EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira

O Ginásio Pinto Ferreira – Prof. Henrique Pinto Ferreira

O jovem Henrique Pinto Ferreira, português, natural da encantadora Felgueiras, no norte de Portugal, a 60km do Porto, onde nasceu a 17 de dezembro de 1883, resolveu, no início do século, arrumar suas malas e partir para o Rio de Janeiro. Inteligente, estudioso, vinha para tentar a sorte nas profissões que trouxera de sua excelente formação escolar. Aqui chegou formado em borla e capelo pela Universidade de Coimbra, onde foi companheiro de turma do notável Cardeal Cerejeira. Estudou ainda Engenharia Militar até o 5º ano em Coimbra, concluindo o curso na Academia Militar de Lisboa. Da maravilhosa cidade de Lisboa embarcou em um navio com destino ao Brasil e, no Rio de Janeiro, diplomou-se, pela Universidade do Brasil, em Medicina, Química Industrial e Farmacêutica. Para ser admitido em nosso ensino superior submeteu-se às bancas examinadoras rigorosíssimas do Colégio Nacional (hoje Colégio Pedro II), conquistando o 1º lugar geral, o que lhe conferiu o direito de matriculas e cursos livres de quaisquer ônus.

Em correspondência para a família revelou que ficaria definitivamente no Brasil. Sua mãe, preocupada com as notícias das péssimas condições sanitárias e de saúde do Rio de Janeiro, nos sombrios dias da febre-amarela e da peste bubônica, recomendou que residisse em localidade que estivesse livre dessas mazelas. Escolheu Petrópolis.

Subiu e desceu incessantemente pela serra naquele trem de Mauá, enquanto estudava no Rio de Janeiro, trabalhando em alguns ofícios na cidade serrana.

Dotado de fina cultura e grande pendor para o magistério, foi convidado a integrar o quadro de professores do Colégio Luso-Brasileiro, que mantinha turmas de internato e externato. O internato ocupava o prédio do atual Palácio Grão-Pará e todo o seu imenso jardim que dava frente para a rua do Imperador (então Avenida 15 de Novembro), onde hoje está o prédio dos Correios e outras edificações fronteiras à atual rua Joaquim Moreira. O externato funcionava no prédio que fora ocupado pela Assembléia Legislativa Estadual, ao tempo de Petrópolis-Capital, depois Colégios Plínio Leite e Carlos Alberto Werneck, hoje um edifício comercial e de apartamentos.

Estava definida sua vocação verdadeira e a missão de vida: educador. Num instante as salas de aulas da cidade ganhavam um extraordinário mestre. Naqueles tempos a cidade de Petrópolis era um importante centro educacional com muitos educandários funcionando em sistemas de internato, repletos de alunos de todos os pontos do país e de externato com os filhos das famílias petropolitanas. Alguns eram de irmandades religiosas, distintos para meninos e meninas, e outros de sistema misto.

O jovem professor Henrique Pinto Ferreira, alia-se a colegas para organizar e fundar novos colégios. Em seqüência, o primeiro, o “Ginásio Petropolitano”, em sociedade com o professor Accioly; depois o “Liceu Fluminense”, com o professor Afonso Leite. Em ambos, mesmo deixando a direção, nunca deixou de lecionar com muita dedicação, até encerrarem as atividades.

No ano de 1918 desposa Esther Mosquera, passando a residir em casa ampla na antiga rua Cruzeiro (hoje rua Dr. Nelson de Sá Earp). Naquele local dá início a um curso de férias atendendo às solicitações de inúmeros pais de alunos seus do Luso-Brasileiro. Os anos foram passando e tão expressiva era a quantidade de “matrículas” que Pinto Ferreira resolveu organizar o seu colégio, alugando uma belíssima casa entre as avenidas 15 de Novembro (hoje rua do Imperador) e Paulo Barbosa, bem em frente à pequena praça Visconde do Bom Retiro (hoje Alcindo Sodré). O local abriga, atualmente, o Edifício Imperador.

Corria o ano de 1927. A cidade ganhava um novo colégio com internato para meninos e externato misto: o “Ginásio Pinto Ferreira – Praça Visconde do Rio Branco n.º 6”.

