D. PEDRO II NO TEATRO

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira

1.- ANTECEDENTES

No século XIX os palcos cênicos descerravam cortinas à cultura, às artes em geral, ao divertimento, ao entretenimento, ao lazer. O Teatro era a diversão complementar da leitura, dos saraus, dos encontros nas livrarias e do recesso dos lares. Outro poderoso agregador de público era o oficio divino, com um protagonista e seus coadjuvantes e a platéia sob o latim das celebrações de insuficiente conhecimento popular.

No Brasil, a presença dos Reis e Imperadores no Teatro começou com D. João. Já existiam teatros e abnegados cultores e tão logo chegou ao país o Príncipe Regente e sua Corte, em 1808, o empresário Manuel Luís tentou atrair as atenções das fidalgas personalidades para o seu trabalho. Reformou o seu Teatro chamado “Nova Ópera”, nele construiu acomodações que pudessem receber as ilustres figuras, pintou um novo pano de boca e cenários. Testemunhas daqueles dias narraram que D. João preferia as festividades religiosas ao teatro mas, quando comparecia aos espetáculos era visto, no camarote real, dormitando enquanto os dramas eram desenvolvidos no palco. Quando terminava a representação, acordado e refeito, perguntava:

– Estes marotos já se casaram ?

Os dramas da época, românticos e por vezes trágicos, terminavam em casamento, daí a pergunta que o colocava inteirado do que acontecera.

– Sim, Principe, casaram e foram felizes para sempre !

A peça de sua predileção, que o fazia rir e o mantinha desperto era “A Mulher Inimiga do seu Sexo”.
O teatro “Nova Ópera” durou até 1813. O empresário Manuel Luís entregou as chaves ao Príncipe, que aproveitou o prédio para abrigo da criadagem do Paço.

D. João cuidou de dotar a cidade de um bom teatro, construido no Largo do Capim, sobre os alicerces da catedral da Praça da Sé Nova, cuja edificação não fora adiante. No local hoje está o Teatro João Caetano. Foi inaugurado a 12 de outubro de 1813 com espetáculo de gala em comemoração ao aniversário do Principe D. Pedro. Foi encenado o drama lírico Juramento dos Numes e a peça patriótica O Combate de Vimeiro.

Quando D. João comparecia ao teatro acompanhava-o enorme comitiva: pessoas da familia real, infantes, ministros, fidalgos e damas, num festival de fardões decorados de folhagens em ouro, decotes, crachás, cabeleiras emproadas, rabichos, toucados, vestidos de seda rubra; o camarote real recebia cortinas de veludo franjadas de ouro e rigorosa limpeza e era perfumado. O espetáculo quase sempre era precedido por uma declamação dirigida ao soberano.

Com a independência, o Imperador D. Pedro I, um artista músico e de grande talento, elegeu o teatro para sua diversão oficial com a Família e a Corte. O Teatro de São Pedro de Alcântara era palco de grandes acontecimentos políticos, como a presença do Imperador, na noite de 15 de setembro de 1822, num camarote, anunciando a nova ordem política e a 25 de março de 1824, a leitura do texto de juramento da Constituição, seguida de apresentação de uma companhia italiana e concorrido baile. Passou a chamar-se Teatro Constitucional Fluminense a partir de 1º de dezembro de 1824 com imponente espetáculo operístico, a obra de Rossini O Engano Feliz, comemorando a data aniversária da sagração e coroação de D. Pedro I. O Teatro retomou, mais tarde, o nome de Teatro São Pedro de Alcântara.

Cresceram em número as casas de espetáculo e, para encerrar essa fase de D. Pedro I, a notícia da chegada ao Rio de Janeiro da Companhia Portuguesa contratada pelo empresário Fernando José de Almeida, com atores e atrizes que chegaram ao Rio de Janeiro em dois grupos, respectivamente em 28 de junho e 17 de julho de 1829. No dia da chegada dos últimos artistas, o empresário faleceu, deixando a companhia sem trabalho, sem contratos, sem teatro, à míngua. Fizeram um apelo a D. Pedro I e este ordenou que fossem hospedados no “Hotel Horácio” com todas as despesas por ele pagas, arrumou-lhes novo empresário e teatro, quando foram encenadas com sucesso as peças O Escravo ou Elisa e Raul e O Ermitão e a Beata. Instalaram-se no Rio de Janeiro, muitos fizeram carreira e não retornaram a Portugal.

