DISCURSO DE POSSE DO ASSOCIADO TITULAR JOSÉ LUIZ DE MENDONÇA COSTA
José Luiz de Mendonça Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 10 – Patrono Carlos Grandmasson Rheingantz
Senhora Maria de Fátima Moraes Argon, Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis; Senhora Marisa Plum, Secretária desta Casa; Senhoras e senhores Associados:
Inicialmente, e agradeço as acolhedoras palavras do associado Dr. Arthur Leonardo de Sá Earp.
Investigar, estudar, discutir e divulgar a História de Petrópolis e do Estado do Rio de Janeiro. Estes os objetivos do Instituto Histórico de Petrópolis.
A história de uma cidade é formada pelo encadeamento de fatos distintos que, ao final, a caracterizam e a tornam única, sendo desse modo identificada e estimada por seus habitantes.
Mas a história de Petrópolis é constituída por uma série de acontecimentos que dizem respeito a todos os brasileiros.
Assim, neste ano de 2021 comemoramos o 1.º Centenário de episódios notáveis da História do Brasil que atingiriam seu clímax na Cidade de Petrópolis.
No dia 8 de janeiro de 1921, na Cidade do Rio de Janeiro no cais da Praça Mauá, aportava o cruzador “São Paulo”, da Marinha do Brasil. A bordo ele trazia os restos mortais de Dom Pedro II e de D. Teresa Cristina.
Era o cumprimento do Decreto n.º 4.120, assinado pelo Presidente Epitácio Pessoa no dia 3 de setembro do ano anterior. O Documento promovia o traslado para o Brasil dos restos mortais de Dom Pedro II e de D. Teresa Cristina – que estavam sepultados em Portugal – e revogava o banimento da Família.
Entre os passageiros daquele Navio estavam o Príncipe Dom Pedro de Alcântara – neto dos Imperadores – e seu pai, o Conde d’Eu. A Princesa Isabel não lhes pôde fazer companhia em decorrência de seu estado de saúde.
Uma grande cerimônia havia sido preparada para recebimento dos restos mortais daqueles expoentes máximos do Brasil Imperial. Estavam na Praça Mauá o representante do Presidente da República, Ministros de Estado, Embaixadores e um grande público, que se estendia pelos arredores.
Quando os esquifes com os despojos dos Imperadores tocaram o solo brasileiro, a Fortaleza de Villegaignon deu uma salva de 21 tiros.
Os ataúdes foram colocados em duas carretas e um cortejo – formado por aquelas autoridades e pelo povo – seguiu pela Avenida Rio Branco, Rua da Assembleia e Rua Primeiro de Março até à Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé.
À entrada dos esquifes no templo, os sinos de todas as igrejas da Cidade tocaram. Pela nave central seguiram o Conde d’Eu – de braço dado com a Sra. Epitácio Pessoa – e Dom Pedro de Alcântara. Naquela Igreja os esquifes com os restos mortais dos Imperadores ficariam guardados por cinco anos, enquanto se construía a Catedral de Petrópolis, com o projetado Mausoléu Imperial.
Estavam, pois, no Brasil, os restos mortais de Dom Pedro II, o criador da Cidade de Petrópolis.
Dois dias depois daquela cerimônia, o Conde d’Eu e Dom Pedro de Alcântara fizeram uma visita de cortesia ao Presidente Epitácio Pessoa, no Palácio do Catete.
Ao final daquela tarde, dirigiram-se à Estação Ferroviária de Vila Formosa – que existia em local próximo à Avenida Francisco Bicalho. Lá estava com sua família – especialmente para cumprimentá-los – Rui Barbosa, um dos signatários do Decreto de Exílio. Na plataforma, o Conde e o Príncipe se encontraram com o Prefeito de Petrópolis, Oscar Weinschenk, que os aguardava para, juntos, viajarem de trem para esta Cidade.
Aqui chegaram às 18,10 horas. Na Estação Ferroviária – hoje Terminal Rodoviário Imperatriz Leopoldina – estavam o representante do Governador do Estado do Rio de Janeiro, integrantes da Câmara Municipal, autoridades civis e militares e uma grande multidão. Depois de trinta e um anos de exílio, o Conde d’Eu e Dom Pedro de Alcântara pisavam novamente a terra petropolitana.
Na Cidade, visitariam velhos amigos e passeariam por locais de especial significado para eles:
– o prédio de sua própria casa, na Avenida Koeler 42, então servindo a um estabelecimento de ensino e, atualmente, sediando a Companhia Imobiliária de Petrópolis;
– o Palácio de Verão do Imperador, do mesmo modo ocupado por um estabelecimento de ensino e, desde 29 de março de 1940, Museu Imperial, por determinação do Decreto n.º 2.096, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas;
– o Palácio de Cristal, construído por iniciativa do próprio Conde d’Eu e a cuja inauguração estivera presente, no dia 2 de fevereiro de 1884;
– as obras de construção da Catedral de Petrópolis, já com a demarcação do espaço reservado para instalação do Mausoléu Imperial;
– o Monumento em homenagem a Dom Pedro II, inaugurado em 5 de fevereiro de 1911, com a presença do Presidente Marechal Hermes da Fonseca, execução do Hino Nacional e salva de 21 tiros;
– a Câmara Municipal de Petrópolis.
