DOM PEDRO II – O PATRONO DOS ASTRÔNOMOS BRASILEIROS

Dom Pedro II – O Patrono dos Astrônomos Brasileiros

Carlos Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança (Dom), Associado Correspondente

 

No período paleolítico a posição das estrelas e da lua, com as suas periocidades regulavam as diversas estações da natureza e a influência na migração dos animais, a fim de que a caça e a pesca pudessem ser bem-sucedidas.

Nos países primitivos eram os sumos-sacerdotes que observavam não somente o firmamento, mas transmitiam ao povo a intuição sobre os fenômenos da natureza e o significado das fases lunares assim como dos corpos celestes em geral.

Os cometas também causavam grande alarde.

Parece-nos pertinente mencionar aquele que apareceu no ano do nascimento de Jesus.

Os povos antigos fizeram da Musa Urânia a personificação da astronomia. Deram-lhe por atributos especiais uma esfera, uma coroa de estrelas e instrumentos matemáticos.

Seria demasiado longo comentar as pesquisas astronômicas dos antigos Egípcios, dos Chineses, dos Gregos e dos Árabes. Estes povos desenvolveram os seus conhecimentos de maneira admirável. A importância da astronomia na idade média era tal que era incluída no número das sete artes liberais.

No nosso continente, desde os primórdios, o firmamento tinha um significado muito especial. Os nossos índios tinham uma mitologia rica, e ainda hoje muitas vezes ignorada. Eles, como outros povos, relacionavam figuras fantásticas com aquilo que viam na abóbada celeste.

Eles chegaram a mapear o céu, usando as manchas escuras, representando figuras que eles distinguiam sobretudo na Via-Láctea. Viam os animais comuns, interpretando os movimentos dos mesmos no firmamento.

O Padre Antônio Vieira anotou como eles compreendiam que havia uma relação entre as marés e a lua. Os astros tinham para eles, como para todos os seres humanos, uma irresistível atração. Os índios chegaram a criar “calendários” com referências astronômicas, como na “Toca do Tapuio”, conforme nos testemunha a Professora em Geologia e Paleontologia Maria Beltrão.

O primeiro observatório astronômico da América do Sul funcionou no Recife entre 1639 e 1643, erguido por George Margrave, sob a égide e graça da perspicácia de Maurício de Nassau. Como salientou Afonso de E. Taunay, este foi o primeiro explorador do firmamento do novo mundo e do hemisfério austral.

Não podemos, no entanto, abster-nos de mencionar o Pe. Antônio Vieira e sua contribuição aos conhecimentos astronômicos no Brasil. Não somente os seus dotes de grande orador e escritor o imortalizaram, mas seus profundos conhecimentos das teorias astronômicas. Relendo os seus Sermões, cartas e obras, encontramos frequentemente referências a cometas observados no Brasil. Muitas são as primeiras observações das quais temos conhecimento.

O notável historiador da astronomia no Brasil Ronaldo Morão nos conta que seria conveniente lembrar que o interesse de Vieira pelos cometas estava associado à crença de que os cometas eram avisos de Deus.

Vemos que na época do ilustre jesuíta a astronomia ainda não tinha alcançado um nível científico. Assim permaneceu ainda por muitos anos apesar dos jesuítas, na Bahia, continuarem a anotar as “novidades celestes”.

Também no Rio, segundo afirma o Pe. Serafim Leite em sua obra monumental sobre a  a Ordem dos Jesuitas no Brasil, desde 1730 os mesmos instalaram um observatório no Morro do Castelo. As tentativas no campo da astronomia continuavam isoladamente no Brasil. Em 1753, segundo Paola Focardi, o Pe. Jesuita de origem croata Ignac Szentmártony, acompanhado pelo Pe. italiano Giovanni Angelo Brunelli, foi enviado para a Amazônia, a fim de determinar com a máxima exatidão, latitude e longitude de alguns lugares para poder desenhar um novo mapa geográfico do Brasil. O mapa deveria controlar as novas linhas das divisas entre as possessões portuguesas e espanholas que tinham sido estabelecidas anteriormente, pelo Tratado de Madrid.

