O deputado Aldo Rebelo ( PCdoB) em Folha de São Paulo ( Tendências e Debates, 10/01/01, Artigo intitulado “A Nova História Oficial”), comentando e criticando a coleção “Sociedade e História do Brasil” de autoria do Professor Marco Antônio Villa (nome que ele omite), para o Instituto Teotônio Vilela, declara o seguinte: “Está de volta uma das mais renitentes calúnias da História, a de que o Império foi austeridade e a República corrupção. “Na Folha de São Paulo do dia 16/01/01, também em “Tendências/debates”, o Professor Marco Antônio Villa responde a acusação, justamente indignado, por não ter sido citado como o autor da obra, no artigo “A Nova História Velha.”
Depois de tecer várias considerações, corrigindo dados incorretos contidos no artigo do Deputado comunista, como, por exemplo, que a obra foi escrita para o Instituto Teotônio Vilela e não para o PSDB, “confundindo o leitor sobre a autoria do trabalho e lembrando o estilo de Stalin” (sic), declara que nunca lhe foi perguntado qual o Partido de sua preferência e escreveu a coleção histórica, com inteira independência, sem censura, como um verdadeiro historiador e não como produtor de uma nova versão da “História Oficial”.
Também sou Professor de História, embora sem a magnitude de um Marco Antônio Villa.
Gostei da resposta do ilustre colega ao Deputado comunista, inclusive porque, em sua réplica, chama a atenção de inúmeras passagens de nossa História, onde a superioridade do Império Brasileiro sobre a República fica flagrante. O Professor não se diz, “pour cause”, monarquista; se apresenta neutro, como bom Historiador e Pesquisador. Nem é de minha conta ousar perguntar-lhe. Entretanto, eu, pessoalmente, sou monarquista e o sou não só movido por causas históricas, sociais, econômicas e políticas, mas até também por causas filosóficas, psicológicas e teológicas. Não sou hermético. Se me provarem o contrário, mudo de opinião. Brincando com as palavras, não sou hermético e sim hermenêutico, se os documentos me provarem outra coisa, troco de camisa. Acho entretanto difícil, pois, por mais de 50 anos, os documentos só me fizeram mais solidamente monárquico. Por isso, o artigo do Professor Marco Antônio Villa trouxe-me enorme satisfação.
Quando cita os irmãos Rebouças e Joaquim Nabuco como abolicionistas e monarquistas não faz mais, “data venia”, do que asseverar, uma grande verdade:
O Império do Brasil sempre lutou contra a escravidão. É bem certo que muitos políticos da aristocracia rural, e que muitas vezes eram Senadores ou Deputados, movidos pelo egoísmo e por interesses econômicos e até políticos, eram escravocratas. Entretanto, a Família Imperial e o Povo (Estado e Nação) sempre mostraram-se abolicionistas. O Imperador libertou todos os escravos da Casa Imperial. Quando visitava fazendeiros, esses, para o agradarem, faziam-lhe o regalo de libertar grande número de seus escravos. Nada agradava mais a Sua Majestade! Tanto agradava, que isso era o suficiente para que o fazendeiro caridoso fosse feito Comendador ou mesmo Barão; os filhos da Princesa Isabel publicavam, em Petrópolis, um jornalzinho abolicionista. As leis abolicionistas ( Proibição do Tráfico Negreiro, Sexagenários, Ventre Livre e finalmente a Lei Áurea) tiveram o apoio inconteste da Família Imperial. Se não vieram mais cedo e mais rapidamente foi porque o Império do Brasil era uma Monarquia Parlamentarista. As leis originavam-se em um Parlamento, que como já foi dito, mantinha-se escravocrata em sua maioria, mas, que acabou por mudar, pela pressão do Povo e da Princesa Isabel. Para não me alongar, não citarei nem comentarei outras passagens da magnífica réplica do Professor Marco Antônio ao Deputado Rebelo, mas, não posso deixar passar em branco, duas barbaridades pronunciadas pelo segundo e criticadas pelo primeiro: justamente aquela em que o Deputado se manifesta contrário à verdade histórica de que, de fato, o Império representou austeridade, e, a República corrupção. A outra, foi a absurda comparação do Imperador D. Pedro II com FHC. Não tecerei comentários, só lançarei um desafio que consiste no seguinte. Citarei nomes do Império, produtos da vida política monárquica, para que os leitores que os conhecem, procurem, se possível, descobrir paralelos do mesmo valor na República ( lembrando que devem ficar fora da disputa os Srs. Campos Salles, Afonso Penna, Rodrigues Alves e outros poucos da República Velha, todos oriundos do Império): José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos de Andrada e Silva; Marquês de Caravelas ; Brigadeiro Lima e Silva; Costa Carvalho; Bernardo Pereira de Vasconcellos; Aureliano Coutinho; Paulo Barbosa; Senador Vergueiro; Oliveira Junqueira; Abaeté; Visconde do Rio Branco; Zacharias de Góes e Vasconcellos; Visconde de Inhaúma; General Osório, Marquês do Herval; Marquês de Tamandaré; Conde de Porto Alegre; Almirante Barroso, Barão do Amazonas; Honório Hermeto Carneiro Leão, Marquês do Paraná; Paulino Soares de Sousa, Visconde do Uruguai; José Thomaz Nabuco de Araújo e Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, General Polidoro; Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias; Visconde de Outro Preto; Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda; Barão de Lucena; Padre Feijó; Barão do Ladário; José Martiniano de Alencar, pai e filho; Barão de Cotegipe; Conselheiro Saraiva; Silveira Martins; Ferreira Vianna; Pimenta Bueno; Limpo de Abreu; Leite Ribeiro; Miguel Calmon du Pin e Almeida; João Alfredo Corrêa de Oliveira; Souza Dantas; Lafayette Rodrigues Pereira; Marquês de Paranaguá, etc… e no ápice os Imperadores D. Pedro I, o Fundador do Brasil; D. Pedro II, o Magnânimo e a Princesa Isabel, a Redentora. Lamento que a nomeação tenha sido incompleta e não haja obedecido a nenhum critério nem mesmo o cronológico, só aquele da minha memória, onde brotam lembranças, as quais se tornam melancólicas, quando percebem que meu desafio é irrespondível.