A HISTÓRIA EM PETRÓPOLIS

Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe

Petrópolis é uma cidade que atrai as pessoas não só pela sua beleza natural mas principalmente pela sua história e seu patrimônio arquitetônico.

Percorrer a cidade olhando seus prédios é uma atividade prazerosa, só no centro temos o Museu Imperial, antiga casa de verão do imperador d. Pedro II, que nos faz lembrar a história da origem e a povoação da cidade; tendo atraído outras pessoas que construíram outras casas que foram embelezando a cidade. Por exemplo, o barão de Guaraciaba construiu o “Palácio Amarelo” que, mais tarde, foi adquirido pela Câmara Municipal de Petrópolis para servir de sua sede. Novo olhar e nos deparamos com a casa da princesa Isabel, a Catedral São Pedro de Alcântara, o palácio Rio Negro (nos faz lembrar de uma fase áurea a de capital do Estado do Rio de Janeiro 1894-1902), a casa de Rui Barbosa, a Igreja Evangélica, o Palácio de Cristal, o prédio da UCP, a casa de Mauá e tantos outros prédios que guardam, contam e fazem a nossa história.

Alguns, por não terem tido a mesma sorte, se encontram em situações adversas como é o caso do Grande Hotel (fechado) e do antigo Teatro Capitólio (hoje funciona como um estacionamento).

Conhecer a história da cidade, dos prédios, de seus proprietários ou moradores só é possível porque há documentos. Esses, na maioria das vezes, pertencem a um arquivo que é o conjunto de documentos reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. Esses arquivos, quando não mais ligados a sua instituição, geralmente estão subordinados a um Arquivo, entidade administrativa responsável pela custódia, pelo tratamento documental e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição.

Refletir sobre o trinômio Petrópolis – História – Arquivo é uma tentativa de chamar a atenção dos cidadãos e dos dirigentes de que já é mais do que momento de unirmos esforços no sentido de que a cidade recupere, viva e faça sua história.

Um dos caminhos é o ensino. Infelizmente, desde 1983, o curso de História da Universidade Católica de Petrópolis se encontra desativado. Fazendo uma retrospectiva, percebemos que estamos sob certos aspectos mais atrasados do que estávamos na década de 1960. Visto que, em 1968, o Museu Imperial criou o Curso de Elementos de Técnica de Pesquisa de História, em convênio com a Universidade Católica de Petrópolis, que tinha dois objetivos fundamentais: o do preparo técnico de pesquisadores no campo da História (com ênfase no da História do Brasil) e o de ministrar subsídios eminentemente práticos ao estudo da cadeira de Introdução aos Estudos Históricos. Foi nele que, em 1979, tive o primeiro contato direto com as fontes primárias, pois era um curso essencialmente prático, que nos dava a possibilidade de conhecer vendo e de aprender fazendo. Além de servir de laboratório, o Museu Imperial ainda oferecia aos alunos a possibilidade de estágio. Foi assim que, em 1980, através da Fundação MUDES realizei um estágio naquela Instituição e dois anos depois entrei para seu quadro de funcionários.

Quanto ao ensino público, foram a História e Geografia de Petrópolis incluídas no currículo como disciplina obrigatória na 8ª série, pela lei 4306, de dezembro de 1984, não o sendo nas escolas particulares. Isso me faz lembrar uma outra iniciativa do Museu Imperial que, em 1984, desenvolveu o Projeto Didática de Pesquisa, de autoria da então chefe de Documentação Histórica, Aurea Maria de Freitas Carvalho, elaborado em conjunto com toda a equipe de trabalho, cuja idéia de criação nasceu da observação quanto à dificuldade que os estudantes – não só de 1º e 2º graus, mas também universitários – possuíam para realizarem os trabalhos de pesquisa. Foi aplicado aos alunos de 8º série e do magistério do Colégio Estadual Pedro II, com duração de 1 mês para cada turma; no final foram distribuídos questionários a fim de avaliar o nível de qualidade do projeto e da validade da experiência realizada, cujas respostas nos levam a diversas conclusões e demonstram que é possível despertar o interesse dos alunos e valorizar a história:

“O que mais gostei foi o arquivo, onde as litografias, o desenho em carvão, o crayon, etc. provam como tudo que existiu é realmente real, isto é, comprova os acontecimentos que aconteceram no passado” (Mônica Aparecida Achão);

“Em primeiro lugar eu não sabia que aqui em Petrópolis tinha esta biblioteca; o arquivo com documentos históricos tão importantes…” (Rose Sutter);

“Gostei mais da parte do arquivo histórico…esta parte é um pouco difícil devido a nossa falta de leitura; eu nunca tinha frequentado um arquivo antes, mas adorei essa nova experiência” (Carla Lopes da Silva);

“… com esse curso aprendi como é importante a História” (Ana Cláudia Bello);

“ … Gostei também do jeito de dar aula; gostei da aula que para mim deveria ser assim em todo lugar…” (Marco Antônio S. da Silva)

“Se esse projeto existisse há mais tempo, penso que teríamos menos livros inutilizados” (Marta Helena Moreira).

