UMA IGREJA CENTENÁRIA

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

No próximo dia 25 de junho de 2005, comemora-se o Centenário da Igreja de Santo Antônio do Alto da Serra.

No início do século passado, não era pequeno o número de pessoas ilustres que residiam ou veraneavam no Alto da Serra, particularmente na Vila Teresa.

Assim, um dos moradores mais ilustres do citado bairro foi o Conde Afonso Celso de Assis Figueiredo Junior, filho do Visconde de Ouro Preto, Chefe do último Gabinete da Monarquia, que também possuía residência no Alto da Serra.

Foi em sua residência de Petrópolis que o Conde Afonso Celso, agraciado, em 1905, pelo Papa Pio X, com o honroso título de Conde da Santa Sé, escreveu a maior parte de seus livros, obras de grande valor literário como o excelente livro de memórias “Oito Anos de Parlamento” e o lírico “Porque me Ufano de meu País”, que, na opinião dos críticos, “marcou profundamente a mentalidade brasileira do início do século XX” e muitos outros. A idéia de erigir um templo católico na região partiu do Conde Afonso Celso que redigiu uma petição neste sentido à autoridade eclesiástica, tendo como fervorosos adeptos e propagadores o Visconde de Ouro Preto, desembargador Henrique João Dodsworth, capitão Antônio Antunes Freire, José Ferreira da Paixão, José Nazario Murta, Gonçalo de Araújo Vianna e José Martins de Toledo.

Segundo nos informa a Tribuna de Petrópolis, “o dr. João Baptista de Castro e sua senhora cederam um terreno de 25 metros de frente por 38 metros de fundos, para que nele fosse edificada a igreja pretendida¸ a qual seria consagrada a N.S. da Piedade” (1).

(1) SCHAETTE, Estanislau Frei. In: Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, 4 de junho de l955, p. 3.

O terreno chegou a ser limpo e um pequeno morro que existia no mesmo a ser demolido. Entretanto, Frei Ciríaco Hielscher, um dos primeiros franciscanos chegados a Petrópolis, convidado pelo Conde Afonso Celso “para dar vida à empresa”, chegou à conclusão de que o citado terreno não era o mais conveniente para a construção da igreja, manifestando preferência por outro de propriedade do sr. Manoel Joaquim Valladão, com uma área de 100 metros de frente por 100 metros de fundo.

O Visconde de Ouro Preto, amigo pessoal do proprietário, não encontrou dificuldade em obter deste a doação o referido terreno, por escritura pública datada de 15 de janeiro de 1901.

Os trabalhos de construção foram iniciados sob a direção do sr. Pedro Hehn, empreiteiro experimentado, e de tal modo Frei Ciríaco se consagrou ao empreendimento que a 20 de outubro do mesmo ano foi colocada a pedra fundamental do futuro templo, procedendo o Bispo D. Francisco do Rego Maia à benção da mesma.

Na ocasião “foi celebrada Missa Campal, com a participação dos cantores da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, sendo a prática proferida por Frei Luiz Reinke. A solenidade foi ainda abrilhantada pela banda de música militar de Niterói que executou belas peças de seu repertório, contando com a presença do Presidente do Estado, Quintino Bocaiúva” (2).

(2) SCHAETTE, Estanislau Frei. In: Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, 4 de junho de l955, p. 3.

O empreiteiro Pedro Hehn, em virtude da enfermidade da esposa, teve que se afastar da direção das obras, sendo substituído pelo sr. Cristóvão Soares da Silva, que dirigiu as mesmas até a sua conclusão.

Com a transferência de Frei Ciríaco para o Convento de Nosso Senhor do Bom Jesus, em Curitiba, foi o mesmo substituído por Frei Celso Dreiling, que encontrou sérias dificuldades para concretizar a obra devido à falta de recursos financeiros.

Todavia, “o Clube dos Diários, composto por membros da alta sociedade, com residência em nossa cidade e com campo de atividade na Capital Federal, ás instâncias do Visconde de Ouro Preto, realizou em 12 de abril de 1903, uma grandiosa festa em benefício das obras, a qual rendeu a considerável soma de RS 20.000$000” (3).

(3) SCHAETTE, Estanislau Frei. In: Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, 4 de junho de l955, p. 3.

Em conseqüência, Frei Celso pôde dar prosseguimento ao empreendimento, sob a orientação do competente engenheiro dr. Pedro Olivares Muñoz, que não recebeu qualquer remuneração por seu trabalho.

Em 1904, Frei Celso foi transferido para o sul do país e seu substituto, Frei Ambrósio Johanning fez um requerimento à Nunciatura no sentido de levantar um empréstimo de RS 40.000$000, ganhando o empreendimento novo impulso.

Em conseqüência, a 20 de junho de 1905, os trabalhos foram concluídos, sendo a Igreja consagrada à invocação de Santo Antônio, pelo Bispo D. João Francisco Braga.

A 25 de junho do mesmo ano, informa-nos Affonso F. Rocha, num de seus interessantes trabalhos: “Frei Ambrósio celebrou a missa solene, durante a qual foi executada pela primeira vez a Missa de Santo Antônio, expressamente composta para a solenidade por Frei Basílio Röwer, sendo o coro acompanhado pela orquestra do maestro Paulo Carneiro …” (4).

(4) ROCHA, Afonso E. Jubileu Áureo da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Petrópolis, Editora Vozes, 1924.

À noite, comenta a Tribuna de Petrópolis, “foi celebrado um Te Deum, com a presença do sr. Núncio Apostólico D. Julio Tonti, o qual conferiu, com as formalidades rituais, indulgência plenária aos fiéis presentes” (5).

(5) Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, 27 de junho de 1925, p. 1.

Por decreto de 6 de maio de 1933, o Bispo D. José Pereira Alves criou a Paróquia de Santo Antônio do Alto da Serra, desmembrando-a da Paróquia de São Pedro de Alcântara. Na mesma ocasião foi nomeado vigário da nova paróquia Frei Oswaldo Schwengel, Superior do Convento dos Franciscanos de Petrópolis, tendo como Coadjutor Frei Leão Hessiling, o qual em 1938 assumiu a direção da paróquia, nela permanecendo até 1962.

Os mais importantes fatos ligados à Igreja de Santo Antônio do Alto da Serra foram a criação, em 1906, da Pia União de Santo Antônio em caráter de sede principal, a criação, em 1911, do Apostolado da Oração e da Escola Gratuita Santo Antônio, a fundação, em 1937, de um patronato para a educação da “juventude feminina” e a criação de um ambulatório, em 1945.