A presença dos primeiros VOGEL no Brasil aconteceu entre 1822 e 1831, quando ocorreu a contratação de militares estrangeiros, principalmente os do povo germânico, para a formação do Exército Imperial. Entre os militares germânicos vieram: Philipp, Ernst e Heinrich Vogel. Os 3 eram soldados, sendo que o último também tinha a função de corneteiro, e faziam parte do 2º Batalhão de Granadeiros.

Podemos assinalar que muitos do apelido VOGEL, além dos colonos contratados para Petrópolis – RJ, vieram em várias épocas para as colônias do Rio Grande do Sul – RS, Santa Catarina – SC e Minas Gerais – MG.

Das 456 famílias germânicas colonizadoras da Imperial Fazenda / Colônia que chegaram à Petrópolis a partir de 29 de junho de 1845, havia duas de apelido Vogel: as dos colonos Christian e Anton VOGEL. Além destas, outros com suas famílias chegaram mais tarde. Eram colonos e descendentes de colonos de outras colônias, como Augusto Vogel de Blumenau – SC e Jonas Adalberto Vogel de Teófilo Otoni – MG.

Para relembrarem os tempos passados e homenagearem os nossos colonizadores, algumas famílias descendentes destes pioneiros, costumam, com o apoio do Clube 29 de Junho (de Tradições Germânicas), reunirem-se em grandes confraternizações. Desta vez serão os VOGEL, que no dia 5 do corrente mês, estarão celebrando este evento no adro da Capela de Nossa Sra. Auxiliadora, no Quarteirão Darmstadt. Quando, também, várias famílias VOGEL de outros estados brasileiros se farão presentes para prestigiarem e participarem desta grande reunião familiar. Lá, talvez, estarão alguns reencontrando-se e outros vendo-se e cumprimentando-se pela primeira vez.

A seguir, teremos dados históricos, genealógicos, depoimentos e informações diversas da família VOGEL.

Primeiro teremos como assunto o colono Christian Vogel, cuja família temos pouquíssimas notícias.

Através de um documento do Arquivo da Imperial Fazenda de Petrópolis, temos o seguinte: em 1847, Anne Marie, esposa de Christian, aparece como responsável por ela e mais 4 pessoas (sem informações do grau de parentesco), recebendo a gratificação Imperial de 25$000 (vinte e cinco mil réis). Em outro documento, sendo este do Arquivo da Cia. Imobiliária de Petrópolis, consta que foi designado para o colono Christian Vogel o prazo de terras n.º 3645, registro n.º 1108 – 4ª classe com a superfície de 10199 braças quadradas e 3 décimos, conforme consta no termo de medição e demarcação n.º 2002, localizado no Quarteirão Woerstadt com testada para os Rios Piabanha e Meyer (atualmente na Rua Luiz Winter) – com foro anual pago em 01/01/1854, sendo a escritura de aforamento em 10/10/1859.

Vale ressaltar que na escritura acima mencionada não há assinatura do dito colono, nem da esposa ou de herdeiros e, por abandono do prazo de terras, o mesmo ficou em comisso, retomando a sua posse a Imperial Fazenda de Petrópolis.

Do colono Christian Vogel e sua família não temos mais notícias após 1859 e nem conhecimento do grau de parentesco com o colono Anton Vogel, pois dos mesmos não há registros nos livros eclesiásticos ou em qualquer outro documento. Provavelmente saíram da colônia e foram para local ignorado.

A seguir temos a descrição do colono ANTON VOGEL e sua família, desde a chegada ao Brasil e à Imperial Colônia de Petrópolis.

Anton Vogel, a esposa e 4 filhos desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro em 16/10/1845, vindos da Aldeia de Lingerbahn – Bispado de Trier – Região do Hunsrück – Alemanha para Dunquerque na França e deste país, embarcaram no “Brigue Dinamarquês PAMPAS” para o Brasil.

Em 23/10/1845, Anton e sua família estavam na Imperial Cidade de Niterói, no prédio provincial (que servia de depósito dos colonos), quando entre outros colonos, submeteu-se à interrogatórios por parte do Delegado de Polícia, para saber se havia pago alguma quantia em Dunquerque (França) na ocasião de seu embarque para o Brasil. Respondeu ter pago por si, sua mulher e seus filhos a quantia de 345 francos.