Convém lembrar também o famoso astrônomo e explorador Francisco José de Lacerda e Almeida, nascido em São Paulo em 1753.  Foi uma das grandes figuras paulistas, descendente de vários dos primeiros povoadores de São Vicente.  Foi Professor de Matemática pela Universidade de Coimbra e Lente da Real Academia dos Guardas Marinhas de Lisboa. Durante anos percorreu grande parte da América do Sul, na demarcação das fronteiras entre o Brasil e a América espanhola.   Ele e Antônio Pires da Silva Ponte receberam a incumbência de tomarem as medidas astronômicas necessárias à demarcação dos limites fronteiriços de Mato Grosso com as terras espanholas. Em 1780 chegaram a Belém do Pará, seguindo para Vila Bela, no Mato Grosso, onde iniciaram a demarcação .  Exploraram as fronteiras das bacias dos rios Paraguai e Guaporé.   De Cuiabá chegaram finalmente em 1790 a São Paulo,  depois de dez anos de incessantes pesquisas.  Muitos astrônomos e geógrafos basearam-se nos anos a seguir, nos dados deixados por estes ilustres astrônomos.

Um passo importante foi a criação, por Dom José I, do Observatório Astronômico da Universidade de Coimbra, em 1772. Em 1802, Coimbra começou a publicar as “Efemérides Astronômicas”. Estas publicações tiveram um impacto considerável na astronomia da época, colhendo elogios dos grandes astrônomos daquele tempo como o do alemão Barão von Zach e do francês Delambre. A Universidade de Coimbra instituiu, com a sua reforma, uma cadeira de astronomia, fato este de inegável valor para a evolução do estudo da astronomia em Portugal e no Brasil.

A astronomia, no entanto, ganhava importância com a evolução das ciências. Em 1780, chegavam ao Rio astrônomos lusos, nomeados pela Rainha D. Maria I. Estes eram Bento Sanches d’Orta e Francisco de Oliveira Barbosa.

Deveriam reconhecer as fronteiras entre as Capitanias de São Paulo e os domínios espanhóis na América Meridional. Como tiveram que permanecer bastante tempo no Rio, aguardando os instrumentos matemáticos e ópticos que chegariam em outro navio, muitos meses mais tarde, acabaram por fundar um observatório astronômico no Morro do Castelo. Foi um momento da maior importância, pois lá foram realizadas as primeiras e as mais demoradas observações meteorológicas e astronômicas do século XVII, em nosso continente. Este primeiro observatório chegou a funcionar até o grande evento histórico, a chegada da Corte Portuguesa. Por ocasião da partida da família real para o Brasil, em 27 de novembro de 1808, tinha lugar um eclipse do sol, causando uma enorme sensação nos passageiros entranhados de superstição. Dom João, com a sua mudança para o Brasil, estava conseguindo aquilo que mais tarde Napoleão teria dito que ele tinha sido o único Rei que conseguiu enganá-lo.

Começa então Dom João a sua grande obra ao lançar os alicerces da Nação Brasileira. Podemos ver a série de importantes instituições que o tão sábio Regente e Rei criou, o qual, após a proclamação da República, foi caluniado e escarnecido.

Uma das primeiras medidas do Príncipe Regente foi mandar instalar o Observatório Real da Academia de Guarda-Marinha, no Mosteiro de São Bento. Devia ser empírico, mas é extraordinário observar-se como após um ano da sua transferência de Lisboa, a Academia de Guarda-Marinha estava funcionando a pleno ritmo, no Rio de Janeiro.

Quanto à astronomia, esta ainda engatinhava. No mesmo período, na Guanabara, o relojoeiro inglês Robert Roskell criou um pequeno observatório e conseguiu pela primeira vez, dar a hora certa no Rio de Janeiro, em 1808.

Dom Pedro I precisava fixar e consolidar as fronteiras do novo império e assim, em 15 de outubro de 1827, decretou a criação do Observatório Nacional. Entre as finalidades do mesmo, estava a orientação e o estudo geográfico do território e o ensino da navegação. Com esta fundação estava criada uma das mais antigas instituições brasileiras de pesquisa, ensino e prestação de serviços tecnológicos. Em 1828, Dom Pedro I formou uma comissão composta de 3 professores das academias militares para determinar a localização do novo observatório.

