CURSO VARNHAGEN – AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958)

Murilo Cabral Silva

Afonso d’Escragnolle Taunay nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Estado de Santa Catarina, em 11 de julho de 1876, e morreu em São Paulo, aos 20 de março de 1958, quase aos 82 anos, portanto.

Era filho de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, imortal escritor de Inocência e Retirada da Laguna.

Formou-se pela Escola de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1910. Alguns anos depois, tornava-se professor catedrático da Escola Politécnica de São Paulo.

Diretor do Museu Paulista em 1917, passando, em 1923, a diretor dos Museus do Estado de São Paulo.

Professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do mesmo Estado, de 1934 a 1937.

Aposentando-se em dezembro de 1945, recebeu o título de servidor emérito daquele Estado.

Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Portuguesa de História. Foi presidente honorário do Instituto Histórico de São Paulo.

Trazendo já no sangue o gosto das letras e das ciências, teve extraordinária fecundidade de escritor, escrevendo mais de uma centena de obras, versando os mais diferentes campos de conhecimento da História do Brasil; do Estado e da Cidade de São Paulo; da Arte, da Ciência e da Literatura no Brasil; da Linguística; dos assuntos científicos em geral; da Ficção; da Tradução, das reedições comentadas de obras clássicas.

Como historiador, escreveu obra tão vasta e tão completa que, não conhecê-la, é ignorar parte da nossa história.

A sua medida está na simples enumeração da sua bibliografia, possivelmente incompleta, tão difícil a pesquisa da sua totalidade. É que Afonso d’Escragnolle Taunay não se limitou aos livros, oferecendo, também, farta contribuição de estudos em revistas e publicações outras, de precária catalogação.

Para uma aula, entretanto, que deve, pedagogicamente, limitar-se ao tempo de 50 a 60 minutos, cumpre recordar, desde já, para as anotações dos estudantes, a indicação bibliográfica do Autor, com a ressalva de alguma omissão:

História do Brasil

“Assuntos de três séculos coloniais”
“Visitantes do Brasil colonial”
“Na Bahia colonial”
“Na Bahia de D. João VI”
“Rio de Janeiro de antanho”
“No Rio de Janeiro dos Vice-Reis”
“No Rio de Janeiro de D. Pedro II”
“Santa Catarina nos anos primevos”
“Em Santa Catarina colonial”
“Viagens na Capitania das Minas Gerais”

“De Brasiliae rebus pluribus”

“Viagens e Viajantes”
“A grande vida de Fernão Dias Pais”
“Subsídios para a história do Tráfico Africano no Brasil”
“Sob El Rey Nosso Senhor”
“Grandes vultos da Independência Brasileira”
“Do Reino ao Império”
“À glória dos Andradas”
“O Senado do Império”
“A Câmara dos Deputados sob o Império”
“No Brasil Imperial’
“No Brasil de 1840”
“A propagação da cultura cafeeira no Brasil”
“Subsídios para a história do café no Brasil colonial”
“História do café no Brasil”
“Pequena história do café no Brasil”

História de São Paulo

“História Geral das Bandeiras Paulistas”
“Na era das Bandeiras”
“À glória das Monções”
“Índios! Ouro! Pedras!”
“Um grande bandeirante: Bartolomeu Pais de Abreu”
“Coletânea de documentos da antiga cartografia paulista”
“Ensaio de carta geral das bandeiras paulistas”
“Estudos de História paulista”
“Antigos aspectos paulistas”
“Terra bandeirante”
“Ensaios de história paulistana”
“Amador Bueno e outros ensaios”
“São Paulo: vetera et nova”
“Um paulista eminente: Augusto C. da Silva Teles”
“Guia do Museu Paulista”
“Guia do Museu Convenção de Itu”

História da Cidade de São Paulo

“São Paulo nos primeiros anos”
“São Paulo no século 16”
“História seiscentista da Vila de São Paulo”
“História da Vila de São Paulo no século 18”
“História da cidade de São Paulo no século 18”
“Piratininga”
“Non ducor duco”
“História antiga da Abadia de São Bento – 1598-1772”
História da Arte, da Ciência e da Literatura no Brasil
“A missão artística de 1816”
“Nicolau A. Taunay: documentos sobre sua vida e sua obra”
“A vida gloriosa e trágica de Bartolomeu de Gusmão”
“Bartolomeu de Gusmão e sua prioridade aerostática”
“Bartolomeu de Gusmão, inventor do aerostato, primeiro inventor americano”
“Achegas à biografia de Bartolomeu de Gusmão”
“Zoologia fantástica do Brasil”
“Monstros e monstrengos do Brasil”
“Pedro Taques e seu tempo”
“Escritores coloniais”
“Martim Francisco III”

