ESPORTE EM PETRÓPOLIS

Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18

Honra-nos sobremodo a investidura que nos confere a Associação dos Cronistas Esportivos de Petrópolis de orador desta reunião. Somos, com certeza, dos menos credenciados a dirigir a palavra a uma assistência culta e seleta como esta que hoje aqui comparece. É que precárias são os nossos dotes oratórios e duvidosa é a nossa autoridade de historiador.

Valha-nos, contudo, nossa boa intenção de, estudiosos do assunto, proporcionarmos algo de util ou interessante àqueles que se dedicam à causa do esporte em nossa Terra.

Abrindo seu magnífico trabalho “Apontamentos para a História do Esporte em Petrópolis” publicado em 1943 no VI volume dos “Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis”, sentenciou Luiz Afonso d’Escragnolle:

“Petrópolis, mercê de sua privilegiada situação topográfica e climatérica, elevada entre montanhas, plantada entre vales amenos, gozando de uma temperatura média de 18 graus, parece reunir todos os requisitos para ser o ambiente adequado à realização plena e propícia aos trabalhos do cérebro e ideal para a prática dos esportes”.

Tem toda a razão o nosso conterrâneo. Petrópolis tudo possui para ser um grande centro esportivo – situação topográfica, clima, mocidade estudantil, espírito associativo – sem que, contudo, haja conseguido, até hoje, tornar-se, ao menos, um centro medíocre. Ainda recentemente, um largo e expressivo inquérito foi aberto em todo o país por um grande jornal carioca para apurar qual o município mais esportivo do Brasil e, no mesmo, o nome de Petrópolis não foi sequer citado.

Entretanto, não se incrimine as gerações passadas de responsáveis por este estado de coisas. Ver-se-á, no nosso modesto trabalho, que os antigos não se descuraram, em absoluto, do desenvolvimento esportivo de nossa terra, tomando, não raro, iniciativas que precederam de muitos anos às de outros centros mais importantes do que o nosso.

A primeira referência ao esporte que faz a história de nossa cidade – é ainda Luiz Afonso d’Escragnolle que consigna – está contida na noticia da morte do major Júlio Frederico Koeler, o fundador de Petrópolis. A 21 de novembro de 1847, quando em companhia de amigos, na chácara situada no local que hoje constitui o bairro da Terra Santa, praticava o major Koeler o tiro ao alvo, foi ele vítima do acidente fatal já por demais conhecido, dispensando-nos, por isto, de maiores detalhes.

Foi, portanto, uma grande desgraça que assinalou o tiro ao alvo como o primeiro esporte praticado em Petrópolis.

Depois do tiro ao alvo, presume-se que o bilhar e o boliche tenham sido outros esportes praticados pelos primeiros habitantes destas plagas. Do bilhar, há referências em publicações do ano de 1854 e do boliche, embora não haja menção alguma nos primeiros anos, julga-se como praticado pelos colonos, por se tratar de esporte tradicional dos alemães.

A 23 de agosto de 1857, o Jóquei Clube de Petrópolis, inaugurou suas atividades, realizando uma corrida de cavalos no Prado do Fragoso. O turfe foi, portanto, apreciado pelos petropolitanos desde priscas eras.

A seguir, vieram os demais esportes ora relacionados na ordem das respetivas introduções ou tentativas de introdução, já que alguns não vingaram em nossa cidade: a patinação, em 1877/1878, nos salões do Rougemount e do Hotel Bragança; as corridas a pé, em 1882, no Colégio Paixão; o futebol, em 1882, no Colégio Paixão, segundo uns, ou em 1894, no Colégio S. Vicente, segundo outros; a esgrima, em 1888, com a realização, no Teatro Fluminense, do torneio promovido pelo professor Cristini Orlando; o ciclismo, em 1893, com a inauguração do Velóce-Clube, no Palácio de Cristal; o tênis de campo, em 1896, no Alexandra Hotel; o automobilismo, em 1896, com a chegada do primeiro automóvel; o columbofilismo, em 1897, com a realização de corridas de pombos entre Petrópolis e Rio de Janeiro; a natação, em 1897, com a inauguração nas Duchas das aulas do professor Miguel Hoernhann; a ginástica, em 1899, com a fundação do Turnverein; o hipismo, em 1908, com a inauguração do Clube Hípico, à avenida Piabanha; a luta romana, em 1909, com a luta entre Schneider (alemão) e Smykal (húngaro); a corrida de trotadores atrelados, em 1909, com a vitória do veículo dirigido pelo C.el Pedro Neto Teixeira; a aviação, em 1912, com as evoluções feitas no Prado de Corrêas pelo aviador Ernesto Darioli; o water-polo, em 1920, com os treinos realizados pelo S. Sebastião, em Cascatinha, e pelo Petropolitano, no Morin; o atletismo, em 1923, com a competição interna promovida pelo Petropolitano; o volibol, em 1923, com o jogo Petropolitano X Associação Cristã de Moços realizado no Valparaiso; o boxe, em 1926 com as lutas realizadas no campo do Serrano; baseball, em 1927, com o jogo realizado no campo do Cascatinha; o basquete, em 1928, com jogos realizados pelo 1º Batalhão de Caçadores; o excursionismo, em 1931, com a fundação do Clube do Excursionista de Petrópolis; o futebol-celotex, em 1932, com a fundação da Liga de Celotex de Petrópolis; o aerofilismo, em 1934, com a fundação da Associação Petropolitana de Planadores Aéreos; o tênis de mesa, em 1944, com a realização do torneio interclubes promovido pelo E. C. Rio Branco; e finalmente, o iatismo, em 1948, com a fundação do Rio Preto Iate Clube.

Tomamos conhecimento, assim, de um modo geral, da época e da maneira por que os diversos esportes foram aqui introduzidos, ou, pelo menos, tornados conhecidos do petropolitano. Historiemos, agora, ligeiramente, de per si, alguns deles.

AUTOMOBILISMO

Data de 16 de maio de 1896, a primeira notícia sobre o automóvel em Petrópolis. Naquele dia, “Gazeta de Petrópolis” se referia ao carro automóvel para aqui trazido pelo dr. João Paulo de Carvalho, provocando sensação no seio do povo. Depois, outros estiveram em nossa cidade, sempre trazidos como objeto de curiosidade. Nós mesmos, ainda nos recordamos do tricicle-automóvel pertencente ao professor Antônio Noronha, guardado, aí por volta de 1908-1909, no hall do prédio dos Semanários, onde funcionava o Colégio Luso-Brasileiro, e que tanta admiração nos provocava …

Foi somente a 9 de março de 1908, no entanto, que os petropolitanos tiveram a primeira grande sensação com o automobilismo. Gastão de Almeida e Braz da Nova Friburgo, dois ases do volante, tendo partido da avenida Central, no Rio, às 13:30 horas do dia 6, chegaram a Petrópolis no seu Dietrich, naquele dia, às 13 horas. O “raid” sensacional durara exatamente tres dias! O povo acorreu à rua para saudar os esportistas que, conduzidos pelos representantes da imprensa, após visitarem as autoridades, hospedaram-se no Hotel Bragança. “Tribuna de Petrópolis”, saudando os visitantes, assim se expressou:

“Heróis! Sim heróis, porque sem conhecerem bem o caminho, aqui vieram arrojadamente, os srs. Braz da Nova Friburgo, Gastão de Almeida e o maquinista Jean Chocolat, após mil e uma peripécias, às quais soube briosamente resistir a temerária máquina Dietrich que não sofreu outro desarranjo a não ser nas borrachas das suas rodas”.

Consigne-se que naquele tempo, mecânico era maquinista e pneu era borracha das rodas … Os “raidmen” voltaram ao Rio, no dia imediato, de trem, sendo recebidos também festivamente pelos cariocas.

Em 1909, começou a trafegar na cidade o primeiro automovel de praça que pertencia a João Xavier e tinha Alexandre Olive, o popular Alex, como motorista.

A 8 de setembro de 1910, Gastão de Almeida, um dos heróis do “raid” Rio-Petrópolis de 1908, em companhia de Artur Bilbau e Sully de Souza, empreendeu nova excursão automobilística, partindo de Petrópolis rumo a Juiz de Fora. A viagem durou 8 horas e foi feita num Pic-Pic de 45 H. P.

A 12 de abril de 1911, foram Luiz Tavares Guerra, Luiz Prates e Honorato Pereira, esportistas locais que empreenderam arrojado “raid” a Terezópolis, onde chegaram após a bagatela de 39 horas de viagem.

Somente três anos após, houve novo “raid”: a 4 de maio de 1914, às 10 horas, partiam com destino a Paraíba do Sul, os nossos conterrâneos José Tavares Guerra, Henrique Cunha e João Raeder, acompanhados dos mecânicos Waldemar Rocha e José Silva. A chegada à vizinha cidade deu-se às 15 horas do mesmo dia.

Daí em diante, o uso do automovel se vulgarizou, perdendo o caráter esportivo. Somente as competições propriamente ditas voltariam, então, a interessar ao esportista.