Houve uma discórdia, dois professores votaram para instalar o mesmo no Morro de Sto. Antônio e o terceiro, votou pelo Morro do Castelo ou, alternativamente pelo Morro de São Bento. Este desacordo impediu, na época, uma efetiva realização.

Com o surgir, em diversas partes do Brasil, de uma série de revoltas, o projeto do observatório ficou esquecido.

Com o apaziguamento dos conflitos, o exército voltou a preocupar-se com o então Imperial Observatório, o qual, segundo um relatório de 1844 consistia em uma coleção incompleta de instrumentos abandonados num dos edifícios da Escola Militar.

Começa a era de Dom Pedro II. O jovem imperador tinha 19 anos e há poucos meses era casado com a princesa Dona Teresa Cristina.

Fazia 4 anos que lhe haviam concedido a maioridade e com energia e firmeza juvenil tinha tomado as rédeas do poder. Tinha acabado acurados estudos e os continuava, de sua iniciativa, nos setores que mais o interessavam. Entre estes, estava também a matemática e a astronomia. Dom Pedro deve ter ficado decepcionado em encontrar o “Imperial Observatório” abandonado, desorganizado e reduzido a um amontoado de objetos empoeirados.

Tal como a Imperatriz Dona Leopoldina, ele era também sedento de cultura, a qual abrangia todos os seus ramos. Em São Cristóvão o jovem monarca tinha instalado um pequeno observatório que em caso de necessidade ele colocava à disposição dos alunos da escola militar.

No início o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, dedicava-se quase exclusivamente a calibração de cronómetros, observações meteorológicas e cálculos astronômicos.

Nos anos de 1858 e 1865 foram organizadas expedições para a observação de eclipses solares. Iniciou-se então uma colaboração com o cientista francês Emanuel Liais.

Vista a sua grande competência e dedicação, Dom Pedro o nomeou diretor do Imperial Observatório. Com o apoio imperial, Liais importou modernos equipamentos ópticos. Deu-se então início, em 1874, a um projeto importante. Este consistiu em estudar com maior precisão as órbitas de Mercúrio, Vênus e Marte, sendo em seguida elaborado um mapa cartográfico, o mais exato do Brasil.

Dom Pedro mantinha um estreito contato com o observatório e com o seu diretor, o que é testemunhado por uma ampla e detalhada correspondência.

Na época corria mesmo a voz que o imperador, muitas vezes, à noite, batia na porta do observatório para realizar observações.

O diretor, que estava também submergido nas suas pesquisas, ouvindo bater na porta perguntava quem estava do outro lado. Uma voz firme respondia: É o Pedro!

Mesmo em São Cristóvão, no seu pequeno observatório, o Imperador continuava os seus estudos, sacrificando muitas vezes as noites. Dom Pedro desenvolveu assim estudos sobre eclipses, cometas, meteoritos, planetas e realizando comentários e anotações astronômicas. Existem mais de 29 registros sobre estes estudos no Arquivo Imperial.

Nos seus diários, em particular, é conhecida a anotação de um eclipse lunar, comentando as várias fases. É sabido o seu contato com muitos astrônomos famosos entre estes John Herschell. Naturalmente, Dom Pedro II não era um astrônomo profissional e muitas vezes as suas definições não correspondiam aos termos técnicos.

Nota-se nele, em todo caso, uma grande paixão por esta matéria fato que lhe causou muita incompreensão em certos meios políticos pouco esclarecidos.

Graças a Dom Pedro II, o Imperial Observatório mantinha um estreito contato com a Academia da França, tendo alcançado um renome internacional.

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Imperial Observatório do Rio de Janeiro, 1882

Luiz Cruls, em 1882, sucedeu a Liais na direção do mesmo. Este cientista originário da Bélgica, deu um grande impulso à instituição. Descobriu um cometa, que ficou conhecido como “Cometa Cruls” e uma cratera em Marte que foi batizada com seu nome. Entre outras iniciativas, ele continuou a publicação dos “Anais” do Imperial Observatório, iniciadas por Liais.