Linguística

“Léxico de termos técnicos e científicos”
“Léxico de lacunas”
“Vocabulário de omissões”
“Coletânea de falhas”
“Reparos ao Dicionário de Cândido de Figueiredo”
“A terminologia científica e os grandes dicionários portugueses”
“Insuficiência e deficiência dos grandes dicionários portugueses”
“Inópia científica e vocabular dos grandes dicionários portugueses”

Assuntos Científicos

“Ensaio de bibliografia referente ao Brasil e às ciências naturais (em colaboração) 1ª parte: Literatura brasileira”
“Ensaio de bibliografia (2ª parte): Literatura estrangeira”

Ficção

“Leonor de Ávila, romance brasileiro seiscentista”

Traduções

“A Retirada da Laguna”
“A segunda viagem de Saint Hilaire a São Paulo”
“Contos de Edgard A. Poe”
“Contos de Hoffmann”

Reedições comentadas de obras clássicas

De Pedro Taques: “Nobiliarquia Paulistana”; “Informação sobre as minas de São Paulo”; “História da Capitania de São Vicente”; “Notícia da expulsão dos Jesuítas”;
de Frei Gaspar da Madre de Deus: “Memórias para a história da Capitania de São Vicente”;
de Antonil: “Cultura e opulência do Brasil”;
de Bartolomeu de Gusmão: “Obras completas”;
de Jorge Marcgrave: “História Natural do Brasil”;
de Guilherme Piso: “Da Medicina do Brasil”;
de Roque de Macedo Pais Leme da Câmara: “Nobiliarquia Brasileira”

Publicou, ainda:

“História Colonial da Cidade de São Paulo no século 19”
“Velha iconografia carioca”
“Iconografia antiga paulistana”

Levando-se em conta as eventuais falhas, com a não relação de inúmeras contribuições em artigos e revistas, é forçoso reconhecer a impossibilidade de dar a aula que eu quereria, submetido às imposições do tempo. Não obstante, nem tudo será perdido, pois só a indicação das fontes da vasta bibliografia de Afonso d´Escragnolle Taunay já justificaria a sua inclusão nesse Curso Varnhagen, organizado pelo Instituto Histórico de Petrópolis, com o apoio da nossa Universidade Católica.

Os livros de Taunay, de que me servi para notas e conferência, se não todos, quase todos, estão aí expostos, por especial cooperação da Biblioteca do Museu Imperial. E, entre eles, saliento, já, um documentário de extraordinário valor – o “Ensaio de carta geral dos bandeirantes paulistas”. Nele se encontrarão todos os roteiros das Bandeiras, os caminhos seguidos por cada bandeirante, os locais atingidos por cada um e cada qual, e as datas respectivas. Examinando-se a Carta, causa assombro ver o que andaram, por onde andaram!

Imagine-se, com olhos postos nessa Carta Geral, o que fizeram os paulistas! Abrindo caminhos a golpes de facão, quebrando pedras com as mãos, galgando montanhas quase inacessíveis, derrubando matas ainda invioladas, arrostando rios que semelham mares, sobrepairando os alagadiços, em luta com as febres, o paludismo que não perdoa, as psicoses que confundem luz e trevas, as feras bravias e os aracnídeos horrendos. Saltado para o desconhecido, abatendo limites e fronteiras, amesquinhando horizontes. Descobrindo verdadeiros países dentro do país-continente!

Eis porque o estudo da Carta Geral das Bandeiras é uma medida do quanto puderam os bandeirantes, levando-nos a novos critérios de avaliação da capacidade humana, quando o humano é da raça daqueles paulistas.

Pois Afonso Taunay, sem palavras, sem adjetivos, na sua Carta, oferece essa revisão de critérios, na só apresentação dos roteiros bandeirantes. Só que esse Ensaio, teria garantido lugar ímpar na historiografia do Brasil.

Quem se der ao gosto de ler toda a obra de Afonso d´Escragnolle Taunay, de papel e lápis para as anotações, terá concluído um admirável curso da nossa história brasileira, inclusive retificando quanta coisa se há escrito por aí. Sendo homem de ciência e desvaidoso do efêmero, abalançou-se aos grandes assuntos com a determinação dos beneditinos. Se o tentasse, tudo tinha para a ociosidade brilhante dos grandes salões, onde o berço e a frase podem substituir a cultura e o trabalho, como naqueles personagens de Stendhal, de O Vermelho e o Negro.

Mas, Afonso, chamando-se d´Escragnolle Taunay, nasceu para o trabalho, o pesadíssimo trabalho da cultura. Para servir ao Brasil, fazendo-lhe e lhe refazendo muitas vezes a história.

Evidentemente, os senhores não terão de aceitar como definitivo tudo o que diz Taunay e terão de comparar os seus conceitos em alguma ou muita coisa, especialmente no que concerne aos episódios da era do ouro e a sublevação de Filipe dos Santos.

