GUSTAVO ERNESTO BAUER, NOTÁVEL FIGURA

José Afonso Barenco de Guedes Vaz – Associado Titular, Cadeira n.º 11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho

 

De início gostaria de me reportar à sessão promovida pela Diretoria do Instituto Histórico de Petrópolis na noite de 18 de abril do corrente ano, presidida pela confreira Ana Cristina Borges López Monteiro Francisco. Ao mesmo tempo, após ouvir manifestação de incentivo por parte da confreira Maria das Graças Duvanel Rodrigues, dirigida aos associados presentes, relacionada exatamente à figura do exemplar associado Gustavo Ernesto Bauer, já que no seu entendimento deveria ser mais uma vez recordado pela instituição em face da extraordinária colaboração prestada ao I.H.P, propus-me a atendê-la, de imediato, e o faço através destas modestas linhas saudando a todos os confrades e confreiras, em especial a pessoa da ilustre presidente e demais integrantes da diretoria.

Antes mesmo de buscar discorrer sobre a vida e obra do ora homenageado, permito-me voltar ao tempo, décadas dos anos de mil novecentos e sessenta e setenta, ou mais precisamente à rua General Rondon nº 400. Naquela rua encontrava-se sediada a Oficina Regional de Petrópolis, unidade integrante do então Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER incubida da realização não só de pequenos reparos a serem levados a cabo na rodovia Washington Luiz, sob a responsabilidade de feitores integrantes da citada Oficina, como também, o desenvolvimento de atividades da maior importância, a cargo de servidores especializados, especialmente, profissionais torneiros mecânicos, eletricistas, etc. Os primeiros, percorriam de forma periódica a rodovia no sentido de preservar sua conservação.

Nesses tempos encontravam-se em plena atividade o Engº Natal Crosato, e como não poderia deixar, Gustavo Ernesto Bauer na condição de dirigente da Oficina Regional, que à época era especializada, como já frisado, na fabricação de peças, as mais sofisticadas de modo a serem utilizadas em veículos leves e pesados pertencentes à autarquia. A execução dos serviços praticamente de caráter artesanal, sob os olhares e observação de Gustavo Bauer, em especial aqueles relacionados com a fabricação de peças cujos componentes elétricos sempre a prevalecerem.

Naquela unidade do DNER, ainda que gozando pouca idade, lembro-me perfeitamente do Sr. Bauer, como era chamado pelos servidores que trabalhavam sob sua orientação. Vim a conhecê-lo pelas mãos de meu pai, também integrante dos quadros do DNER. As paradas que meu pai fazia, quase que diariamente, quando se dirigia ao Rio de Janeiro, onde trabalhava, conduzia a momentos em que trocavam bons papos e eu sempre a observá-los. Respeitava-o pela maneira como se exprimia, com altivez porém sempre a demonstrar a mais sincera e pura amizade para com meu pai, como aos demais colegas de trabalho.

Nestas condições tive o prazer de conhecer o Sr. Bauer sendo que sua figura nunca foi olvidada de minha memória. Julgo, assim, que possa traduzir nestas linhas justo depoimento a propósito da respeitável e notável figura. Todavia, nosso propósito primordial, visa relembrar o ora homenageado na qualidade de profundo e diligente historiador vez que dedicou-se, com afinco, a leitura e pesquisa de obras que diziam respeito à construção de rodovias e assuntos similares. No que concerne às rodovias, vale ser lembrada a escritora Maria Chambarelli de Oliveira, autora da obra “Achegas à História do Rodoviarismo no Brasil”.

Diante do respeito e admiração que guardava com relação à figura de Gustavo Bauer,  assim se manifestou às fls 5 da citada obra: “À memória do Historiador Gustavo Ernesto Bauer.” Vale ressaltar, por outra via, relembrando o historiador Paulo Roberto Martins de Oliveira, que Bauer “contribuiu diretamente com a sociedade através de palestras e conferências, pois a sua atividade no resgate histórico da Imperial Colônia fez-se intensa”.