O outro caminho é a preservação dos arquivos. Em 1971, no V Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, em Campinas, a então chefe da Divisão de Documentação Histórica do Museu Imperial, Maria Amélia Porto Migueis, apresentou a comunicação O Museu Imperial e a utilização das fontes primárias, na qual fala da necessidade de “preservação do nosso acervo documentário, disperso em condições precárias pelo país” e cita o artigo de Francisco de Assis Barbosa, do Jornal do Brasil de 24.25/08/1971, caderno especial, “…pela defesa do nosso patrimônio documental, hoje bastante reduzido e fadado a desaparecer, diante do desprezo impressionante com que governos e instituições encaram os problemas relativos à guarda de documentos e conservação dos arquivos”. Um dos aspectos que ela também aborda é o levantamento, chamando a atenção que é precaríssima a situação dos arquivos públicos que não mantêm instrumentos de busca adequados e atualizados para a utilização de seus acervos. Ela também menciona os arquivos privados e os pertencentes a particulares, os de cartórios, os de entidades religiosas e de instituições culturais e econômicas; citando que em Petrópolis a Companhia Imobiliária de Petrópolis, sucessora da antiga Fazenda Imperial, possui um patrimônio riquíssimo para a história territorial local, mas não dispõe de qualquer meio de busca e ainda fala do arquivo particular de d. Pedro de Orleans e Bragança, o Arquivo Grão Pará, que também não dispõe dos meios necessários para seu funcionamento nem de instrumentos de pesquisas.

Depois de 26 anos, a situação desses dois arquivos, no que diz respeito à existência de instrumentos de busca, permanece exatamente igual, impedindo que essas fontes sejam consultadas e utilizadas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Parte desse problema foi resolvido com a publicação do Guia do Patrimônio Documental do Estado do Rio de Janeiro, lançado no Hotel Rio Othon Palace, no dia 02 de junho de 1997. Nas notas introdutórias, a diretora Geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Eliana Rezende Furtado de Mendonça, diz que “A publicação do Guia dos acervos documentais localizados no estado, abrangendo 37 municípios, é uma iniciativa pioneira, de largo alcance, que permitirá, não só a ampliação de pesquisas e estudos da história fluminense, bem como, sensibilizar os administradores e mobilizar as comunidades locais para a preservação dos documentos, como fontes de informação e referência”.

Segundo a coordenadora técnica, Margareth da Silva, os critérios para a escolha dos municípios foram o de sua data de criação, dando-se prioridade aos mais antigos, relevância histórica e disponiblidade dos detentores de acervos em atender aos pesquisadores. Petrópolis encontra-se incluída nestes 37 municípios eleitos, tendo sido cadastrados o Arquivo Grão Pará, o Arquivo Histórico de Petrópolis (Fundação Petrópolis de Cultura, Esporte e Lazer), o arquivo da Câmara Municipal de Petrópolis, o Cartório do 1º Ofício de Notas de Petrópolis, o arquivo da Catedral de São Pedro de Alcântara de Petrópolis, o Arquivo Tristão de Ataíde (Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade), o arquivo da Companhia Imobiliária de Petrópolis, o arquivo da Cúria Diocesana de Petrópolis e o Arquivo Histórico do Museu Imperial.

É preciso lembrar que Petrópolis possui outros arquivos importantes como, por exemplo, o da 67ª Delegacia de Polícia de Petrópolis, acolhido, em 1983, pelo Museu Imperial, a fim de garantir sua preservação, mas devido ao seu volume e à sua natureza até hoje se encontra fechado ao público; o arquivo particular do linguista Mattoso Câmara, cujo detentor é a Universidade Católica de Petrópolis, que se encontra em fase de organização; o arquivo do Cartório do 2º Ofício e, ainda, tantos outros cujo destino desconhecemos, como o da Companhia Petropolitana, em Cascatinha, e o da Fábrica São Pedro de Alcântara.