Dei-lhes de início, uma impressão verbal do que tratam as obras de Taunay. Como, todavia, o tempo não me permite senão caracterizar o Autor na historiografia nacional, penso fazê-lo, delongando-me no que me parecem as suas peças principais – a História Geral das Bandeiras Paulistas e a História do café no Brasil.

A primeira dessas tem 11 volumes. Os primeiros 6 volumes saíram regularmente, de 1924 a 1930. O sétimo só pode ser publicado em 1936. Começou a ser escrita a obra em 1922. Os quatro últimos volumes somente saíram à luz em 1946, 1948, 1949 e 1950. A culpa da interrupção deveu-se à Revolução de 1930, que tanto dificultou a pesquisa de elementos e documentos brasileiros e estrangeiros.

Como bem explica o Autor, no Prefácio do último volume, da História Geral das Bandeiras Paulistas, enriqueceu-se ele na consulta a excelentes livros, como os Bandeirantes de São Paulo e Os Camargos de São Paulo, de Carvalho Franco; em estudos do Cônego Luís Castanho de Almeida sobre os bandeirantes sorocabanos; as obras de Borges de Barros, Pedro Calmon e Urbano Viana, a respeito do sertanismo baiano. Importantes subsídios forneceu a soberba monografia de Ernesto Enes, A Guerra dos Palmares, da maior riqueza dos arquivos de Portugal.

Afonso d´Escragnolle Taunay, para a monumental obra, muito se serviu de trabalhos outros, como: História das Missões Orientais do Uruguai, de Aurélio Pôrto; a obra de Serafim Leite, sobre a sua Companhia de Jesus no Brasil; Lucas Boiteux, Paulistas em Santa Catarina; Oswaldo Cabral, Laguna; Borges Fortes e Jônatas Rêgo Monteiro, a respeito dos anos primevos do Rio Grande do Sul e os fastos da Colônia do Sacramento; as memórias de Feu de Carvalho sobre Filipe dos Santos, no Ementário de História de Minas Gerais. Sem falar nas contribuições de Soares de Melo e Aureliano Leite, quanto à Guerra dos Emboabas; as do Cônego Raimundo Trindade, Abílio Barreto e Salomão de Vasconcelos, relativamente ao povoamento primeiro do território de Minas; Ferreira Reis, sobre os paulistas na Amazônia; Alberto Lamego, nos últimos tomos de A Terra Goitacá; e Francisco Klors Werneck, sobre o povoamento fluminense.

Além do que ofereceram esses autores e livros, muito contribuíram para a obra que estamos apreciando publicações várias em revistas de Institutos Históricos.

A parte final da História Geral da Bandeiras Paulistas, consagradas às Monções cuiabanas, levou o Autor à consulta das monografias: – Monções, de Sérgio Buarque de Holanda (1945); Pantanais Matogrossenses, de Virgílio Correia Filho (1946); e História de um rio – o Tietê, de Melo Nóbrega (1948).

A história das Monções é dos fastos mais extraordinário da História do Brasil. É mesmo ímpar na história universal “a prodigiosa aventura da terrível viagem fluvial por 3.500 quilômetros pela selva a dentro”. Nenhuma nação conta feitos iguais, no gênero. Saint Hilaire comenta, em 1820, que os europeus “acostumados à navegação dos seus mesquinhos rios” não estavam em condições de avaliar o que era a empreitada.

Afonso Taunay escreve nesse tom épico:

“Inenarrável aventura esta que propelia canoas e canoões da penedia de Araraitaguaba, do solene Paredão, ao porto do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, através dos mais heróicos lances vencedores de obstáculos diários e como que insuperáveis. Espantosa jornada pelo infinito deserto dominado pela Moléstia, e a Praga, a revolta da Natureza e a repulsa autóctona em que cada crepúsculo podia ser a véspera de épico despertar”.

A História Geral das Bandeiras Paulistas representa um estupendo manancial de informes sobre um dos assuntos mais assinalados na nossa história. E é, ao mesmo tempo, uma réplica ao mundo de livros aqui escritos a respeito das invasões ou dos fatos da administração colonial. Não que esses últimos aspectos não tenham importância, pois têm. Entretanto, a penetração das bandeiras, sendo fatos de valor humano incomparável pelo que mostram do quanto pode a criatura na luta com o adverso da Natureza, as bandeiras são a descoberta, a posse, a integração dos inúmeros brasis isolados, agonizantes ou mortos dentro do Brasil. E mais, são as bandeiras uma explicação, das melhores, do fenômeno da unidade brasileira, fenômeno talvez mais importante que a descoberta e a conquista da terra.

O bandeirante é o quebrador de limites e horizontes. Arrosta os altiplanos recobertos de florestas virgens; os desertos que entremeiam, como fragmentos comburidos, intermitentes regiões desamenas e que ele palmilha longamente. Vence os alagadiços que transbordam da caudal ainda diluviana dos grandes rios – os grandes rios que ocupam leitos ainda não inteiramente por eles conquistados. E, entre as sombras e pios do desconhecido, trava o embate da febre e da praga – trágica réplica da terra ao homem que, por tanto tempo, empreendeu-lhe a conquista pela conquista.