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Primeira página do primeiro tomo dos Anais do Observatório Imperial

Em 1882, ele recebeu o prémio Valz de astronomia outorgado pela Academia de Ciência de Paris.

Durante a sua gestão, no entanto, a maior realização foi a organização do grande empreendimento internacional, a passagem de Vênus pelo disco solar.

O Brasil havia sido solicitado pela Academia de Ciências a participar da ocorrência que deveria realizar-se no dia 5 de dezembro de 1882.

O objetivo era determinar a distância do sol que constitui uma das constantes fundamentais da astronomia. Todas as medidas de distância no universo dependem da determinação do raio da orbita da terra ao redor do sol.

As passagens de Vênus acontecem duas vezes cada 120 anos quando a Terra, Vênus e o Sol encontram-se alinhados. Para observar a passagem de 1882, reuniu-se em Paris, com um ano de antecedência uma comissão internacional composta de enviados de 50 países. O Brasil foi considerado a Nação mais apta para executar esta missão. A grande dificuldade, todavia, para o financiamento da missão apareceu na Câmara dos Deputados, onde a aprovação de uma importância de 30 Contos de Reis foi negada.

“Expressões ridículas e grotescas ouviram-se em discursos classificados por infantis”  (Kinzel p. 314 op. Cit.)

O Brasil tinha dado a sua palavra em incumbir-se desta missão e assim mais uma vez, Dom Pedro II e alguns patrocinadores intervieram para custear esta importante tarefa. Enquanto o caricaturista Ângelo Agostini fazia rir o povo com as suas charges contra o Imperador e a sua ideia de enviar cientistas ao exterior para observar Vênus diante do Sol, o senador Ferreira Viana, no Senado, criticava com violência o propósito do Governo: “ Fique, pois, o Sr. Ministro do Império certo de que os nossos missionários astronômicos vão desempenhar o papel de condutores de instrumentos para os sábios da França (risos): por outra (o Parlamento admita a frase familiar) vão fazer um grande piquenique (riso) em que entramos com a parte material e os franceses com a espiritual, com o talento astronômico, com a ciência, com os conhecimentos práticos que adquiriram em observações semelhantes e no estudo contínuo da matéria.” (Anais do Parlamento, sessão de 22 de março de 1882, p.7)

Com este vivo debate, um dos mais calorosos em nosso Parlamento sobre a utilidade da ciência básica, encerrou-se a participação do mesmo na missão do “trânsito de Vênus pelo disco solar”.

Uma vez resolvida a questão financeira Cruls pôs mão à organização das duas delegações mais importantes, a de Ponta Arenas e a de St. Thomas, nas Antilhas.

No dia 22 de agosto ele convidou o Barão de Teffé, diretor da repartição hidrográfica para guiar a missão a St. Thomas. Este, em carta do mesmo dia, recusou o encargo. (Museu Imp. D. 8543-maço 188).

Teffé se fez de rogado, depois a pedido do Imperador aceitou a incumbência.

Ele sempre almejou ser nomeado Ajudante de Campo do Imperador, cargo que tinha ficado vago com a morte do Almirante Tamandaré.

Teffé seguiu com a família para as Antilhas, estabelecendo o observatório Dom Pedro II num morro, acima da vila de St. Thomas. Esta ilha era, na ocasião, colônia dinamarquesa. Na coleção Teresa Cristina, na Biblioteca Nacional do Rio, existe uma vasta documentação fotográfica relativa à instalação deste observatório, oferecido ao Imperador como grande ressalto da atuação de Teffé.

Nota-se um certo ciúme entre Cruls e Teffé,  nesta  missão científica.

Cruls dirigiu a delegação para Ponta Arenas, bem mais difícil, inclusive, pela inclemência do clima.

Teffé permaneceu três meses nesta ilha caribenha, sacudida constantemente por pequenas vibrações telúricas. Ficaram acomodados numa casa de madeira chamada “Ma Folie”. No dia 5 de dezembro, após momentos de grande ansiedade por causa de densas nuvens, conseguiram realizar o contato astronômico.

