ERA UMA VEZ UMA INDÚSTRIA DE PAPEL . . .
Raul Ferreira da Silva Lopes, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 32, Patrono – Oscar Weinschenck
Era uma vez . . . Petrópolis já teve um período de prosperidade industrial com seu parque têxtil, cervejaria, fábrica de papel e outras mais, gerando milhares de empregos, mas isto tudo , “Era uma vez . . .”
Na Feira Internacional de Amostras do Rio de Janeiro, realizada em 1933, a Companhia Fábrica de Papel de Petrópolis marcou presença, publicando, também, um álbum com homenagens a autoridades nacionais e ilustrado com fotos da época, da indústria de Papel e aspectos da cidade. Era Prefeito de Petrópolis, Yeddo Fiuza.
Para que os leitores possam avaliar a grandeza dessa indústria para Petrópolis e para o Brasil, tomo a liberdade de transcrever fielmente a apresentação do álbum:
A INDÚSTRIA DE PAPEL NO BRASIL
“Uma das indústrias mais florescentes, hoje em dia no Brasil, é, sem dúvida, a da fabricação de papel. Não obstante o considerável aumento do consumo, determinado pelo desenvolvimento natural de todas as atividades comerciais, a importação de papel estrangeiro descreve uma acentuada curva de diminuição no quadro das nossas estatísticas. Nenhum núcleo industrial de importância em nosso país se recente da produção de papel, necessário não somente às suas atividades locais, como também ao suprimento de mercados das diferentes unidades da Federação.
O papel nacional emula admiravelmente como artigo da mais fina qualidade alienígena e a sua preferência vai ganhando terreno no consenso dos consumidores.
Petrópolis é a cidade pioneira e o berço da indústria do papel no Brasil. Data de mais de 70 anos a instalação do primeiro estabelecimento fabril, na cidade serrana. De recursos técnicos e mecânicos incipientes, empregando um processo rudimentar e oneroso, essa notável iniciativa, que já se reveste da significação de acontecimento histórico, foi devida ao eminente brasileiro Dr. Guilherme Capanema (Barão de Capanema) o qual tão úteis e relevantes serviços prestou ao país, como uma dos mais tenazes propugnadores da expansão das nossas linhas telegráficas. Contando hoje como um dos estabelecimentos fabris para a produção de papéis finos, tal a Fábrica de Papel de Petrópolis, a Cidade do Imperador pode, muito justamente, orgulhar-se do seu papel de pioneira industrial nesse futuroso setor da produção brasileira.
Vale assinalar aqui algumas das etapas mais marcantes do progresso e do desenvolvimento da indústria do papel no Brasil. Iniciada com êxito em Petrópolis, com o decorrer dos anos, não somente no Distrito Federal como em S. Paulo, a produção do papel continuou a desafiar as iniciativas e os esforços de outros espíritos empreendedores. Há cerca de 25 anos atrás, isto é, em 1908, funda-se uma nova fábrica de papel em Cascatinha, reafirmando-se com isso a influência decisiva que Petrópolis haveria de ter através dos tempos na história da produção de papel nacional.
Posteriormente a esse novo surto, em virtude do qual Petrópolis se via à altura de acompanhar o ritmo da produção de outros Estados brasileiros, organiza-se, em 1913, a Companhia Fábrica de Papel de Petrópolis, a qual pode ser tomada como um estabelecimento padrão no gênero, entregando ao consumo artigos de qualidade superior e cujo confronto com os similares estrangeiros revela, de logo, a razão de ser da aceitação e da preferência da sua clientela. Funcionando até 1925 com maquinismos montados em 1913, a Companhia Fábrica de Papel de Petrópolis resolveu, então, adquirir importantes instalações e maquinarias, enriquecendo o seu parque de novas unidades fabricadoras, eficientes e modernas, para o que, aliás, se fez necessário ampliar o seu edifício, como se vê na fotografia que ilustra uma das páginas deste álbum, dando-lhe as suas soberbas proporções atuais e que foram terminadas desde o ano de 1927.
Até o ano de 1927, a produção da Fábrica era em média de 400.000 kgs por ano. A partir daí as cifras tenderam a aumentar, em proporções animadoras, atingindo durante o curso do ano de 1932 a 5 milhões de quilos, ou sejam, em média cerca de 420 toneladas mensais.
Editamos o presente álbum empregando nele os principais tipos de papel fino da nossa fabricação, a fim de que o grande público ajuíze da sua qualidade. Este álbum foi confeccionado EXCLUSIVAMENTE COM PAPEL DA NOSSA FABRICAÇÃO. Através do mais ligeiro exame da sua qualidade, terá o leitor a impressão do verdadeiro ideal que nos norteia, que é o de dotar o país de uma fábrica de papéis finos, capazes de fazer o mais exigente consumidor prescindir do melhor produto estrangeiro. (Petrópolis, 1933).”
Infelizmente, Petrópolis não soube manter – e ampliar – seu parque industrial sustentável e os milhares de empregos que ele proporcionava.
Petrópolis tem também, uma vocação triste de falta de sensibilidade na preservação de seus valores patrimoniais históricos, arquitetônicos e ambientais que seriam, e são, os motores da indústria turística que, não consegue alçar vôo . . . Tirem o Museu Imperial – que é Federal – e a visitação à nossa cidade vai para o espaço . . .
As cidades que se prezam como Recife, Salvador, S. Paulo, Rio e outras mais, revitalizam seus Centros Históricos, não só para preservação da memória arquitetônica, mas, também como atração turística.
E o nosso projeto de revitalização do Centro Histórico que parece estar abandonado, será que vai entrar para . . . “Era uma vez?” Pelo menos um péssimo exemplo está acontecendo nos dias de hoje: demoliram uma casa em bom estado na rua Nilo Peçanha, atrás do Teatro Municipal, e autorizaram a construção de um horroroso caixote-arquitetônico em pleno Centro Histórico e nas carcanias do Museu Imperial . . .
E a reserva de Mata Atlântica nativa, em pleno centro da cidade, na rua Ipiranga? Houve um projeto de torná-la um ponto turístico-florestal e com uma Escola ambientalista, será que . . . “Era uma vez?” Nos ares que sopram, parece que as ambições especulativas são mais fortes e sedutoras do que a preservação de valores patrimoniais, sejam arquitetônicos, históricos ou ambientais . . . “Era uma vez”. . .