Afonso de Taunay, assim trazendo a figura humana do bandeirante, no quadro geo-físico da paisagem interiorana, abre portas, de par em par, à antropogeografia brasileira. Pois que assim procede e há de proceder o historiador. Registrar os fatos, pesquisar-lhes as origens, descobrir e criticar a sua ligação com outros fatos, numa análise dialética e apontar as suas ilações. Sem perder as unitárias medidas de tempo, espaço e homem.

Esse sentido de filosofia dos fatos transcende da preocupação de Afonso d´Escragnolle Taunay ao narrar a História Geral das Bandeiras Paulistas. Ele está implícito na riqueza da descrição dos fenômenos naturais e na posição do homem bandeirante dentro desses fenômenos.

Não, apenas, nos fatos físicos. Mas, em questões como as decorrentes da cobrança dos reais quintos de ouro – “causa primordial dos longos e violentíssimos distúrbios de Pitangui; a luta pertinaz do Conde de Assumar com Manuel Nunes Viana; e, finalmente, a famosa sedição vilaricana de 1720, pseudo movimento patriótico brasileiro e meia bernarda lusa de ordem fiscal”, para usar as próprias palavras do Autor, no prefácio do tomo décimo da História Geral das Bandeiras Paulistas.

Esse é outro aspecto importante da obra de que estamos falando – o caráter revisionista da nossa história, tão infiltrada do que Afonso de Taunay chama de “muita afirmativa fantasiosa de escritores do passado mineiro”.

Recorrendo aos estudos de Feu de Carvalho, baseados em farta documentação do Arquivo Público Mineiro, sobre as ocorrências de Pitangui, a revolta de Filipe dos Santos e os crimes de Antônio de Oliveiro Leitão, empreende Taunay a revisão histórica do que ele mesmo batiza de “uma das maiores patranhas infiltradas em nossos fastos nacionais, e conquistadora de extraordinário e o mais deplorável vulto”.

Relendo a obra, cabe-me, com tristeza, chamar a atenção para a pobreza dos estudos históricos fluminenses. Salienta-o Taunay, no mea culpa de declarar deficiente a sua obra das Bandeiras Paulistas na parte referente ao estudo do povoamento do primevo do Estado do Rio, face à quase nenhuma contribuição de historiadores da Velha Província, exceto a de Alberto Lamego, de A terra Goitacá.

Queira Deus a semente lançada pelo admirável Lourenço Luís Lacombe, na presidência do Instituto Histórico de Petrópolis, consiga reflorir do 1º Congresso de História Fluminense, realizado em nossa cidade em 1963 – reflorir no gosto da pesquisa histórica das origens fluminenses. Esse é um desafio a que não se pode dar de ombros – posição que coloca muitos de nós como réus comuns. O Congresso de Lacombe já deu o Instituto Histórico Fluminense, e este Curso Varnhagen é uma nova luva lançada – que não pode dormir no chão.

Mas, dizia eu ao princípio dessa aula, é impossível conhecer a História do Brasil sem conhecer a obra global de Afonso Taunay e, no que concerne à penetração e conquista da terra, sem conhecer as Bandeiras de Taunay.

Porque, através delas, a formação histórica brasileira se compõe – e muitas vezes se recompõe – em capítulos inteiros. Não é só por uma inegável predileção que me detenho na História Geral das Bandeiras Paulistas. Mas, também, pelo que essa obra representa como revisão a muitas distorções seguidamente cometidas – e impunes. Não que queira eu falar mal dos nossos historiadores, isto é, de todos os historiadores. Mas, o fato é que bibliotecas têm sido escritas sem apoio em arquivos de verdade, os velhos arquivos públicos, de autos e traças, inclusive os das antigas casas dos antigos senhores. O comum é o sentido lírico da história, um pouco devaneio, um pouco crônica pela pele. Muito de repetição do que se escreveu antes – um portentoso trabalho de compilação.

A importância de Taunay na nossa historiografia está no revisionismo que empreendeu à base de estudos e pesquisas, com admirável e corajosa honestidade. Como, entre outros, a autópsia da Coleção Costa Matoso, o Dr. Caetano da Costa Matoso, ouvidor de Vila Rica. Matoso reuniu documentos da valia da História do Distrito do Rio das Mortes, do Sargento-mor José Álvares de Oliveira, e um relatório sobre as quantidades de ouro fundido e quintado na Casa da Fundição de Vila Rica. Com esses subsídios, Taunay pôde levantar preciosa estatística da produção de ouro no Brasil; o que seria impossível sem o exame da Coleção Costa Matoso, dentro da qual o relato integral de Bento Fernandes Furtado de Mendonça.

