DESTRUIÇÃO DAS MATAS
Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira nº 23, Patrono Lourenço Luiz Lacombe
A destruição das matas de Petrópolis era um problema enfrentado permanentemente pela Imperial Fazenda de Petrópolis. As derrubadas de madeira ilegais tiradas para venda em suas terras exigiam medidas constantes para combater essa prática. O Mordomo da Casa Imperial, Paulo Barboza da Sylva, em 1866, encarregou Maximiano José Gudehus da guarda e vigilância das florestas reservadas e devolutas da Imperial Fazenda de Petrópolis. Em alguns momentos, era preciso recorrer à Policia para as providências legais a fim de responsabilizar os infratores.
A situação não era pacífica como podemos apreender do ofício nº 23 do Superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis ao Delegado de Polícia do Distrito de Petrópolis, no qual informava que os trabalhadores sob a inspeção do guarda-matas se recusavam a prosseguir no serviço que lhes foi ordenado no Quarteirão Princesa Imperial em consequência da oposição e ameaças que lhe foram feitas por Boaventura José de Medeiros, Manoel Francisco Teixeira, Francisco Furtado da Rosa e Henrique Schiffler, os quais tem derrubado grande quantidade de madeira e feito estragos nas matas das coroas denominadas de S. M. O Imperador e solicitava que fossem intimados para assinarem um termo de bem-viver.
Pedro II assinou um Decreto, em 6 de outubro 1874, criando o cargo de guardas de matas para cada um dos quarteirões, o que não bastava para solucionar o problema. Três anos depois, em 12 de novembro de 1877, o major Manoel Gomes Archer (1821 – 1907) foi nomeado para o cargo de Superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis, onde permaneceu até 27 de outubro de 1888, quando foi efetivado no cargo de Superintendente da Imperial Fazenda de Santa Cruz, que exercia desde 29 de agosto do ano anterior.
Em 15 de setembro de 1879, Manuel Gomes Archer enviou à redação do jornal Mercantil, um ofício ao editorial “Variabilidade de Petrópolis” da edição do dia 13, dando uma resposta a “imerecida censura à casa imperial pelo fato da destruição das mattas, nos terrenos que lhe são foreiros nesta fazenda de Petrópolis”, esclarecendo que a Casa Imperial não podia impedir os foreiros de destruírem as matas em seus prazos, limitava-se, porém, a preservar as matas nas coroas dos morros, justamente no intuito de beneficiar o lugar.
Archer escreveu, por ordem de D. Pedro II, em 30 de abril de 1881, uma memória sobre a destruição das matas em Petrópolis e sobre os meios de remediar. Como bem ressaltou Manoel de Souza Lordeiro, em seu artigo “A presença, em Petrópolis, do Major ARCHER, o precursor da silvicultura no Brasil”, Archer “logo de início enfrentou algumas dificuldades, como já era de se esperar, para exercer uma ação corretiva que resultasse na recomposição da cobertura vegetal, a essa altura bastante comprometida pelo incessante desmatamento”. E continua: “a exploração de madeira para construção e, principalmente, um ativo comércio de lenha e carvão, já acarretavam sérios problemas ao município”. Archer recomendava o plantio de espécies mais úteis e de rápido crescimento, sobretudo nas coroas dos morros mais próximos da cidade, como era o caso do morro do Cruzeiro, considerado como um local adequado para intervenção imediata. Archer previa que o morro, reflorestado, atenderia o requisito de utilidade e constituiria, ao mesmo tempo, “um magnífico passeio para a população”.
O vereador Manoel Bordini na 19ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Petrópolis, no dia 21 de novembro de 1883, ao tratar da tiragem das madeiras para os reparos do matadouro, fala não ser prudente o descortinamento das matas nos arrabaldes ou quarteirões que tanto tem prejudicado esta cidade e município, perdendo em sua higiene por ter tido alteração no clima.
Em 1886, Joaquim Nabuco (1849-1910) escreveu “Cartas de Petrópolis” em forma de crônicas, publicadas no jornal O País (disponíveis na Hemeroteca Digital), que tratam da devastação ambiental, do desperdício das finanças públicas e do saneamento urbano em Petrópolis no final do século XIX, que foram analisadas no artigo “Amanhã anda a roda”: natureza e sensibilidade em Cartas de Petrópolis de Joaquim Nabuco, da historiadora Marina Haizenreder Ertzogue (VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 29, nº 50, p.513-529, mai/ago 2013).
Apesar da História nos mostrar os danos causados pelo desmatamento, infelizmente até os dias de hoje a prática ainda existe em nossa querida Petrópolis.