’água, para traçar ao longo de suas margens as avenidas da Vila Imperial e as ruas de acesso aos bairros circundantes.

O Dr. Guilherme Pedro Eppinghaus, numa de suas conferências, pronunciada a 28 de junho de 1969, afirmou que:

Koeler, em seu projeto, previu, com mais de um século de antecedência, a dilatação horizontal da cidade, expandindo-se pelo vale do Piabanha e seus afluentes. Mais ainda, Koeler manifestou em seu projeto profunda preocupação com a devastação das matas, erosão nas encostas e suas conseqüências danosas com o escoamento das grandes precipitações pluviométricas, que à época já se faziam sentir com as chuvas de verão. Daí, com a profundidade dos lotes pretendia evitar estes problemas, sendo a subdivisão em profundidade, processada posteriormente, a causadora dos deslizamentos e da queda de barreiras (12). Foi Koeler, é preciso que se reconheça, um homem à frente e acima do seu tempo, que, como muito bem acentuou Guilherme Auler, “[…] em todos os setores, foi incansável, pertinaz e zeloso. A tudo previu, deu assistência e esteve presente […]”. (13)

(12) EPPINGHAUS, Guilherme Pedro. Anuário do Museu Imperial. Petrópolis, 1960-1970, p. 8 e 13.

(13) AULER, Guilherme. Documentos de Julio Frederico Koeler. Tribuna de Petrópolis. Petrópolis, janeiro de 1995.

A COLONIZAÇÃO ALEMÃ

Após as guerras napoleônicas, a Alemanha atravessou um período de terrível crise. O povo estava exausto das longas guerras, os camponeses endividados, a indústria paralisada, os impostos indiretos aumentando sempre. Em conseqüência, “a discórdia reinava por toda parte” (14), contribuindo para que os camponeses, atraídos pela sedução do continente novo, emigrassem à procura de melhores condições de vida.

(14) LACOMBE, Américo Jacobina. A Colonização Alemã. Geopolítica dos Municípios. Rio de Janeiro, 1957, p. 58.

No Brasil, as autoridades provinciais desenvolviam um intenso plano de colonização estrangeira, a partir da Lei Provincial n º 56, de maio de 1840, autorizando o governo a promover o estabelecimento de colônias agrícolas e a adquirir terras a fim de loteá-las aos colonos.

Em 1844, o Presidente da província fluminense Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, Visconde de Sepetiba, assinou um contrato com a firma Charles Delrue & Cia., de Dunquerque, para que fossem contratados imigrantes para trabalhar nas obras que encetava. Os contratadores, dando uma interpretação liberal a uma cláusula do contrato, ao invés de remeterem colonos alemães, especializados na abertura e melhoramento das estradas, enviaram famílias inteiras, cujos integrantes, na sua maioria, não possuíam a especialização pretendida.

A propaganda na Alemanha foi exagerada, prometendo-se maravilhas no Brasil, deslocando-se para o Brasil famílias inteiras.

Aureliano Coutinho, não tendo condições de alojar tantas pessoas, recorreu a Paulo Barbosa, na esperança de que este pudesse alojá-los na Fazenda Santa Cruz, ou nas imperiais Quintas. Paulo Barbosa, conhecendo o plano do Major Julio Frederico Koeler de criar em Petrópolis uma colônia agrícola “capaz de suprir a capital de diferentes espécies de frutas e legumes da Europa” (15), acertou com este a vinda dos colonos para Petrópolis. Os primeiros colonos alemães, chegaram ao Rio de Janeiro a 13 de junho de 1845, a bordo do navio “Virginie”, sendo posteriormente transportados do Arsenal de Guerra da Corte, em faluas, para o Porto da Estrela, e daí a pé, fazendo escala pela Fábrica de Pólvora e no Meio da Serra, até a Fazenda do Córrego Seco, onde chegaram a 29 de junho de 1845.

(15) ADÃO, Claudionor de Souza. Como nasceu e cresceu Petrópolis. A Noite. Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1957, p. 17.

Aqui chegados os colonos, cada casal recebeu um prazo de terras que lhe foi aforado em enfiteuse pérpetua, cujo foro, variável segundo o tamanho e a localização do lote, seria pago a partir do oitavo ano e, no caso de venda de seu terreno, outra taxa percentual ao lucro da venda denominada laudêmio.

O povoado foi surgindo graças ao labor, à tenacidade e à operosidade dos colonos alemães, cujos costumes ordeiros foram objeto de grandes elogios por parte de Aureliano Coutinho, por ocasião de sua visita à Colônia, e do próprio Koeler que aos mesmos assim se referiu “[…] São os colonos pessoas laboriosas, honestas, amigas da boa ordem, respeitadoras da lei e muito religiosas […]”. (16)

(16) KOELER, Julio Frederico. D.C. n º II – 34, 18,35, do acervo da Biblioteca Nacional.

O sonho da colônia agrícola logo se dissipou, mas não tardaram a surgir as primeiras manufaturas, preconizando o futuro industrial de Petrópolis.

Definição de termos:

· Enfiteuse: Direito real alienável e transmissível aos herdeiros, e que confere a alguém o pleno gozo do imóvel mediante a obrigação de pagar um foro anual.
· Foro: Quantia que o enfiteuta de um domínio útil paga anualmente ao proprietário de um imóvel.
· Laudêmio: Pensão ou prêmio que o foreiro paga ao senhorio direto, quando há alienação (cessão de bens) do imóvel por parte do enfiteuta.

CONTRIBUIÇÃO DA IMIGRAÇÃO ESTRANGEIRA

Os primeiros povoadores do solo petropolitano eram portugueses, que se estabeleceram no vale do Piabanha e criaram muitos sítios e fazendas às margens do Atalho do Caminho Novo.

Em 1843, logo após a fundação de Petrópolis, imigrantes açorianos, contratados pelo governo provincial, vieram trabalhar nas obras de conservação e melhoramento da Estrada da Serra da Estrela, transformando o velho caminho tropeiro em carroçável.

As décadas de 1850 e 1860 marcam a intensificação da imigração portuguesa com a chegada de um grande contingente de trabalhadores açorianos para as obras da Estrada União e Indústria, assim como para a agricultura.

Inúmeros imigrantes portugueses tiveram participação ativa na vida de Petrópolis nos primeiros tempos, entre os quais destacamos:

Manoel Vieira Afonso, proprietário de uma fazenda em Sardoal e, por volta do ano de 1800, da histórica fazenda do Córrego Seco; Antonio José Corrêa Lima, que durante 41 anos foi agente da “Agência Postal”, instalada na colônia em 1848; Guilherme e Henrique Kopke que chegaram ao Brasil logo após a Independência. O 1 º , engenheiro, a pedido do irmão projetou e construiu o edifício para o Colégio Kopke que seria o primeiro a funcionar em Petrópolis, o 2º, advogado, foi o diretor do referido Colégio e chegou a naturalizar-se brasileiro; Monsenhor Benedito Moreira, dirigiu um colégio que em 1881, passou a funcionar no edificio Kopke, no qual foram educados centenas de jovens; os Padres Paiva, que adquiriram na Westfália uma chácara, onde construiram um grande edifício, mais tarde transformado em Seminário pelos padres Lazaristas; Bartolomeu Pereira Sudré, o fundador da imprensa petropolitana, com o jornal ” O Mercantil”, fundado em 1857 e que foi publicado até 1892; Augusto Emílio Zaluar, fundador de “O Paraíba”, periódico que contou com renomados colaboradores; Amaro Emílio da Veiga, que conseguiu, como deputado provincial, a aprovação da lei que elevou Petrópolis à categoria de cidade.

Em 1843, o Presidente da Província do Rio de Janeiro, Caldas Viana, contratou 59 imigrantes franceses para trabalhar nos melhoramentos da Estrada da Serra da Estrela, sob a direção do engenheiro Carlos Rivera, também de nacionalidade francesa.

Entre os franceses que nos primeiros tempos muito contribuiram para o progresso local destacamos: João Batista Binot que se dedicou a floricultura, instalando-se com uma chácara no quarteirão Nassau; Dr. Napoleão Thouzet, médico, que instalou a 1 ª casa de saúde particular de Petrópolis e prestou relevantes serviços à população local durante uma epidemia de cólera; Dr. Tomás Charbonier, médico, que financiou a construção de um grande prédio à Rua do Imperador, onde, em 1847, se instalou o Hotel Bragança; Antonio Court, fundador do Imperial Estabelecimento Hidroterápico (Duchas), no Quarteirão Nassau, que nada devia aos similares da Europa; Pe. Nicolau Germain, vigário da paróquia de São Pedro de Alcântara que promoveu a criação do Asilo e do Colégio Santa Isabel; Antonio João Morin, que se estabeleceu com grande pastagem de animais de montaria para aluguel, na região do Palatinado.

A contribuição dos imigrantes italianos foi muito significativa para o desenvolvimento artesanal e industrial de Petrópolis.