A 6 de setembro de 1920, os petropolitanos foram agradavelmente surpreendidos com a notícia de que, nos Estados Unidos, o nosso conterrâneo Irineu Corrêa havia ganho importante corrida de automóveis em Chester Fair. Foi o primeiro de uma série de grandes triunfos do volante petropolitano que teria, entretanto como se sabe, fim tão trágico.

A 22 de julho de 1927, coube a vez a Manuel de Teffé de dignificar a terra natal, vencendo na Itália a prova automobilística “Taça Gallenga”.

As competições esportivas propriamente ditas só começaram a ser disputadas a 28 de fevereiro de 1932, quando o Automóvel Clube do Brasil promoveu, em combinação com a Prefeitura Municipal de Petrópolis, a prova “Subida da Montanha” disputada na estrada Rio-Petrópolis, no trecho compreendido entre Meriti e Quitandinha. Essa primeira disputa foi vencida pelo alemão barão von Stuck, seguido pelo brasileiro Crespi. De 1933 a 1946, voltou tal prova a ser disputada mais seis vezes, tendo como vencedores Júlio Morais, em 1933; Manuel de Tefé, em 1937 e 1943; Chico Landi, em 1944; Catarino Andreata, em 1945; e Gino Bianco, em 1946.

O maior feito do automobilismo petropolitano foi, sem dúvida, a sensacionalíssima vitória de Irineu Corrêa no Circuito da Gávea, a 3 de outubro de 1934. Prova de projeção internacional, o circuito da Gávea deu ao volante de Petrópolis fama e glória jamais conseguidas por outro petropolitano. E não fora a desgraça de 2 de junho do ano seguinte, quando Irineu Corrêa, tentando repetir o feito do ano anterior, sofreu acidente que lhe custou a vida, estaria sendo cantada até hoje em prosa e verso a vitória do grande ás, já que foi ela, indiscutivelmente, o maior feito de todos os tempos do esporte de nossa terra.

A 5 de julho de 1936, a Associação Esportiva Automobilística Brasileira promoveu em Petrópolis a realização de diversas provas automobilísticas, a principal das quais, uma corrida entre a praça Rui Barbosa e o Quartel da Presidência, foi vencida por Manuel Tefé, seguido por Rubens Abrunhosa.

Finalmente, em 1948 e 1949, já praticamente nos nossos dias, foi iniciada a disputa da prova “Circuito da Cidade de Petrópolis”, sendo Benedito Lopes, seguido por Gino Bianco, o primeiro vencedor; e Gino Bianco, seguido por Jorge Aloisio Fontenelle, o segundo.

AVIAÇÃO

Petrópolis conheceu o aeroplano a 28 de janeiro de 1912, quando o aviador italiano Ernesto Darioli, com entrada paga, se exibiu no Prado de Corrêas, fazendo evoluções com seu aparelho “Bleriot” para aqui trazido pelo trem.

Naquele mesmo dia, Roland Garros, o aviador francês que se imortalizaria na grande guerra de 1814, vôou sobre o centro da cidade, vindo do Rio de Janeiro, fazendo conhecido o avião aos que não se haviam abalançado à excursão a Corrêas para ver o Darioli.

A 31 de dezembro de 1911, uma notícia interessante do “Diário de Petrópolis” da época: no dia imediato, subiriam a Petrópolis diversos aviadores para verificar se o campo do Petropolitano, na Terra Santa, se prestava às manobras de “vol” e “aterrage”, a fim de, no caso afirmativo, tentarem alguns vôos do Rio a Petrópolis e vice-versa.

Petrópolis, como é notório, não se presta às manobras de descida e subida de aviões, de maneira que os nossos conterrâneos de 1911 tiveram de se contentar, em matéria de aviação, a ver passar ao alto, como ainda hoje acontece a todos nós, os aparelhos em trânsito para outras plagas.

Ou então a se emocionarem com as descidas forçadas feitas em nossas acidentadas terras, como aconteceu, entre outros, com o hoje brigadeiro Luiz Leal Neto dos Reis que, a 3 de agosto de 1926, devido a um defeito do motor de seu avião, desceu em um capinzal da Mosela.

A 9 de janeiro de 1919, o céu petropolitano foi palco de um acontecimento extraordinário: o aviador francês La Fère, pilotando um aparelho C. B. Dienport, bateu o recorde sul-americano de alturas. Naquele mesmo mês, no dia 23, outro aviador francês, o capitão Ed. Vernier, praticou nova façanha sensacional, ao lançar nas imediações da estação Leopoldina, onde se encontrava Santos Dumont, uma mensagem de saudação ao grande brasileiro.

A 15 de março de 1934, foi criada a Associação Petropolitana de Planadores Aéreos que teve vida curta, mas intensa; e a 4 de agosto de 1942 foi fundado o Aéreo Clube de Petrópolis que não passou da assembléia de fundação.

O helicóptero foi conhecido pelos petropolitanos a 19 de novembro de 1947, quando um aparelho, vindo do Rio em doze minutos, desceu no Hotel Quitandinha, depois de evoluir sobre a cidade.

A 4 de fevereiro de 1955, os petropolitanos assistiram o presidente Café Filho descer de um helicóptero no jardim do Palácio Rio Negro, para iniciar seu veraneio em nossa cidade. O feito esportivo do presidente agradou aos petropolitanos.

Santos Dumont, o pai da aviação e grande amigo de Petrópolis, tanto que foi aqui o único lugar em que construiu casa própria, mereceu dos petropolitanos a consagração do bronze, inaugurado que foi seu busto, a 19 de outubro de 1951, na rua do Encanto, em frente à “Encantada”. Antes, o grande brasileiro já fora homenageado com seu nome dado à antiga rua Costa Gama e também a uma escola da Municipalidade.

CORRIDAS DE CAVALO

A paixão do petropolitano pelos esportes nunca excluiu as corridas de cavalo, tanto que, ao tempo da colônia, já era fundado o Jóquei Clube de Petrópolis. E a falta de um terreno adequado serra acima não foi obstáculo, porque o prado de corridas foi construído no Fragoso, na Raiz da Serra, sendo inaugurado a 23 de agosto de 1857.

A 31 de março de 1875, em reunião realizada no Teatro Petropolitano, novo Jóquei Clube de Petrópolis foi fundado, sendo o comendador Paulino Afonso Pereira Nunes seu primeiro presidente.

A 8 de setembro de 1888, realizou-se a corrida inaugural no Prado Vila Tereza e a 3 do mes imediato instalava-se no Salão Floresta a Sociedade Anônima Prado Vila Tereza, sob a presidência de José da Cruz Loureiro.

O primitivo Derby Petropolitano foi fundado a 13 de janeiro de 1892 em reunião realizada na Fazenda da Engenhoca, sendo realizada a corrida inaugural do Prado de Corrêas a 10 de abril de 1892.

No mes de setembro de 1894, na Ponte dos Arcos, foram realizadas diversas corridas.

No bairro do Retiro, foi realizada em 1895 uma série de corridas, a primeira das quais teve lugar a 15 de setembro.

A segunda fase do Prado de Corrêas teve início com a corrida realizada a 13 de março de 1904.

A 27 de agosto de 1905, inaugurou-se no largo da Igreja, no bairro do Retiro, uma raia para corridas.

O Prado de Corrêas teve iniciada sua terceira fase a 4 de dezembro de 1915, quando foi fundado, sob a presidência do dr. Paulo de Frontin, o Derby Petropolitano, cuja corrida inaugural teve lugar a 16 de janeiro de 1916.

A 19 de agosto de 1934, em raia improvisada nos terrenos do antigo Derby Petropolitano, começaram a ser disputadas corridas avulsas.

E, finalmente, a 4 de setembro de 1946, com a fundação do Jóquei Clube de Petrópolis, teve início a quarta e atual fase do Prado de Corrêas, cuja corrida inaugural foi disputada a 31 de dezembro de 1949.

HÓQUEI

O Hóquei sobre Patins começou a ser praticado em nossa cidade, ao que parece, em 1931 ou 1932, no rinque da praça Rui Barbosa. A primeira notícia da realização de jogos tivêmo-la como referência aos encontros do Hóquei Clube de Petrópolis com o Copacabana Hóquei Clube, do Rio, um deles realizado em Petrópolis, em abril de 1932, e outro no Rio no mes imediato.

Até meados de 1945, os pequenos clubes que disputavam o chamado esporte do cajado se limitavam aos jogos avulsos entre eles, sendo aqui trazidos, só esporadicamente, clubes ou combinados de fora. Em 5 de maio, vem até nós um combinado carioca que foi surrado impiedosamente por 13×1.

Em agosto de 1945, com a inauguração do rinque do Quitandinha, as atividades do hóquei petropolitano se transferiram para o novo bairro com grande animação. A par de muitos jogos avulsos, houve a disputa de um torneio interclubes vencido pelo Real Hóquei Clube, torneio esse ao qual foi emprestado pelos concurrentes o caráter de campeonato da cidade.

O Atlântico e o Mocidade Hóquei Clube, os dois baluartes do hóquei petropolitano, foram fundados no mesmo dia, a 2 de fevereiro de 1945. Com eles, nova era se abriu ao violento, mas interessante esporte. Tanto que, já a 9 de abril do ano seguinte, era o hóquei oficializado, começando a
ser disputado o campeonato da cidade em 1947.