Vale ressaltar que os colonos passageiros do “Brigue Pampas”, como os das outras embarcações, foram orientados pelos seus capitães e tripulantes a, quando chegassem ao Brasil, queixarem-se do valor abusivo como o acima mencionado e cobrado indevidamente pela Casa Charles Delrue e Cia. De Dunquerque, pois o governo brasileiro já havia feito um contrato de pagamento com o dito acima. O trato com os colonos era de que reembolsariam o governo brasileiro destas despesas de viagem com o seu trabalho na Imperial Colônia de Petrópolis. Em resumo, foi uma verdadeira extorsão aos pobres e sofridos imigrantes.

Antes dos colonos chegarem à Petrópolis, geralmente ficavam albergados nos improvisados alojamentos da Fábrica de Pólvora da Estrela, aguardando as vagas nos ranchos da Imperial Colônia. Porém o calor e o desconforto do lugar, associados à alimentação estranha para os seus hábitos, deixavam principalmente as crianças vulneráveis às doenças e consequentemente ocorriam muitos óbitos.

Segundo um assentamento no livro de óbitos n.º 22 – página 183 (pessoas livres) da Igreja de Nossa Sra. da Piedade de Inhomirim, consta que um inocente, filho de Anton Vogel, faleceu e foi sepultado em 20/11/1845, dando conta que o corpo desta criança foi transportado da Fábrica de Pólvora da Estrela para o cemitério desta Freguesia – registrado e assinado pelo Padre Antônio de Oliveira.

Após a cansativa viagem da Alemanha / Dunquerque, dos alojamentos de Niterói e o da Fábrica de Pólvora da Estrela, finalmente Anton Vogel e sua família chegaram à Petrópolis e mais uma vez antes de tomarem posse de suas terras, foram alojados num barracão (onde hoje está edificado o Convento de Lourdes à atual Rua 7 de Abril), enquanto era medido e demarcado o seu prazo de terras. Em seguida foi lhe dado em aforamento o prazo n.º 3805, registro n.º 945 c/ 9325 braças quadradas (equivalente à 45.133 metros quadrados) de superfície, com testada para o Rio Avê Lallemant e o Caminho Colonial – localizado no Quarteirão Darmstadt.

O colono Anton Vogel, faleceu em 1877. Mais tarde, em 29/04/1881, seus herdeiros venderam as terras para a família Trojack. A seguir, com vários lotes desmembrados, estes venderam para os descendentes do colono Loos. Hoje no local estão construídos os prédios de números 598 à 648 da Rua Dr. Paulo Hervê.

A seguir temos uma breve descrição genealógica do colono Anton Vogel e de seus filhos.

Anton Vogel, nasceu em Lingerbahn – Bispado de Trier – Alemanha, em 1800 e faleceu em Petrópolis em 25/10/1877. Casou por volta de 1828, na Alemanha, com Gertrud Strieder, que nasceu na Alemanha em 1806 e faleceu em Petrópolis em 04/08/1870.

Pais de:

I-1. Anton Vogel (o 2º), nasceu em Lingerbahn em 1829 e faleceu em Petrópolis em 24/12/1889. Casou em Petrópolis em 05/09/1855 com Catharine Kneipp, que nasceu na Alemanha em 1840 e faleceu em Petrópolis em 27/08/1909, filha do colono Anton Kneipp e de Catharine Vogt – foram pais de 9 filhos.

I-2. Peter Vogel, nasceu em Lingerbahn em 1837 e faleceu em Petrópolis em 1898. Casou em Petrópolis em 21/05/1865 com Marie Anne Windhauser, que nasceu em Petrópolis em 1847 e faleceu em Petrópolis em 09/03/1925, filha de Philipp Windhauser e de Barbara Hammes – foram pais de 13 filhos.

I-3. Franz Vogel, nasceu em Lingerbahn em 1841 e faleceu em Petrópolis em 11/10/1901. Casou em Petrópolis a 1ª vez em 05/02/1865 com Anne Marie Jost, que nasceu em Ober-Ingelheim – Darmstadt – Alemanha em 1844 e faleceu em ?, filha do colono Georg Jost e Eva Judith (Jost). Franz Vogel, casou em Petrópolis a 2ª vez em 20/03/1884 com Rosa Victorina da Silva Bello, que nasceu na Freguesia do Topo – Ilha de São Jorge – Açores – Portugal em 1854 e faleceu em ?, filha de Ambrósio Nunes Bello e de Anna Victorina da Silva. Consta que do 1º casamento tiveram 15 filhos.