Os primeiros chegados a Petrópolis instalaram-se no Quarteirão Siméria, dedicando-se à comercialização do carvão vegetal.

Com a fundação em 1873 (?) da Fábrica de Tecidos Petropolitana, em Cascatinha, pelo cubano Bernardo Caymari, foram contratados numerosos operários italianos. Os que não foram aproveitados pela fábrica deram início a um ativo artesanato, como sapateiros, carpinteiros, eletrecistas, alfaiates etc.

Tiveram ainda os italianos um papel fundamental na área do comércio e da indústria de alimentos e sua presença ficou marcada em nossa cidade pelas Sociedades Beneficientes de Socorro Mútuo.

Dentre os que muito contribuiram para o desenvolvimento de Petrópolis nos primeiros tempos destacamos: Luis Berrini que, associado aos irmãos Calógeras, assumiu a concessão da Estrada de Ferro Princípe do Grão Pará, garantindo o prosseguimento da arrojada obra até São José do Rio Preto; Sílvio Pazzaglia, escultor, realizou importantes trabalhos artísticos como as cúpulas e as figuras míticas ornamentais da fachada do prédio da Câmara Municipal; Eduardo Capitani que introduziu a tecelagem de seda na Fábrica Santa Helena, no Morin, exercendo também em Petrópolis a representação consular da Itália; Luigi Mora, que em 1903, num barracão da Rua Bernardo de Vasconcellos, fundou a Cervejaria Mora., cujos produtos se tornaram famosos; Umberto Salvini que se destacou na fabricação de sapatos finos e muitos outros.

Os imigrantes ingleses foram grandes incentivadores da hotelaria e do turismo em nossa cidade. Assim, Henrique Carpenter, fundou o Hotel Inglês, frequentado pela alta sociedade dos primeiros tempos de Petópolis;. Tomás Land, possuiu um Hotel na Presidência e desenvolveu a Empresa de Diligências da Serra; Jorge Beresford, foi proprietário do Hotel Beresford, localizado onde hoje fica o Palácio do Grão Pará.

Suiços, Belgas, Libaneses, Israelitas e Cubanos, também contribuiram para o progresso de Petrópolis.

Módulo III

A Cidade Imperial: elevação de Petrópolis à categoria de Cidade; o governo municipal na monarquia; D. Pedro II em Petrópolis.

A ELEVAÇÃO DE PETRÓPOLIS A CIDADE

Pela Lei Provincial nº 397, de 20 de março de 1846, que criou a Vila de Estrela, Petrópolis lhe foi anexada, na categoria de freguesia. Estrela ficava situada na confluência dos rios Inhomirim e Saracuruna, região que hoje pertence a Duque de Caxias.

Petrópolis encontrava-se pois numa situação subalterna, incompatível com o progresso que vinha experimentando, sem falar no privilégio de receber com freqüência a família imperial, não tardando a aspirar sua autonomia e sua elevação à categoria de cidade.

Segundo a legislação em vigor, o voto era exercido por determinados cidadãos que, em nome do povo, elegiam seus representantes às Assembléias Geral e Provincial e à Câmara Municipal.

Quando se iniciou o movimento no sentido de se conquistar para Petrópolis a autonomia municipal, eram seus eleitores: Amaro Emílio da Veiga, João Batista da Silva, Inácio José da Silva, Augusto da Rocha Fragoso, Tomás José da Porciúncula e João Meyer. A estes se juntaram outros de igual prestígio como o Barão de Mauá, os jornalistas Bartolomeu Pereira Sudré, Quintino Bocaiuva e Emilio Zaluar; o professor Henrique Kopke, o médico Manuel de Melo Franco e o alferes Carlos de Barros Falcão Cavalcanti.

Tal aspiração encontrou no então Major e Deputado à Assembléia Provincial, Amaro Emílio da Veiga, seu maior defensor.

Amaro Emílio de Veiga, natural dos Açores, onde nasceu a 15 de janeiro de 1814, chegou ao Rio de Janeiro em 1820, em companhia de seus pais.

Oito anos mais tarde assentou praça de guarda-marinha, concluindo o curso da Academia da Marinha em 1834.

Sua carreira militar foi muito rápida, sendo sucessivamente elevado aos postos de 2 º Tenente da Armada (1835), 1º Tenente da Armada (1837), Capitão do Corpo de Engenheiros (1841), Ajudante de Engenheiro da Câmara Municipal da Corte (1841) ano em que também completou o curso de engenharia.

Seu contato com Petrópolis parece ter-se iniciado com sua nomeação em 1842 para o cargo de Vice-Diretor Interino da Fábrica de Pólvora da Estrela. Em seguida, realizou uma série de obras para a Câmara Municipal da Corte, até 1853, quando lhe foi concedida permissão para se empregar como engenheiro na Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro, pertencentes ao Barão de Mauá.

Sua carreira política teve início quando, em 1855, foi eleito deputado à Assembléia Legislativa da Província do Rio de Janeiro.

Comentando a versão, segundo a qual, Petrópolis teria sido elevada à cidade por meio de emenda incluída na lei que dava igual categoria às vilas de Vassouras e Valença, Câmara afirma “ser a mesma inverídica, constituindo esta proposta um projeto isolado”. (17)

(17) CÂMARA, Gerardo Brito Raposo da. A Cidade Imperial: Elevação de Petrópolis a Cidade; o papel do Coronel Veiga. Geopolítica dos Municípios. Petrópolis, 1958, p.67

Assim, na sessão de 6 de agosto de 1856, o deputado Amaro Emílio da Veiga, apresentou à Assembléia Legislativa Provincial o seguinte projeto, que foi enviado à Comissão de Estatística:

1856 – N º 11 T. – A Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro decreta:
Art. 1 º – Fica desde já elevada à categoria de cidade a povoação de Petrópolis, ficando-lhe anexa a freguesia de São José do Rio Preto.
Art. 2 º – Os limites deste novo município serão aqueles que forem designados pela presidência da província.
Art. 3º – Ficam revogadas as leis em contrário.
Sala das Sessões, em 6 de agosto de 1856.
Amaro Emílio da Veiga.

O projeto foi objeto de acalorados debates. O próprio Imperador era contrário a essa concessão por julgá-la prejudicial a Petrópolis, já que, na condição de povoado, Petrópolis pagava oito contos de réis como imposto à Estrela e recebia como ajuda da Província cem contos de réis ao ano, para acudir às necessidades da povoação em obras de saneamento e utilidade pública. Por outro lado, os representantes de Estrela não aceitavam perder um povoado tão importante.

Faz-se então um projeto pelo qual Estrela receberia como compensação pela perda do povoado de Petrópolis, a freguesia de São Nicolau do Suruí, que seria desmembrada do município de Magé. Face aos protestos dos representantes de Magé, o projeto foi rejeitado pelo Presidente da Província que alegou “não poder conciliar as partes na questão de uma compensação à Estrela”. Em conseqüência o projeto volta à Assembléia e o deputado Luís de Almeida Brandão propõe uma emenda ao mesmo, suprimindo a palavra Petrópolis. Diante deste fato o Ten. Cel. Veiga faz nova modificação no projeto: Petrópolis, Valença e Vassouras seriam elevados à categoria de cidade, não recebendo Estrela nenhuma compensação, já que os municípios a que pertenciam Valença e Vassouras, nada receberiam.

O projeto é aprovado e é encaminhado ao Presidente da Província, Antonio Nicolau Tolentino, para que o mesmo se pronuncie. Passam-se os dez dias regulamentares e o presidente não se pronuncia a respeito do mesmo, nem vetando, nem aprovando. Este fato conferia à Assembléia Legislativa Provincial o direito de mandá-lo publicar, por seu Presidente, o que foi feito através da promulgação da Lei N º 961, de 29 de setembro de 1857, cujo teor é o seguinte:

“O comendador Francisco José Cardoso, Presidente da Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro. Faço saber a todos os seus habitantes que a mesma Assembléia Legislativa Provincial decretou o seguinte:

Art. 1 º – Ficam elevadas à categoria de cidade as vilas de Valença e Vassouras e a povoação de Petrópolis.
Art. 2 º – Anexa-se o segundo distrito da freguesia de São José do Rio Preto ao novo município de Petrópolis, de que o presidente da província designará os limites.
Art. 3 º – São revogadas as disposições em contrário.

E porque o presidente da Província recusou sancioná-la, em conformidade do artigo 19 da carta de lei constitucional de 12 de agosto de 1834, manda a Assembléia Legislativa Provincial a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém.

O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr.

Dada no paço da Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, aos 29 de setembro de 1857, 36 º da Independência e do Império”. (18)

O Ten. Cel. Amaro Emílio da Veiga foi quem, como comenta Antonio Machado, “sustentou com entranhada firmeza, em calorosos debates a causa que abraçara” (19), sacrificando inclusive sua carreira militar, obrigado que foi a reformar-se.