Têm sido campeões petropolitanos nestes dez anos: o Mocidade, sete vezes (1947.1948.1950.1953/1956); o Atlântico, duas vezes (1949.1951); e o Serrano, uma vez (1952).

Petrópolis é uma das três ou quatro cidades do Brasil que praticam o hóquei sobre patins, sendo de notar que sempre levou vantagens nos jogos disputados com os cariocas e que grandes vitórias tem obtido sobre os paulistanos. Em 1948, por exemplo, os nossos hoqueístas venceram, no Rio, aos cariocas por 5×1 e 8×1; em 1949, voltaram a derrotar os mesmos rivais, ainda no Rio, por 7×2 e 8×0; e, em 1950, jogando em Quitandinha, abateram, primeiramente, ao Tênis Clube Paulista, por 7×0 e, depois, ao Floresta, tambem de S Paulo, por 11×3.

FUTEBOL

Correio da Noite, prestigioso jornal que existia no Rio de Janeiro até três ou quatro anos passados, publicou, certa vez, o seguinte: “Como recordar é viver”, velho axioma do Correio da Noite, o vespertino apreciado de toda a gente, não podemos deixar de consignar nesta ligeira notícia que o futebol, o esporte máximo do mundo, foi, em tempos remotos, no ano de 1882, no antigo Colégio Paixão, do professor José Ferreira da Paixão, na então rua do Palatinato de Petrópolis, iniciado por um dos educadores, mister Alexander, velho professor de inglês que, ainda há quarenta anos passados, mantinha um curso da língua de Albion num sobrado do Beco das Carmelitas, no Rio de Janeiro. Depois desse notável acontecimento, aquele jogo foi introduzido, longos anos após, nas repúblicas sul-americanas. Fora, depois de iniciado na Inglaterra, para os Estados Unidos da América do Norte. O Brasil foi, precisamente, o terceiro país do universo em que se praticou esse esporte pela iniciativa feliz do velho professor Alexander”.

Significa tal coisa que o futebol foi praticado em Petrópolis doze anos antes que os paulistas o conhecessem apresentado por Charles Miller, em 1894. E mais: que Petrópolis deu ao Brasil o terceiro lugar dentre os paises que começaram a praticar o violento esporte.

Não conseguimos até hoje obter confirmação documentada do que afirmou “Correio da Noite”, muito embora tenhamos conhecimento da fundação a 14 de maio de 1881, pelos alunos do Colégio Paixão, do “Foot Rink Club”. Seria este o clube que serviu de berço ao futebol brasileiro?

De positivo sobre o assunto, só existe para nós, até agora, o recorte do “Correio da Noite” arquivado na Biblioteca Municipal. Oxalá que algum dia seja o assunto esclarecido e que a glória de iniciadora do futebol no Brasil seja transferida de S. Paulo para Petrópolis.

Mas, de qualquer maneira, nossa terra é uma verdadeira pioneira do futebol pátrio. Porque se há dúvida sobre 1882, há certeza, porém, sobre 1896, quando o padre Gonzalez, vindo da Europa, trouxe consigo as regras do futebol, ministrando aos alunos do colégio S. Vicente de Paula, então situado na Westphália, as primeiras noções da técnica. Inicialmente, os goals eram de bambu e as bolas, feitas com o couro “in natura”, eram chamadas de “peludas”, o que, entretanto, não foi obstáculo à propagação do jogo que jamais deixou de ser praticado após o lançamento do padre Gonzalez.

Durante anos, porém, a prática do novo jogo se limitou ao Colégio S. Vicente. Somente em 1901 ou 1902, houve tentativa para organização de um clube independente em nossa cidade. Foi ela de autoria de Salvador Fróes, nosso irmão, e de Bartlett James e Jorge Pereira de Andrade. O local das reuniões para fundação do clube batizado com o nome de “Clube Esportivo Petropolitano” foi um “chalet” que existia aos fundos do prédio nº 2 da avenida M.al Deodoro, nossa residência. Mas as atividades desse clube de tão grata memória para nós, se limitaram à ata de fundação e à escolha do campo que deveria ser o da Terra Santa. Morreu no nascedouro.

Pouco mais tarde, em 1905, já existiam, porém, três lugares onde o futebol era praticado: o Colégio S. Vicente, o Petropolitano F. C. e o Clube Esportivo Petropolitano. Esse Petropolitano F. C. foi um homônimo e antecessor daquele que viria a ser fundado em 1911 e que veio até os nossos dias, tendo seu campo localizado no morro da Igreja. O Clube Esportivo Petropolitano, por sua vez, nada tinha a ver com o seu homônimo a que já nos referimos, tendo sido fundado a 6 de janeiro de 1905 sob a presidência de Luiz Prates. Só o S. Vicente era o mesmo; consigne-se ainda, como curiosidade, que o Clube Esportivo Petropolitano tomou parte na reunião preparatória de 21 de maio de 1905 para fundação, no Rio de Janeiro, da Liga Metropolitana, juntamente com o América F. C., Fluminense F. C., Bangu A. C. e Football Atletic Club, fazendo-se representar por Aldemar de Faria e Edgard de Andrade Figueira.

De 1906 a 1910, nada se sabe sobre o ocorrido com o futebol em nossa cidade. Parece que, em todo esse tempo, só foi ele praticado nos colégios.

O ano de 1911 foi, porém, o da ressurreição. A 4 de julho, “Tribuna de Petrópolis”, como que prevendo a importância do acontecimento, publicava os seguintes versos escritos por Álvaro Machado:

Aos moços do Foot Ball Club

Bravos! bravos! muitas palmas!
Pela idéia genial!
Desse grupo, jovem d’almas,
Diretor do Foot Ball.

Divertimento hodierno,
Tem hoje grande procura;
Põe fogo ao frio no inverno,
Reteza a musculatura.

Referia-se o poeta ao Petropolitano F. C. cuja fundação estava marcada para a noite daquele dia.

Fundado o Petropolitano, começou o futebol a despertar o entusiamo que faltara por ocasião das tentativas anteriores. Havia um grupo de jogadores realmente da cidade e o clube era genuinamente petropolitano.

A estréia do Petropolitano se deu a 16 de julho de 1911, quando enfrentou a famosa equipe do Colégio S. Vicente de Paula, no campo deste, no Parque Imperial, vencendo-a espetacularmente por 5×0.

A 3 de setembro do mesmo ano, foi inaugurado o campo da Terra Santa, vindo a Petrópolis, pela primeira vez, uma equipe carioca. Foi o Roxura-Team que outra coisa não era senão o quadro do Fluminense F. C. – A equipe carioca venceu por 3×1.

A 7 de setembro, ainda em 1911, registrou-se a primeira excursão de um quadro de Petrópolis, indo o Petropolitano a Juiz de Fora para enfrentar o Grambery, do qual perdeu por 3×0.

A 25 de abril de 1912, com a cisão ocorrida no esporte carioca, o Petropolitano F. C., em companhia do Botafogo F. C., S. C. Americano, Catete F. C., Paulistano F. C., S. C. Germânia e Internacional F. C., todos do Rio, fundou a Associação de Futebol do Rio de Janeiro, passando a disputar o campeonato promovido pela entidade dissidente. Mas, após a disputa de dois jogos, o nosso clube se desentendeu com o Botafogo e retirou-se da Associação.

Tentou, então, o Petropolitano, com a cooperação do Luso-Brasileiro F. C. e do S. Vicente F. C., fundar a Associação Petropolitana de Esportes Atléticos que, no entanto, teve a duração da rosa de Malherbe.

Já no ocaso da primeira fase de sua vida, o Petropolitano F. C. assistiu, a 15 de julho de 1912, nascer o Círculo Católico S. Sebastião que outro não é que o atual S. C. Cascatinha. Chegaram os dois a terçar armas, jogando a 3 de agosto de 1913 uma partida no campo do 2º distrito. Foi canto de cisne do Petropolitano.

A 9 de fevereiro de 1913, sob a presidência de Manuel de Souza Matos, foi fundado o Esporte Clube Petrópolis, grêmio esse que, em matéria de popularidade, foi um autêntico antecessor do nosso Serrano F C. O Esporte, como era ele conhecido, teve dois campos: o primeiro à rua Carlos Gomes inaugurado a 2 de março de 1918 e o segundo na Terra Santa inaugurado a 16 de agosto de 1914. Sua vida foi intensa, embora curta. A 10 de outubro de 1915, derrotando o S. C. Internacional por 7×1 em jogo convencionado como válido para conquista do título de campeão petropolitano, corôou seus feitos esportivos com o galardão de primeiro pré-campeão de futebol da cidade. Mas esse galardão parece lhe ter pesado muito, porque, logo após a conquista, passou a definhar, até desaparecer com a entrega de seu campo ao Serrano F. C.

A 1º de outubro de 1913, com os remanescentes do Petropolitano F. C., foi fundado o Esporte Clube Koeler que já a 8 de fevereiro do ano seguinte inaugurava seu campo na Terra Santa, o mesmo que pertencera ao Petropolitano e viria a pertencer ao Esporte. O Koeler teve vida curta, mas gloriosa. Seu feito máximo foi um jogo realizado em Campos em que derrotou o adversário, mas que não acabou, por imposição da assistência, enquanto o clube local não passou à frente no escore. Durou a pugna quase 3 horas!