Interromperam a visita à Cidade no dia 13 de janeiro e iniciaram uma viagem ferroviária através dos Estados Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Fizeram paradas nas Cidades de Juiz de Fora, Belo Horizonte, São Paulo, Santos, Curitiba, Ponta Grossa, Morretes e Joinville.
Quase um mês depois – a 6 de fevereiro – estavam de volta a Petrópolis. No dia 8, fizeram outra visita ao Presidente Epitácio Pessoa, agora no Palácio Rio Negro. No dia seguinte deixaram Petrópolis com destino ao Rio de Janeiro, onde seriam recebidos com homenagens em diversos órgãos públicos civis e militares.
No dia 15 de fevereiro de 1921, o Conde d’Eu e Dom Pedro de Alcântara embarcaram de volta à Europa. A Princesa Isabel faleceria naquele mesmo ano, a 14 de novembro, na França.
Imperador Dom Pedro II, Imperatriz D. Teresa Cristina, Conde d’Eu, Princesa Isabel, Príncipe Dom Pedro de Alcântara. Cinco personagens de inexcedível importância histórica para o Brasil e para Petrópolis.
E de seus ascendentes e descendentes – bem como de colonos alemães de Petrópolis – se ocupou o genealogista Carlos Grandmasson Rheingantz – Patrono da Cadeira n.º 10 deste Instituto.
Carlos Grandmasson Rheingantz, petropolitano nascido a 13 de fevereiro de 1915, formou-se em Engenharia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, cidade em que passou a maior parte de sua vida.
Entretanto, a grande obra que construiu foi no campo da Genealogia, atividade a que se dedicou totalmente.
Em companhia de outros estudiosos, em 24 de junho de 1950, ele fundou o Colégio Brasileiro de Genealogia, de que foi Presidente por quatro legislaturas consecutivas e, a partir de 1968, Presidente Vitalício, por aclamação. Representou essa Instituição na Bélgica, Suécia, Holanda e França, quando da realização de encontros internacionais sobre as Ciências Heráldica e Genealógica.
Carlos Grandmasson Rheingantz foi associado titular deste Instituto Histórico de Petrópolis – de onde é o Patrono da Cadeira n.º 10; sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e sócio do Clube 29 de Junho, de Petrópolis.
Um de seus trabalhos “Primeiras Famílias do Rio de Janeiro (Séculos XVI e XVII)” teve o primeiro volume publicado no ano de 1965; o segundo em 1967; e o terceiro em 1990, através de fascículos organizados pelo Colégio Brasileiro de Genealogia.
Carlos Grandmasson Rheingantz faleceu a 16 de agosto de 1988, em sua cidade natal de Petrópolis.
Também genealogista era Paulo Roberto Martins de Oliveira, o último ocupante da Cadeira n.º 10, falecido em 3 de maio de 2018.
Descendente dos colonizadores alemães de Petrópolis, nascido a 30 de julho de 1942, ele deixou uma vasta obra sobre a Cidade e seus primeiros habitantes.
Paulo Roberto Martins de Oliveira foi sócio do Clube 29 de Junho, de Petrópolis; sócio fundador da Sociedade de Amigos do Museu Imperial; membro do Colégio Brasileiro de Genealogia; do Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul; do Centro de Estudos Genealógicos do Vale do Rio Pardo, com sede na Cidade de Santa Cruz do Sul – Estado do Rio Grande do Sul – e da Federação dos Centros de Cultura Alemã do Brasil, de Porto Alegre – Estado do Rio Grande do Sul.
Paulo Roberto Martins de Oliveira publicou, no ano de 2008, o livro “Álbum de Memórias do Batalhão Dom Pedro II”, em que relata pormenorizadamente os atos formadores dessa Unidade Militar. O Batalhão Dom Pedro II participou das solenes cerimônias de traslado dos esquifes com os restos mortais de Dom Pedro II e de D. Teresa Cristina, em 5 de dezembro 1939, e do Conde d’Eu e da Princesa Isabel, em 13 de maio de 1971, datas em que foram introduzidos no Mausoléu Imperial, na Catedral de Petrópolis.
Grande a responsabilidade de investigar, discutir, preservar e divulgar a História de Petrópolis e do Estado do Rio de Janeiro.
E a isso nos comprometemos todos.
Muito obrigado.