DISCURSOS – SAUDAÇÃO DE RECEPÇÃO AO ASSOCIADO CORRESPONDENTE PAULO REZZUTTI NO IHP
Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula
Senhora Presidenta do Instituto Histórico de Petrópolis, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, demais membros da Diretoria, Confrades e Confreiras, Senhores e Senhoras:
Boa noite a todos!
Foi com imensa alegria que recebi o convite da Sra. Presidenta para saudar o novo associado correspondente do Instituto Histórico de Petrópolis, PAULO MARCELO REZZUTTI. Agradeço publicamente a confiança e a honra.
PAULO REZZUTTI graduou-se em Arquitetura e Urbanismo, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, FEBASP, em 1997, quando apresentou a monografia “Revitalização Urbana de Paranapiacaba – Implantação de um hotel”.
Porém, mais do que como arquiteto e urbanista, é como pesquisador, profundamente conhecedor de fontes primárias, biógrafo e escritor que Paulo se destaca, nos cenários nacional e internacional.
Ambas as atividades – a de arquiteto e a de pesquisador –, é bem verdade, nunca deixaram de caminhar juntas. O interesse pela pesquisa histórica não só se acentuou a partir do seu trabalho como arquiteto, como a formação acadêmica é sem dúvida um importante repositório de conhecimento para o desenvolvimento de projetos expositivos, como a curadoria e a expografia da exposição “A São Paulo da Marquesa de Santos: cumplicidade de um cenário”, atualmente em cartaz no Solar da Marquesa de Santos, que integra o Museu da Cidade de São Paulo.
Esse feliz reencontro com a trajetória da Marquesa de Santos, que se deu com a assinatura de tão bela exposição inaugurada recentemente, é o coroamento de seu interesse por essa personagem e da pesquisa iniciada há mais de dez anos. Paulo, importante sublinhar, localizou 94 cartas inéditas de d. Pedro I para a marquesa, na Hispanic Society of America, em Nova Iorque.
Seu primeiro livro, Titília e o Demonão. Cartas inéditas de d. Pedro I à marquesa de Santos, publicado em 2011, é fruto dessa descoberta, e reúne de forma crítica e comentada essas cartas.
Como o ofício do pesquisador é fascinante e ininterrupto, já que novas fontes geram perguntas inéditas, da mesma maneira que documentos conhecidos podem instigar a novas problematizações, no ano seguinte, Paulo lançaria Domitila, a verdadeira história da marquesa de Santos, a primeira biografia de sua autoria.
A pesquisa realizada para a escrita deste livro marca também a aproximação de Paulo Rezzutti com o Museu Imperial, onde buscou documentos relativos ao Primeiro Reinado, e, por extensão, com a cidade de Petrópolis.
A essas duas obras iniciais, sucederam-se mais 4 livros publicados entre 2015 e 2019, versando sobre a história do Brasil e, em particular, as trajetórias de vida de D. Pedro I (este também publicado em Portugal, em 2016), D. Leopoldina e D. Pedro II, além do livro Mulheres do Brasil: a história não contada.
Por D. Pedro I, Paulo recebeu, em 2016, um dos mais importantes prêmios da Literatura Brasileira, o Jabuti, na categoria “Biografia”.
Além dessas obras, Paulo também buscou o diálogo com o público infantojuvenil, e, em 2020, lançou, em parceria com a sua esposa, a jornalista Adriana Moura, O pássaro de fogo e outros contos de fadas russos.
No vasto currículo de Paulo Rezzutti ainda se destacam trabalhos de consultoria, múltiplas palestras no Brasil e no exterior, como as conferências que realizou por ocasião do bicentenário de nascimento de D. Maria II, rainha de Portugal, no Palácio Nacional da Ajuda e na Casa de Cultura do Alentejo, em Portugal.
De sua produção técnica, não poderia deixar de ressaltar a assessoria e consultoria prestados para a peça teatral Leopoldina, independência e morte, em 2017, e para os Estudos de Arqueologia Forense aplicados aos remanescentes humanos dos primeiros imperadores do Brasil depositados no monumento à Independência, trabalho desenvolvido com Valdirene do Carmo Ambiel, em 2012.
Finalmente, mas não menos importante, gostaria de ressaltar o trabalho que Paulo Rezzutti vem desenvolvendo nas redes sociais, e, há um ano, no seu canal no YouTube (hoje com 181 mil inscritos).
Na introdução de Apologia da História ou o ofício do historiador, obra que continua incontornável para todos os amantes de Clio, Marc Bloch revela o questionamento de um menino, de quem disse gostar muito, o qual o teria levado, ainda que preso pelo regime nazista, a registrar, em notas manuscritas, o que serviria não apenas como resposta para o seu filho, mas como inquietante provocação para todos nós.
À indagação do menino, cuja pergunta foi “Papai, então me explica para que serve a história”[1], Bloch, que seria fuzilado pelos nazistas em 1944, entre tantas lições, deixou a seguinte declaração:
“[…] não imagino, para um escritor, elogio mais belo do que saber falar, no mesmo tom, aos doutos e aos escolares. Mas simplicidade tão apurada é privilégio de alguns raros eleitos.”[2]
[1] Cf. BLOCH, Marc. Apologia da História, ou, O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 41. [2] Idem, p. 41
Paulo Rezzutti, penso, pode ser considerado um desses eleitos, à medida em que, sem perder a seriedade na análise acurada das fontes, sem se render a possíveis apelos sensacionalistas, divulga e democratiza o conhecimento histórico, tantas vezes encastelado em linguagem acadêmica. Mais do que tudo, Paulo tem conseguido romper barreiras, despertar o interesse de um público amplo e diversificado pela História, e, como disse Marc Bloch, que aqui repito, tem obtido muito êxito em levar conhecimento aos doutos e aos escolares.
Por tudo isto, é com muita alegria que recebemos, hoje, Paulo Rezzutti como confrade, e, em meu nome e no de todos os demais associados, dou-lhe as boas-vindas.
Parabéns, Paulo Rezzutti! É uma honra tê-lo conosco!