DUPLO CINQÜENTENÁRIO : 2005 / 2006

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira

Ano de 1956. O movimento teatral em Petrópolis está um tanto adormecido. As casas de espetáculos D. Pedro, Capitólio e Petrópolis oferecem a diversão do cinema e raramente disponibilizam seus palcos para o teatro ; dos três, apenas o D. Pedro ainda mantém o palco de origem, edificado para teatro, enquanto o Capitólio e o Petrópolis, estão edificados sem proscênios, mínimas ribaltas e profundidades reduzidas e somente apropriadas às gigantescas telas para exibição de filmes.

O grande – e tão diminuto e acanhado – palco aberto ao teatro, tinha sido, de 1930 até 1950, o Santa Cecília, gestador de muitos grupos cênicos e de talentos para o palco e que fora demolido para a construção do Edifício sede da Escola de Música Santa Cecília. Enquanto duraram as obras – de 1950 a 1955 – a atividade teatral cessara quase por completo.

Ano de 1955. Terminadas as obras do Teatro Santa Cecília, é ele inaugurado em setembro de 1955, com solenidade requintada e personalidades como o Ministro da Educação e Cultura Dr. Simões Filho, o presidente da Escola de Música Reynaldo Chaves, o Prefeito Flávio Castrioto, deputado Adolfo de Oliveira, o comandante do 2º Regimento de Infantaria, o Vigário da Diocese Monsenhor Gentil Costa e muitas outras. Na extremidade, à direita, está no palco o homem que organizara a Escola em 1923, após a morte do fundador Paulo Carneiro, estaria à frente da instituição por um quarto de século e fora o grande iniciador da campanha popular em favor da edificação do prédio, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, homenageado pela soberba missão cumprida, inclusive na orientação e incentivo à atividade teatral nos anos da existência do pequeno casarão sede da Escola de Música.

Inaugurado o novo e magnífico Teatro Santa Cecília, aparecem espetáculos vindos de fora, enquanto antigos artistas organizam um novo grupo cênico.

Ano de 1956. Surge o Teatro Experimental Petropolitano.

Frei Matheus OFM, apreciador do teatro, assiste no Paraná uma peça teatral biográfica sobre Santa Isabel da Turíngia, de autoria de um ex-seminarista Reynaldo Heitor de Souza. Em Petrópolis, busca recursos para as obras sociais do Sagrado Coração e com o Teatro Santa Cecília aberto, procura Paulo Gomes dos Santos, que dirigira o extinto Grêmio Lítero-Teatral Arthur Azevedo na década de 40. Apresenta-lhe a peça propondo sua encenação; é de grande extensão, com 4 atos, 3 cenários, mais de 30 personagens. Impossível ! – a primeira reação.

Quem sabe?! – uma segunda opção.

É possível, sim! uma decisão.

Paulo Gomes dos Santos procura seus antigos companheiros de teatro, junta-se a Ernesto Pereira, que sabe tudo de arte cênica, chama atores e atrizes que haviam pertencido a diversos elencos, conseguindo formar uma entusiasmada equipe para a encenação da grande peça. No início do ano começam os ensaios, a confecção do vestuário por senhoras da Ordem 3ª de São Francisco, a pintura dos cenários pelo mestre José Garcia, do Teatro Mariano.

Na noite de 20 de maio de 1956 o grupo, já denominado “Teatro Experimental Petropolitano”, sobe à cena, no Teatro Santa Cecília e nos sete dias seguintes, até 27 de maio, com grande sucesso e casas cheias. Antes da estréia falece o ensaiador Ernesto Pereira.