(18) COLEÇÃO DAS LEIS DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO V. 1857, p. 1.

(19) MACHADO, Antônio. Centenário de Petrópolis: Trabalhos em Comissão. Petrópolis, 1958, p. 59.

Foram necessárias três eleições para constituir a 1 ª Câmara Municipal de Petrópolis, já que as duas primeiras foram anuladas pelos avisos do Ministério do Império, datados de 2 de junho de 1858 e 12 de janeiro de 1859, respectivamente.

Finalmente, a 13 de março de 1859, foi eleita a 1ª Câmara, cuja posse foi realizada a 17 de junho de 1859, num prédio da Rua Paulo Barbosa, onde hoje se localiza o Edifício Rocha, sendo a sessão presidida pelo Dr. Bernardino Alves Machado, Presidente da Municipalidade de Estrela.

Foram empossados na ocasião os vereadores Albino José Siqueira, Francisco de Paula, Manoel Cândido Nascimento, Augusto da Rocha Fragoso, João Batista da Silva e Ignácio José da Silva.

Mais tarde, foram chamados os suplentes João Meyer e José Antonio da Rocha, por não terem entrado em exercício os Drs. Thomaz José da Porciúncula e José Calazans.

O Ten. Cel. Amaro Emílio da Veiga por ter sido o candidato a vereador mais votado, deveria ser o Presidente da Câmara, mas o ilustre militar não chegou a tomar posse porque um aviso do Ministro da Guerra deu-o como incompatível para exercer função eletiva, por ser um militar da ativa, sendo então empossado na presidência, como 2 º vereador mais votado o Cel. Albino José Siqueira.

O Cel. Albino José Siqueira já havia ocupado este cargo na Vila da Estrela, onde era comerciante e fazendeiro, sendo proprietário da Fazenda do Fragoso, na qual hospedou o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz D. Teresa Cristina.

O GOVERNO MUNICIPAL NA MONARQUIA

Por seu caráter orgânico, a Lei de 1 º de outubro de 1828, segundo nos informa Paupério “foi o maior repositório do direito municipal brasileiro da época”. (20)

(20) PAUPÉRIO, Arthur Machado. O governo municipal na monarquia. Geopolítica dos Municípios. Petrópolis, 1958, p.79.

Tal Lei retirou às Câmaras Municipais suas derradeiras funções judiciárias, restringindo-as a atribuições puramente administrativas, favorecendo entretanto o desenvolvimento do orçamento local e das posturas municipais. Por outro lado passaram as Câmaras a ter a seu cargo tudo que dissesse respeito à polícia e economia.

Tais medidas, informa Medeiros, tinham como objetivo “fortalecer de todos os modos o município para, assim, diminuir o poder dos governos provinciais, perturbadores, muitas vezes, da unidade nacional”. (21)

(21) MEDEIROS, Océlio de. O governo municipal no Brasil. Rio de Janeiro: s/e p.48-49.

Os assuntos municipais preocupavam de tal maneira a opinião pública e o governo, que foram feitos vários projetos, procurando melhorar a legislação municipal, Dentre estes destacaram-se o do deputado Cândido Borges Monteiro (1856), que procurava modificar a Lei de 1828, e o do marquês de Olinda (1862), que procurava reorganizar as Câmaras Municipais, aos quais não tardaram a se seguir outros.

Na realidade, o que pretendiam os legisladores “era plena autonomia econômica e administrativa para os municípios, ressalvados apenas a prestação de contas e o controle da legalidade de seus atos a que ficavam sujeitos”. (22)

(22) PAUPÉRIO, Arthur Machado. O governo municipal na monarquia. Geopolítica dos Municípios. Petrópolis, 1958, p.82.

Durante o Império a Câmara Municipal de Petrópolis exerceu funções executivas e legislativas, as primeiras por seus presidentes e as legislativas pelos demais vereadores.

Neste período, revezou-se na presidência da Câmara um grande número de vereadores, alguns ocupando a presidência por vários mandatos (Ver relação dos presidentes da Câmara de Petrópolis na Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, Vol. I , 1950, p.161-16).

Organizando seu próprio Código de Posturas (1861), regulamentando serviços, realizando atos de rotina administrativa, julgando concorrências públicas, “foi modelar, por sua honestidade e desapego aos cargos públicos, a atuação desta Câmara, naqueles 30 anos de regime monárquico”. (23)

(23) SÁ EARP NETO, Arthur de. Os Cem Primeiros Anos da Câmara Municipal. Revista do Instituto Histórico de Petrópolis. Petrópolis, v. especial, 1988, p. 155

D. PEDRO II EM PETRÓPOLIS

D. Pedro II buscava em Petrópolis, o sossego e a plenitude da “serra”, o refúgio ideal para se recuperar do desgaste de suas elevadas funções e se entregar aos estudos, à leitura, enfim, aos trabalhos intelectuais de sua preferência. Isto fica patente nas inúmeras cartas que escreveu a Gobineau:

“Aqui passeio a pé todas as manhãs”; “A vida de Petrópolis agrada-me muito[…]; [ ] Aqui trabalho melhor que no Rio, apesar dos dois passeios que faço todos os dias”; “Devo ir, em dezembro a Petrópolis e lá ser-me-á permitido entregar-me um pouco mais às ocupações do espírito […]”. (24)

(24) DOM PEDRO II. Carta a Gobineau de 7 de fevereiro de 1881. In: LACOMBE, Lourenço Luiz. D. Pedro II em Petrópolis. Petrópolis: Edição do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1954.

Sabemos que com o palácio imperial ainda em construção, D. Pedro II já frequentava com sua família a então povoação de Petrópolis, hospedando-se na Fazenda do Córrego Seco, então arrendada ao Major Julio Frederico Koeler.

O velho casarão teria sido reformado por Koeler, ou então demolido por ele, dando lugar a um novo prédio. Neste sentido, o saudoso Prof. Lourenço Luiz Lacombe, apoiando-se no Decreto nº 187, de 15 de março de 1849, pelo qual D. Pedro II cedeu à viúva de Koeler “o domínio de sua casa situada no prazo nº 82 em Petrópolis, sem reposição alguma do valor da antiga casa de vivenda que ali existiu” (25), concluiu que os termos deste decreto tornam evidente a demolição da primitiva casa da fazenda.

(25) DOM PEDRO II. Carta a Gobineau de14 de outubro de 1873. In: LACOMBE, Lourenço Luiz. D. Pedro II em Petrópolis. Petrópolis: Edição do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1954.

Já no palácio, D. Pedro II, pai extremoso, sempre preocupado com a educação de suas filhas, encontrava tempo para assistir as lições de inglês e alemão, ministradas às princesas, pelo Visconde de Sapucaí, Cândido José de Araujo Viana e ainda ocupar-se, ele próprio, das explicações de física e latim às filhas.

Em seus passeios pela manhã e à tarde, comenta Fróes,

[…] o Imperador percorria a pé as ruas principais de Petrópolis, quando não penetrava nos bairros, parando, conversando com os moradores, seus velhos conhecidos, alguns colonos aos quais interrogava da situação e condições de vida. (26)

(26) FRÓES, José Kopke. Tribuna de Petrópolis. Petrópolis, 1º de janeiro de 1961, p. 4.

É necessário enfatizar, que nosso segundo imperador sempre acompanhava com grande interesse a evolução de Petrópolis, preocupando-se com seus problemas e fazendo tudo ao seu alcance para ajudá-la a crescer.

Em conseqüência, visitava com freqüência alguns estabelecimentos públicos como o hospital público, “achando-o mal situado e recomendando a transferência do mesmo para novo edifício”. O hospital público localizava-se à Rua Bragança, hoje Roberto Silveira. Também a Câmara Municipal, na ocasião funcionando em sua segunda sede, localizada à Rua do Imperador, onde se demorou por cerca de uma hora, percorrendo o edifício, examinando a biblioteca, anotando na ocasião em seu Diário: “Fui à Câmara Municipal que infelizmente tem pouca renda”. Em 3 de fevereiro de 1849, D. Pedro II dirigiu-se a pé ao velho cemitério para visitar o túmulo do Major Koeler. “Tocante homenagem do Monarca aos restos mortais de um de seus mais fiéis e leais servidores”, comenta Luiz Afonso d’Escragnolle.

Outra grande preocupação do Imperador em suas estadas na serra, dizia respeito ao desenvolvimento da indústria da seda, tendo anotado em seu Diário “Recomendei ao superintendente Marques Lisboa que estudasse a questão da introdução da cultura da amoreira e a criação do bicho da seda em Petrópolis”, voltando ao assunto em outras oportunidades. Também o Matadouro Municipal foi alvo das preocupações do Imperador, sobre o qual escreveu: “Tem a sua verba, mas acha-se em mau estado”.