Taunay chama a esse relato de Furtado de Mendonça o “documento número um da história de Minas Gerais”, até então conhecido no resumo do Guarda-mor Manuel José Pires da Silva Pontes.

Esse conhecimento, na fonte, permitiu a Afonso d´Escragnolle Taunay relevantes informações para a história das Bandeiras e, ainda, para a do povoamento de Minas Gerais, sem falar no que a história aurífera importou na campanha do mais velho movimento nacionalista brasileiro, como o autor salienta no prefácio do tomo 9º, da História Geral das Bandeiras Paulistas. E, dizemos nós, o que importou a história do ouro na história do Brasil! Como a história do ouro, e os novos ouros, tem importado na vida da humanidade!

Prezados senhores e senhoras, e estudantes de Petrópolis, haveis de compreender a tremenda dificuldade de dar, em 50 ou 60 minutos, uma apreciação, ainda mesmo rápida, de autor tão fecundo e válido, e da obra tão vasta e importante. Quando o Prof. Lourenço Luís Lacombe me escalou para essa tarefa, ponderei-lhe que Taunay não cabia numa aula, mas num curso – e o farei se ele o quiser, quando quiser. Porque só a História Geral das Bandeiras Paulistas exige um ciclo de palestras. Porque a aula de hoje não passa de uma indicação dos temas versados pelo Autor, num mínimo de comentário do conferencista, o que contraria, de logo, o sentido das conferências. Mas, como diriam os novos Conselheiros, o tempo é o tempo. E, melhor que os novos Conselheiros, diz o cansaço dos senhores que me ouvis…

Digo-vos, então: – lede a História Geral das Bandeiras Paulistas. O que foi a expansão bandeirante e a sua singularidade universal, no que a torna ímpar ante as congêneres colonizações da Sibéria e dos Estados Unidos da América do Norte. O significado das entradas de André Leão e Nicolau Barreto. Como atuaram os ouvidores e os jesuítas portugueses. D. Luís Céspedes e sua deposição. Manuel Prêto e Antônio Raposo Tavares, André Fernandes e Fernão Dias Pais. A expulsão dos jesuítas do Colégio de São Paulo. A restauração da independência portuguesa. Amador Bueno. A importância de Domingos Jorge Velho. As infrutíferas pesquisas de metais nobres e de esmeraldas, nos séculos XVI e XVII. A grande jornada de Fernão Dias Pais. O tráfico africano e o significado histórico dos Palmares. O povoamento do litoral e os caminhos para o sul. A longa fase do ouro. A guerra dos Emboabas. O que foi a intervenção de Borba Gato. A versão histórica do motim de Filipe dos Santos. O que foram os primeiros anos de Cuiabá e Mato Grosso. As Monções cuiabanas no século XVIII. A importância fundamental do Rio Tietê na penetração do Brasil sul-ocidental. A epopéia das Monções, os dramas da disenteria, as psicoses, o paludismo, as aranhas, os índios ribeirinhos. Conhecer os primeiros anos da Goiás (1722-1748). O itinerário de Anhagüera, suas vitórias. Os primeiros núcleos do povoamento goiano. As Bandeiras paulistas na Amazônia.

O quadro brasileiro era descrito por Saint Hilaire (1820):

“Tempo houve em que, no interior do Brasil, não se avistava uma única choupana, em que as feras entre si disputavam a posse da terra. Foi então que os paulistas o percorreram em todos os sentidos. Várias vezes penetraram no Paraguai, descobriram o Piauí, as minas de Sabará e Paracatu, internaram-se nas vastas solidões de Cuiabá e de Goiás, chegaram ao Maranhão e ao Amazonas e, tendo galgado a cordilheira peruana, atacaram os espanhóis no âmago de seus domínios.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . fica-se como estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes”.

A história desses gigantes, empreendeu-a Afonso Taunay. Fê-lo com amor, é verdade; muitas vezes, numa apologia exaltada, tocado pelo sentido humano dos bandeirantes. E é impossível vê-los e não amá-los, amá-los e não morrer de amores, como no grande poema. Não é crível acompanhá-los Brasil a dentro, entre espinhaços e corredeiras, desertos ou alagadiços, monstros e feras, alucinações e febres, sem tentar-se ao panegírico aqui e ali. Bendito amor que permitiu tanto a d´Escragnolle Taunay!