Viram um minúsculo ponto passar diante do Sol. Realizadas as medições científicas puderam desmontar o observatório. No Rio, grande foi o entusiasmo e, no retorno, o Imperador disse a Teffé:  “A pátria lhe agradecerá”. (Teffé p. 313 op. cit.)

Na missão que se dirigiu a Ponta Arenas, chefiada pelo erudito Cruls, o resultado foi análogo, mas ainda com maior clareza. Como existem diversas cartas de Cruls ao Imperador, temos maiores detalhes sobre os acontecimentos em Ponta Arenas.

Estas missivas punham Dom Pedro meticulosamente a par dos acontecimentos.

Assinala que em 30 de outubro tinham chegado a Montevideo, e no dia 3 de novembro a missão tinha sido recebida pelo Presidente da República, Santos, que os acolheu calorosamente. Na mesma cidade encontraram também a missão alemã que seguia para o sul com a mesma finalidade. No dia 11 de novembro chegaram a Ponta Arenas, após uma terrível tempestade na altura de “Bahía-Blanca”, que durou 24 horas.

Do lado oposto da missão alemã, montaram o observatório, ficando a pequena cidade no meio das duas delegações científicas.

O então comandante Saldanha da Gama, propôs a Cruls separar-se do grupo e  instalar-se na Ilha de “Quartmaster” [sic],  25 milhas a Este e próxima à Terra do Fogo.

Saldanha da Gama levou uma luneta e 5 cronômetros que lhe dariam a hora exata. Esta ideia foi achada ótima por Cruls, inclusive por causa da instabilidade do tempo naquelas regiões.

Ponta Arenas, naquele tempo, era uma vila com 1800 habitantes, onde residia o governador chileno. Linda era a paisagem e impressionantes as montanhas com as neves eternas.

No dia 27 de novembro, Cruls assinalava ao Imperador que todos os aparelhos estavam instalados e que já tinham feito 108 observações de vários astros.

A missão era acompanhada também por um botânico, o Sr. Rümbelsberger, o qual estava fazendo um levantamento das plantas da região.

A tensão era alta; o dia do fenómeno estava-se aproximando. Também no Rio, Dom Pedro desejava observá-lo, mas o tempo não o permitiu.

No dia 7 de dezembro, Cruls escreveu uma entusiástica carta ao Imperador, a qual seria transmitida por telegrama de Montevideo. “Tenho a honra de participar a V.M. o êxito completo das nossas observações; todos os contatos foram observados em excelentes condições”. ( M-I. maço 8643-1808 )

Após ter realizado ainda diversas outras observações, 15 dias depois voltaram para o Rio. Certamente Dom Pedro II teria dito a Cruls também a merecida frase: “A pátria lhe agradecerá.”

A atuação do Brasil nessa missão teve a maior repercussão e a apreciação dos astrônomos do mundo inteiro.

Dom Pedro II participou todos os dados científicos à Academia de Ciências de Paris.

Em suas viagens à Europa e aos Estados Unidos, ele procurou manter um contato pessoal com os maiores astrônomos da época.  Em Londres viu John Herschell, que faleceu pouco depois, recebendo as honras nacionais e foi sepultado na Abadia de Westminster. Vê-se como em outros países os astrônomos eram estimados e a astronomia levada a sério e apoiada.

Dom Pedro viu também o Prof. Brüneker, diretor do observatório de Hamburgo que veio visitá-lo em Baden-Baden. Em outubro de 1871, na Academia de Ciências de Viena se entreteve com os astrônomos Carlos Luiz Littrow, diretor do observatório da capital austríaca e com os astrônomos Weiss e Appolzer. Na mesma Academia, após ter sido saudado com estas palavras pelo presidente Rokitansky: “ A Academia é duplamente honrada pela visita da cabeça coroada e do grande sábio e grande amigo das ciências,”  (Bragança = Dom Pedro II em Viena = P. 35,36,37) foi visitar o observatório astronômico, o qual na época, era um dos mais importantes da Europa.  Devemos acrescentar que Littrow tornou-se conhecido pelos seus notáveis trabalhos sobre a evolução de Vênus e dos eclipses.