Revelando um extraordinário interesse pelas coisas do espírito, de um modo particular pela ciência e pela educação, visitava com freqüência as escolas, com a finalidade de conhecer o adiantamento dos alunos e prestigiar os professores. A respeito das presenças inesperadas do Imperador em nossas escolas, encontramos duas notícias na Tribuna de Petrópolis, de 16 de outubro de 1927, que são realmente dignas de referência. Uma delas refere-se a uma visita que o Imperador fez a uma escola feminina no Retiro e ao aborrecimento do mesmo por não ter encontrado a professora, apesar de ser dia útil. A outra refere-se ao encontro do monarca, por ocasião de sua presença em outra escola pública, com o jovem estudante petropolitano Augusto Guilherme Meschick. Descobrindo nele, informa o citado órgão de imprensa “especiais dotes de inteligência, encaminhou-o mais tarde aos estudos superiores. A este ato de magnanimidade do grande monarca brasileiro deveu Meschick, que então era tipógrafo do “Mercantil”, o seu brilhante futuro, que o levou ao corpo docente do Colégio Pedro II, figurando nesse e em outros estabelecimentos de ensino como uma das maiores notabilidades do magistério nacional”. (27)

(27) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, 16 de outubro de 1927.

Preocupado com a situação das crianças órfãs ou abandonadas, procurou ampará-las com fundações como a colônia de Santa Isabel, fundada em 1885, na Província do Rio de Janeiro. Do mesmo modo, a Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo, fundada em nossa cidade pelo Padre Siqueira, destinada à educação de moças desamparadas, sempre mereceu sua proteção e ajuda.

A ligação entre D.Pedro II e Petrópolis foi tão significativa, que o historiador Wanderley Pinho assim se pronunciou a respeito da mesma: “Petrópolis é o Imperador. Vaga por aqui o seu fantasma”.

Módulo IV

Petrópolis republicana: as armas de Petrópolis; o governo municipal na república; Petrópolis capital do Estado.

AS ARMAS DE PETRÓPOLIS

O brasão de armas do Município de Petrópolis foi confeccionado por Guilherme de Almeida e adotado pela Deliberação n º 224, de 8 de janeiro de 1929.

Descrição: Em Alberto Lima encontramos a seguinte descrição para o brasão de armas de Petrópolis:

Escudo português, de azul com emblema de Pedro II, que é P II de ouro sob a coroa imperial do mesmo metal, em chefe; e um manteler abaixado de ouro, e nele a águia da Alemanha. Encima o escudo a coroa mural de cinco torres de prata que é a cidade. Suportes: trilhos com seus dormentes de sua cor. Divisa: “Altiora semper petens”, de ouro sobre listel azul. (28)

Explicação:

Sintetizando a interpretação simbólica de Guilherme de Almeida,

[…] a águia representa os colonos alemães que povoaram Petrópolis; o mantel, a Imperial Cidade de D. Pedro II, com os respectivos emblemas; finalmente o escudo é circundado de trilhos em homenagem à primeira estrada de ferro do país, construída pelo barão, depois visconde de Mauá. (29)

(28) LIMA, Alberto. Heráldica Fluminense de Domínio. Rio de Janeiro, 1963, p.14.

(29) OLINTO, Paulo. A Cidade Republicana – As Armas de Petrópolis. Geopolítica dos Municípios. Petrópolis, 1957, p. 99.

Significado das cores:

Ouro: força; Prata: candura; Vermelho: intrepidez; Azul: serenidade; Verde: abundância.

Significado da divisa:

Altiora Semper Petens: aspirando sempre ao mais alto.

Por ocasião das comemorações do centenário de elevação de Petrópolis à cidade, o então prefeito, Dr. Flávio Castrioto, sancionou a Deliberação n º 825, de 18 de julho de 1957, criando a bandeira do município. Na ocasião o brasão foi alterado: a coroa mural de ouro, que possuía três torres, recebeu mais duas torres e mais um esmalte, sendo este de prata.

O GOVERNO MUNICIPAL NA REPÚBLICA

O último presidente da Câmara no regime monárquico foi Domingos Manuel Dias (20/02/1889 a 31/12/1889). Natural de Portugal, onde nasceu a 2 de abril de 1851, “era Coronel reformado da Guarda Nacional e depositário público da justiça local” (30). Faleceu em Petrópolis, a 11 de março de 1919.

(30) CENTENÁRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS. Catálogo da Exposição. Petrópolis, 1959, p. 76.

O primeiro presidente da Câmara no regime republicano foi Hermogênio Pereira da Silva. Natural de São Gonçalo, Província do Rio de Janeiro, onde nasceu a 7 de janeiro de 1848. Formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e chegou a Petrópolis, em 1884. Nomeado pelo governo republicano para a Intendência Municipal, foi posteriormente eleito para a Câmara, exercendo a presidência em várias legislaturas, com algumas interrupções. Sua administração foi das mais proveitosas. Inaugurou em 1893, o abastecimento domiciliar de água potável, com a construção do reservatório do Caxambu; em 1896, o serviço de iluminação pública e particular por meio de eletricidade; em 1895 um serviço de transportes coletivos, com o tráfego de diligências nos percursos entre o centro da cidade e os bairros de Cascatinha, Mosela, Bingen e Alto da Serra; em 1909, assinou contrato com Guinle & Cia, para a instalação de carros elétricos sobre trilhos ( inaugurado em 1912, esteve em funcionamento até 1939); em 1894, adquiriu o palacete Guaraciaba, na Praça Visconde de Mauá, pela importância de 60 contos de réis, nele instalando a Câmara Municipal; em 1909, assinou contrato com o representante da Iterurban Telephone Company of Brazil, para a instalação de telefones (serviço inaugurado em 30 de dezembro de 1910). A ele Petrópolis ficou devendo também o primeiro Código de Posturas do Município, elaborado após a proclamação da República e a criação, em 1892, de um serviço de limpeza pública e particular. Sem dúvida, “o Município teve nele, por sua integridade, por sua cultura e por sua capacidade administrativa, o grande governante e líder político ao curso das duas primeiras décadas da República”. (31)

(31) SÁ EARP, Arthur Leonardo de. Patronos do Instituto Histórico de Petrópolis: Informes Biográficos. Petrópolis: Gráfica Serrana, 1999, p. 97.

Arthur de Sá Earp, renomado médico exerceu a presidência da Câmara nas legislaturas de 7/01/1905 a 23/01/1906; 23/02/1906 a 15/10/1906; 17/10/1906 a 7/01/1908. Fez construir a ponte metálica da bacia, remodelar praças e jardins, levantar a planta da cidade, reorganizar as repartições municipais. Faleceu em Petrópolis, em 1919.

Outro vereador que foi eleito um grande número de vezes à Câmara Municipal, foi o Dr. José de Barros Franco Júnior, ocupando a presidência da mesma nos anos de 1913,1914,1915, 1919, 1921 e 1923. Foi também deputado federal em nada menos de quatro legislaturas (1894-1896; 1897-1899; 1900-1902 e 1906-1908) e substituiu por diversas vezes o Prefeito Oscar Weinschenck, inclusive por ocasião da honrosa visita que nos fez o Rei Alberto da Bélgica.

O Presidente da Câmara por ocasião da criação da Prefeitura era o Dr. Cândido José Ferreira Martins, sendo interessante notar que ele foi também o primeiro prefeito interino, já que o Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz, primeiro prefeito, por motivo de enfermidade, não pôde assumir o cargo na data marcada.

A Prefeitura Municipal foi criada pelo Decreto n º 1496, de 28 de julho de 1916, do Dr. Nilo Peçanha, chefe do executivo estadual. Na ocasião, comenta Ruy Monteiro, Nilo visou, além do motivo formal de restaurar a Estrada União e Indústria, principal via de comunicação entre Rio e Minas Gerais, esvaziar com clara intenção política as funções administrativas da Câmara Municipal, tradicional reduto oposicionista a sua liderança, e submeter o município ao controle do nilismo, força oligárquica imperante no Estado. (32)

(32) MONTEIRO, Ruy. A República em Petrópolis: Política e Eleições Municipais 1916-1996. Petrópolis: Gráfica Serrana, 1983, p. 33-34.

Com o afastamento de Oswaldo Cruz da Prefeitura, em 1º de fevereiro de 1917, face ao agravamento de seu estado de saúde, foi nomeado para substituí-lo, pelo chefe do executivo fluminense, o engenheiro Dr. Oscar Weinschenck, que tomou posse do cargo de Prefeito a 5 de maio de 1917.

Oscar Weinschenck realizou uma das mais proveitosas administrações do Município de Petrópolis, iniciando uma série de obras públicas: canalização de águas, calçamento, ajardinamento, construção de feiras livres, bem como uma série de obras nos distritos, até então esquecidos. Petrópolis ainda lhe ficou devendo a criação do Corpo de Bombeiros, a abolição do Imposto de Testada, a criação do Código Sanitário e a instalação da ponte de ferro sobre o Rio Preto, em São José do Rio Preto, então 5º Distrito do Município.