A 15 de novembro de 1914, sob a presidência de Rafael Ricci, fundou-se no bairro de Alto da Serra, o S. C. Internacional, cujo primeiro campo foi localizado no pequeno terreno situado entre as ruas Tereza, C.el Albino de Siqueira e Chile, datando de 3 de janeiro sua inauguração. O chamado clube carijó tem uma particularidade: além de campeão das lides esportiva, é campeão absoluto das praças de esportes. Nada menos de quatro teve ele até agora: a primeira, já referida; a segunda, em frente à estação do Alto da Serra, inaugurada a 13 de julho de 1919; a terceira, no terreno da CBEE, à rua C.el Albino Siqueira, inaugurada a 6 de março de 1921; e a atual inaugurada no ano passado.

Na mesma data do Internacional, era fundado no bairro do Itamarati, 2º distrito, o Itamarati F. C., outro clube de grande evidência nos primórdios do nosso futebol.

O 29 de junho de 1915 é um marco glorioso da história esportiva de Petrópolis. Nesse dia, enquanto a cidade em festas comemorava a data de São Pedro e São Paulo, nascia humildemente, na Terra Santa, o Serrano F. C. Local humilde, fundadores humildes e ambiente humilde, nada indicava que ali estava o clube predestinado aos maiores feitos do futebol petropolitano. Vencidas as primeiras dificuldades, alojou-se o Serrano no campo da rua Visc. de Itaboraí logo que o Esporte Petrópolis o deixou, para proporcionar aos petropolitanos, naquele local, durante cerca de três décadas, os mais impressionantes e inesquecíveis espetáculos esportivos. Foi de lá, daquele saudoso e pitoresco local, que o nome do Serrano se projetou, primeiramente pela cidade e depois para todo o Brasil, mercê das grandes vitórias nele alcançadas. Mas, como “não haja bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”, a 5 de agosto de 1945, disputando com o Rio Branco o jogo do campeonato da cidade, o Serrano se despediu do campo da Terra Santa. E fe-lo com uma vitória de 3×1. Hoje, como se sabe, o Serrano está instalado magnificamente no Ingelhein, mas o torcedor veterano não esquece, temos certeza, o campo da rua Visc. de Itaboraí de tão gratas recordações …

Foi a 6 de julho de 1915, quando os bairros do Alto da Serra, Cascatinha, Itamaratí e Terra Santa já possuiam seus clubes, que o Morin fundou o seu Cruzeiro do Sul F. C. Em meio de grande e justificada alegria, foi inaugurado a 30 de abril de 1916 o pequenino campo do populoso e pitoresco bairro.

De 1915 até meado de 1918, pouco há a dizer da atividade futebolística. Os acontecimentos máximos foram os pré-campeonatos Esporte Clube Petropolis x Internacional em 1915, já por nós descrito; e o Internacional x Serrano disputado a 2 de julho de 1918 que terminou com a vitória do alvi-cerúleo.

Em meado de 1918, havia na cidade, em plena atividade, cinco clubes: S. Sebastião, Internacional, Itamarati, Serrano e Cruzeiro do Sul. Mas não se entendiam e não queriam ouvir falar em fundação de liga após os fracassos anteriores, um dos quais de Manuel Matos e Carlos Gomes Moreira, dois baluartes do esporte da época.

Eis, porém, que entra em cena Euclides Raeder. E tudo muda, tudo anda, tudo progride. Prático, realizador, persistente, enérgico e diplomata, Euclides Raeder foi o taumaturgo que deu fé aos céticos, ânimo aos fracos e disciplina aos revoltados. Em poucos dias, estava fundada a encantada Liga Petropolitana de Sports. Mas a atividade do “feiticeiro” Euclides Raeder não parou a 30 de julho de 1918 com a fundação da Liga. A 1º de setembro, um mes após, já era realizado o Torneio Início; mais uma semana, a 8, era reconhecida a novel entidade pela Liga Esportiva Fluminense; e, outra semana passada, ou seja a 15 de setembro, tinha começo a disputa do campeonato da cidade. Uma sucessão vertiginosa de acontecimentos que encantavam o petropolitano, mas deixavam-no, pelo imprevisto, como que atordoado … Euclides Raeder realizara o que a quase todos parecera impossível e que para muitos foi um milage. Um milagre, porém, inspirado pelo amor à terra natal, nada mais!

Com a fundação da Liga Petropolitana de Sports, ficou inaugurada a fase principal do esporte petropolitano, a fase definitiva, aquela que, embora todos os tropeços sofridos, chegou aos nossos dias com a apreciável bagagem, só no futebol, de 39 campeonatos anuais realizados sem interrupção. É verdade que a atual Liga Petropolitana de Desportos não é bem aquela fundada em 1918 que teve de ser sacrificada em 1927 para pacificação do esporte local. Mas o espírito das duas é o mesmo e a atual é a herdeira natural de todas as melhores tradições da antiga. As nossas homenagens, portanto, a ambas e, particularmente, o nosso muito obrigado aos homens de 1918, que, com o grande Euclides Raeder à frente, congregaram e oficializaram o esporte citadino, abrindo-lhe novos horizontes e traçando-lhe o rumo definitivo do progresso e da glória

Tentemos, agora, um ligeiro retrospeto dos 39 campeonatos anuais. O campeonato da cidade, ora chamado de efetivos, ora dos 1.os quadros, teve como vencedores: o Serrano por dez vezes (1918. 1919. 1920. 1930. 1931. 1932. 1933. 1936. 1939 e 1945); o Internacional por oito vezes (1921. 1922. 1927. 1928. 1929. 1941. 1946 e 1951); o Cascatinha também por oito vezes (1934. 1935. 1937. 1938. 1943. 1948. 1949 e 1950); o Petropolitano por seis vezes (1924. 1925. 1926. 1940. 1942. 1944); o Cruzeiro do Sul (1953 e 1954) e o Rio Preto (1955 e 1956) por duas vezes cada um; e o Itamarati (1923), Palmeira (1947), e o Corrêas (1952) uma vez cada um. No torneio dos reservas ou dos 2.os quadros, o Cascatinha se laureou dez vezes; o Serrano, oito; o Petropolitano, sete; o Internacional, cinco; o Cruzeiro do Sul, quatro; o Itamarati, três; e o Pau Grande e o Palmeira, uma vez cada um. O torneio dos 3.os quadros, só disputado de 1919 a 1922, teve como vencedores o Grêmio Juvenil, o Serrano, o Internacional e o Petropolitano. O torneio dos Juvenis, inaugurado em 1919, suspenso em 1920 e restabelecido em 1935, tem tido como vencedores: o Serrano por nove vezes; o Petropolitano, por cinco; o Internacional, por quatro; o Cascatinha, por duas; e o Coronel Veiga e o Palmeira por uma vez cada um. O torneio dos infantis instituído em 1952 tem tido como vencedores, o Petropolitano por duas vezes e o Cascatinha por igual número de vezes.

Petrópolis não tem sido muito feliz na disputa do campeonato fluminense de futebol. Afora os anos de 1945 e 1946 em que, respetivamente, Petropolitano e Serrano, representando a cidade, conquistaram o título máximo, sómente em 1949 conseguiu a Liga Petropolitana de Desportos laurear-se no certame estadual. Em 23 anos de disputa, há de se convir que três campeonatos são alguma coisa; mas muito mais poderia ter sido conseguido, é inegavel.

ATLETISMO

Dificílimo será determinar com precisão a data em que o atletismo, o chamado esporte base, começou a ser praticado em nossa cidade. A primeira referência que encontramos em nossas pesquisas às disputas atléticas foi a notícia da inauguração, a 14 de maio de 1881, do “Foot Rink Club”, dos alunos do Colégio Paixão, ocasião em que foram disputadas corridas rasas e com barreiras. Daí em diante, todos os colégios devem ter cultivado o atletismo entre seus alunos, sem que, porém, se tenha notícia da disputa de qualquer competição.

Sómente a 14 de julho de 1923, teve lugar uma competição que, embora de âmbito interno, teve sua organização e seus resultados tornados públicos. Realizou-a o Petropoltano F. C., no Valparaiso, com obediência parcial das regras oficiais. Foram disputadas provas de corrida e saltos. À guisa de curiosidade, os nomes de alguns dos concurrentes: Jaime Justo da Silva, Alfredo Maurício Kappaum, Tito Livio de Castro, Gabriel Fróes, Armando Vilar, Luiz Segreto.

Longo e tenebroso hiato após a competição de 1923. Somente a 20 de julho de 1930, quando o Petropolitano comemorou o 10º aniversário de sua reorganização, veriamos novamente o atletismo. Tivemos, então, uma competição com obediência das normas internacionais sob a direção do técnico consumado que era o sarg.to Daniel de Araujo Góis, sendo disputadas provas de corridas, saltos e arremessos. Alguns concorrentes: Nelson Loureiro que saltou a distância de 5,90; Nelson Magioto que correu 100 metros rasos em 11s 4/5; Verlande Silveira que pulou a altura de 1,65m, Antolim Soares de Sá, Jarbas Braga, Alexandre Martins, Hamilton Menezes, Oscar Ferreira da Silva.