Em março de 1876 voltando a Viena, Dom Pedro II visitou o centro meteorológico-astronômico da Hohenwarte, sendo recebido pelo Dr. Hann.

O Imperador manteve contatos também com J. F. Julius Schmidt, famoso pelos estudos sobre as estrelas variáveis, diretor do observatório de Atenas. Visitou-o em sua residência, mantendo um longo colóquio científico e manifestando o desejo em receber as suas publicações.

Em sua longa série de contatos, visitou e se correspondeu com o diretor do observatório de Mendon, na França. Este era o cientista Pierre Jules Cesar Jansen, seu confrade no “Institut de France”. Com o mesmo se entretinha longamente sobre a constituição do sol e o trabalho fotográfico realizado por este observatório francês.

O grande astrônomo Camille Flammarion convidou Dom Pedro II para visitar, em julho 1887, o observatório de Juvisy, por ele criado. Esta visita teve um caráter todo especial, pois era o reconhecimento de um Chefe de Estado ao “Mestre de Juvisy”.

Esta visita a Juvisy foi particularmente importante, pois naquela ocasião o Imperador  inaugurou, juntamente com Flammarion durante uma observação do planeta Vênus a luneta de 24 cm, construída por Pardon. Naquela ocasião, Dom Pedro II condecorou o grande astrônomo com a comenda  Imperial da Ordem do Cruzeiro.  Dom Pedro plantou um pinheiro no jardim daquela instituição, o qual ainda hoje recorda esta visita. O Imperador foi um dos primeiros membros da Sociedade Astronômica da França, fundada por Flammarion.

A administração Cruls deu um grande impulso ao Imperial Observatório. Porém, inevitável deveria ser a mudança da sede. Dom Pedro ofereceu para  tal fim 40 ha da Fazenda Santa Cruz e se propunha a financiar o novo projeto. A Luneta fotográfica encomendada aos irmãos Henry,  na França, doada por Dom Pedro II , nunca foi instalada e o que é pior em 1910 em relatório assinado por Cruls e Morize, informavam a perda total da luneta e acessórios  Outros instrumentos encomendados pelo Imperador na Inglaterra para o Observatório, ao chegar no Rio foram rejeitados pela alfandega republicana.

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 Ilustração da grande luneta, estando a inspecioná-la D. Pedro II

Com a proclamação da Republica esta instituição sofreu um duro revés. O novo regime, baseado num golpe militar e contra a vontade popular, desejava construir rapidamente a sua própria imagem.

A República num delírio de mudanças, pensou  fechar o observatório. Cruls, com grande esforço e fazendo muitos apelos, conseguiu evitar este absurdo gesto.

Com certeza, mesmo durante o exílio, o Imperador mantinha contato com os astrônomos, pois numa das últimas sessões, das quais participou na Academia Francesa, veio acompanhado pelo astrônomo Pierre Janssen. Uma das grandes satisfações para Dom Pedro II foi que o neto mais velho, Dom  Pedro Augusto  de Saxe-Coburgo e Bragança se interessava muito pela Astronomia, como pela mineralogia no Brasil.  Com este seu querido neto, filho da Princesa Dona Leopoldina e do Almirante Duque de Saxe, ele mantinha um contato constante e longas conversas, passando ao mesmo todos os relatórios  de natureza científica que recebia do Brasil e do exterior, conforme atestam inúmeros desses ofícios no Arquivo Saxe-Coburgo em Viena.

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Tomo encadernado, com as iniciais de Dom Pedro Augusto

Podemos considerar Dom Pedro II uma das pessoas notáveis do século XIX, sobretudo pelo grande apoio que deu à cultura e à ciência.

Ele foi um pesquisador no pleno sentido da palavra. Acompanhava  os acontecimentos científicos e com o seu vasto saber e largo horizonte fomentava o progresso material, social e cultural da sua pátria.

A astronomia o fascinava e Dom Pedro II não ficou esquecido pelos astrônomos do Brasil que o quiseram como patrono.

No dia 2 de dezembro, data do seu nascimento, festeja-se o dia do astrônomo em nosso país.

 

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