Antônio Joaquim de Paula Buarque, tomou posse a 10 de agosto de 1927. Nascido em Maceió, a 13 de junho de 1881, chegou a Petrópolis em 1904. Médico abnegado, praticou a medicina em nossa cidade, dedicando-se também ao jornalismo e às letras. Durante o período em que governou a cidade, pavimentou ruas, construiu várias pontes, substituiu, na limpeza pública as velhas carroças puxadas por muares, por caminhões, abriu inúmeras escolas, criou a Inspetoria de Ensino e regulamentou a Biblioteca Municipal e o Arquivo Municipal. Faleceu no Rio de Janeiro, a 22 de outubro de 1950.

Ary Barbosa, o prefeito que sucedeu a Paula Buarque, em conseqüência da Revolução de 1930, foi destituído de suas funções em 26 de outubro de 1930, sendo substituído pelo interventor Yeddo Fiuza, que a 5 de julho de 1936, elegeu-se prefeito com expressiva votação.

Quer como interventor, quer como prefeito eleito, Yeddo Fiuza realizou profícua administração. Somente durante o ano de 1931, comenta Jany de Oliveira Limongi, […] assinou 93 atos e 6 portarias, e como não houve deliberações, em virtude da dissolução da Câmara dos Vereadores, ficou o Prefeito Interventor autorizado revolucionariamente a dirigir o Executivo sem o crivo, a fiscalização e a colaboração da vereança. (33)

(33) LIMONGI, Jany de Oliveira. Patronos do Instituto Histórico de Petrópolis: Informes Biográficos. Petrópolis: Gráfica Serrana, 1999, p. 149.

Com o retorno do país ao regime democrático, tem início uma nova fase na história política do município, que não será objeto de estudo neste curso, face a exigüidade de tempo.

PETRÓPOLIS CAPITAL DO ESTADO

A capital da Província do Rio de Janeiro era Niterói, desde 1836. A 22 de agosto de 1841, pelo Decreto Imperial nº 93, recebeu o título de Cidade Imperial. Já naquela época havia o inconveniente da capital estar localizada muito próxima à cidade do Rio de Janeiro, surgindo então a idéia de que a capital deveria ser mais central para espalhar o progresso em todo o Estado.

Francisco Portela, nomeado para a presidência da Província, logo após a Proclamação da República, chegou a baixar um decreto transferindo a capital para Teresópolis, mas tantos foram os protestos surgidos que o decreto foi revogado.

Em 9 de abril de 1892, foi assinada a 2ª Constituição Fluminense, que no artigo 18 de suas disposições transitórias, assim se expressava:

A capital do Estado será transferida para local conveniente, a juízo da Assembléia Ordinária, logo que permitam suas condições financeiras, salvo o caso de surgirem graves acontecimentos, em que o presidente poderá fazer mudança provisória.

A 24 de abril de 1892, o povo fluminense elegeu diretamente, pela primeira vez, o seu presidente, o petropolitano Dr. José Thomaz da Porciúncula, que governou o Estado até 31 de dezembro de 1894.

Porciúncula decretou reformas importantes, como a da instrução pública e a da justiça, realizou importantes serviços de saneamento do litoral e determinou a revisão da carta corográfica de 1860. Muito mais poderia ter feito não fosse a Revolta da Armada, em conseqüência da qual Niterói foi transformada em uma verdadeira praça de guerra, dificultando a ação do governo fluminense e determinando a mudança da capital do Estado para Petrópolis.

A 5 de janeiro de 1894, o deputado João da Costa Campos apresentou ao plenário um projeto, transferindo provisoriamente a capital do Estado para Petrópolis. A 23 de janeiro do mesmo ano, o projeto foi aprovado e, a 30 de janeiro, promulgado pelo presidente do Estado, transformando-se na Lei nº 50, que ficou assim redigida:

Art. 1º – É transferida provisoriamente para a cidade de Petrópolis a capital do Estado.

§1º – a efetiva remoção da sede do governo, das repartições públicas e dos respectivos empregados deverá realizar-se no mais breve tempo possível, podendo, entretanto, o presidente do Estado determinar que continuem na cidade de Niterói as repartições ou seções de repartições que ali puderem permanecer, sem inconveniente para o serviço público e em cujo regime fará as alterações que por tal motivo se tornarem necessárias.

A 20 de fevereiro de 1894, instalou-se solenemente a capital em Petrópolis, realizando-se a cerimônia na Secretaria do Interior e Justiça, em prédio localizado à Rua Souza Franco, em frente à Rua Buarque de Macedo.

Terminada a Revolta da Armada, em março de 1894, Petrópolis continuou sendo a capital. Na ocasião, o Dr. Porciúncula enviou mensagem à Assembléia, submetendo à apreciação da mesma a conveniência de se tornar definitiva a mudança da capital para Petrópolis. O mesmo deputado João da Costa Campos, que apresentara o projeto da mudança provisória, em conformidade com a sugestão do Presidente do Estado, apresentou o projeto de mudança definitiva da capital do Estado para Petrópolis, o qual foi convertido na Lei nº 89, de 19 de outubro de 1894.

Ao tirocínio administrativo de Porciúncula, Petrópolis ficou devendo o edifício do Forum, a delegacia de Polícia e o Hospital de Isolamento, obras que ele inaugurou em nossa cidade em 1894.

A 31 de dezembro de 1894, o Dr. Porciúncula passou o governo ao seu substituto, o Dr. Joaquim Maurício de Abreu, eleito a 15 de julho do mesmo ano.

Natural de Sapucaia, onde havia sido Presidente da Câmara Municipal, Deputado à Assembléia Legislativa do Estado e Vice-Presidente do Estado, no governo do Dr. Porciúncula, o Dr. Joaquim Maurício de Abreu deu continuidade administrativa ao governo anterior, amparando a agricultura, desenvolvendo os transportes e melhorando o ensino, além de ter efetuado a compra do Palácio Rio Negro e do edifício ao lado, por 350 contos de réis, para a sede do Governo e do Tribunal de Relação, o prédio do Hotel Orleans, na Rua Barão do Amazonas, para acomodar várias secretarias, por 300 contos de réis e o edifício onde estava funcionando a Assembléia Legislativa, à então Av. 15 de Novembro, por 160 contos de réis.

A 31 de dezembro de 1897, passou o poder ao seu sucessor Dr. Alberto de Seixas Martins Torres, natural do Município de Itaboraí, ardoroso republicano e abolicionista.

Alberto Torres governou o Estado num momento muito delicado, tanto do ponto de vista político, como do ponto de vista econômico. Politicamente, procurou manter-se isento frente ao conflito municipal em Campos, onde as duas facções que disputavam o poder proclamaram-se vitoriosas, o que teve como conseqüência imediata a instalação de duas Câmaras. Todavia, com o agravamento da crise, acabou baixando o Decreto nº 530, determinando à Câmara Municipal, cujo mandato findara em 1897, reassumisse provisoriamente a direção do Município, atitude que criou sérias dificuldades entre o governo e o Partido Republicano Fluminense, que o apoiava.

Paralelamente, a economia do Estado começava a sentir os efeitos da queda dos preços do café no mercado mundial. Como resultado, a arrecadação do imposto de exportação sobre o café reduziu-se em ¼, repercutindo na receita do Estado, com reflexos na administração, provocando a desorganização dos serviços público, atraso no pagamento do funcionalismo etc.

Em 8 de julho de 1900, o Senador Quintino Bocaiúva, natural da cidade do Rio de Janeiro, um dos próceres da campanha republicana, foi eleito para o governo do Estado.

Político brilhante, mas com pouca experiência administrativa, governando em meio a uma crise econômica sem precedentes, o novo Presidente do Estado encontrou sérias dificuldades, chegando-se a se cogitar, em seu governo, da “anexação do Estado à União” como um meio de se debelar a crise.

A situação econômica do estado tornou-se tão desesperadora que obrigou o governo a tomar uma série de medidas antipáticas, como a suspensão dos auxílios a hospitais e asilos, fechamento de estabelecimentos de ensino, como o nosso Ginásio Fluminense, inaugurado em março de 1899 e considerado um estabelecimento de ensino padrão etc.

Como se tudo isto não bastasse, um grupo de políticos, com o propósito de inutilizar a candidatura de Hermogêneo Silva ao governo estadual, levantou a questão do retorno da capital a Niterói. Após acalorados debates, foi promulgada, a 4 de agosto de 1902, a Lei nº 542, determinando a volta da capital para Niterói, o que entretanto só acabou acontecendo, em 20 de junho de 1903.

Fato digno de nota é que Petrópolis, não demonstrou grande entusiasmo pela distinção de ter sido declarada oficialmente a capital do Estado do Rio. Conforme noticiou a Gazeta de Petrópolis em 24 de fevereiro de 1894, “o Governo do Estado foi solenemente instalado em Petrópolis, a 20 de fevereiro de 1894, numa cerimônia simples, sem os festejos usuais em tais ocasiões” (34). É possível que os petropolitanos temessem que a tranqüilidade da cidade fosse quebrada pela agitação política inerente aos centros políticos, do contrário como explicar tal frieza?

