GETÚLIO, O GALÃ IRRESISTÍVEL
in Curiosidades Petropolitanas A Samambaia – II –
Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18
O negrinho, preto e vivo como êle só, atravessou o Atlântico agarrado ainda ao seio materno, numa das levas arrebanhadas, desumanamente, nas praias da Benguela.
Veio parar na Fazenda da Samambaia nos remotos tempos de dona Maria Gonçalves Dias Corrêa, irmã do padre Luís Gonçalves Dias Corrêa e, como de regra, adotou o sobrenome dos amos. Ao nome de batismo – Getúlio – foram acrescentados o Luís, do padre, e o Gonçalves, dos irmão Maria e Luís.
Getúlio Luís Gonçalves foi, assim, moleque africano criado na velha Samambaia. Ativo, inteligente, não havia, dentro dentro em pouco, quem não lhe quisesse bem na fazenda e redondezas.
Aprendeu a ler – na época, coisa rara num cativo – conseguindo distinguir-se entre seus irmãos de raça. E progredindo sempre, passaria a exercer, no correr da vida, verdadeira ascendência sobre toda a pretalhada da região que o tinha na conta de mentor seguro e oráculo infalível.
Possuía menos de trinta anos – estava na flor da idade – quando a propriedade e todos seus pertences couberam, por herança ao cônego Luís Gonçalves Dias Corrêa. Getúlio que, mercê de muita habilidade e correção, se havia firmado na estima do sacerdote, passou, então a administrador geral da fazenda.
À revelia do proprietário, na ocasião às voltas com as árduas funções do vicariato de Petrópolis, Getúlio realizava negócios, discutia e ajustava preços e formas de pagamento, comunicava-se com os comissários da Vila da Estrela e fazia até a escrituração comercial do estabelecimento. Folgava, assim, o amo.
Alforriado pela benignidade de seu senhor transformou-se, no que respeitava aos negócios da fazenda, no seu verdadeiro dirigente, cada vez mais prestigiado pelo patrão.
Mas o guapo Getúlio, criatura humana que era, haveria de ter o seu ponto fraco. E este um dia apareceu: as mulheres … ah! as mulheres …
Alto, desempenado e bem falante, com bela cabeleira caprichosamente repartida ao meio, alisada e lustrosa à força de cosméticos e, o principal, ostentando um soberbo cavanhaque a emprestar-lhe a imponência de um alto dignatário da Abíssinia, constituiu-se o nosso herói na tentação irresistível do mulherio de cor de toda a zona que vinha dos Corrêas e ia até às fronteiras do Córrego Seco. Apesar de discreto, nunca procurou, no entanto, refrear a ardência de seu temperamento. E a história registra que o intrépido crioulo teve sempre várias raparigas por sua conta e semeou, generosamente, a filharada por todos os cantos da região …