A oficialização do atletismo teve lugar em 1932, quando pontificava na Associação Petropolitana de Sports a clarividência do presidente Plinio Leite. Duas medidas preliminares tomadas pela A. P. S. deixaram ver a seriedade com que o atletismo estava sendo encarado: a obrigatoriedade de todos os clubes filiados participarem do campeonato atlético e a proibição de quaisquer outras competições nos dias destinados ao atletismo.

O atletismo oficial em Petrópolis tem duas fases distintas: uma de 1932 a 1934, e outra de 1953, aos nossos dias.

Na primeira fase, foram realizados os campeonatos de estreantes, juniores e de qualquer classe relativos aos anos de 1932,1933 e 1934, todos eles ganhos pelo Petropolitano. Foi iniciada, ainda, em 1933, a disputa do campeonato de novíssimos que, interrompido pela chuva, nunca foi concluído.

A segunda fase teve início em 1953 quando foram disputados os campeonatos de principiantes, juniores, qualquer classe e da cidade, todos igualmente vencidos pelo Petropolitano. Em 1954, 1955 e 1956, foram disputados os campeonatos de principiantes, juniores e qualquer classe dos quais se sagrou vencedor, ainda uma vez, o Petropolitano.

O Petropolitano, campeão de todas as competições oficiais até hoje realizadas em Petrópolis, mantém um título que nos parece único no país: heptacampeão da cidade em todas as categorias. E, além disso, invicto.

Petrópolis, nos últimos anos, tem participado, em Niterói, dos campeonatos fluminenses, sem haver, porém, passado do 2º lugar. Possui, porém, inúmeras vitórias individuais e vários recordes fluminenses.

TENIS DE CAMPO

A primeira referência que se encontra ao “lawn-tenis” nos velhos jornais petropolitanos é a contida na notícia de “Gazeta de Petrópolis” de 29 de dezembro de 1896, mencionando a fundação de um clube de tênis no Alexandra-Hotel. Esse hotel, por sinal o estabelecimento da época, funcionava no prédio da rua 7 de Abril onde se acha localizado hoje o Convento de Lourdes. Do tal clube de tênis, não houve, porém, mais notícia.

O tênis começou a ter vida efetiva em nossa cidade a 3 de abril de 1907, quando foi fundado, no então chamado Mato do Palácio, o Tênis Clube de Petrópolis. Ali foi praticado excelente tênis, sendo realizados vários campeonatos individuais, muitas competições interclubes e até um torneio internacional. Os três primeiros campeões individuais da cidade foram cav. Ricardo Borghetti, encarregado dos negócios da Itália, em 1910; Edgard da Silva Ramos em 1911; e Júlio Furquim Werneck, em 1912. A 13 de fevereiro de 1910, registrou-se a visita do Fluminense F. C., do Rio, cujo jogo com o Tênis Clube de Petrópolis foi interrompido pela chuva. O torneio internacional a que nos referimos foi disputado em 17 de abril de 1910, nele tomando parte, além do clube local, as equipes de oficiais dos navios de guerra “North Carolina”, dos Estados Unidos, e “Kaizer Karl VI”, alemão. O “triangular” foi vencido pelos alemães.

O Velo Sport Petropolitano, a 26 de abril de 1908, inaugurou o “lawn-tenis” em sua sede no Morro da Igreja.

Em 1909, o Centro Católico e o Colégio Luzo-Brasileiro começaram a cultivar o tênis. O primeiro, com sua quadra na rua atualmente chamada Barão de Tefé, chegou a promover torneios internos, um dos quais terminou a 30 de janeiro de 1910 com a vitória de Francisco Moreira da Fonseca sobre Oscar Leans, ambos grandes jogadores. No Colegio Luzo-Brasileiro, pontificavam, entre outros, os irmãos Wagner, Walter e José Werneck de Carvalho, Carlos Airosa Ribeiro e Elisabeto Porto Mendes. Este, vinte e três anos após, viria a ser o primeiro campeão individual oficial da cidade de Petrópolis.

A 19 de agosto de 1923, por inspiração do grande Júlio Furquim Werneck, era inaugurada no Valparaíso a primeira quadra do Petropolitano F. C. Realizado o primeiro torneio interno, dele sagrou-se vencedor o dr. Alfred Oleseu que, para nossa alegria, passados 33 anos, ainda frequenta nossas quadras.

Em 1932, o extraordinário presidente Plínio Leite promoveu, por intermédio da Associação Petropolitana de Sports, os primeiros campeonatos individuais da cidade, sagrando-se vencedores: Elisabeto Porto Mendes (Serrano), simples masculino; Elisabeto Porto Mendes e Emanuel Stumpf (Serrano), duplas masculinas; Zette van Erven (Petropolitano), simples feminino.

A 16 de março de 1934, nas quadras da avenida 1º de Março, foi disputado, pela primeira vez em nossa cidade, o Campeonato Fluminense de Tênis. A vencedora foi Barra do Piraí, tendo sido Petrópolis desclassificada sob a alegação de falta de condições legais a um dos seus jogadores.

Os acontecimentos mais marcantes do tênis petropolitano têm sido as disputadas do campeonato fluminense, já que o da cidade, por falta de concorrentes, ainda não poude ser realizado. Começamos mal, como vimos, em 1934. Em 1937, fomos a Friburgo e melhoramos chegando às semifinais, quando perdemos para os campeões que foram os niteroienses. Em 1938, em Niterói, melhoramos ainda mais, classificando-nos vice-campeões, perdedores que fomos de Niterói no jogo final.

O campeonato seguinte foi o de 1940, disputado em Niterói. Fomos os campeões e, dali para cá, não perdemos mais. Ostentamos o título de tetra campeões do Estado, conquistado nos anos de 1940, 1942, 1945 e 1956.

Depois dos campeonatos individuais da cidade realizados em 1932, só voltamos aos jogos oficiais em 1954, quando o Petropolitano ganhou o campeonato de equipes, 2ª classe, e seus representantes Feliciano Peixoto e Kurt Zeidler se sagraram, respetivamente, campeão e vice-campeão individuais da mesma classe

Em 1956, voltaram a ser realizados os campeonatos da 2ª classe e mais o campeonato feminino de equipes. Os vencedores foram: Individual, masculino, simples: Ângelo Novarini; idem, idem duplas: Kurt Zeidler e Feliciano Peixoto; Equipes, masculino: Petropolitano em 1º e Internacional em 2º; Equipes, masculino: Dona Isabel em 1º e Petropolitano em 2º.

BASQUETE

Tentou-se, pela primeira vez, a implantação do basquetebol em Petrópolis no ano de 1923, quando o Petropolitano improvisou uma quadra em sua praça de esportes e iniciou treinos sob a orientação do campeão sul-americano Paulo Monteiro Valente. Mas a tentativa não vingou, embora nela houvessem colaborado, entre outros, Rufino Pizarro e os irmãos Potter, traquejados jogadores do Fluminense, do Rio. Permaneceu, por isto, deserta, durante muitos anos, a quadra construída em 1923 no Valparaíso.

Em 1928, começaram a ser publicadas notícias do basquete que vinha sendo praticado regularmente no 1º Batalhão de Caçadores e no Colégio Silvio Leite e, esporadicamente, no Petropolitano.

A 14 de julho daquele ano, por exemplo, noticiava-se a ida a Niterói do quadro do 1º B. C. para um prélio com seus colegas do 2º B. C. – Os petropolitanos foram os vencedores, sendo o jogo o primeiro de que se tem conhecimento de uma equipe de nossa terra.

A 1º de fevereiro de 1931, o Tênis Clube de Petrópolis que não praticava o basquete, inaugurou uma quadra em sua sede à av. 1º de Março.

Em 1932, já havia na cidade uma apreciável quantidade de conhecedores do basquete, todos egressos do 1º BC e do Colégio Plínio Leite, ex-Sílvio Leite, quando assumiu a presidência da Associação Petropolitana de Sports o dr. Plínio Leite. Ao espírito atilado do novo presidente, não passou desapercebida tal circunstância. E oficializou logo o basquete petropolitano.

Abertas as inscrições para o 1º campeonato, candidataram-se ao título os clubes Internacional, Serrano, Petropolitano, Rio Branco, Itamarati e Cascatinha.

O Torneio Início foi realizado a 12 de abril, à noite, na quadra do Tênis Clube, sob intensa curiosidade da massa popular que superlotou as instalações do clube da av. 1º de Março. O Serrano foi o vencedor, seguido pelo Itamarati.

O primeiro campeonato foi realizado com toda a regularidade e muita animação, dele saindo vencedores o Serrano, campeão e o Internacional, vice-campeão. Uma particularidade dos vencedores: o Serrano era constituído pelos jogadores do primeiro quadro do Colégio Plínio Leite e Internacional pelos do segundo quadro do mesmo colégio.