(34) GAZETA DE PETRÓPOLIS, 24 de fevereiro de 1894.

Módulo V

A vida cultural de Petrópolis: a evolução religiosa; a educação e as instituições culturais; a imprensa petropolitana; as ciências letras e artes.

A EVOLUÇÃO RELIGIOSA

A Paróquia ou Freguesia de São Pedro de Alcântara de Petrópolis foi criada pelo Governo da Província do Rio de Janeiro, pela Lei nº 377, de 20 de maio de l846.

Esse ato de política administrativa do Governo da Província, envolvendo o setor religioso, encontra explicação no fato de que, na monarquia, a religião católica era oficial e o regalismo, isto é, a doutrina segundo a qual é lícito ao chefe de Estado intrometer-se em questões religiosas, havia sido herdado do Absolutismo português.

Assim, a Paróquia era, no sistema constitucional do Império, uma divisão administrativa da Província, tendo inclusive atribuições de caráter civil e político.

Por ocasião da criação da Paróquia foi designado seu primeiro vigário o Cônego Luís Gonçalves Dias Correia, proprietário da Fazenda da Samambaia e Vigário da Paróquia de São José do Rio Preto, a respeito do qual o major Júlio Frederico Koeler deu o seguinte depoimento:

[…] pessoa de notórias virtudes e dotado de uma bondade e de um desinteresse raros, vive perto de Petrópolis, a uma légua de distância. Sou amigo deste prelado há muitos anos e ele nunca se negou a exercer suas funções eclesiásticas a pedido meu, privado, ou dos colonos católicos. Muitas vezes , ao menos de 15 em 15 dias, ele tem vindo dizer missa em Petrópolis, batizar, casar, e por duas vezes, crismar […]. (35)

(35) KOELER, Julio Frederico apud MACHADO, Jorge Ferreira. A Vida Cultural de Petrópolis. Geopolítica dos Municípios: Petrópolis Cem Anos de Cidade. Petrópolis, 1957, p. 112.

Não obstante, por solicitação de Koeler, foi contratado um sacerdote que falava a língua alemã, o Padre Francisco Antonio Weber, da Diocese de Estrasburgo, que veio exercer sua missão ao lado do Cônego Luís Dias Correia, por cinco anos, após os quais retornou à Europa.

Em 1848, foram concluídas as obras da Matriz Velha, localizada à Rua da Imperatriz, defronte ao Palácio Imperial, que gozava das regalias de Capela Imperial, recebendo sempre sob o seu teto a Família Imperial. Todas as cerimônias da época e da Corte nela eram celebradas, tendo funcionado por mais de 77 anos, assistindo aos católicos petropolitanos.

O citado templo foi palco de importantes acontecimentos, como a sagração de Dom Antônio Macedo da Costa, décimo Bispo do Pará e uma das figuras mais notáveis do episcopado brasileiro e a celebração, a 15 de outubro de 1875, de um “Te Deum Laudamos”, pelo Bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, em homenagem ao nascimento do Príncipe do Grão Pará, ocorrido naquela manhã.

A 29 de novembro de 1925, foi inaugurada a Catedral São Pedro de Alcântara, ainda inacabada, graças aos esforços do saudoso vigário Monsenhor Teodoro Rocha. À tarde do mesmo dia foi transladado, da Matriz Velha para o novo templo, o Santíssimo Sacramento com grande acompanhamento de fiéis e realizada benção do novo templo, pelo Bispo Dom Agostinho Benassi, sendo Vigário Monsenhor Conrado Jacarandá, por haver falecido meses antes Monsenhor Teodoro Rocha.

Pelo Decreto Consistorial de 16 de julho de 1897, Petrópolis foi desmembrada do Arcebispado do Rio de Janeiro e distinguida pelo Sumo Pontífice com o título de sede da Diocese Fluminense. Em conseqüência, a 13 de novembro de 1897, Dom Francisco do Rego Maia, nomeado Bispo da Diocese de Niterói, chegou a Petrópolis.

Durante os sete anos que respondeu pela Diocese Fluminense, escreveu:

[…] 18 pastorais, todas vazadas num estilo singularmente aprimorado, nas quais se retrata perfeitamente o seu grande caráter, revelando-se nestas longas e magníficas cartas o literato, elegante e fino, o canonista exímio, o teólogo claro e profundo, o sociólogo notável. (36)

O sucessor de D. Francisco foi Dom João Francisco Braga, natural do Rio Grande do Sul, que chegou à nossa cidade em 26 de outubro de 1902.

Múltipla, constante e laboriosa foi a sua atuação em Petrópolis, “quer dando às irmãs do Amparo uma constituição eclesiástica para formar uma Congregação Diocesana” (37), quer realizando visitas pastorais às paróquias mais distantes, quer publicando Cartas Pastorais, sempre com profundo conhecimento e lealdade aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(36) COSTA, Mons. Gentil apud REGO MAIA, Dom Francisco. Centenário de Petrópolis. v. VI, 1943, p. 69.

(37) COSTA, Mons. Gentil apud REGO MAIA, Dom Francisco. Centenário de Petrópolis. v. VI, 1943, p. 69. p. 72.

Em 1907, com a mudança da sede da Diocese para Niterói, foi transferido para Curitiba, onde exerceu o arcebispado por 28 anos, retornando a Petrópolis em 1935, após ter resignado ao Arcebispado de Curitiba, aqui falecendo, em 13 de outubro de 1937.

Em 13 de abril de 1946, realizava-se uma das mais caras aspirações dos católicos petropolitanos, a criação da Diocese de Petrópolis pela Bula “Pastoralis quae urgemur” do Papa Pio XII.

Para pastorear a nova Diocese, o Papa Pio XII escolheu Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, que não só realizou a missão de Pastor a que se propôs, como ainda transformou Petrópolis num centro cultural e religioso conhecido em todo o Mundo. A ele Petrópolis ficou devendo o Seminário Nossa Senhora do Amor Divino; as Faculdades Católicas Petropolitanas, que, em 20 de dezembro de 1961, se transformaram na Universidade Católica de Petrópolis; o convênio entre a Mitra e a Prefeitura Municipal, proporcionando ensino fundamental a dezenas de crianças; o Centro de Formação Apostólico-Social (CEFAS); o Lar São João de Deus; o 2º Congresso Eucarístico realizado em 1955; a criação de l7 novas Paróquias e um extraordinário legado espiritual em Cartas Circulares, Homilias e Pastorais.

Os protestantes realizavam seus cultos em salas cedidas, no Quartel das Obras Provinciais ou em Escolas. Foram inicialmente assistidos pelo Pastor Dr. Avé Lallemant, da Comunidade Evangélica do Rio de Janeiro.

Em 1846, a Comunidade Evangélica de Petrópolis teve seu primeiro pastor efetivo, o Dr. Júlio Frederico Lippold, que foi extraordinariamente zeloso na assistência religiosa aos colonos, liderando um movimento em favor da construção de um templo e procurando obter do Imperador a doação de um terreno para tal fim, o que acabou não acontecendo, pois o Dr. Lippold submeteu-se a delicada cirurgia, financiada pelo Imperador e, enquanto convalescia, contraiu a febre amarela, falecendo em conseqüência da mesma.

Passou então a Comunidade Evangélica a ser assistida pelo Pastor Jacó Daniel Hoffmann, que, em conseqüência da morte de suas filhas acometidas de cólera, epidemia que castigou Petrópolis em l850, regressou à Alemanha.

Sem pastor, a Comunidade passou a ser assistida por um diácono, o Professor Pedro Jacoby, o qual não só ensinava a religião evangélica às crianças, como também celebrava em sua Escola culto de leituras.

Em 1862, assumiu a direção da Comunidade Evangélica o Pastor Jorge Gotlob Stroele, que, com o apoio dos fiéis e com a ajuda econômica de alguns amigos do exterior, conseguiu adquirir um terreno na Rua Joinville, hoje Avenida Ipiranga, onde foi construído o templo evangélico, inaugurado em 1863.

A EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS NO IMPÉRIO

O major Koeler, diretor da Colonia de Petrópolis, “instituiu o ensino obrigatório, com multa de 40 réis, em favor da Caixa de Socorros, a todo colono que não mandasse seus filhos de 7 a 12 anos às escolas, pelo menos três vezes por semana”. (38)

(38) FRÓES, José Kopke. Primeiros Tempos da Instrução Pública em Petrópolis. Tribuna de Petrópolis, 29 de junho de 1945.

Criou seis escolas para meninos, duas para meninas exclusivamente e uma de música.

Quase todas entraram em funcionamento em 1846, tendo por professores: Pedro Jacoby, Frederico Husch, Marlin Dupont, Augusto Moebus, João Guilherme Schimidt e Teodoro Pausacker e mais tarde nomeou também Henrique Monken.