2.- D. PEDRO II CONHECE O TEATRO

Aprovada a maioridade do menino de 15 anos incompletos, o segundo Imperador do Brasil, este continuou a tradição de seus familiares, interessando-se vivamente pelo teatro e prestigiando os salões. No pequeno teatro de São Francisco, na Rua do Teatro, desde 1841 funcionava uma companhia francesa, sob o amparo do Imperador que se deliciava com as peças declamadas em francês, língua que dominava fluentemente. Nesse teatro, após o consórcio com a Princesa Teresa Cristina, a 12 de setembro de 1843, o casal e a Corte assistiram a um espetáculo de gala em regozijo pelo acontecimento. Abriu a noite Mlle. Caroline Déblieux que declamou versos de Carlos Augusto Taunay, sobre a música do Hino Nacional, sob o seguinte estribilho:

Pedro ! la couronne,
Dans un jour si beau,
Sur ton front rayonne
Dans reflet nouveau !

Na véspera o casal assistira no Teatro São Pedro a peça Triunfo de Trajano , com elenco integrado pelos artistas do teatro e da companhia do ator Joáo Caetano dos Santos, em homenagem ao matrimônio do imperial casal.

Na data do 15º aniversário do Imperador, 2 de dezembro de 1840, um espetáculo no Teatro São Pedro homenageou o soberano, que compareceu para assistir a peça de José Mendes da Silva Leal Os Dois Renegados, dramalhão em 5 longos atos, lúgubre, patético, intrincado. O imperador adolescente não agüentou a maratona e dormiu antes do final do espetáculo, sendo seu o comentário in “Diário” :

“[…] Acabada a peça dormindo fui para casa, dormindo me despi e dormindo me deitei; agora façam-me o favor de me deixarem dormir, estou muito cansado, não é pequena maçada […]”.

Em janeiro de 1841 assistiu um espetáculo do Teatro Francês, com as peças L´Ami Grandet e La Fille de l´Avare, esta última uma comédia do gênero vaudeville inspirada em romance de Honoré de Balzac. D. Pedro satisfez, com o espetáculo, três prazeres de sua vida: o teatro, a sua segunda língua e o contato com a extraordinária expressão da literatura francesa daqueles idos. Tornou-se um habitué do teatro francês, acompanhando os espetáculos de companhias daquele país que representavam na Corte com casas cheias justamente pela presença do soberano nas platéias.

Aos 17 anos, muito animado e feliz ao receber a fotografia da futura esposa e após firmar o tratado de casamento, 23 de julho de 1842, foi comemorar no Teatro Grande assistindo o drama Aos 16 Anos ou Os Incendiários. Registrou em seu “Diário” :

“[…] O hino rompeu, levantou-se o pano, iam os atores começar a representação quando, de um camarote, se ouviram palmas e um moço recitou mal uma poesia, que talvez não fosse má […]”.

O longo espetáculo cênico constou de Dança Anacreôntica (bailado) e o drama Amor, Protege Amor. O “Diário” registrou:

“[…] talvez por ser amoroso “Amor Protege Amor” foi tempo perdido […]”.

Em suas viagens pelo interior do Império, D. Pedro II encontrava montados, em sua honra, espetáculos teatrais. Assim, em 1847, na visita a Campos, norte fluminense, ouviu discursos, loas, te-deum, recebeu homenagens e no final do 1º dia, foi ao Teatro de São Salvador para assistir a peça Luís de Camões, de Bourgain, montada pelo ator Germano Francisco de Oliveira. Em seu diário registrou :

“[…] assisti por honra da firma […]”.

Ainda, na mesma viagem a Campos, assistiu Os Amores de um Marinheiro e o drama Maria Joana.
Sobre os Amores escreveu no “Diário”:

“[…] ri a valer de um dos cômicos, que querendo disfarçar a sua líbica origem, cobriu-se com toda a cal que se faz em Campos, trazendo além disso uns mui esdrúxulos calções […]”.

E assim foi nas viagens ao sul, ao nordeste, quando as companhias de teatro sentiam-se honradas em representar para tão ilustre personagem.

Desde os primeiros anos no poder lá estava o Imperador, aos sábados ou em noites de estréias especiais, nos camarotes dos teatros, assistindo dramalhões, comédias, vaudevilles, declamações insossas, elogios, rapapés, beija-mãos, risos, gargalhadas, apupos, choraminhações trágicas, pateadas…

D. Pedro II aprimorou sua educação de humanidades e artes e conheceu de perto a sociedade da Corte, fora dos saraus e do aparato das recepções, a partir da presença nos teatros, vivendo o calor do aplauso e da admiração e convivendo na intimidade da tietagem com os artistas e o mundo artístico. Era exigente e só comparecia aos espetáculos diante de prévia análise do que estava sendo oferecido. Um cuidado que tomava sempre era com o repertório francês porque os dramaturgos faziam críticas jocosas e, por vezes, ferinas, às monarquias. Em recado passado ao diretor de uma companhia francesa, pediu o Imperador :

“[…] Diga ao Ernesto que deixaremos de ir aos sábados ao Teatro Francês se ele continuar a escolher dramas e vaudevilles que, por exemplo, não devemos ver, e não levar à cena a tragédia : Luíz XI, de Cassimir e Lavigne […]”.