Mas, e isso é válido para a historiografia, Taunay não perdeu a capacidade de analisar; de compreender o fenômeno sem ficar no fenômeno; de criticá-lo e dar-lhe interpretação. E, o que é maior, interpretar os fenômenos no sentido global, dando-lhes as conexões com outros fenômenos, pois que o historiador é, antes de tudo, um intérprete da fenomenologia geral e dialética. Não basta o exame de um grupo social ou de alguns grupos sociais, no tempo e no espaço; mas, a análise das implicações de uns e outros. A História é um todo, que não pode ser explicada apenas nas suas partes. Junge-se à Geografia e à Etnologia, à Economia e à Filosofia e à Sociologia e a quantas ciências. Não é só aquela de Heródoto, ou os trabalhos de Hecateu de Mileto, na rendição à credulidade e à paixão do épico e do maravilhoso, sem julgamentos e métodos críticos. Nem aquela centelha que começou com Tucídides, abrindo portas ao que seriam mais tarde os critérios científicos do materialismo dialético. Conheceis a evolução desses critérios. Desde a impessoalidade objetiva de Salústio àquela história que César escreveu entre um cruzar do Reno e as imposições de bárbaros. Já lestes a correspondência de Cícero; e sabeis de Tácito, no contestado Diálogo dos Oradores, na Vida de Agrícola, nas Histórias, nos Anais… Tendes dado, por certo, o justo merecimento a Políbio, já desligado da concepção meramente admirativa da história, e a Maquiavel, o florão da filosofia política da Renascença. E, estudiosos que sois, já tomastes conhecimento de João Batista Vico, a evolução que oferece, através das Três idades e Três espécies de Natureza, já no caminho crítico da história. Como, do mesmo modo, já lestes o pensamento do sábio idealista de Stuttgart, esse Hegel que tanto revolucionou o mundo, na sua filosofia da história e o seu transbordamento na teoria política, pelo seu método de interpretação dialética, a tese, a antítese, a síntese. Estais, pois, a par de que Kant separava, fundo, o espírito da realidade; e de que Hegel identifica o real e o racional, fundindo-os num princípio único e universal. O desenvolvimento da idéia dá as determinações do ser. A ciência estuda esse desenvolvimento e a lógica determina-lhe as leis – que são a contradição e a conciliação dos contrários. Assim, o método dialético que propõe tem base em que o movimento evolutivo é um contínuo desenvolvimento de contrários, que se fundem e conciliam, na identidade dos contrários. A história, pois, é um movimento dialético, uma série de revoluções, no pensamento do idealista de Stuttgart. E, como falamos em Hegel, convém que se pondere o quanto as ilações políticas desse método transtornaram e ainda transtornam o mundo, na luta de classes. Mas, os senhores conhecem Voltaire, esse que fez o tempo pensar pela sua cabeça, criando a filosofia da história, mostrando à humanidade a libertar-se dos preconceitos, das superstições, das servidões, a caminho da razão da justiça social, do bem-estar moral e material, no estabelecimento que marca a sua filosofia – a moral social. Sem dúvida, já lestes ou ides ler Montesquieu, asseverando que, no processo histórico, há que estabelecer conexão entre o meio físico, o espírito religioso e as leis, defendendo o princípio de que a História e as leis têm entre si um vínculo de função.

Longa é a caminhada dos vossos estudos. E, nela, conheceis Augusto Comte e sua contribuição ao estudo da História, atendendo aos pressupostos que traça, dando-a como parte integrante e basilar da Sociologia, que ele criou. Na sua estática, a história, propriamente dita, compreende o estudo das condições de existência e permanência do estado social. Na sua dinâmica, é o processo da evolução social – a Política. Segundo Comte, há um processo natural na evolução da vida, que consiste no aumento dos atributos humanos em relação aos atributos animais e orgânicos. O homem progride à medida que o seu pensamento se desenvolve, que é, então, o fator preponderante na avaliação do processo histórico. Estabeleceu a chamada “lei dos três estados”, a teológica, a metafísica e a positiva.

Nos dias correntes, ninguém ignora Toynbee, e o seu monumental estudo dos diversos grupos sociais. E devem todos ler o trabalho de Almeida Tôrres, analisando a história através da posição humana face aos fatos da eternidade.

Ora, Afonso d´Escragnolle Taunay, na sua imensa contribuição, estuda o homem bandeirante e o meio em que andou, as riquezas que perseguiu e o que essas riquezas importaram no nosso desenvolvimento. Homem e meio, as relações de causa e efeito constroem a sua historiografia. Não tem o Autor a preocupação do sociólogo, mas oferece à nossa sociologia todos os instrumentos de compreensão, que história e sociologia não se separam e muitas vezes se confundem.

Essa contribuição, como à Economia e ao desenvolvimento político das instituições brasileiras, manifesta na obra até aqui examinada, Taunay alteia na História do café no Brasil.

“O Brasil é o café”, tem-se dito. E é verdade, ainda, em que pese a importância de outros fatores de riqueza nacional, como o petróleo e a indústria em geral.