De 1932 a 1956, a disputa dos campeonatos da cidade não sofreu interrupção alguma, sendo a seguinte a classificação dos clubes disputados: Efetivos: Petropolitano (1938.1939.1943/1945 – 1948/1956) quatorze vezes; Serrano (1932-1935-1941), três vezes; Quissamã (1936.1937.1942) três vezes; Magnólia (1946.1947), duas vezes; Internacional (1933) uma vez; Cascatinha (1934), uma vez; e Liceu (1940), uma vez. Reservas: Petropolitano (1934.1949.1950.1952.1953.1956), seis vezes; Serrano (1954.1955), duas vezes; Cascatinha (1935), uma vez; Cruzeiro do Sul (1951), uma vez. Juvenis: Petropolitano (1947), uma vez. Lance Livre: Petropolitano (1947.1949/1952.1955.1956), sete vezes; Serrano (1953.1954), duas vezes; Luzeiro (1946), uma vez.

Embora sem haver alcançado o nível técnico desejável, o basquete petropolitano, é evidente, tem progredido. A falta de um ginásio, necessidade imprescindível em cidade fria e chuvosa como a nossa, tem sido o principal óbice à maior difusão e popularidade do basquete em Petrópolis. Mas, vencendo todos os empecilhos e incompreensões, a verdade é que caminhamos para a frente!

Ressalte-se, num preito de justiça, os esforços do Petropolitano F. C. em tal sentido. Até junto aos demais clubes da cidade tem agido para a continuidade do nosso basquete. Aliás, o destino lhe tem sido dadivoso, porquanto ostenta ele, entre outros, um título que nos parece inédito – Brasil: eneacampeão da cidade!

VOLIBOL

Em 1923, quando a peteca era a “coqueluche” do Petropolitano, F. C., recebeu este clube, da Associação Cristã de Moços, do Rio de Janeiro, as regras do volibol, esporte, praticamente, desconhecido no Brasil e que aquela associação procurava difundir. Foram, então aproveitados quadra, rede e os próprios praticantes da peteca para a iniciação do volibol no Valparaíso. O novo esporte absorveu logo a peteca e era de ver-se o entusiamo com que moços e moças se empregavam nos treinos e desafios constantes dos diversos grupos de noviços.

Em meado daquele ano, a Associação Cristã de Moços quis ver o progresso dos petropolitanos e, para tal, mandou-nos, nada mais nem menos, do que a sua categorizada equipe principal. Os cariocas, constituindo a fina flor dos voleibolistas brasileiros da época, chegaram à nossa cidade a 19 de agosto de 1923. O jogo estava marcado para a tarde daquele dia, na quadra do Valparaíso, carinhosamente preparada pelo dr. A. B. Cavalcanti para tal fim. Chega a hora do encontro e o corpo social do Petropolitano lota as dependências da quadra, ávido de conhecer o volibol e, principalmente, os grandes jogadores cariocas. De um lado, estão, calmos e serenos, os mestres, os introdutores do novo esporte no país; no outro, se acham, nervosos, vibrantes, os discípulos que iam fazer a estréia. Espectativa. Começa o jogo e os mestres ganham vantagem. Os discípulos, porém, se concentram e melhoram. Milton Sá Pereira, o craque do futebol, comanda as ações dos petropolitanos para cuja energia apela. E os novatos atendem: correm, pulam e arremessaram com perícia inimaginável. Surpresa dos mestres. Mas novo apelo é feito por Milton Sá Pereira e os nossos redobram de energia, atacando, então, furiosamente. O adversário, surpreendido, titubeia, cede e, por fim, cai. Era a vitória dos nossos que, em cinco setes, haviam ganho quatro. Estava inaugurado o volibol em Petrópolis.

De 1924 a 1931, só se tem conhecimento da realização em nossa cidade dos seguintes jogos de volibol:

1º) Em 9.4.1925, no Valparaíso – Petropolitano, 3 x Tênis Clube de Petrópolis, 1.

2º) Em 16.4.1925, no Valparaíso – Petropolitano, 3 x Tênis Clube de Petrópolis, 1.

3º) Em 21.4.1929, no Valparaíso – Oficiais do 1º B. C. x Moças do Petropolitano (demonstração)

4º – Em 1929, no Colégio Plínio Leite – Petropolitano, 2 x Colégio Plínio Leite, 0 (Equipes femininas)

Em 1932, entretanto, como aconteceu também com o basquete, foi oficializado o volibol pela Associação Petropolitana de Sports, presidida por Plínio Leite.

Os seis clubes inscritos no campeonato disputaram a 19 de abril daquele ano, na quadra do Tênis Clube, à av. 1º de Março, o primeiro Torneio Início de volibol. Serrano em primeiro e Internacional em segundo, foram os vencedores.

O primeiro campeonato da cidade disputado pelos clubes Serrano, Internacional, Petropolitano, Rio Branco, Cascatinha e Itamarati terminou empatado com Internacional e Petropolitano com igual número de pontos. Na melhor de três decisiva, o Internacional levou vantagem por 2×1, sagrando-se campeão.

A classificação dos clubes, nos oito anos em que os campeonatos tem sido realizados, é a seguinte: Efetivos, masculino: Petropolitano (1940. 1946. 1953. 1955) quatro vezes; Fidalgos da Cesta (1937/1939), três vezes; Internacional (1932. 1933), duas vezes; e Serrano (1954) uma vez – Reservas, masculino: Petropolitano (1954) e Serrano (1955) uma vez cada um – Feminino: Cruzeiro do Sul (1953) e Petropolitano (1954) uma vez cada um.

Na disputa do campeonato fluminense, Petrópolis logrou a vitoria em 1934, o primeiro realizado, e daí para cá nada mais conseguiu.

TÊNIS DE MESA

A apresentação do tênis de mesa nos moldes oficiais teve lugar, em nossa cidade, com o torneio interclubes, promovido pelo Sport Clube Rio Branco, em sua sede, a 1º de maio de 1944.

Antes, só conhecêramos o ping-pong jogado livremente em nossos clubes desde tempos imemoriais.

Mas o Rio Branco não limitou sua ação em prol do tênis de mesa à realização daquele torneio. Dez dias após, ou seja, precisamente, a 10 de maio de 1944, realizava ele, em sua sede, uma reunião dos clubes da cidade, a fim de ser estudada a possibilidade da fundação de uma entidade que controlasse o novo esporte, ou a criação, na Liga Petropolitana de Desportos, de um departamento especializado. Dessa reunião e de outra que teve lugar a 18 do mesmo mes na sede do Sindicato dos Empregados no Comércio, resultou a deliberação de promover-se o 1º Campeonato Petropolitano de Tênis de Mesa sob a direção de uma comissão especial indicada pelos clubes interessados.

E assim foi feito, inscrevendo-se para a disputa do certame os clubes: Serrano, Petropolitano, Sindicato dos Empregados no Comércio, Diamante, Internacional, Cruzeiro do Sul e Coral Concórdia.

O Torneio Início, realizado a 21 de junho no salão do Coral Concórdia, teve como vencedores o Sindicato e Serrano, respetivamente, em 1º e 2º lugares. Os campeonatos, disputados por equipes de 1ª e 2ª categorias, foram iniciados a 23 de junho, terminando, o da 1ª categoria, a 24 de novembro, com a vitória do Serrano, seguido pelo Sindicato; e o da 2ª categoria, a 18 de dezembro, tendo como vencedor o Sindicato, seguido pelo Diamante.

No ano seguinte, o Tênis de Mesa foi oficializado pela Liga Petropolitana de Desportos, não tendo sido, porém, realizado o campeonato.

De 1946 para cá, os campeonatos foram realizados sem interupção, sendo os seguintes, os resultados conseguidos pelos clubes até 1955, já que os do ano findo ainda não estão decididos: 1ª categoria, equipes masculinas: Serrano (1944. 1950. 1951. 1953. 1955) cinco vezes campeão; Petropolitano (1946/1948), tres vezes; Sindicato (1949), Magnólia (1952) e Luzeiro (1954) uma vez cada um – 2ª categoria, equipes masculinas: Serrano (1950/1952.1954) quatro vezes campeão; Petropolitano (1946.1947.1953) e Sindicato (1944. 1948. 1949) tres vezes cada um; Luzeiro (1955) uma vez – 3ª categoria, equipes masculinas: Luzeiro (1953.1955) duas vezes campeão; Palmeira (1951), Magnólia (1952) e Serrano (1954) uma vez cada um.

Os campeões individuais da cidade têm sido os seguintes: Henrique Kreischer (Quico) em 1946 e 1950; José Angelo em 1947; Adalmir Morais (Daime) em 1949; Canalli, em 1951; Felipo Gelli, em 1952; Adão Teixeira, em 1954; e Durval Garcia, em 1955.

CONCURSOS

A consulta à opinião pública através de concursos promovidos pela imprensa é velho e arraigado hábito nosso. Tal prática foi inaugurada em 1915, quando “O Tempo” quis apurar qual o clube que possuía melhores elementos e o povo opinou em favor do Esporte Clube de Petrópolis com 919 votos.

Em 1919, foi o “Diário da Tarde” que desejou saber qual o clube mais simpático e o Esporte Clube Internacional foi o vencedor do pleito com 3110 votos.