João Caetano dos Santos, o grande ator brasileiro, tornou-se a principal estrela para os aficionados da arte cênica e o Imperador D. Pedro II, puxava a fila, como seu 1º grande fã. Na noite de 18 de agosto de 1852 , ao reabrir o Teatro de São Pedro, que se perdera em um grande incêndio, D. Pedro II compareceu ao espetáculo, assistiu a peça de León Gozlan O Livro Negro, presenteando ao ator com um alfinete de brilhantes.

3.- CONSIDERAÇÕES

D. Pedro II mantinha-se informado sobre toda a programação dos teatros da Corte. Seus assessores colocavam-no a par de tudo e com ele discutiam sobre a ida da Familia Imperial aos espetáculos, embora o Imperador, com sua polimorfa cultura, acompanhasse os acontecimentos, sob vigilante cuidado e preferências. Prevenindo-se de constrangimentos, D. Pedro II inteirava-se sobre o conteúdo das peças, a qualidade dos dramaturgos e, em especial, quanto aos autores nacionais.

No ano de 1843, a 30 de abril, foi criado o “Conservatório Dramático Brasileiro”, uma ligação direta do Governo com a atividade, para serem interpostos juízos de mérito e qualidade sobre os originais a serem representados na Corte. Um órgão de censura, sim.

João Caetano era um dos conselheiros do órgão e, em parecer formulado sobre a peça Ruy Blas, de Vitor Hugo, proibiu a exibição nos palcos da Corte, constando em suas razões:

” […] Um lacaio apaixona-se pela Rainha da Espanha, esposa de Carlos II. O marquês de Finlas, fidagal inimigo da Rainha, surpreendendo o segredo dessa paixão, faculta ao lacaio os meios de aparecer na Corte, com o falso título de Conde de Garofa, sob condição de agradar à Rainha e tornar-se seu amante, com o intento de vingar-se e, depois, perdendo a ambos. […] Forma pois a base deste drama os amores da Rainha com um vil lacaio; e por certo não será por meu voto que o Conservatório Dramático Brasileiro permitirá a apresentação deste espetáculo ao público da capital da única monarquia da América, máxime quando é notório o próximo parentesco que une SS. MM. II. o Imperador e a Imperatriz do Brasil à Família Real da Espanha. […]”

Irritar S. M., nem pensar, levando um drama com traições palacianas e logo da Rainha da Espanha, da mesma linha da Imperial Casa Brasileira…

4.- NO GINÁSIO DRAMÁTICO

Quando o empresário Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos arrendou o pequeno teatrinho de S. Francisco, nele promovendo reforma e ampliação, lançando a casa de espetáculos Ginásio Dramático, a partir de abril de 1855, abria um novo caminho e nova era na Cultura Brasileira. O seu teatro lançou o “Teatro Realista” na Corte do Rio de Janeiro e no Brasil, com as peças As Mulheres de Mármore, de Thiboust e Barrier e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho; montou e encenou o primeiro original de “Teatro de Revista”, a peça “As Surpresas do Senhor José da Piedade”, de Faustino Xavier; lançou a “Ópera Nacional”, com espetáculos dirigidos por José Amat, conquistando a simpatia do público e, principalmente do Imperador D. Pedro II.

SS. MM. II. compareceram a muitos espetáculos do Ginásio, sob várias objetivações. Durante o período de abril de 1855 a julho de 1860, tempo de duração da Companhia sob Joaquim Heleodoro, a Familia Imperial ocupou o Camarote Imperial em cerca de 30 récitas.

O primeiro espetáculo com a presença do Monarca, em 21 de junho de 1855, ganhou da imprensa o comentário :

“SS.MM.II. dignam-se assistir hoje, 21 do corrente, à representação que terá lugar no Teatro Ginásio Dramático. A subida honra que recebe hoje aquela empresa e os seus artistas significa a proteção que se dá ao país, às artes e ao verdadeiro merecimento”.

