HÁ CEM ANOS MORRIA ALBERTO TORRES

Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima

 

Há cem anos morria no Rio de Janeiro Alberto de Seixas Martins Torres, um dos fluminenses mais eminentes entre tantos outros que tiveram como berço a chamada antiga província.

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 Nascido em Itaboraí em 26 de novembro de 1865, Alberto Torres fez uma carreira vertiginosa, galgando os mais altos postos, fosse no estado do Rio de Janeiro, fosse no cenário nacional ainda muito moço. Parecia adivinhar que partiria cedo deste planeta, pois morreu a 29 de março de 1917, com apenas 52 anos.

Aos 16 anos o jovem Alberto já estava em atividade política como abolicionista e republicano. Bacharelou-se em Direito em 1886, colando grau na Faculdade do Recife junto com Raul Pompéia (1863-1895) e Xavier da Silveira (1864-1912).

Em oposição a Francisco Portela (1833-1913), primeiro governador do Estado no regime republicano, negou-se a participar da primeira constituinte estadual na chapa portelista.

Deposto Portela em dezembro de 1891, Alberto Torres uniu-se aos comandados de José Thomaz da Porciúncula (1854-1901) e integrou a segunda constituinte fluminense que promulgou a Carta de 9 de abril de 1892.

Tinha Alberto Torres 31 anos quando foi nomeado ministro da Justiça pelo presidente Prudente de Moraes (1841-1902). Exonerou-se em virtude dos desmandos praticados pelo vice-presidente Manoel Victorino Pereira (1853-1902), quando ocupou interinamente a primeira magistratura do país em virtude do afastamento de Prudente de Moraes por motivo de saúde.

Eleito presidente do estado em julho de 1897, Alberto Torres cumpriu o triênio 1898/1900 em Petrópolis, então capital fluminense. Teve um governo tumultuado não só em razão da crise financeira, mas também por causa do racha no Partido Republicano estadual provocado pela rumorosa questão da duplicata de Câmaras Municipais em Campos dos Goitacazes. Teve o grande mérito de ter criado na cidade de Petrópolis o Ginásio Fluminense, lamentavelmente de vida efêmera, mas, enquanto existiu trouxe para estas serras mestres do calibre de Silva Ramos (1853-1930), de Louis Cruls (1848-1908), de Artur Thiré (1853-1923), de Raimundo Corrêa (1859-1911).

Tinha o ilustre filho de Itaboraí 35 anos quando deixou o governo do Estado. Jurista de inegável valor, Alberto Torres foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal pelo presidente Campos Sales (1841-1913), que cumpria o quatriênio 1898/1902. Seus votos e pareceres foram sempre corajosos e lapidares. Em 1907 somente ele e Amaro Cavalcanti (1849-1922) votaram pela procedência do pedido de Habeas corpus preventivo, que permitiria o desembarque no Rio de Janeiro do príncipe D. Luiz de Orléans e Bragança (1878-1920), que então fazia um cruzeiro pela América do Sul.

Aposentando-se ainda moço, Alberto Torres dedicou-se ao Direito e principalmente à Sociologia, tendo deixado uma obra consistente e de certo modo pioneira em defesa dos interesses nacionais e de nossa cultura mais genuína. Se tivesse tido um pouco mais tempo de vida, talvez tivesse abraçado a folclorologia, a exemplo de Sílvio Romero (1851-1914), de Amadeu Amaral (1875-1929) e de Mário de Andrade (1893-1945).

Deixou um grande discípulo: Oliveira Viana, nascido em Saquarema em 1883 e falecido em Niterói em 1951, autor de “Populações Meridionais do Brasil” monumento à etno-sociologia nacional.