O café é o sustentáculo da nossa economia. Estudando-lhe a história, estuda-se a do Brasil, que sempre dele viveu em função. Ele está em todas as fases da nossa vida, desde longo tempo. E a medida da sua importância avalia-se pela histórica frase do grande fluminense, a propósito da Abolição: – “Falo pelo Vale do Paraíba que, nesses últimos 70 anos, tem sido o sustentáculo do Império”…

E o que era esse Vale do Paraíba que não o café? Pois que essa era e é a grande produção brasileira, do seu rendimento dependendo o equilíbrio da Nação, no sentido econômico, social e político. A Abolição libertou o elemento servil; a falta de braços paralisou a lavoura cafeeira. O café derrubou o Império, como, em 1930, a chamada República velha.

Ora, o gênio do historiador está, justamente, em estudar e pesquisar os fatos realmente históricos. Que mais históricos são os fatos que dizem respeito tão diretamente com a formação econômica e o equilíbrio do país? Se as Bandeiras foram a descoberta, a posse, a integração; o café, a partir da sua transplantação em 1727, tem sido o equilíbrio da nação. Por isso, Taunay tanto escreveu sobre as Bandeiras e o Café, fatos fundamentalmente históricos da vida brasileira.

A História do café no Brasil é a primeira obra completa escrita sobre o assunto, tendo sido essa biografia encomendada ao notável Autor pelo antigo Departamento Nacional do Café.

Atendendo à incumbência, Taunay cuidou de ver e rever toda a extensa bibliografia anteriormente realizada a respeito do que ele chama o “Coffea Brasiliae fulcrum”. E, no prefácio da sua alentada obra, salienta a enorme biblioteca existente sobre o assunto, não obstante as lacunas de quase todas as obras. O seu trabalho é, pois, como que uma consolidação bibliográfica, enriquecida das suas próprias pesquisas e revisões, com observações novas. Reviu o errado, preenchendo as omissões, ligando o tema aos contrapontos da vida institucional brasileira, nesses últimos duzentos anos. Para isso, foi às fontes bibliográficas referentes aos primórdios da lavoura cafeeira, no Oriente, assim como aos principais aspectos da introdução do uso do café nos países ocidentais. O comércio da fava de Moka em transplantação do cafeeiro às antilhas americanas e à Guiana, de onde veio para o Brasil. Desde o trabalho do famoso Antonil, o jesuíta italiano João Antônio Andreoni. Desde o tratado Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, em que se descrevem as bases de toda a economia brasileira, em princípio de 1700.

Taunay corrige Antonil:

“Houvesse Antonil vivido e escrito o seu livro cento e vinte anos mais tarde, já certamente atribuiria a primazia da cultura e opulência do Brasil à planta do café e não às das canas na lavra do açúcar nos engenhos reais moentes e correntes.”

Vivendo profundamente a história do café e a sua importância transcendental na nossa vida brasileira, diz o arguto Taunay:

“Sem o café, seria o Brasil uma Angola, ou pouco mais.”

A conexão de riqueza e instituições está bem analisada pelo Autor:

“Assim como na segunda metade do século 18 a fugacidade dos proventos do ouro trouxe o deslocamento da capital brasileira, da Bahia para o Rio de Janeiro, enriquecido pelo comércio com as Minas Gerais, a cultura cafeeira provocou o opulentamento notável do centro do Brasil em relação às demais zonas do país, a princípio na região fluminense e da Mata de Minas, depois no de São Paulo.”

Ora, o quadro não difere: – perdendo o Estado do Rio a hegemonia cafeeira, perde a primazia para São Paulo no concerto do Brasil. E o crescimento do Estado do Paraná, esse novo el-dorado, deve-se ao café. Taunay apostrofa o verso deliliano, como ele mesmo o diz:

“Se temos câmbio, c´est toi divin café!

Se o país possui o que possui, em matéria de aparelhamento e de recursos normais: c´est toi divin café! Se não caímos na estagnação dos países mineradores do Pacífico, esgotados os recursos extrativos: c´est toi divin café!

Se acabados os dias prósperos da cana de açúcar e do ouro não baixamos às condições do atraso de costa fronteira africana: c´est toi divin café!

E, com efeito, que seria do Brasil imperial sem o café? Que outro fator lhe poderia ter fornecido a potência financeira de que lhe decorreu, durante decênios, a hegemonia sul-americana?

Que seria do Brasil atual sem o café? Onde arranjar substituto de seu valor para as exigências imperiosíssimas da balança do comércio, inexorável para com os povos que, não produzindo, regridem?

Onde descobrir gênero de igual valor monetário? De tão grande apreço e tão alta capacidade aquisitiva sob tão pequeno volume?

Que era São Paulo antes do café?”

Foi, assim a importância do fato histórico do café no Brasil que levou d´Escragnolle Taunay à notável obra.

O que teve de ler, e corrigir! Desde as primeiras notas de Monsenhor Pizarro, Aires do Casal, Silvestre Rebelo! E, logo, a verificação de que nos escritos do primeiro brasileiro que tratou do assunto – Fr. José Mariano da Conceição Veloso,

“nem uma única nota ocorre historiando a introdução da rubiácea no Brasil.”