A seguir foi “O Século” que, em 1920, auscultou a opinião de seus leitores indagando quais o melhor clube e o melhor futebolista, sendo indicados, respetivamente, o Internacional e seu defensor Francisco Garzinho.

Ainda em 1920, “Tribuna de Petrópolis” promoveu a eleição das mais formosas torcedoras de clubes, sendo escolhida a representante do Serrano sta Henedida de Abreu com 8469 votos, seguida pelas stas. Amanda Passaglia, do Tiro de Guerra nº 12, com 5403 votos, e Alzira Catacini, do Internacional, com 4806 votos

“Jornal de Petrópolis”, em 1925, indagou qual o mais simpático clube e o indicado foi o Serrano.

Em 1927, foi, novamente, “Jornal de Petrópolis” que promoveu a eleição da “Rainha dos Esportes”, recaindo a escolha na sta. Iolanda Dangelo, do Petropolitano.

Aldemar de Oliveira (Nena), do Serrano, foi o escolhido em 1928 como melhor “player” em concurso promovido por “Tribuna de Petrópolis”.

“Tribuna de Petrópolis” voltou a consultar a opinião pública em 1932 para saber qual o mais perfeito esportista, sendo escolhido Ferro, do Cascatinha.

O Serrano, em movimento do concurso promovido novamente por “Tribuna de Petrópolis” em 1945, foi eleito com 15054 votos “o clube mais querido da cidade”, seguido pelo Petropolitano com 14060 votos.

Foi “Jornal de Petrópolis” que, em 1947, promoveu a eleição da nova “Rainha dos Esportes”, sendo vencedora do pleito a sta. Nair Volpato, representante do Serrano

Ainda em 1947, quis saber “Tribuna de Petrópolis” qual o mais eficiente jogador de futebol de 1946, e o eleito foi Domingos Vieira Muniz, do Petropolitano.

Analise-se a tendência popular manifestada nos onze concursos realizados e ter-se-á o Serrano como campeão da popularidade com cinco resultados favoráveis e o Internacional e Petropolitano, como vice-campeões.

Alegar-se-á que nem sempre os resultados dos concursos expressam a real opinião pública. No nosso caso, porém, há de se convir que a primazia do Serrano foi realmente justa, porque se trata, na verdade, do clube mais popular da cidade em todos os tempos.

HINOS E MARCHAS

Quase todos os clubes possuem hinos e marchas próprios, adotados, em geral, em momentos de entusiasmo, mas que, passados estes, são logo esquecidos e, na primeira oportunidade, substituídos por outros suspeitos a igual sorte. Quantos torcedores de clubes lembrar-se-ão hoje, por exemplo, de alguns destes hinos e marchas por nós arrolados? Eil-os:

Do Serrano

– Canção dedicada ao Serrano, tricampeão petropolitano – Para ser cantada com a música da Canção do Soldado (1920)

– Ao tricampeão azul e branco – Para ser cantado pelos “torcidas” do glorioso Serrano F. C. com música do “rag-time” Sul Americano (1920)

– Hino Serranista, da lavra de Rodolfo Alberto Pires (1930)

– Marcha do Campeão de 1918 – Newton Karl

Do Internacional

– Marcha Carijó, de Milton Amaral (1945)

– Nós, os Carijós, marcha de Oswaldo Miranda e Oswaldo Soares (1942)

Do Itamaratí-Electro F. C.

– Hino do Itamaratí-Electro F. C. (1933)

Do Petropolitano

– Hino do Petropolitano F. C. – Letra de Manuel Bastos Tigre e música de Ivone Geslin de Faria (1921)

– Marcha Carnavalesca do Petropolitano F. C., letra de G. Vasques com música de “Tem Gato na Tuba”

Não têm faltado ao esporte petropolitano as publicações especializadas.

A primeira delas foi “Jornal Esportivo” de Mário G. Coelho e Manuel Gomes Moreira aparecido a 8 de janeiro de 1916 e que durou seis meses.

A 30 de novembro de 1918, Euclides Raeder editou “O Sport”, jornalzinho que deveria sair todas as semanas, mas que apareceu menos de meia duzia de vezes.

Tivemos a seguir “É o Suco …” revista que, embora se declarasse humorística, esportiva, mundana e literária, cuidava, principalemnte, do esporte. O número um saiu a 9 de março de 1919.

A 27 de março de 1920 foi publicada “A Pelota”, jornalzinho que acreditamos não ter passado do primeiro número.

Otávio Venâncio da Silva e Mário Martins puseram na rua a 17 de junho de 1922 “Sport-Jornal” que durou quase um ano.

“Vida Sportiva” foi o jornal que Henrique Paixão J.or, Antônio d’Almeida Azevedo, Mario Caldeira Roque e Raul Gomes Coelho (a fina flor dos cronistas esportivos da época) editaram a 5 de junho de 1926.

A tentativa seguinte coube a Manuel de Souza Matos que, a 25 de julho de 1927 publicou “Segunda-Feira” que não foi além de vinte e oito semanas.

Os irmãos Mario e Arlindo Caldeira Roque, associados a Nestor Pimentel, deram a lume em 2 de julho de 1934 a “A Semana”, cuja trajetória foi curta.

A 17 de novembro de 1934, apareceu “Petrópolis Sportivo” de A. Brasil, Ernani Lessa, H. Schlick e R. Schmidt, cuja vida tambem deve ter sido muito curta.

A Associação Petropolitana de Planadores Aéreos publicou em 1937 “Boletim do Ar”, seu órgão oficial.

Foi a 31 de maio de 1943 que “Jornal de Petrópolis” iniciou seu “Suplemento Esportivo” editado às 2.as feiras sob a direção de Cesar Borralho e Luiz Faleiro de Castro. Durou dois anos.

“Boletim Alvi-Negro”, publicação de interesse do corpo social do Petropolitano, apareceu em julho de 1943 sob a direção de Hamilton Menezes, Arlindo Scudesi, Oscar Ferreira da Silva e Arlindo Teixeira de Abreu, desaparecendo em 1952.

Rodolfo Alberto Pires, Atílio Marotti, Walter Nicodemus e Isaias Sá Ramos iniciaram a 22 de setembro de 1947 a publicação de “Vida Esportiva” que durou dois meses.

No fastígio de Quitandinha, a 1º de abril de 1948, apareceu “Atlético Clube Quitandinha”.

A 30 de dezembro de 1949, com a realização da corrida inaugural do Jóquei Clube de Petrópolis, apareceu “Turf Serrano” sob a direção de Luiz M. Cavalcanti.

“Fôlha Esportiva”, sob a direção de Edgardo Fausto da Silva e Darci Paim de Carvalho, apareceu a 5 de junho de 1950.

Quando da realização em nossa cidade do Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa, em 1950, Darci Paim de Carvalho editou, a 22 de agosto, “Revista do Tênis de Mesa” que se limitou a um único número.

Suspensa a publicação de “Turf Serrano”, apareceu, em substituição, a 18 de janeiro de 1951, “Turf Petropolitano”.

Em maio de 1951, o S. C. Internacional editou seu “Boletim Informativo”.

E, finalmente, a 1º de março, começou a circular “Tribuna Esportiva” sob a direção de Darci Paim de Carvalho, encerrando nossa relação.

Está terminada, amigos, a parte formal, a parte séria – podemos assim dizer – da nossa despretenciosa palestra. Mas o esporte, a par de muita emoção, é tambem fonte permanente de bom humor. É natural, portanto, que seus episódios jocosos, as anedotas e as curiosidades sejam aqui relembrados. E que com eles terminemos nosso trabalho que, de resto, já deve estar esgotando vossa paciência

CURIOSIDADES

A história dos patos do Capitão Castro é a mais conhecida de todas do esporte petropolitano, mas nem por isto deve ser aqui omitida.

Aí por volta de 1915 a 1918, o Serrano, recém-fundado, realizava constantes excursões, quando sua equipe se fazia acompanhar, então, de grande caravana de torcedores.

Mas, coincidindo com essas excursões registrava-se sempre o desaparecimento de alguns espécimes dos belíssimos patos da criação do Capitão Castro, os quais, em bando, vinham até ao açude da Renânia, todas as tardes, dar ao local um aspeto realmente bonito e original.

À argúcia do Capitão Castro, não passou desapercebida tal coincidência, de maneira que, mal lia nos jornais qualquer notícia de excursão do Serrano, trancafiava ele seus queridos patos em lugar seguro.

E era de ver-se, então, a tristeza do torcedor, às margens do açude, na véspera da excursão …

A 15 de julho de 1919, o Serrano foi ao Itamarati disputar o jogo do campeonato de futebol da cidade com o clube local. Mais forte do que o adversário, passou o Serrano, logo de início, a dominar o jogo e já ganhava de 2×0, quando seu “center-forward” Guido Marchiori, apossando-se da bola em boa situação, investiu célere contra o “goal” do adversário e, no momento exato em que chutava para marcar, pôs as duas mãos no rosto e sentou-se, a seguir, no chão, como que atordoado. Houve o corre-corre próprio de tais ocasiões e, logo após, o fato era explicado: um torcedor, desesperado com o espectro da derrota e tentando evitar a dilatação do escore, com estranha pontaria acertara a cara do Guido com uma pedrada desferida do seu posto atrás do “goal” …

Em agosto de 1950, assistiram os petropolitanos a um jogo absolutamente original: uma partida de futebol em que os contendores, ao invés dos clássicos calção e camisa, envergavam batinas, umas brancas e outras pretas. Eram seminaristas em vilegiatura no Colégio S. Vicente que decidiam no campo do Valparaiso uma antiga quizília.