O anúncio da presença da Familia Imperial era o suficiente para a corrida em busca dos ingressos. A casa lotava, os bilhetes acabavam no decorrer do dia e muitos caiam nas mãos de cambistas. Vindos do Palácio de São Cristóvão, SS. MM. II. e comitiva ingressavam no Teatro pela frente, com cumprimentos e saudações, eram recebidos pelo Diretor que os acompanhava até o camarote. Era o sinal para o início da noite teatral, iniciada às 20 horas e com término cerca de meia noite. Poetas e artistas aproveitavam para declamar homenagens, a orquestra esmerava-se, os artistas mostravam-se nervosos e muitos olhares esqueciam do espetáculo no palco para ter uma visão do monarca. Terminada a noite teatral, o Imperador comparecia ao palco, cumprimentava os artistas, recebia o beija-mão e o respeito de todos.

O teatro anunciava com antecedência, diante do comunicado do Palácio sobre a presença do Imperador:

“O espetáculo começará com a chegada de SS.MM.II”.

No noticiário do Diário do Rio de Janeiro, 24 de junho de 1855, o registro:

“[…] Na quinta-feira passada foi ao Teatro do Ginásio Dramático honrado com as augustas presenças de SS.MM.II. Camarotes e platéias estavam apinhados de espectadores. O teatro ainda que pequeno é, como todos sabem, agradável e bonito; ao menos não mete medo pelo tamanho […]”

O Imperador, no mês de julho de 1855, compareceu a novas estréias e a imprensa comentou:

“[…] SS.MM.II têm honrado dois domingos consecutivos o teatro do Ginásio, e um grande número de famílias distintas adorna constantemente seus camarotes. Esta é uma prova de que os esforços sinceros são sempre bem recompensados […]”.

Na noite de 29 de agosto de 1855 o Imperador anunciara presença no Ginásio Dramático porém desmarcou para ir ao Teatro Lírico. A empresa cancelou a estréia e remarcou para o dia de melhor conveniência para o soberano.

Filantropo por natureza, aliava o seu gosto pelo teatro ao auxílio que poderia prestar a alguém, quando os teatros anunciavam benefícios que podiam ser em favor dos artistas, técnicos e pessoas e entidades necessitadas. Dest´arte, fez questão de prestigiar espetáculos beneficentes, como:

– benefício do jornalista redator de “O Periódico dos Pobres”, de grande familia, cego, de nome Morando;
– benefício da viúva cega Anastácia Florência Machado;
– benefício do ator inválido Guilherme Orsat, doente e desenganado pela ciência;
– benefício da Associação de Caridade ;
– benefício da Irmandade de Santo Antônio dos Pobres;
– benefício do Estabelecimento Pio da Imperial Sociedade Auxiliadora das Artes Mecânicas, Liberais e Beneficentes;
– benefício das familias das vítimas do flagelo da incontrolável doença colera-morbus.

D. Pedro também era um fã, como qualquer mortal e comparecia a espetáculos em benefício dos artistas ou a récitas de estréias de grandes espetáculos em reforço do trabalho de todos. João Caetano dos Santos sempre recebia o prestígio do monarca, como diversos outros artistas e, dentre eles: a dama ingênua Adelaide Amaral; a versátil Maria Velluti; a criadora de Marguerite Gauthier, a dama das camélias, Gabriela de Vecchy; a baiana Joana de Noronha, os atores Joaquim Augusto, Furtado Coelho, Germano de Oliveira, Oliveira Martins, Vasques, Jacintho Heller, Antônio Arêas, o professor de música Francisco Colás e muitos outros.

D. Pedro II assistiu a todos os gêneros teatrais e dentre as peças que por ele foram aplaudidas ou criticadas, citam-se : A Gargalhada, de Arago; Os Seis Degraus do Crime; Gaspar Hauser; Hamlet e Otelo de Shakespeare; A Dama das Camélias e O Mundo Equívoco, de Alexandre Dumas Filho; Uma Mulher de Juízo ou Aos Trinta Anos; O Ramalhete de Violetas; As Primeiras Proezas de Richelieu, de Scribe; A Atriz, o Teatro e os Doidos; Marido Rapaz e Mulher Velha; Luíza ou A Reparação; As Mulheres de Mármore; Os Parisienses, de Barriére & Thiboust; A Honra de Minha Mãe, de Baullé & Rimbaud; Os Três Pontapés, de Palha; O Primo da Califórnia, de Joaquim Manoel de Macedo; O Crédito, Mãe, Rio de Janeiro – Verso e Reverso, de José de Alencar; A Princesa e a Tamanqueira; Rei feito à Força; Um Velho de Têmpera à Antiga; A Filha do Marceneiro; As Entrevistas no Escuro; O Cavaleiro de Essone; Os Erros da Mocidade; Os Pobres de Paris; A Rainha Papelita; O Dinheiro do Diabo; O Asno Morto; Feio de Corpo, Bonito n´Alma; A Atriz Hebréia e etc, etc, etc…