Em 26 de outubro de 1846, o conselheiro Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho criou duas escolas de primeiras letras, em Petrópolis, uma do sexo masculino e outra do sexo feminino, destinadas ao ensino da língua nacional.

Para provimento destas escolas foram nomeados, em 12 de novembro de 1846, o Professor Joaquim Ricardo Vieira de Freitas e, em 28 de agosto de 1847, a Professora D. Zeferina Josepha Pinto de Bulhões, removida de Valença, sendo o primeiro mais tarde substituído pelo Professor Pedro Correia Taborda de Bulhões. Foram estas as duas primeiras escolas públicas de Petrópolis.

Até o governo do Prefeito Paula Buarque, o ensino municipal organizado ainda não existia em Petrópolis. A contribuição do Município à instrução consistia em subvencionar escolas cuja criação fosse requerida por pessoas interessadas. Para que uma escola fosse subvencionada pelo Município, deveria a mesma atender, entre outros, aos seguintes requisitos:

[…] funcionar em prédios que tivessem uma sala para aulas com 3,50 metros de pé direito e uma área de um metro quadrado por aluno, espaço coberto destinado a recreio e instalações sanitárias satisfatórias. Exigia-se ainda que a freqüência média à escola não fosse inferior a 20 alunos. (39)

O ensino era prático, objetivo e intuitivo e ministrado em três séries: 1ª série: Português, Aritmética e Caligrafia; 2ª série: Português, Aritmética e Caligrafia; 3ª série: Português, Aritmética, Caligrafia, Metrologia (o metro, o litro, o gramo; múltiplos e submúltiplos. Questões Práticas) e Geografia e História Pátria e, para as meninas, trabalhos em agulha.

Ao assumir o Dr. Paula Buarque, encontrou a instrução pública municipal numa situação desesperadora. Existiam apenas:

[…] 15 escolas, com matrícula aproximada de 400 alunos, para as quais a Prefeitura destacava do orçamento de dois mil e quinhentos contos a verba de 18 contos, dos quais 16:000$000 para manutenção delas e 1:800$000 para a aquisição de material escolar. (40)

(39) PREFEITURA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS. Deliberação nº 15, de 28 de setembro de 1916.Petrópolis: Tipografia Tocantins,1917, p. 9.

(40) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, 5 de agosto de 1927.
Para atender às necessidades do ensino no Município, o Dr. Paula Buarque destacou da receita municipal, considerável quantia para a época a fim de custear as 20 escolas então criadas e ajudar a manutenção de 10 outras que se encontrassem em dificuldades.

Os professores passaram a ser admitidos por concurso, submetendo-se a exames que evidenciassem suas aptidões pedagógicas e o curso primário foi acrescido de uma série, sofrendo a educação pública primária um considerável impulso tanto no plano quantitativo como no plano qualitativo.

Em 1853, dez anos após sua fundação, Petrópolis, que então possuía uma população de aproximadamente 2.959 habitantes, aproximadamente, contava com cinco colégios particulares: O Kopke, o Calógeras, o do Prof. J.M. Ballá, o de Madame Taulois e o de Madame Jenny Diemer. Os três primeiros para meninos e os dois últimos para meninas.

O Colégio Kopke foi fundado em 1º de janeiro de 1850, por Henrique Kopke, considerado por Fernando de Azevedo “como um dos grandes batalhadores em prol da elevação dos estudos no Brasil e da renovação do ensino”. (41)

O Colégio dos Meninos, também conhecido como Colégio Calógeras, foi fundado por João Batista Calógeras, grego, naturalizado brasileiro e professor do Colégio Pedro II.

O Professor Calógeras arrendou o prédio pertencente ao Marquês do Paraná, no Palatinato, em 1850 e, no ano seguinte, inaugurou o Colégio dos Meninos, a respeito do qual encontramos interessantes referências nos relatórios anuais da Imperial Colônia de Petrópolis. Assim, em 1853, um desses relatórios se refere ao mesmo do seguinte modo: “sua freqüência é de 86 alunos e o estabelecimento faz honra ao país e aos seus respectivos diretores”. (42)

(41) MOACYR, Primitivo. A Instrução e as Províncias. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939.

(42) TRIBUNA DE PETRÓPOLIS, 3 de março de 1956.

Em 1859, Calógeras vendeu seu colégio ao Professor Bernardo Falleci que o manteve até 1863, ao que tudo indica, fazendo jus à tradição do referido educandário, pois encontramos na imprensa local referências elogiosas à capacidade e dedicação dos professores, à disciplina e à maneira inteligente como o tempo era empregado no mesmo.

Em 1870, chega ao Brasil o Padre José Benedito Moreira, português de nascimento, hospedando-se no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, sendo autorizado a lecionar latim, filosofia e inglês, por um aviso do Ministério do Império.

Vem para Petrópolis, onde funda um educandário, citado pela primeira vez no Almanaque Laemmert, em 1879, funcionando o citado colégio, que recebeu o nome de São José, na Rua dos Artistas, próxima ao Asilo do Amparo.

Em 1881, vendeu o Colégio São José ao Dr. Achiles Biolchini e, em 1886, adquiriu a propriedade em que funcionava o Colégio Kopke, ali instalando o Colégio Padre Moreira.

Sobre suas atividades nesse período, informa Cardoso Fontes:

Foi então legendária sua ação. Mestre à antiga, ríspido nas ordens, implacável na exação dos deveres e na disciplina moral, tolerante nas fraquezas humanas, cujo remédio encontrava no reerguimento da personalidade de quem fraquejava, pelo conselho e pelo seu exemplo, a todos indicava a prática da virtude. (43)

(43) LACOMBE, Lourenço Luís. Velhos Colégios de Petrópolis. Tribuna de Petrópolis, junho de 1950.

Foram alunos de seu afamado educandário o Príncipe do Grão Pará, Dom Pedro de Orleans e Bragança. Aristides Werneck, Henrique Viard, Afonso d’Escragnole Taunay, Luís de Souza Dantas e muitas outras personalidades.

ALGUMAS INSTITUIÇÕES CULTURAIS

A Academia Petropolitana de Letras foi fundada em 3 de agosto de 1922, com o nome de Associação Petropolitana de Letras, mais tarde simplesmente Associação de Ciências e Letras.

Seus idealizadores foram João Roberto d’Escragnole e Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, que logo tiveram o apoio de ilustres intelectuais petropolitanos.

Assim, a 3 de agosto de 1922, na sala do Centro de Imprensa, sob a presidência do Dr. Eugênio Lopes Barcellos, realizou-se a sessão de fundação, com a presença de Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, João Roberto d’Escragnolle, Salomão Pedro Jorge, Raul Serrano, Hildegardo Silva, J.B. de Freitas Mello, Raul Affonso Boulanger Uchoa, Pedro Jorge, Jorge Silami, Júlio Flates, Alfredo de Mattos Rudge, João Alfredo de Castro, Joaquim da Silva Maia Junior, Henrique Mercaldo, Pedro de Lacerda Rocha, Reynaldo Antonio da Silva Chaves, João Paulo Carneiro Pinto, Francisco Manoel da Rocha, Setembrino de Campos e João Benevente de Almeida.

A denominação Academia Petropolitana de Letras foi adotada durante a presidência de D. Nair de Teffé Hermes da Fonseca que dirigiu a Entidade no período de 1928 a 1932.

A Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni, fundada em 15 de agosto de 1983, pelo Prof. Paulo César dos Santos e teve como co-fundadores Joaquim Eloy Duarte dos Santos, André Heidemann e Fernando Costa.

A Escola de Música Santa Cecília, fundada pelo Maestro João Paulo Carneiro Pinto, instalada a 16 de fevereiro de 1893, com 34 alunos matriculados.

O Clube 29 de Junho, fundado a 29 de junho de 1959, em sessão solene realizada na Câmara Municipal, por uma Comissão formada por Guilherme Auler, Gustavo Ernesto Bauer, Manoel Walter Bechtlufft, Brasílio Felipe Bretz e Manoel W. Betchtlufft.

O Instituto Histórico de Petrópolis foi criado por proposta do Dr. Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho, em 24 de setembro de 1938, e instalado, a 2 de dezembro de 1938, tendo como Presidentes de Honra o Príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, o Dr. Manuel Cícero Peregrino da Silva, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sob cujo patrocínio foi o Instituto Histórico de Petrópolis fundado e os Prefeitos Yedo Fiúza e Cardoso de Miranda, em cujas administrações se instalara a Comissão do Centenário de Petrópolis e se fundara o Instituto.

A Academia Petropolitana de Educação, criada em sessão solene realizada a 17 de dezembro de 1977, data em que foi instalada por seu fundador, o Prof. José De Cusatis.