Os pais matricularam no educandário: Adolpho Pinto, Affonso Monteiro da Silva, Alberto Cerqueira, Aloysio Mendonça Bittencourt, Aloysio Santos, Álvaro Arlindo Gomes, Amaury Pinheiro, Antônio Costa, Antônio Fonseca, Antônio Souza Gomes Galvão, Arnaldo de Souza, Arnaldo Essinger, Ary de Almeida, Augusto Ferreira, Carlos Cardoso Rudge, Cid Loureiro, Derly de Cunto, Dinant Hargreaves, Djalma Crissiuma, Domingos Magalhães Lopes, Donato D’ Ângelo, Edelweiss Isabel Regeur, Edgard Pinto Nunes, Elza Peixoto, Estevam Strauss, Esther Maria Pinto Ferreira (filha do diretor), Eudes Prado Lopes, Eurico Essinger, Fábio Reis, Fernando de Carvalho Leite, Fernando Gomes, Fernando Pinheiro, Francisco Augusto de La Rocque, Francisco Augusto Pinto, Francisco Honório Alves, Francisco Souza Gomes Galvão, Gilda Reis, Geraldo Monteiro da Silva, Hélio Mendonça Bittencourt, Henrique Tornaghi, Henry Purcell, Hugo Alquéres Baptista, Jair de Mattos Montedônio, Joaquim Ferreira, Joffre Fleuiss, Jorge Henrique de La Rocque, José de Cunto Filho, José de Lima e Silva, José Messa, José Raymundo Roxo, Joviniano Rezende Filho, Luiz Fabian, Marcos E. Bastos, Maria Rezende, Mário Cardozo, Mário Montedônio, Murillo Cabral e Silva, Murillo de Castro Silva, Ody Flores, Orozimbo de Almeida Rego, Oscar Cardoso Rudge, Osias Villela de Andrade, Ottmar Fabian, Paulo Affonso Horta Novaes, Paulo Alberto Rodrigues, Paulo Justino Strauss, Paulo Vieira, Pedro Nolasco Ferreira da Silva, Plínio Lemos Gouvêa, Raul da Veiga Soares, Raul Telles Rudge, Raymundo Burrowes, Renato Kuntz, Rienzi Corrêa Lemos, Roberto Costa, Roberto Fontes, Roberto Simonard, Rosalina Rezende, Sabino Jacyr de Carvalho, Sylvia Rezende, Sylvino Alquéres Baptista, Sylvio Pinto Nunes, Tarquínio da Silveira, Vera Albertina Pinto Ferreira (filha do diretor), Waldyr da Cruz Loureiro, Yvonne Crissiuma e Zilda Essinger. Estes primeiros ginasianos cursaram 1º e 2º anos do Curso de Adaptação e 1º, 2º e 3º anos do Curso Seriado.

No ano de 1932 um outro talentoso e culto professor vindo de Portugal adquiriu o ginásio. Seu nome: Napoleão Esteves que transferiu o Ginásio Pinto Ferreira para novo prédio alugado, à Avenida Koeler n.º 260, onde hoje está a sede do Governo Municipal e naquele tempo abrigava o Instituto São José, encampado pelo Pinto Ferreira e tomando a denominação de Colégio São José, hoje de propriedade do professor Mário Mesquita de Almeida e funcionando em dependências próprias à Rua Monte Caseros n.º 240.

O mestre Pinto Ferreira, vendido seu colégio, continuou a lecionar no próprio educandário e em outros da cidade com o mesmo brilho, respeito e profunda responsabilidade. Se competente mestre, de vastíssimo cabedal cultural, não era um administrador, faltava-lhe a vontade administrativa e, assim, preferia o contato direto com a alunado dentro da sala de aula, junto ao quadro-negro, sentindo a vibração e o calor do aprendizado que ministrava com sabor didático e elevada competência.

Constituiu bela família com a esposa Esther. O primeiro filho, Armando foi aviador; as duas filhas Esther e Vera tornaram-se médicas; Ernani Antônio, mestre como o pai, grande professor; Paulo Emílio, bancário e também destacado desportista e historiador; e Luiz Alberto, bancário.

Diz Paulo Emílio, em depoimento sobre o pai: “O conceito de educador o acompanhou pelo resto da vida. Era habitual seus amigos ou ex-alunos, com problemas educacionais com seus filhos, buscarem conselhos e não raro, deixarem os jovens em nossa casa, por algum tempo, para que o educador reequilibrasse o adolescente na prática de disciplina e do estudo. Era, como se pode constatar, já naquela época, um Orientador Educacional nato”.

Pinto Ferreira faleceu em Petrópolis, onde foi sepultado, no dia 20 de fevereiro de 1948, aos 65 anos de idade. Foi acadêmico efetivo da Academia Petropolitana de Letras e agraciado pela Academia Brasileira de Letras com o “Prêmio de Crítica José Veríssimo”. Escrevia com muito talento, foi grande orador, discutia qualquer tema, era grande e imbatível mestre de História Universal e do Brasil, além de excelente professor de latim, matemática, física e química, matérias que lecionava com desenvoltura e raro conhecimento científico. Poliglota, falava e ensinava, ainda, espanhol e francês, com bons conhecimentos de inglês. No dizer do filho Paulo Emílio: “…Conhecia tudo, ensinava tudo, substituia qualquer professor, em qualquer classe, em qualquer momento”. A afirmativa é verdadeira e dou testemunho porque, na minha tenra infância, tive o privilégio de ser seu aluno, de ouvir seus ensinamentos e ser tratado por “Vosmecê”.

Henrique Pinto Ferreira foi um dos maiores educadores de Petrópolis de todos os tempos. A cidade homenageou o mestre conferindo seu nome a uma rua do Centro Histórico, aquela que corre paralela e pelo alto com o final da rua do Imperador e início da rua Washington Luís, terminando no portão de serviço da antiga Fábrica São Pedro de Alcântara (Deliberação n.º 2871 de 27 de maio de 1970).

Seus amigos e admiradores, notadamente a colônia portuguesa, erigiriram, no espaço urbano em frente ao Colégio Estadual Dom Pedro II, um busto de autoria de Antonio Geraldes, com uma placa: “Prof. Dr. Henrique Pinto Ferreira, homenagem de seus alunos”.

Eis um grande vulto petropolitano cujo nome há-de sempre ser recordado quando em pesquisa a história da educação.

(Para a redação do trabalho consultei os artigos de Paulo Emílio Pinto Ferreira “Um Mestre” e “Crônica do Espaço Vazio”, ambos publicados na “Tribuna de Petrópolis”. A ele, por seu grande amor à memória do pai e a seu irmão, meu querido mestre e amigo, professor Ernani Antônio, dedico esse trabalho, que sei estar muito aquém da grandeza do mestre Pinto Ferreira).