5.- NA EUROPA

O Imperador viajante, em terras da Europa transpirante de cultura, onde ele se deliciava com o contato com os grandes nomes da ciência, das artes, da literatura, era presenteado com reservas nos principais espetáculos e, como na Corte do Rio de Janeiro, as casas lotavam e o beija-mão inevitável cumpria muito tempo de sua permanência na Commedie Française ou no Gymnase. Na França e na Itália era-lhe especialíssimo o estar nos teatros para ver e ouvir as grandes deusas da cena: Rosine Stolz, Sarah Bernardt, Adelaide Ristori, Eleonora Duse, tendo a todas presenteado com jóias brasileiras, sob emoção e júbilo das platéias européias e, também, quando vieram representar, cantar, dançar na Corte do Rio de Janeiro.

Quando Eleonora Duse veio ao Rio de Janeiro, em 1885, o Imperador enviou para seu camarim imenso ramo de camélias, festejando o desempenho da atriz em A Dama das Camélias, que foi um dos grandes acontecimentos teatrais na Corte naquele ano.

Em 1871, na Dinamarca, visitou o castelo no qual William Shakespeare retratou em moldura soberba sua obra-prima Hamlet. D. Pedro II, como no palco da tragédia, realizou, como bem disse Pedro Calmon : “[…] um encontro furtivo com Shakespeare; e a clássica reflexão sobre a sorte dos príncipes […]”.

6 – O TEATRINHO DO PALÁCIO

A 3 de dezembro de 1856 um teatrinho sonoro e ruidoso enviava sons aos céus da Quinta da Boa Vista. Era o Teatrinho da Barral, o Teatrinho do Paço, onde eram ensaiadas e montadas peças de teatro com as princesas e suas amigas, sob a direção da Condessa de Barral. Representaram-se muitos originais, durante cerca de uma década, como L´Aveugle de Spa; Pica-Pau; Eu Quero me Casar, de Joaquim Manoel de Macedo; Orfeu no Inferno, de Offenbach com texto de Cremnieux; Revers de la Medaille, de Molière; Révolte des Fleurs.

Révolte de Fleurs, em 8 de dezembro de 1863, encenada com Isabel no papel de L´Avoine, Leopoldina como Miosótis e jovens das famílias Torres, Paranaguá, Ferreira de Abreu, Jobim, Luís Godofredo, foi um grande sucesso, tendo sido distribuídos convites impressos, onde constou “Honrada com a augusta presença de SS. MM. II”. Um exemplar desse curioso e valioso convite está no arquivo documental do nosso Museu Imperial.

7 – CERRANDO AS CORTINAS

Concluindo essas informações resumidíssimas sobre o amor de D. Pedro II, de sua esposa D. Teresa Cristina, – ela oriunda de terras da música, do canto, da alegria, – às artes cênicas, como uma abertura a tema tão interessante sobre a vida do Imperador, afirmo que o Monarca sábio, se não foi ator de teatro, nem cantor de ópera, cenógrafo, compositor, dramaturgo, soube prestigiar, incentivar, reconhecer a arte do palco em sua importância maior de difusão cultural e diversão, ao tempo em que formadora de opinião e templo de estética.

Quando observamos na vida cotidiana de hoje, o distanciamento dos dirigentes políticos das manifestações culturais, não se dignando à presença em espetáculos, nem cuidando de entreter-se com a arte, preferindo os cineminhas palacianos reservados e frios, sem o hálito, o calor, a companhia de platéias de todas as cores, até mesmo sofrendo minimamente com aquela plantinha, o picão, que cola na roupa da gente, em alusão aos carentes de atenção e estímulo, miramos S. Majestade, o Imperador, do alto de um pedestal político e social, descer ao nivel do suor das platéias, correr aos camarins, ofertar flores às divas e apertar as mãos dos atores, cumprimentar os diretores e técnicos, rir, chorar, ressonar nos camarotes, anotar observações do aprendizado, abeberar-se da vida, enfim, ficamos com pena, muita pena daqueles que teimam não ver que a miséria do povo está no caminho das pedras do desconhecimento mais puro da criatura humana, que é a preparação para a vida estar aberta aos palcos da instrução, nos cortinados do conhecimento e sob as bambolinas feéricas das luzes da educação e da cultura.

SS. MM. II. correndo aos teatros, vivendo as emoções dos espetáculos, junto às pateadas e aplausos, puderam reger a orquestra do poder com muito mais segurança e ter uma visão justa de seu povo tão talentoso quanto carente de dignidade.