A IMPRENSA PETROPOLITANA

A 3 de março de 1857 surgiu em Petrópolis o 1º jornal O Mercantil, sob a direção de Bartolomeu Pereira Sudré, estabelecido com tipografia à Rua Teresa.

O Mercantil sempre defendeu causas nobres e humanitárias, como as da elevação de Petrópolis à categoria de cidade e a abolição da escravatura, que sempre tiveram em seus diretores os mais decididos apóstolos.

O citado órgão de imprensa funcionou até 25 de maio de 1892, quando foi transformado na Gazeta de Petrópolis, a qual se tornou o principal órgão da imprensa petropolitana, até 23 de dezembro de 1904, quando deixou de circular.

A 2 de dezembro de 1857, Augusto Emílio Zaluar, de parceria com Quintino Bocaiúva, fundam o 2º jornal petropolitano, O Parayba, periódico no formato dos jornais do Rio de Janeiro, que, durante o tempo em que circulou em nossa cidade, contou com a colaboração de ilustres personalidades como Machado de Assis, Charles Rybeyrolles, Remigio de Sena Pereira, Thomaz Cameron, Frederico Damke e outros.

A Tribuna de Petrópolis sucedeu a um pequeno bi-semanário O Povo, a partir de 9 de outubro de 1902, mantendo o mesmo formato de seu antecessor, saindo às quintas e domingos, ao preço de 100 réis.

Dois anos mais tarde assumiu a direção da Tribuna de Petrópolis Artur Alves Barbosa, que, melhorando as condições gráficas e as instalações, pode anunciar que a partir de lº de janeiro de 1908, Petrópolis teria seu primeiro jornal diário, sendo pois considerado, com muita justiça, o fundador da imprensa diária em nossa cidade.

Em 1º de janeiro de 1929, com a ajuda do povo petropolitano, foi construído um prédio próprio para a Tribuna, na Rua Alencar Lima.

Nota: Para maiores informações consultar o interessante trabalho de autoria de Marcello e Cybele de Ipanema, intitulado A Imprensa em Petrópolis, publicado na Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, vol. 6, 1989, p.27-54.

AS LETRAS E AS ARTES EM PETRÓPOLIS

Entre os principais prosadores e poetas que exerceram suas atividades literárias em Petrópolis, destacamos: Dante Milano, autor de “Antologia dos Poetas Modernos” e “Poesias”; Décio Duarte Ennes, autor de “Paz Bendita”, “Flor da Vida”, “Poesias Várias” e vários trabalhos sobre a Língua Portuguesa; Hermes Guimarães, autor de “Idéia Superior”, “Ernesto Tornaghi”, “O papel do Jovem no Desenvolvimento e Segurança Nacional e o Escotismo”. “Dinâmica do Elismo”; José De Cusatis, autor de “Ver, Ouvir, Viver,Contar”, “O Rio e a Serra”, “A saga do velho Albino”; Mariná Sarmento, autora de “Ânfora”; “Poesias”, “Verão em Flor”, “Macaé”, “Poemas Marinhos”; Mario Fonseca, autor de “Impressões de Viagem”, “Sol Ardente”, “Variações”, “Poemas de Amor”; Olavo Dantas, autor de “Folhas de Acalanto”, “Sob o Céu dos Trópicos”, “Gaivota dos Sete Mares”, “Jardim dos Mortos”; Petrarca Maranhão, autor de “O Turbilhão”, “Ronda de Estrelas”, “Jardim Suspenso”, “Veleiro de Ilusões”; Salomão Jorge, autor de “Arabescos”, “Canções do Oriente”; “Porta do Céu”, “Tendas do Meu Deserto”; Sílvio Júlio, autor de “A Covardia”, “Espelho”, “Fundamentos da Poesia Brasileira”; “Elegias a Lastênia”; Raul de Leoni, autor de “Ode a um Poeta Morto” e “Luz mediterrânea” e muitos outros.

Entre os principais musicistas destacamos: Bernardino Viana, exímio pistonista, organizou em Petrópolis a Banda Leopoldo Miguez. Foi regente de orquestra do Clube dos Diários e compôs inúmeras músicas para bandas e orquestras. Sua composição, o maxixe intitulado “O Pixe”, provocou grande entusiasmo em Petrópolis; João Baptista Maul, nascido no Morin, tocava baixo, clarineta e bombardino e organizou a famosa Banda Maul, sendo famosas suas composições para piano, entre as quais destacamos a Valsa “June Caprice”, a Polca “É tudo Novo” e o Tango “Edem Dramático”; Ernesto Silva, mineiro que fixou residência em Petrópolis, por volta de 1900. Foi mestre da Banda do lº Batalhão da Polícia Militar, professor e mestre da Banda do Liceu de Artes e Ofícios. Entre suas composições salientamos “Cidade Nova em Petrópolis” (Polca), “Os Olhos de Ida” (Schotisck), “Jacaré” (Dobrado); Paulo Carneiro Pinto, pernambucano que chegou a Petrópolis em 1890, e que, três anos mais tarde fundou a Escola de Música Santa Cecília, que deu a Petrópolis notáveis musicistas como Magdalena Tagliaferro, destacada pianista, Arthur Pender y Terre, pistonista com medalha de ouro da Escola Nacional de Música e Guerra Peixe, violinista, regente de orquestra e compositor; Paulino Alves de Souza, nascido no Alto da Serra, compôs os dobrados “Coluna Avança” e “Augusto Severo”.

Frei Pedro Sinzig, dirigiu a Revista Música Sacra desde a sua fundação até 1952. Sua obra musical foi muito rica e numerosa, destacando-se o oratório Maria Santíssima.

Frei Pedro dirigiu vários espetáculos musicais, como o drama lírico “Santa Cecília”, composto para solos e coros e publicou o “Dicionário Musical”.

Entre os pintores do século XIX e XX, destacamos Agostinho José da Mota, notável paisagista, professor de desenho figurado na Imperial Academia e no Liceu de Artes e Ofícios. “A Imperatriz D. Teresa Cristina lhe encomendava paisagens a óleo e aquarelas de parasitas, quadros que S.M. enviava aos parentes e às amizades da Europa” (44); Nicolau Fachinetti, italiano, radicado no Brasil, grande paisagista, deixou-nos esplêndidas paisagens de Petrópolis, notadamente da Avenida Koeler; Otto Reimarus, engenheiro da Colônia, em 1854 elaborou uma planta de Petrópolis e uma série de desenhos a lápis: Praça Coblenz, Nassau, Casa Mauá, Palácio Imperial, Hotel Bragança e Rua do Imperador, todos em 1854; João Batista da Costa, um dos mais notáveis paisagistas brasileiros, especialmente interessado pela natureza petropolitana.

(44) SANTOS, Marques. Artes Plásticas. Geopolítica dos Municípios: Petrópolis Cem Anos de Cem Anos de Cidade. Petrópolis, 1957, p. 133.

É de sua autoria o belo retrato a óleo de D. Pedro II, existente na Câmara Municipal, tirado de uma fotografia do Imperador no exílio. Alguns de seus trabalhos figuraram na 1ª Exposição Brasileira de Belas Artes, realizada em São Paulo , em 1911, inclusive 7 pinturas de Petrópolis de sua autoria: Quaresmas, Manhã de Sol em Petrópolis, Serra dos Órgãos, Avenida Piabanha, Melancolia, Residência do Barão do Rio Branco. “No pincel de Batista da Costa, encontram-se os encantadores sítios da terra petropolitana o seu grande glorificador […]” (45); Joaquim da Rocha Fragoso, notável pintor de retratos, radicado em Petrópolis, onde sua família se projetou, inclusive seu irmão mais velho Augusto da Rocha Fragoso que integrou nossa 1ª Câmara Municipal e exerceu a vereança até 1888. Em seu atelier, localizado à Rua Paulo Barbosa, pintou retratos da família imperial, como o do Imperador, inaugurado na Câmara Municipal, a 7 de junho de 1859 e o retrato do Major Julio Frederico Koeler, existente no Salão da Câmara.

(45) BRETZ, Walter. Tribuna de Petrópolis, 23 de abril de 1926.

José Huss, decorador e pintor alsaciano, decorou o salão nobre da Nossa Câmara Municipal e o antigo Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.

Carlos Oswald, desenhista e pintor, residiu durante 49 anos em Petrópolis. Nasceu em Florença, na Itália, sendo registrado pelo pai no Consulado Brasileiro. Sua obra abrange a gravura, pintura a óleo, pintura mural, vitrais e estatuária.

Em Petrópolis colocou seu talento a serviço da Catedral, onde foi responsável pela execução dos murais e vitrais da Capela denominada “Panteón dos Imperadores” e da “Capela do Batistério”. Os assuntos representam a “Imaculada Conceição” e a “Crucificação”, acompanhados de vários símbolos relativos a D. Pedro II e na “Capela do Batistério”, quadros históricos alusivos ao Batismo.

Carlos Oswald faleceu em Petrópolis, a 14 de fevereiro de 1971.