E ainda, nas palavras do brilhante historiador, na compilação que levou a termo sobre a pessoa de Gustavo Bauer, destaca que o mesmo

“…provocou admiração nos meios culturais e sociais e o levou a pertencer a várias entidades tais como: Instituto Histórico de Petrópolis – sócio efetivo e benemérito, Clube 29 de Junho ( de Tradições Germânicas) – sócio fundador e presidente, Museu Imperial – correspondente, Museu de Armas Ferreira da Cunha – conselheiro, Associação Petropolitana dos agraciados com a Medalha do Pacificador – fundador e presidente, Hunsriickverein – (Alemanha) – sócio correspondente, Associação de Rádio Amadores de Petrópolis – sócio fundador e outras associações”.

Gustavo Ernesto Bauer colaborou, recordo-me muito bem, a propósito da criação do Museu Rodoviário em Paraibuna, estado do Rio de Janeiro. Foi casado com d. Teresa Soares de Sá sendo que o casal teve dois filhos, Sérgio Germano falecido, e Vera Eliane residente em Petrópolis na rua que recebeu o nome de seu pai. Seus estudos foram levados a efeito no Colégio São Vicente de Paula, onde concluiu o curso secundário. Ingressou no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem no ano de 1936, exatamente na Oficina onde dedicou grande parte de sua vida.

Permitindo-me retornar novamente ao notável historiador Paulo Roberto Martins de Oliveira, no brilhante trabalho que fez produzir ao recordar que no ano de 1997, “… Na seleção de 40 nomes ilustres para serem homenageados e patronos no nosso Instituto, houve por bem e condignamente a escolha do inesquecível Gustavo Ernesto Bauer.

Efetivou-se, portanto, com a cadeira nº 21, a qual tem como hoje como titular a historiadora e pesquisadora a Ilma. Sra. Maria das Neves F.L. Krieger”. Sócio benemérito do IHP nasceu em Petrópolis em 23 de outubro de 1902 tendo falecido em 27 de agosto de 1979. Gustavo Ernesto Bauer foi ainda distinguido com várias medalhas e condecorações, destacando-se a que recebeu do governo alemão, a do Pacificador, em 10 de novembro de 1960; ainda, a Medalha do Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora, MG, em 1969, além de muitas outras.

Pela sua maneira sempre gentil de tratar os seus semelhantes acabou, naturalmente, por arregimentar preciosas amizades, a se destacar, e lembro-me bem, àquela com relação aos médicos Drs. Mário de Medeiros Pinheiro e Paulo Barros Franco, além de Lupério Santos; José Malaquias Rodrigues dos Santos, todos figuras da mais alta expressão.

Gustavo Ernesto Bauer deixou saudades; guardo a convicção, entretanto, que nunca foi e será esquecido pela filha Vera e demais familiares vez que dedicou sua vida ao trabalho honroso e digno e consagrando a família como a maior dádiva recebida de Deus.

A ressaltar que fez publicar em 1957, Rodovias e Histórias, dedicando a obra em questão ao engenheiro Edmundo Régis Bittencourt, diretor – geral do DNER, que nunca deixou de distinguir, com muita razão, o profícuo trabalho do autor e amigo.  A obra, na palavra do autor, assim se encerra: “Demos uma volta enorme pelo globo, parando nas estações do tempo, em diversos pontos dos caminhos da história, onde tentamos descrever fatos desenvolvidos pelas estradas do mundo, com o intuito de enaltecer o esforço, o trabalho e os sacrifícios da criatura humana até os nossos dias, para conseguir a perfeição dos meios de ligações terrestres”.

Confrades e confreiras, amigos e leitores, Gustavo Ernesto Bauer vive em outras paragens e sua memória e seu nome serão sempre lembrados, de geração em geração, “… pelos que se alimentam de vitaminas do espírito”, na palavra proferida pelo mestre Roberto Francisco em solenidade realizada na APL.

E faço transcrever a derradeiro a trova do sempre lembrado professor e exímio poeta aplicável ao personagem que ora fazemos reverenciar: “Já fiz muito nesta vida, engrandecendo o destino, rebrilhando, em toda lida, como farol peregrino”.