A pesquisa de Taunay é intensa e ele se assusta com o fato de que os nossos antigos monografistas jamais teriam ouvido falar no nome do introdutor do café no Brasil – Francisco de Melo Palheta! Nem mesmo os mais notáveis, como Borges de Barros, Visconde da Pedra Branca (1813); Aires do Casal, em 1817; Monsenhor Pizarro, em 1820; José Silvestre Rebelo, em 1833; Baltazar da Silva Lisboa, em 1835; Januário da Cunha Barbosa, em 1842; e até o eminente botânico Francisco Freire Alemão, em 1856. Inclusive Frederico Burlamaqui, na sua Monografia do cafeeiro e do café, em 1860. Na mesma lacuna incorrem Paulo Pôrto Alegre, em 1879, na Monografia do café, e Teodoro Peckolt na História das plantas alimentares e de gozo do Brasil.

Taunay acentua que tais falhas e omissões decorrem da falta de pesquisa, visto que bastaria que todos tivessem lido a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Viagem e visita em o bispado do Grão Pará, em 1762 e 1763, do bispo D. João de São José Queirós.

Diz, então, Taunay:

“Se os autores nacionais revelam tal incidência, que esperar dos estrangeiros?”

Mas, em 1910, conhece-se uma memória de Moura Brasil, inspirado por Capistrano de Abreu. Em 1915, Manuel Barata divulga preciosos informes em A antiga produção e exportação do Pará. Vem, depois, a documentada monografia de Basílio de Magalhães “Quem era Francisco de Melo Palheta”, em 1927, na qual inclui importantes subsídios de Capistrano, Rio Branco, Rodolfo Garcia, Barata.

Hoje, é enorme a bibliografia do café, sobre sua produção, consumo, exportação, crises de super-produção, influência na economia nacional, sua agronomia, métodos de cultura e aperfeiçoamento, inovação de processos, flagelos dos cafezais, beneficiamento, botânica, química e fisiologia do café, etc. Paralelamente, cresce a bibliografia de estudos do aprovisionamento de braços para as lavouras; problemas da substituição do trabalho servil pelo trabalho livre; assim como a respeito da mecânica dos transportes, etc., etc., tudo em correlação ao aproveitamento total do café.

A história do Coffea Brasiliae fulcrum, que é, por longo tempo, a história brasileira na vivência das suas instituições, tem propiciado largo acervo bibliográfico da nossa civilização, tão notavelmente modificada pelo café, sobretudo na região centro-meridional. Extensos trabalhos se têm escrito sobre as consequências da chamada de braços, partindo do Vale do Paraíba e oeste paulista e, depois, do Paraná, e os reflexos desse grande mercado de trabalho no despovoamento das lavouras do norte do país.

A obra está dividida em diversas seções:

1 – Dados sobre a propagação da cafeicultura nas grandes zonas produtoras, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, e outras, de menor importância, como o Espírito Santo, Bahia e Ceará. (À época da obra, o Paraná ainda não apontava nesse campo de produção.)

2 – Influência do surto cafeeiro sobre o nosso regime financeiro, o câmbio internacional e a economia brasileira.

3 – O problema do aproveitamento de braços para a lavoura.

4 – O comércio do café e a indústria de seu transporte.

5 – O problema do braço e a extinção do regime servil. A imigração européia.

6 – Agronomia do café.

7 – Regime das fazendas e suas características sociológicas.

8 – Depoimentos brasileiros e estrangeiros de viajantes que visitaram os principais centros cafeeiros.

Têm aí os senhores uma medida da importância da obra de Taunay. Infelizmente, não disponho de um ciclo de aulas para a ponderação de cada obra das suas obras. Tenho, tive, aliás, apenas 60 minutos para tentar uma caracterização da obra global do Autor. Entretanto, com a rápida notícia verbal de cada uma, e a delonga maior na História Geral das Bandeiras Paulistas e na História do café no Brasil, creio haver conseguido aquela caracterização de Taunay dentro da historiografia brasileira, e esse é o objetivo desse Curso Varnhagen. Dei-vos uma impressão geral da obra conjunta, com as indicações das fontes em que podeis aprofundar os vossos conhecimentos, se o quiserdes. Inclusive uma rápida memória dos critérios filosóficos que têm orientado o estudo e a crítica histórica.

Se, todavia, essa pobre aula houver despertado o interesse de ler ou reler todo o mestre Afonso d´Escragnolle Taunay, dar-me-ei por bem sucedido. Fazendo-o, os senhores completarão a inópia da aula, e isso é sempre o desejo dos professores, sobretudo os mais apagados, como eu.

De qualquer modo, eu estou feliz – de ter-vos tido como bondosos ouvintes.

Muito obrigado.

Petrópolis, 3 de setembro de 1966