ENTRE CONTRASTES E PARDAIS

Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré

É certo que o Brasil tem contrastes que desnorteiam qualquer analista. Tem uma posição ímpar e instigante entre as nações. Por um lado, as riquezas naturais e culturais: solo rico e água abundante, flora e fauna exuberantes; a pluralidade de nossa gente, com habilidades peculiares nos inúmeros fazeres; agricultura e indústria fortes, o país se projetando para o futuro como um celeiro do mundo e exemplo de unidade nacional com tantas diferenças. Por outro lado, muitas mazelas: a desigualdade social, a precariedade do sistema educacional, os graves problemas com a segurança de cada cidadão, o descrédito nos poderes constituídos, a corrupção.

O rápido adensamento urbano nos últimos cinquenta anos só fez por piorar um quadro de descontrole nas médias e grandes cidades. A falta de planejamento e a falha na fiscalização da ocupação dos espaços municipais, a precariedade (quando não a ausência) de equipamentos e serviços públicos necessários à população, o desrespeito às leis e à cidadania, tudo isso é, também, causa da violência que aumenta e nos choca.

É terrível percebermos que a nossa juventude é a primeira vítima desse estado de coisas. Cada vez mais distante de suas aspirações (muitas delas ditadas por uma perversa sociedade de consumo) o nosso jovem luta pelo primeiro emprego, o aperfeiçoamento profissional, a inserção e progressão social, e ganha, a cada dia, frustrações e desesperança, o que leva a muitos se perderem pelos descaminhos do crime. Até mesmo os mais privilegiados se vêem, muitas das vezes, num vazio sem sentido que, no mínimo, os aproxima das drogas e alimenta o crime organizado.

Outro dia li em O Globo, perplexo, que a maior causa do baixo fluxo de turistas estrangeiros no Brasil, apesar dos enormes atrativos que possuímos e que são de conhecimento dos viajantes, é exatamente o medo da violência, principalmente no Rio, porta de entrada do país.

E é lamentável constatar que a nossa Petrópolis, a par da sua magnífica história – primeira cidade planejada do Brasil – apesar do seu patrimônio natural e cultural ainda de relevo, vê-se crescendo desordenadamente com a injustificada tomada de encostas, de construções em áreas de risco; vê-se perdendo muitas de suas preciosidades arquitetônicas; vê-se com uma malha viária já totalmente saturada e, agora, cheia de quebra-molas e pardais, enquanto a população sofre também com o confuso e estressante sistema de transportes, com o sistema de saúde à beira do caos, com as oportunidades de trabalho e renda cada vez mais escassas, deixando sem amparo, sem alternativas, muitos e muitos munícipes.

Lógico que é plenamente louvável, por exemplo, o complexo de obras de revitalização do Centro Histórico, mas se vêem poucos cuidados nos projetos de construção e de reforma das edificações, para que essas mantenham características e volumetria adequadas à nossa tradição urbanística. E isso, em se tratando do que chamamos de Vila Imperial e seu entorno, porque município a dentro (ou a fora) o que se vê é um total desrespeito ao meio ambiente e aos contornos da cidade de outrora. Os distritos estão “ao Deus dará”.

Aliás, o governo municipal vive a constituir conselhos que não funcionam, incha a máquina administrativa com novos cargos e funções, inventa até agência reguladora (pra que, meu Deus?), anuncia incentivos de toda ordem mas, marketing político a parte, não cumpre sequer o estabelecido no Estatuto das Cidades, não aprecia com a comunidade organizada um obrigatório e fundamental Plano Diretor, elege mal prioridades e não dá clareza sobre os gastos. Vive sim, a falar de um desenvolvimento que ninguém sente nem vê, de fazer proselitismo com “bolsa cheia”, “bolsa escola”, etc. e tal…E onde o implemento real de políticas públicas que potencializem as nossas melhores vocações, gerem emprego e renda e assegurem qualidade de vida para a população?

Enfim, estou a escrever sobre riquezas e pobrezas de nossa terra e de nossa gente, misturando assuntos e despejando desabafos, sem querer ofender ninguém, apenas para provocar reflexões e lembrar o que todos sabem: este é um país maravilhoso, esta é uma cidade fantástica, mas podemos ver tudo se perder (como já assistimos) se não fizermos, cada um, a parte que nos cabe como cidadãos responsáveis, tentando trazer o melhor para nós sem ferir os interesses maiores da coletividade; tentando contribuir para a melhoria das políticas públicas – com sugestões, com participação, com cobrança – tendo zelo no acompanhamento dos atos daqueles a quem emprestamos a nossa confiança, como também tendo cuidado com o voto. Atenção! Estamos há dias de novas eleições.

Então, vamos desperdiçar essa chance de exercitar a cidadania e contribuir pra mudar um indesejável estado de coisas que aí está?