ITAMARATI – O BERÇO DE PETRÓPOLIS – NOTAS

Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18

O Itamarati é, a rigor, o berço de Petrópolis. Foi lá que o sargento-mor – Bernardo Soares de Petrópolis, entrando na posse de “uma legua em quadra atrás da Serra do Frade e Toucaia Grande” concedida em 11 de novembro de 1721, pelo Governador Aires Saldanha e Albuquerque, construiu sua residência.

Não foi sem motivo que o Sargento-Mor assim procedeu. Conhecedor da região, sabia que os terrenos do Alto da Serra não ofereciam as mesmas vantagens daqueles situado no “Tamarati”. Colocou, por isso, sua casa no ponto extremo da propriedade, ou seja, exatamente, no local onde hoje funciona a Fábrica de Papel. Onde se ergue a chaminé mais alta, achava-se, há 245 anos, a esquina da morada.

Foi ali, na sua fazenda “Tamarati” situada no seio da mata virgem, que Bernardo Soares de Proença hospedou os parentes e amigos e os induziu a obterem sesmarias à beira do novíssimo caminho de Minas por ele mesmo aberto.

Garantiu, de tal maneira, a conservação da nova picada, à cuja margem se estabeleceu uma luta ininterrupta de novas fazendas. E toda a região, em breve se desenvolveu.O Itamarati constituiu, iniludivelmente, o primeiro solo urbano de Petrópolis, não havendo exagero algum, portanto, em considerá-lo o verdadeiro berço da nossa cidade.

O termo brasileiro Itamarati foi aplicado inicialmente ao rio que tem as nascentes em elevado trecho da Serra da Estrela conhecido pelo nome de Ventania – é Antônio. Machado quem nos ensina.

Vários escritores antigos, no relato de suas excursões ao interior, batizaram-no de Tamarati.

Comprazeu-se a natureza, de dispor ajuntamentos de grandes pedras soltas em diversos trechos do Itamarati; e em vários outros, nos intervalos do curso superior, correm as águas sobre um pedral, unindo o móvel que cobre o leito, por vezes, com ajuntamento tão perfeito que dir-se-ia obra talhada pelo homem

Foram estas singularidades que impressionaram o silvícola ou o colonizador europeu, justificando o nome cuja tradução encontramos em Teodoro Sampaio (O Tupi na Geografia Nacional): Itamaraty, corruptela de itamarã-ty, a torrente por entre pedras soltas; pode proceder também de itá-moroti, as pedras branqueadas, as pedras alvíssimas.

A primitiva fazenda, depois quarteirão, hoje bairro do Itamarati, está situada entre o Quissamã, o Caxambu, a Saudade e a Cascatinha.

Com a morte de Bernardo Soares de Proença, seu filho Antonio Proença Coutinho Bittencourt tornou-se o segundo proprietário das terras do Itamarati que, entretanto, já possuíam somente a testada de 750 braças, isto é parte da sesmaria.

O terceiro proprietário da fazenda foi o filho de Antonio Proença Coutinho Bittencourt, capitão Antonio Bernardo Proença que, a 19 de novembro de 1789, a venderia a João Leite Pereira. Quatro anos mais tarde, há nova transferência de propriedade, que é vendida ao alferes Jacó Mounier.

Com a morte do alferes Jacó Mounier e sua mulher, herdou a fazenda a filha do casal Catarina Mounier, casada com o cirurgião Reginaldo José Cardoso.

A 6 de maio de 1803 seriam as terras vendidas por Reginaldo José Correia de Matos pelo preço de dois contos e quatrocentos mil reis, compreendendo a casa de campo, estrebaria, móveis de adorno da casa, 14 cabeças de gado e 11 bestas.

O oitavo proprietário da fazenda foi Francisco Antônio Correia casado com Marcelina Maria de Jesus. Falecendo ambas, e procedido ao inventário dos bens, os herdeiros requereram a venda da propriedade, alegando que a mesma se achava abandonada e havia muitas dividas a pagar.

Os irmãos Eduardo e Joaquim Carneiro de Mendonça arremataram a fazenda por vinte contos de reis na praça realizada a 20 de dezembro de 1849.

Finalmente, D Pedro II compraria uma parte da fazenda por vinte e quatro contos aos irmãos Carneiro de Mendonça e, a 8 de abril de 1885, compraria, por vinte contos, a parte restante ao major José Inocêncio de Oliveira Matos que por sua vez, a comprara de Alexandrino Ribeiro de Menezes a quem havia sido vendida pelos mesmos irmãos Carneiro de Mendonça.

De posse da totalidade das terras da antiga fazenda, D. Pedro II incorporou-a à Imperial Fazenda de Petropolis criando, sob o nome de Itamarati, um novo quarteirão, cujos prazos começaram a ser aforados a partir de 11 de novembro de 1885.

Como já havia desaparecido a sesmaria, desapareceu também a fazenda do Itamarati.

Mas ficou-nos um bairro progressista e populoso a honrar a tradição de ser o verdadeiro berço de Petrópolis