Nada faltou, disse o cronista de “Jornal do Povo”, para que a disputa tivesse o colorido dos mais bonitos jogos. As batinas não constituíram obstáculo às escapadas, aos dribles e aos chutes mais poderosos.

Até um “goal” feito na “banheira” provocou do zagueiro vencido a exclamação de que o Juiz (um circunspeto sacerdote de óculos e chapéu) estava dormindo …

Outro jogo fora do comum foi o disputado a 3 de novembro de 1940 no campo da Terra Santa entre futebolista do sexo dito fraco. Naquele dia, o Serrano organizou um festival cujo jogo principal foi o encontro das equipes femininas do Brasil Novo e Independente, ambos do Rio. O campo se encheu e o jogo das moças não decepcionou, sendo que uma delas, Margarida Soares, do Independente, chegou até a provocar entusiamo pelas suas “formidáveis escapadas e correção nas fintas e arremates”, segundo o noticiarista de Tribuna de Petrópolis. O empate de 2 goals fez justiça ao esforço dos dois quadros. Registre-se, ainda com respeito à jogadora Margarida, que, na partida preliminar disputado entre os marmanjos do Serrano e do América, ela, Margarida, empunhou o apito em substituição ao juiz que se indispusera com as equipes e levou o jogo a termo sem qualquer nova reclamação …

Quando o Petropolitano começou a disputar em 1921 os campeonatos oficiais, de futebol, a constituição de suas equipes secundárias era coisa engraçadíssima. Sem campo e com poucos atletas, os quadros eram formados a “le-diable”, pescando-se jogadores à hora dos jogos. Lembro-me bem de um desses, vitima constante que era de tal pescaria: o pintor Bertoni. Ele comparecia ao clube para jogar o seu “pocker”, mas na hora do futebol era arrancado à força da mesa para completar a equipe. O simpático Bertoni, conformado, uniformizava-se, montava seu cavalo que permanecia amarrado à beira do rio e seguia fagueiro para o Alto da Serra. Lá chegado, o nosso herói subia uma elevação que havia logo após o campo do Internacional e nela amarrava o rocinante.

Comecado o jogo, percebia-se, então, o motivo porque o Bertoni amarrava o cavalo naquela elevação: é que, enquanto castigava a pelota em jogo, o futebolista vigiava o animal …

O jogo do campeonato petropolitano de futebol de 1919 realizado a 19 de outubro entre o Pau Grande A. C. e o Estrêla F C., na Raiz da Serra, passou, indiscutivelmente, à história. Ainda há pouco, mereceu ele a honra de uma referência de Henrique Pongetti em sua crônica diária de “O Globo”.

Registre-se que Pongetti foi testemunha ocular dos acontecimentos. Relembremos, no entanto, para a nova geração, o que, então, ocorreu. O Estrêla F C. era um pequenino grêmio do bairro do Retiro para o qual entraram em 1919, já em meio do campeonato, alguns dos melhores jogadores da cidade, tais como Mario Lobo de Morais, Milton Sá Pereira, Silvio Magalhães Figueira, Pedro de Castro e outros. Sem embargo de tão grande reforço, ninguém, porém, fazia fé no pobre Estrêla. Chegou o dia 19 de outubro e com ele o jogo Pau Grande x Estrêla. O primeiro cheio de craques e invencível em seu campo; o segundo pequenino, modesto e desacreditado.

Com o campo completamente cheio, como sempre acontecia naquela época, foi iniciado o jogo, versão moderna da luta Davi x Golias. Mas, coisa estranha, o Estrêla, longe de se intimidar ante o adversário, jogava desassombrosamente, com a atuação primorosa de todo o quadro. De repente, goal do Estrêla – o que estarrece os locais.

Era realmente, muita audácia clube de fora abrir escore no Pau Grande! … Que se aguardasse, no entanto, a reação. Mas esta não veio nunca e com o Estrêla jogando cada vez melhor, terminou a partida com a vitória dos serranos pelo escore mínimo.

Foi em meio do segundo tempo do jogo que os visitantes, de dentro do campo, começaram a ouvir estranha sinfonia de bambus quebrados nas touceiras circundantes, aparecendo, então, os torcedores munidos de ameaçadoras varas. Com a terminação do jogo, veio a explicação do fato: enquanto os jogadores do Estrêla se congratulavam, uns com os outros, o Juiz da partida, o saudoso Júlio Ernesto da Silva, que não era bobo nem nada, tratou de sair do campo em desabalada carreira, pulou, sem nela roçar, uma cerca de arame com mais de metro e meio de altura, para se embrenhar na mata próxima perseguido pelos torcedores empunhando as varas de bambu. Estarrecidos ante o que acontecia com o Juiz, os jogadores nem se aperceberam de que o campo fora invadido e que as “homenagens” com varas de bambu chegariam até eles. E nós, de cadeira, podemos afirmar que ditas homenagens foram de todo carinhosas, porque guardamos nas costas, por muito tempo, um largo vergão, como lembrança.

A noite já ia alta, quando os petropolitanos, protegidos por dirigentes da fábrica local, puderam seguir para Raiz da Serra em busca do trem de Petropólis.

Quanto ao Júlio Ernesto, o popular Perereca, nunca conseguimos saber como se desvencilhou de seus perseguidores e poude voltar a Petrópolis. Temos a certeza, porém, que, naquele dia, foram batidos no Pau Grande, dois recordes mundiais: um no salto em altura (sobre a cerca de arame) e outra na corrida de velocidade (rumo à mata) …

Já vimos que duas equipes femininas de futebol se exibiram em 1940, ocasião em que uma delas arbitrou com êxito uma partida de marmanjos. No entanto, poucos saberão de outra vitória feminina no esporte petropolitano: a 28 de janeiro de 1926, tomou parte na reunião do Conselho Diretor da Liga Petropolitana de Sports, como representante do Cruzeiro do Sul F. C., a sta. Isaura Faleiro, fato que a imprensa local, na época, declarou inédito no país.

Uma vez mais, o Brasil se curvara ante Petrópolis …

Em 1895, uma competição sacudiu os nervos do pacato petropolitano: a do cavalo contra a bicicleta. Daniel Egalon, cidadão francês domiciliado em nossa cidade e exímio ciclista, desafiou o seu compatriota Laborde, ás do hipismo, para uma corrida na Wesphalia, no trecho compreendido entre a rua 13 de Maio e o Retiro, ida e volta, montando aquele a bicicleta e este o cavalo. Duas vezes foi a prova disputada, sendo uma a 17 de março, quando o cavalo venceu por mais de 200 metros de vantagem; e outra, uma semana após, registrando-se a forra da bicicleta com um metro apenas de diferença.

Quando, em 1911, o Petropolitano ocupou o campo da Terra Santa, o terreno, todo aberto e constituindo um extenso pasto, era o recreio predileto dos muares, cavalares, caprinos e lanígeros da redondeza. Tanto que, muitas vezes, para realizar jogos ou treinos, era preciso enxotar os animais para longe.

Pois foi um desses pacíficos animais o causador involuntário da primeira crise verificada no quadro principal do recém-fundado Petropolitano. O caso foi o seguinte: organizadas as equipes, Luiz Quirino Magalhães Gomes, embora fosse também um bom dianteiro, ganhou a posição de arqueiro efetivo do quadro principal, mercê de grandes atuações nos primeiros treinos e jogos. Era o dono inconteste da posição.

Mas – azar do Quirino – veio um jogo, não nos recordamos de qual tenha sido ele, em que o Petropolitano dominava inteiramente seu adversário. Havia, como hoje se diz, meio campo para alugar …

E o Luiz Quirino que estava roxo para exibir suas qualidades, não havia meio de ver bola!

Mas, afinal, aconteceu o inesperado: um jogador do quadro adversário apanhou, sozinho, a pelota, atirou-a bem à frente, correu velozmente sobre o goal do Petropolitano e chutando para marcar o ponto, foi surpreendido, como toda a assistência, com o quadro que a meta apresentava: um burro se achava sob os paus e nele montado o arqueiro do Petropolitano.

Não conhecemos os detalhes do caso, mas podemos esclarecer que, no domingo seguinte, quando o Petropolitano enfrentou o Sport Club Americano, o arqueiro era outro: estreava Belfort Vieira …

Agora, vamos terminar de verdade. O nosso desejo muito sincero era aqui falar hoje pouco e bem. Bem, já sabiamos impossivel; mas pouco, estava na nossa vontade e não conseguimos.

Falamos, parece, que demais.

Pedimos, pois, o vosso perdão. Os fatos ora narrados são quase todos do tempo da nossa mocidade e sua recordação nos encheu de saudade, pertubando-nos.

Perdão, mil perdões, portanto. Mas, como dizia, há dias, Carlos Rizzini, quem não tem saudade da sua mocidade?