O HOTEL CASSINO QUE SE TORNOU PALÁCIO

José Afonso Barenco de Guedes Vaz, Associado Titular, Cadeira n.º 11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho

 

Petrópolis já foi palco de legados deixados por parte de um grande número de relevantes figuras em passado longínquo, tais como médicos, arquitetos, professores, engenheiros, advogados, escritores, poetas, cientistas, comerciantes e industriais dos mais diversos ramos de atividades, além de outros tantos profissionais que tiveram atuação no sentido de que nossa terra viesse a ser respeitada no concerto das cidades não somente fluminenses, quiçá a nível nacional.

Por intermédio destas linhas busco recordar uma figura que julgo de real importância para Petrópolis, especialmente no campo da hospedaria e do turismo.

Trata-se, nada mais, nada menos, de Joaquim Rolla, mineiro nascido em São Domingos da Prata.

A propósito deste invulgar cidadão, o meu preito de gratidão ao amigo e escritor Luiz Boralli Garcia, autor da magnífica obra – História do Hotel Quitandinha – que faz descrevê-la num sem número de fatos e acontecimentos, os mais relevantes, ocorridos desde o início das obras.

Justamente, fundamentado nos depoimentos prestados pelo amigo/autor, irei procurar consolidar centenas de importantes realizações no que diz respeito ao Hotel, majestosa obra.

Joaquim Rolla, inigualável empreendedor, foi proprietário de cassinos como o da Urca, no Rio de Janeiro, do cassino Icaraí, em Niterói, tendo construído, também, o Higino, na cidade de Teresópolis.

Foi, por outro lado, arrendatário de outros cassinos como o então intitulado Tênis Clube, localizado em Petrópolis e que acabou por dar lugar ao Clube Petropolitano, situado na Avenida Roberto Silveira.

Boralli, como já assinalado, foi detalhista não só com relação ao passo a passo da construção do Hotel Quitandinha mas, também, no tocante a vida e obra de Joaquim Rolla, suas vitórias, suas lutas e até derrotas que lhe bateram à porta, sem contudo, nunca haver perdido a condição de cidadão considerado como grande empreendedor e visionário.

A tal respeito, Boralli deixa asseverado “… que Rolla como todo bom empreendedor, tinha uma visão futurística”.

E, ainda, deixa patenteado que “…além dos cassinos que possuía, resolveu fazer outro maior, só que muito maior! Seria o maior do mundo e grande centro de atenção turística”.

A ideia, quando concebida pelo notável empreendedor, esclarece o autor, “… levou-o a pensar que a obra em causa fosse construída no Rio de Janeiro – Praia Vermelha – já que àquela época a cidade sediava a Capital da República”.

O intento, entretanto, não obteve sucesso ante a pressões que Rolla veio a sofrer por parte de proprietários de outro cassino. “… principalmente dos donos do Copacabana Palace, que se sentiam prejudicados, caso fosse autorizada a construção”.

Surgiria, como consequência, a construção do Hotel Quitandinha em Petrópolis, resultado de contrato assinado entre o governo do estado do Rio de Janeiro e o Hotel, com o fito de garantir valores/investimentos a serem aplicados na edificação.

O ano de 1941 corria célere e tudo já houvera sido pactuado entre as partes.

Boralli esclarece ainda que “… o terreno escolhido ficava situado na estrada montanhosa que liga a cidade de Petrópolis ao Rio de Janeiro, junto a um lago com bambuzais e uma estalagem com comida caseira e cama modesta”.

O local em questão denominado pelos moradores que ali residiam e comercializavam frutas e legumes – de “Quitandinha”.

Exatamente, a origem do nome do Hotel e do bairro onde foi construído.

O arquiteto Luiz Fossati auxiliado por Alfredo Baeta Neves, também arquiteto,  escolhidos por Joaquim Rolla para levar adiante o empreendimento, ficando a cargo de Burle Marx comandar os paisagistas que atuavam na grandiosa obra.

Questão de alto significado ressaltado pelo autor ao esclarecer que “…o piso do salão Mauá foi confeccionado em lajes pré-moldadas, usando tecnologia alemã. Se hoje esses tipos de laje são considerados modernos, imagine em 1942!”.

O salão em causa foi considerado durante muitos anos o maior vão livre coberto do mundo, sem colunas, ganhando por 2cm da Catedral de S. Pedro, no Vaticano.

A inauguração da extraordinária e incomparável edificação deu-se em 12 de fevereiro de 1944.

Logo após, surgiu o jogo frequentado por personalidades, as mais ilustres dentre elas renomados artistas, nacionais e estrangeiros.

Ocorre, contudo, que em 1946, da noite para o dia, o então presidente Eurico Gaspar Dutra, através do Decreto lei nº 9215 determinou o fechamento dos cassinos em todo território nacional.

Como demonstra o autor, os funcionários cabisbaixos, “…cochilavam nos cantos e muita gente chorou”.

Eram 1200 funcionários desempregados, completa!

Entretanto, ante a proibição do jogo, outras perspectivas foram delineadas de forma a garantir o funcionamento do empreendimento.

Adotaram-se, em consequência, naquela altura, providências no sentido de que o funcionamento da edificação fosse utilizada em atividades hoteleiras sendo que aos clientes foram proporcionadas várias atividades para aqueles que ali viessem a se hospedar.

Dentre figuras de relevância que estiveram hospedadas no Hotel, a se destacar o presidente dos Estados Unidos da América, Henry Truman.

Muitos acontecimentos ainda poderiam ser abordados relacionados com o grande empreendimento no decorrer de suas atividades, dos mais diversos matizes.

Todavia, já encerrando, recorro mais uma vez ao autor, Luiz Boralli Garcia justamente quando relembra “…mudanças e reinvenções pelos quais passavam o Quitandinha quando chega a todos uma triste notícia: o falecimento de Rolla”.

Partira para a eternidade no dia 10 de julho de 1972, à época com 72 anos. Certamente descansa na paz das Alturas!