Merecem citação os nomes das 46 pessoas que participam dos espetáculos de “A Canção dos Indigentes”: Atores e atrizes: Waldemar Carvalho, Alcides Carnevalli, Walmor Thomé, Iria Henrichs, Vera Margarida, Ezíquio Araújo, Humberto Fecher, Thelma Lima, Antônio Mendonça, Aparecida do Carmo, Joel Lúcio Henrichs, José Borges, Ruy Martins Fiúza, Walter Borges, Mercedes Gatti, Geraldo Quintella, José Karl (Scheller), Delcyr Marcolino, Álvaro Varanda Filho, Djalma Christ, Selbi Ricon, Joaquim Eloy Santos, Juarez Avellar, Alberto Gall, Alberto Justen, Acyr dos Santos, Iracy Coutio, Isabel Justen, Denir dos Santos, Silvinato Moura, Mário de Souza e o diretor-ator Paulo Gomes dos Santos. Nas funções técnicas: Alfredo d´Avilla (Direção Musical), Maria Hortência Santos e Maria Luiza Vasconcellos (Vestuário), José Garcia (Cenários), Jacy Guarany (Som), Salvador Borges e Walter Borges (sonoplastia), José Guerra Peixe e José Carlos Guerra Peixe (maquinista a carpintaria), Ricardo Mellati e Joaquim Eloy (Caracterização e maquilagem), Manoel Lima, Joel Henrichs, Mário Barbatti e Alberto Gatti (contra-regra); Walter Borges e Mirna Henrichs (ponto) e Márcio Santos Souza (bilheteria e controle).

Daí para diante o TEP, como fica conhecido o grupo cênico, firma-se no cenário artístico, atuando por 50 anos e ainda em atividade.

A simbiose inicial TEP e Teatro Santa Cecília rompe o hiato que persistia desencorajando o exercício do teatro em Petrópolis e, importante, começa-se a aprimorar a representação cênica, ultrapassando o puro e heróico amadorismo de duração efêmera e atingindo uma organização de entidade deitada exclusivamente à atividade cênica. No decorrer dos anos, as técnicas são apuradas, a escolha das peças sob atualização cuidadosa, o que torna o grupo cênico, durante as cinco décadas da sua atividade, referência do Município em termos de um trabalho conscientemente deitado à Cultura Teatral.

Um registro para a História: a partir de sua fundação o TEP ensaia e representa no salão e pequeno palco da antiga sede do Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Têxteis de Petrópolis, grande entidade amiga e de elevada compreensão artístico-cultural do projeto. No lugar do casarão hoje está o Edifício Monte Castelo, onde o Sindicato mantém a sede social.

Com mais de 60 peças no exuberante currículo, de vários gêneros e abordagens, em trabalhos de muita pesquisa, o TEP resiste a todos os percalços, quando, por exemplo, o Teatro Santa Cecília é arrendado à empresa exibidora de cinema de Hugo Sorrentino (Cinemas Art-Palácio) por 20 anos. Com todos os teatros transformados em cinemas, o Grupo Teatral passa a representar nos mais inusitados espaços: clubes, ginásios, refeitórios de fábrica, salões de festas, pequenas salas de conferências, auditórios de educandários, hospitais, auditórios de rádios, salas de aulas, altares de capelas e realiza andanças pelos Distritos. Também participa de festivais e mostras na capital e interior do Estado do Rio de Janeiro, simpósios, encontros e, enfim, de todas as atividades ligadas ao Teatro.

Carreando módicos recursos com seus espetáculos e conseguindo doações de amigos, entre empresários de vários níveis, contribuições financeiras de seus artistas e representando bastante, o TEP consegue dispor de um micro-ônibus, utilizado até o desgaste fatal de todas as engrenagens, e adquire uma sala administrativa localizada no Edifício Pio XII, conservada até hoje.

Ano de 2006. A idéia é realidade em corpo de empresa; o TEP integra o patrimônio cultural-artístico do Município, resiste e atua ainda porque tem sabido renovar as técnicas, os associados e conquistado o respeito do público com bons espetáculos.

No momento prepara as comemorações de seu meio século, ensaiando a peça de grande sucesso na década de 90 “A Galinha Borralheira”, a ser exibida no 1º semestre e discute o original para o segundo semestre, a ser escolhido dentre os grandes sucessos de sua trajetória.

Com o TEP está a Escola de Música Santa Cecília já que ambos se completam, porque sempre parceiros e dividindo tantas glórias que enriquecem os currículos da “Casa de Paulo Carneiro” e do Teatro Petropolitano.

Preside o TEP de hoje o diretor e ator de teatro Silvio Rafael Meirelles dos Santos.

(resenha dedicada ao amigo e companheiro tepiano Diretor e Ator Walter Borges Pinto)