DISCURSO NO INSTITUTO DE LETRAS E ARTES DE BOM JESUS DE ITABAPOANA

Antônio Izaías da Costa Abreu, associado titular, cadeira nº 3, patrono Antônio Machado

Embora prazeroso, no entanto, difícil escrever ou falar para jovens, já que para tanto exige uma definição escorreita e precisa que não motive nas mentes dos ouvintes dubiedade. Daí, a exigência de precisão na exposição temática, condição que a poucos se mostra capaz, principalmente a este orador. Falta-me a necessária capacidade para exposição. Todavia, não poderei deixar de cumprir a referida missão em noite tão festiva e engalanada, com falas tão gentis e carinhosas destes jovens, que despontam para o futuro radiante do amanhã.

Quero deixar-lhes a melhor das impressões que neste momento, estão sendo captadas pelos aguçados sentidos desta plêiade de jovens de nossa terra. Este cuidado se impõe, pois, na verdade, a alma infantil são flores frágeis que se mostram viçosas ao receberem o orvalho matinal.

Em tais circunstâncias, entendo melhor, seria valer-me do pensamento de Zarminoff contido no frontispício do respeitável trabalho literário de expurgo ao nazismo – EDUCANDO PARA A MORTE, ao proclamar:

“as almas infantis são brancas como a neve,
são pérolas de leite em urnas virginais,
tudo quanto ali se escreve
grava, cristaliza e não se apaga mais”.

Eu sei, queridos afilhados homenageantes, que tudo que ocorre nesta noite, em clima de contagiante alegria, jamais será olvidado por vocês, ainda que os ventos dos anos em seu galope, procurem varrer. Contudo, certo estou, quando já no ocaso da vida, com as têmporas matizadas pela neve do tempo vocês irão recordar, da doutora NIZIA CAMPOS, presidente deste sodalício, de seus professores, de muitos dos presentes nesse auditório e também deste, que se apresenta como homenageado.

Meus queridos afilhados, devo-lhes confessar que muitos outros compromissos prender-me-iam neste fim de semana à capital do estado, mas ao receber o convite para participar desta sessão solene, nesta noite de 26 de agosto corrente, procurei priorizá-lo, pois a minha ausência poderia causar constrangimento aos queridos homenageantes. E isso jamais poderia ocorrer.

Embora sem jactância, mas com humildade revelo, da muitas homenagens que me foram conferidas por diversos estados, municípios e entidades e até mesmo do exterior, conforme constam de minha cartilha curricular, devo-lhes confessar ser esta a mais significativa, pois nela refletem a espontaneidade dos infantes, o amor que lhes envolve a alma e, mais ainda, o desprezo a qualquer cobrança ou apoio em objetivos futuros. É uma homenagem sincera, mais que sincera, que me emociona ao senti-la sacramentada pelos sorrisos destes pequeninos que no silêncio da noite no aconchego de seus lares ou nas salas de aula se desdobraram para produzir algo que me agradasse e enobrecesse. Efetivamente, entre me sinto honrado e enobrecido.

Toda produção que nos foi apresentada tem para mim igual valor, posto que não é possível se aferir o sentimento de cada poeta. Segundo Goethe, em todo trabalho literário, “em geral, é o caráter pessoal do escritor e não a arte de seu talento que lhe marca a importância aos olhos do público”. E esta importância, a vocês indistintamente, se me afigura comprovada diante de nossos olhos.

Não se deve olvidar que para a criança tudo é sonho iluminado e com esplendor. Jamais, ela percebe a realidade, e somente o tempo se encarregará de demonstrá-la.

Enquanto, na criança os sonhos enchem a sua alma com grande esperança no futuro, a realidade que se descortina no adulto às vezes decepciona, mas sempre devemos afastar este agouro do nosso viver, pois o mundo se estriba mais fortemente na realidade do que nos sonhos.

O idoso, como se percebe, só tem presente e passado, e o futuro mostra-se as mais das vezes para ele incerto e duvidoso. Alimenta-se das recordações dos tempos idos e vividos. Todavia o jovem, a seu turno, só tem presente e futuro, em sua mente afloram turbilhões de sonhos que espera tornar-se realidade. Sãos os extremos que os separam.

Certa feita, divagando sobre A REALIDADE E A FANTASIA, em “Ternas Recordações” enfatizei o seguinte:

“No grande universo em que vivo,
dois mundos em órbita
desequilibrados caminham
– o da realidade e o da fantasia –
Embora ocupem espaços certos,
distintos no infinito,
são, no entanto,
marcados por infindável conflito,
mostrando que tudo que nos envolve
não passa de realidade ou fantasia”
[…]

Prosseguindo:

“Assim, nestes dois mundos em conflito:
um maculado de violência e desigualdade
onde reina a injustiça e impera a impunidade,
tem destaque a insegurança e a opressão
bem como a fome, a miséria e a iniqüidade,
neste, na verdade lamentavelmente eu vivo.
O outro, de riqueza, trabalho e igualdade,
onde é sentido a fraternidade,
bem assim o amor e a compreensão.
Embora, este bem longe e distante,
entretanto, o antevejo e o tenho presente,
como prêmio de suprema felicidade.
Contudo, para o meu desencanto,
verifico que tudo não passa de sonho,
sonho somente sonho, mas que procurarei
tornar vivo e latente dentro de mim.
Para isso, sem outra alternativa,
procuro valer-me da poesia,
transformando o que é sonho em doce realidade
e a amarga realidade em doce fantasia.”

É o que desejo, ex cordis, a todos os meus afilhados homenageantes, nesta noite desejando-lhes que o futuro lhe seja promissor para que honrem seus pais, mestres, a pátria e a terra que lhes servira de berço.

Concluindo, gostaria de oferecer aos nobres escritores um singelo prêmio externando o meu apreço e gratidão.

Muito obrigado.