PAULA MARIANNA, A PRINCESA SEM A QUAL PETRÓPOLIS PROVAVELMENTE NÃO EXISTIRIA
Bruno da Silva Antunes de Cerqueira, Associado Correspondente
Poucos conhecem a história da loura filha de D. Pedro I e D. Maria Leopoldina que nasceu no Rio de Janeiro em 17.02.1823 e faleceu na mesma cidade em 16.01.1833.
Paula Marianna Leopoldina Joanna Carlota Faustina Mathias Francisca Xavier de Paula Michaela Gabriela Raphaela Gonzaga era a quinta filha do casal imperial. Seus dois prenomes principais foram a homenagem do pai às Províncias de São Paulo e Minas Gerais (capital Mariana), que tanto auxiliaram D. Pedro e D. Leopoldina no processo emancipatório do Brasil.
A rigor, ao nascer, D. Paula foi “Infanta de Portugal e do Brasil”, haja vista não existir, ainda, nossa Constituição, promulgada somente em 25.03.1824; a partir daí, D. Paula foi somente princesa do Brasil, ainda que genealogicamente continuasse a ser infanta portuguesa.
Os grandes biógrafos e historiadores da mãe e do pai (Carlos Oberacker Jr., Octavio Tarquínio de Sousa, Pedro Calmon e outros) apontam que foi, em grande medida, para tratar das enfermidades de D. Paula que D. Pedro I se decidiu pela aquisição da antiga Fazenda do Padre Corrêa. D. Paula era asmática e epilética, como todos os demais seus irmãos — exceção para D. Maria da Glória (mais tarde D. Maria II, rainha de Portugal) —, mas, dizem os citados autores, sofria também de “doenças do fígado”.
Episódio triste na história de vida dessa princesa que durou tão pouco foi, em julho de 1826, o reconhecimento oficial de D. Izabel Maria de Alcantara Brazileira (filha da Marquesa de Santos) como filha do Imperador e a concessão do título de Duquesa de Goiás. Houve uma exasperação de D. Leopoldina no Paço de São Cristóvão, seguida de ação firme da rainhazita (D. Maria II de Portugal), negando-se a cumprimentar a “bastarda”. Neste momento torpe do pai-herói — literalmente —, D. Pedro teria ameaçado bater em D. Maria II, ao que ela retorquiu-o dizendo que ele não podia afrontar a soberana de Portugal. D. Paula Marianna saiu em defesa da irmã-madrinha e atacou a Duquesa de Goiás, ao que levou algumas palmadas de D. Pedro [1].
[1] Episódio a que se referem vários autores. Cf. LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I, um herói sem nenhum caráter. Cia. das Letras, Rio de Janeiro, 2006. P. 231
A perda dessa irmã foi muitíssimo sentida por D. Jannuaria, D. Francisca e o pequeno D. Pedro II, pois que já eram relativamente grandes quando ela se foi: tinham onze, nove e oito anos. Na carta que enviou ao pai, D. Jannuaria relatou:
Amado Papai. Apesar das nossas constantes suplicas aos céus, a nossa querida irmã Paula Marianna partiu. Não encontramos consolo. Nossa irmã tão amada não está mais connosco. Alem disso, Pedrinho adoeceu seriamente. Chegamos a pensar que ele pegara a mesma febre de Paula, mas, graças aos céus, ele melhorou e já está sentado em sua sala de estudos. Para expressar nossa gratidão, nós, manna Chica e eu, sua filha Jannuaria, ficaremos sem comer açucar até o aniversário de Pedro, dia 2 de dezembro. Amado Papai, estamos desesperados e em grande desalento. O senhor nos faz muita falta e também sentimos muita saudade de nossa irmã Maria da Glória e de todos que estão com o senhor em Lisboa. Com a promessa de lhe sermos sempre filhos obedientes e amorosos, Jannuaria, Francisca e Pedro.
As cerimônias fúnebres duraram dois dias e, a 18.01.1833, o corpo embalsamado de D. Paula Marianna foi depositado no Convento de Nossa Senhora da Ajuda. Repousa, desde 1911, com a destruição do Morro do Castelo, no Convento de Santo Antônio, sede histórica dos franciscanos.
É de imaginar-se o quanto D. Pedro I sofreu, até por remorsos, quando recebeu a notícia, no fim da guerra contra o irmão em Portugal. Amoroso e impulsivo, terá certamente chorado lágrimas amargas.
Já Petrópolis não deve se esquecer da memória de D. Paula Marianna, a dinasta brasileira em prol de cuja saúde os Bragança adquiriram o Córrego Seco e fundaram a Cidade Imperial.