ILUMINADOR DA VIDA

Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira

Difícil falar ou escrever sobre Raul Lopes. Aliás, dizer algo de alguém tão grandioso é tarefa somente para os mais capacitados, seja pelo estilo no escrever, seja pelo sentimento humano impresso em personalidade especial.

Sem tantos predicados, uso a emoção da amizade, da admiração, do ser fã confesso.

Raul Lopes foi um ser humano de toque divino em cada ação, cada gesto, cada criação de trabalho, de inspiração, de amor à cultura e sempre pela arte; pela arte da vida para servir sob a maravilha de uma inteligência rara, iniciada na sua formação religiosa dos tempos de menino de seminário. Daí sabia, como poucos, tudo sobre o ser religioso e o ser profano, com a sabedoria dos grandes mestres do pensamento.

Devotou-se à difusão do correto e do justo, fosse por seu jeito sincero, leal e positivo ou sob o manto da criatividade que porejava de sua figura miúda, magrinha, de olhar vivo, perscrutador, que nos aproximava de suas idéias e empreendimentos e nos colocava em apoio ao que o entusiasmava.

Raul Lopes experimentou passagens memoráveis em sua vida e em cada momento aprendeu e aprimorou seu saber e sua arte. No jornal Tribuna da Imprensa, onde trabalhou com Carlos Lacerda, Stefan Baciu, Cavaca e outros luminares do jornalismo brasileiro, apurou seu gosto pela criação gráfica e aprendeu as primeiras lições de fotografia. Quando chegou a Petrópolis, sua bagagem artística e cultural foi deitada às artes gráficas nas Vozes de Petrópolis.

Apaixonou-se pela fotografia, tornando-se um dos melhores e mais procurados e respeitados de Petrópolis, abrindo atelier onde realizava todas as etapas da esplendida arte. Sensível, observador, minucioso, a luz de suas fotografias era digna dos maiores mestres do mundo. Esteve, por muitos anos, com trabalhos para o Museu Imperial, produzindo reproduções do acervo daquele órgão federal, organizando exposições, naquele mágico tempo onde sua criatividade foi ilimitada.

Amava o teatro, colaborando em todas as frentes do TEP-Teatro Experimental Petropolitano, nos cenários, na iluminação, na divulgação, tendo, inclusive ocupado presidência na Diretoria Executiva do grupo de arte cênica. Por ali, criou o Teatro de Fantoches, que se tornou famoso como o “Teatrinho do Tio Raul”, criando e confeccionando os bonecos, o palco, idealizando a iluminação, a sonoplastia, ensinando e ensaiando os artistas manipuladores e ele próprio atuando em personagens. Sua peça “Lendas Brasileiras” foi um grande sucesso, seguido do “Auto de Natal para Fantoches”, com base em texto do poeta Carlos Góes. Tive a ventura e o orgulho de coadjuvá-lo nestes trabalhos, colaborando nos textos e encarnando personagens.

Foi o irrequieto criador de sonhos o idealizador da hoje Sala-Teatro Afonso Arinos, no Centro de Cultura Raul de Leoni e sobre o seu projeto e traçado, os mentores políticos e da cultura, edificaram e entregaram à Cidade o importante espaço de tanta utilidade e atividades. Quando esteve na Diretoria da Escola de Música Santa Cecília, na minha presidência, encarregou-se de preparar e adequar o Teatro Santa Cecília à modernidade, principalmente no aporte técnico, após o encerramento das atividades do Cinema Art-Palácio, que nada cuidara dos espaços cênicos da edificação.

Foi convidado a integrar o quadro titular do Instituto Histórico de Petrópolis, que aceitou e, imediatamente, iniciou trabalho de divulgação, tornando-se o editor responsável pela coluna da instituição mantida por muitos anos na Tribuna de Petrópolis; recentemente era o editor-responsável pelo Boletim Informativo do IHP, sua menina-dos-olhos em seus últimos anos de vida e para cujo desiderato entregava-se com grande entusiasmo.

Andei, junto a Raul Lopes, por muitos caminhos da arte petropolitana e apreciava sua garra, sua cobrança, por vezes seu destempero (que era cênico) para que os projetos e as realizações andassem a contento. Um perfeccionista, sim, como deve ser um completo artista.

Raul deixa muita saudade e amor, dons que soube espalhar como ninguém nessa sociedade por vezes bruta e insensível mas que, com ele, não tirava farinha, não? Ah! isso não! O Raul resolvia tudo com sua verdade, sua crença no melhor, sua consciência vigilante de estar contribuindo para uma sociedade melhor, mais justa e feliz.

Assim, o Raul Lopes no registro da melhor memória petropolitana.