UMA FÁBULA: DEU NO QUE DEU
Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira
Após consulta com o cardiologista, o veredito:
– Pressão arterial altíssima; o senhor terá que controlar a pressão, o colesterol e o sangue pelo resto da vida. Por enquanto, até mais ver, um controle medicamentoso com três remédios diários: um pela manhã, o outro com o almoço e o terceiro na hora de dormir.
Pedi à minha mulher para comprar os três remédios.
– Qual a farmácia? – perguntou.
– Qualquer uma de sua escolha nas mais de três dezenas espalhadas ao longo da Rua do Imperador e outras tantas em todo o Município – respondi.
Ela foi e cumpriu bem a missão. Entregou-me as três caixinhas, recomendando (será que todas as esposas recomendam tanto?):
– Leia atentamente as bulas que eu vou controlar as dosagens e os horários.
– Ora, você sabe que estou quase nos oitenta anos, enxergo muito menos, não consigo ler as letrinhas miúdas desse verdadeiro testamento – disse.
– Está certo e também não adianta ler aquele palavrório todo; não se entende bulufas de pitibiriba ! – complementou.
– E a notinha da farmácia? Perguntei.
– Na bolsa; pode pegar.
– Cai dentro da bolsa em meio a um desorganizado mundaréu de tudo, conseguindo achar a nota fiscal. Não consegui gritar.
Gelei, suei, fui invadido por dores suspeitíssimas e desmaiei.
Em uma maca do pronto-socorro, acordando, ouvi ao longe uma voz masculina:
– Eu recomendei à senhora não mostrar a ele as notinhas das farmácias. Embora os remédios sejam eficazes e salvem os pacientes, os preços matam. Deu no que deu!
Moral da História: com a mesma medicação os cientistas salvam e os laboratórios e farmacêuticos matam!