I-4. (Criança) Vogel, nasceu em Lingerbahn em ? e faleceu em 20/11/1845 no alojamento da Fábrica de Pólvora da Estrela e foi sepultado no Cemitério de Inhomirim.

I-5. Gertrud Vogel, nasceu em Petrópolis em 1846 e faleceu em?. Casou em Petrópolis em 09/06/1868 com Antônio Carneiro Barbosa, que nasceu em Águas Santas – Porto – Portugal em 1844 e faleceu em ?, filho de Manuel José Carneiro Barbosa e de Anna Moreira – foram pais de 1 filho.

I-6. Johann Mathias Vogel, nasceu em Petrópolis em 17/04/1848 e faleceu em Três Rios – RJ em 1935. Casou em Petrópolis em 05/11/1870 com Margarida Blaeser, que nasceu em Petrópolis em 27/02/1849 e faleceu em Três Rios – RJ em 1918, filha do colono Heinrich Blaeser e de Marie Josepha Morsch – foram pais de 10 filhos, sendo que 6 nasceram em Petrópolis e 4 em Três Rios – RJ.

A seguir temos, através da Sra. Amélia Sophia Vogel Justen, bisneta do colono Anton Vogel, algumas reminiscências suas e de sua família, com muitas lembranças e recordações que estão gravadas em sua boa memória. No momento, com 87 anos de idade, é a descendente mais idosa dos Vogel de Petrópolis, desfrutando de boa saúde e vivendo em plena harmonia junto dos seus filhos e netos.

A Sra. Amélia nasceu em 18/09/1913 na casa construída pelo seu pai e que ainda existe na Rua Jorge Vogel no Quarteirão Darmstadt. Filha de Henrique João Vogel e de Joana Rosina Starck. Dividia a casa em que morava com mais 2 irmãs e 1 irmão: Maria Ana, Catarina e Felipe José Vogel.

Maria Ana Vogel, nasceu em 1909 e faleceu em 1933, era casada com Daniel José Gonçalves – não tiveram filhos.

Catarina Vogel, nasceu em 1910 e faleceu em ?, era casada com Amândio José Barros, tiveram uma filha. Ela e seus descendentes, moram na Cidade do Rio de Janeiro.

Felipe José Vogel, n. 1916, é casado com Aracy de Oliveira.

A Sra. Amélia lembra-se com carinho dos seus saudosos pais: “O meu pai era um homem simples, religioso, tinha boa voz, era solista no Coral Santa Cecília da Capela Nossa Sra. Auxiliadora e adorava cantar em alemão. Era pedreiro de profissão. Porém, durante alguns anos, ele e minha mãe trabalharam na Fábrica de Tecidos Werner, assim como eu, que lá trabalhei a partir de 1926, desde os meus 13 anos de idade, até me aposentar após 36 anos de serviços prestados nesta fábrica.”

A Sra. Amélia após lembrar de seus pais e irmãos dá inicio às suas reminiscências: “estudei no Colégio Santa Catarina à Rua Montecaseros, para onde ia e voltava a pé todos os dias. Raramente conseguia-se uma carona e quando isso acontecia, era geralmente de carroça, pois naquela época não havia ônibus ou outro transporte público para o Quarteirão.

Lembro-me quando inauguraram o 1º ônibus na localidade. Era pequeno e não tinha horário certo, porém já era o primeiro sinal de conforto para os moradores, principalmente para os mais idosos.

Mais tarde fui para o Colégio do Amparo, cujo prédio ficava onde hoje é o ginásio coberto da UCP (Universidade Católica de Petrópolis).”

Vale ressaltar que o colégio acima mencionado, era a Casa de Nossa Sra. do Amparo, destinada à convalescença das irmãs enfermas da Congregação do mesmo nome da casa e que aliavam a sua utilidade de sanatório aos fins culturais de um externato, com capacidade para 50 alunas pobres.

“Lembro-me que quando jovem eu gostava muito de dançar, freqüentava os Clubes Magnólia e o Coral Concórdia. Porém, o que eu mais apreciava eram os bailes, que com minhas irmãs e primas organizava na casa de cada uma. Os pais colaboravam muito, pois liberavam as salas para os eventos musicais e dançantes. As moças geralmente faziam os convites e entregavam para os rapazes (amigos e parentes da vizinhança). Era tudo muito bom, bem organizado e com fartura de doces, cucas e outras guloseimas.

