EDITORES DE OUTRORA – ERNESTO JOSÉ OLIVE – DA CASA OLIVE DE PETRÓPOLIS

Victorino Chermont de Miranda, associado correspondente

Anos antes da invenção do cartão-postal, já o comércio de Petrópolis contava entre seus vultos com a figura de Ernesto José Olive.

Seu nome, já no ano de 1864, figura nas páginas do Almanaque Laemmert, entre os principais negociantes da cidade, no ramo de armarinho e loja de fazendas.

Sua figura, porém, permanece quase desconhecida. Filho de João Batista Olive, o antigo proprietário do prazo de terras n.° 108 da Rua do Imperador, onde, nos idos de 1850, funcionou o Hotel de França, depois fundido com o Hotel Bragança, Ernesto José Olive praticamente não saiu do anonimato, em termos biográficos.

Walter Bretz, em artigo publicado na Tribuna de Petrópolis, de 2 de novembro de 1924, sob o pseudônimo de João de Petrópolis, ao comentar o fim da Casa Olive, fundada por aquele, chegou a descrevê-lo como um tipo alemão, “de cerradas barbas grisalhas, envolvido no seu grande chalé cinzento, de gorro e chinelos”, anotando, ainda, que fora também juiz de paz e subdelegado.

A descrição há de corresponder, certamente, à figura daquele, com um reparo: Olive não era alemão, mas francês, como consta da certidão de registro de óbito de seu filho João Napoleão Olive, lavrada sob o n.° 1901, a fls. 267, do livro 40 do Cartório de Registro Civil do 1° Distrito de Petrópolis, existente no Arquivo da Prefeitura Municipal de Petrópolis, em que foi declarante seu outro filho, André Carlos Olive [(doc. 13 ao final)].

De origem francesa é também como H. J. Morgado refere os Olive no artigo “O trabalho dos franceses em Petrópolis”, publicado no Diário de Petrópolis em 27 de setembro de 1933.

Fundada em 1856, como consta de seus anúncios (e, não, em 1862), sob o nome de fantasia de “Ao Livro Verde”, a firma de Olive funcionou, primeiramente, na Rua Princesa Januária, hoje Marechal Deodoro, dali passando, sucessivamente, para uma das lojas térreas do Hotel Bragança e, depois, para o número 39 da mesma rua.

Dessa época é o cartão-propaganda ora reproduzido (doc. 1). Adquirido na França e decorado com uma cena alsaciana (La récolte du houblon), tal volante não apenas dá razão a H. J. Morgado, no artigo já citado, como talvez esteja a indicar a região de onde os Olive provêm.
Doc.1 – Anverso do cartão-propaganda da Casa Olive, decorado
com uma cena alsaciana – Acervo Victorino Chermont de Miranda

Nele, Ernesto José Olive fez gravar a mercê de “Fornecedor da Casa Imperial”, que lhe fora concedida por Alvará de 14 de novembro de 1864, levantada por Guilherme Auler nos códices 75 e 76 do Arquivo da Superintendência da Fazenda Imperial, e o brasão da própria Casa Imperial, cujo uso lhe era assegurado, pelo referido Alvará, em faturas e mais papéis e no pórtico do próprio estabelecimento [(doc. 2)].

Nele também se acham descritos os diversos itens de seu comércio – “grande sortimento de fazendas, artigos d’armarinho, modas, perfumarias, etc.”, além de “completo sortimento de papel, livros impressos e em branco, objectos de escriptorio, etc.”, item que iria permitir, anos mais tarde, que viesse seu estabelecimento alinhar-se entre os editores de cartões-postais de Petrópolis. Ali também o aviso de que as vendas eram a dinheiro e pelos mesmos preços do Rio de Janeiro.

Com a morte de Olive, em 27 de julho de 1894, o negócio passou a girar sob a firma Viúva Olive, ela Ana Maria Olive, também francesa, como consignado na já aludida certidão, retornando ao térreo do Hotel Bragança, no número 908 da já então denominada Avenida 15 de Novembro, como registrado por Walter Bretz, com o nome de fantasia “Casa Olive”.