DISCURSO DE SAUDAÇÃO A LUCAS VENTURA DA SILVA
Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 – Patrono Amaro Emílio da Veiga
Cumprimento a todos os presentes e venho aqui para conversar sobre o Lucas, um jovem que está sendo convidado a participar de um grupo de na maioria de veteranos e compor esta escola. Há algum tempo eu falava com a Fátima Argon, Luiz Carlos Gomes e vários outros, que nós temos uma academia e que o mais importante é construirmos história, pentear essa história da própria cidade. Ficamos presos no Séc. XIX durante muito tempo e vários dos nossos historiadores do passado tiveram obras maravilhosas. Estive revendo a obra do “Centenário”, fantástica, de fôlego, e que sofreu críticas. O próprio Raul Lopes dizia que deveria ser revisitada porque muitos dos seus pontos ainda estavam conflitantes para ele. Nós temos um arquivo público imenso, requerimentos com relação ao tratamento das obras urbanas, das questões do governo Fiúza que precisam ser visitados, digitalizados. Nós temos uma das maiores hemerotecas no país com coleções de jornais fantásticos. Na primeira década do Séc XX tivemos a impressão de cerca de duzentos jornais. Inclusive eu trabalhei bastante com Marcello de Ipanema com relação a isso na citação da obra quando fez o “Anuário Fluminense” com todos os jornais. E também com o Vasconcellos foi uma obra de fôlego, quando receberam em 1984 um trabalho do Lacombe por causa disso. Eu era em 1984 tão jovem quanto você, Lucas. Era difícil fazer pesquisa e ser aceito pela própria academia, pois o historiador local não era aceito, nem mesmo a história local. Hoje em dia é que se está buscando a história local e tentando simplesmente trabalhar pontos que são positivos e construtivos. O Joaquim Eloy quando viu uma publicação minha em 1986 na Tribuna de Petrópolis com uma foto salva de ópera, inédita e raridade de época, encenada neste espaço – casa em que estamos. Não se pode deixar de falar da história operária que foi sufocada, nós chegamos a ter metade da população dos anos 30 de operários e que o Fiúza lhes retirou a educação porque ela estava lhes dando condições para que pudessem galgar novas formações sociais dentro da cidade, novos empregos e colocações. Nós tínhamos fábricas, um centro financeiro formado pelo Banco Construtor, Banco de Petrópolis de 1928 que depois se tornou o Banco do Brasil, a Companhia Telefônica Brasileira que foi criada para dar suporte às indústrias petropolitanas e ao movimento dos bancos que não podiam descer sempre a serra pela Leopoldina. A Estrada Rio-Petrópolis foi construída em função desse modernismo em 1928, condição básica para que o capital pudesse girar. Assim, nós temos uma cidade a ser contada, nós temos a memória africana e a sua herança. O prof. Jeronymo falava do quilombo que existia e a necessidade de pesquisa recorrendo ao arquivo de documentos fundamentais do Estado, as publicações de época do Jornal do Comércio. Nós precisamos cavar muito coisa em relação à cidade, quando vemos que tivemos uma imensa tragédia, se fez violenta sobretudo no Alto da Serra. Lucas, lá atrás, no muro que separava o morro do pátio de manobras, tiraram uma foto de um muro de pedras construído nos anos 30/40 pela Companhia Ferroviária Leopoldina, pois a oficina era exatamente ali. Aquele muro tinha um significado muito grande: nenhum operário poderia construir nada acima dele. Mas os prefeitos que vieram depois, simplesmente vendendo a questão predial petropolitana aos bancos e fazendo disso o elemento de exploração máxima do capital da cidade, da questão pública, permitiram. A Companhia Brasileira de Energia Elétrica-CBEE foi criada para oferecer um ponto de luz para qualquer morador e você conseguiria a propriedade da residência pobre construída por loteamentos, como no Bairro Castrioto e outros, desde que apresentasse a conta de luz. Lucas, é muita história. Você e seus parceiros da Universidade Católica ou não, sem importar quais sejam, que possam construir muita pesquisa em cima disso. Nós precisamos de laboratórios de história, laboratórios de pesquisas, de ver a nossa documentação toda digitalizada, pois temos um patrimônio que constitui pedaços da história. As monografias e teses devem ser bem realizadas para não transformarem o fato histórico em “fakes”. José Nilo Tavares dizia que só se pode entender a herança da ANL e do operariado em Petrópolis pelos movimentos, o assassinato de Leonardo Candu através do movimento operário, como também Paulo Henrique na sua tese. Lucas, você batalha a pesquisa, esteve no Museu Imperial, se preparou e está no caminho como nós nos preparamos, como eu e vários outros aqui, alunos e professores, formados pela Universidade Católica de Petrópolis. Independente de épocas e gerações, nós construímos pedacinhos. Esperamos que você dentro do Instituto venha preencher novos espaços junto com membros que aqui estão e que possamos valorizar mais esta casa que precisa ser também financiada em todas as suas reivindicações. Eu espero de braços abertos que você com a sua juventude, seu ímpeto, e toda a sua profissionalização em pesquisa que está sendo processada no seu mestrado, doutorado seja o nosso caminho. Seja bem vindo! Obrigado.