Pareciam verdadeiras festas, pois o baile vez e outra era abrilhantado pela “Bandinha São José”, formada por rapazes do Quarteirão, sendo um deles o André, que tocava clarinete e com quem mais tarde me casei.”

Descrevendo ainda o seu passado, Dona Amélia fala em tom de felicidade sobre o seu casamento e afirma que foram 42 anos de muita harmonia. “Casei-me em 09/01/1937 com André Justen Neto (falecido em 30/06/1979). Ele era filho de Jorge Justen e de Elisabeth Winter. Desta maravilhosa união não tivemos filhos próprios, porém adotamos 3 crianças e hoje eles estão todos casados e com filhos. São todos solidários e não me falta nada, pois os meus filhos e netos adotivos são muito bons e fazem tudo por mim.”

Além dos colonos e seus primeiros descendentes, citados em parágrafos anteriores, temos a seguir dois Vogel que com suas famílias vieram de outras colônias germânicas para Petrópolis. Sendo Augusto Vogel de Blumenau – SC e Jonas Adalberto Vogel de Teófilo Otoni – MG.

Segundo um documento de habilitação matrimonial (Arquivo da Cúria Diocesana de Petrópolis), cujos habilitandos eram João Klinkhammer e Maria Vogel, tomei conhecimento da presença de uma família de colonos de Blumenau – SC em Petrópolis.

Além de outros assentamentos de caráter eclesiásticos, consta no documento acima citado: “Augusto Vogel, casado com Barbara Kotz – naturais da Alemanha, veio em 1882 com sua família da Colônia de Blumenau – SC para a Ilha do Governador – RJ, depois para a Capital da Província do Rio de Janeiro e finalmente em 1884 para o Quarteirão Presidência em Petrópolis – RJ.

Augusto Vogel declarou no processo matrimonial que sua filha Maria Vogel nasceu e foi batizada na Colônia de Blumenau – SC em 1869, é solteira, desempedida, com 23 anos de idade e pretende se casar com Johann Klinkhammer.

Por sua vez, Johann Klinkhammer declara que veio solteiro e com 24 anos de idade para o Brasil e diretamente para Petrópolis – RJ, acompanhado de uma irmã e outros parentes – filho de Wilhelm Klinkhammer e Elisabeth Balter – nasceu e foi batizado na Freguesia de Reifferscheid, Arcebispado de Colônia – Alemanha em 1870.”

As declarações acima mencionadas foram assinadas em 19/05/1899 pelo noivo e suas testemunhas, pela noiva e seus pais e também pelo Vigário – Padre Theodoro da Silva Rocha da Matriz de São Pedro de Alcântara de Petrópolis.

Vale ressaltar que Johann Klinkhammer e Maria Vogel casaram-se em 03/06/1899 na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis.

Quanto a vinda dos Vogel de Teófilo Otoni – MG para Petrópolis, não tenho notícias de quando chegaram e se nesta cidade ainda residem. Soube apenas da presença destes, através de pesquisas que fiz nos livros de assentamentos de batismos e óbitos no Arquivo da Igreja Luterana de Petrópolis, conforme abaixo seguem descritos.

Ana Maria Vogel, nasceu em Petrópolis em 30/07 e foi batizada em 21/08/1955, filha de Jonas Adalberto Vogel e de Ivonete Leite – livro de batismos n.º 2, página 154.

Jonas Adalberto Vogel, nasceu em Teófilo Otoni – MG em 24/03/1932 e faleceu em Petrópolis – RJ em 04/09/1959, filho de Bruno Vogel e de Frieda Augusta (Vogel). – livro de óbitos n.º 2, página 18.

Quanto à Cidade de Teófilo Otoni – MG, local de procedência dos acima mencionados, tenho conhecimento que naquela Região Mineira, pelo colonizador Theophilo Benedicto Otoni, fundou-se em 1856 a Colônia Germânica de Filadélfia e que, em 1868 numa segunda leva de colonos, chegou nesta Colônia o imigrante colono Edward Christian Vogel.

Termino este breve ensaio que ora apresento com apenas parte da história de uma família. Porém o meu íntimo desejo é continuar a contribuir no resgate da memória e na recordação dos valores históricos destes pioneiros imigrantes – colonos germânicos de Petrópolis.