JUBILEU DE OURO DO LICEU MUNICIPAL PREFEITO CORDOLINO AMBRÓSIO

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

Inaugurado em 07 de novembro de 1953, o Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio completou este ano 50 anos de ininterrupta atividade, ou sejam, 50 anos de inestimáveis serviços prestados à causa da educação no Município de Petrópolis.

Instituições de ensino como o Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio, beneficiam-se da colaboração indefinida dos que a ampararam e prestigiaram, pagando-lhes o trabalho e a dedicação com a compreensão, o respeito e o reconhecimento das gerações que se renovam.

Cumpre, portanto, registrar o reconhecimento a todos os que contribuíram para que este educandário pudesse existir e se manter por tantos anos, sempre promovendo a valorização do ensino em nossa cidade.

Aproveitemos, pois, o ensejo para recordar um pouco a bela história desse Educandário, cujo jubileu de ouro encontra aqui uma página mais a ser lembrada futuramente.

Em 22 de julho de 1952, o então prefeito municipal Cordolino José Ambrósio, empreendedor e laborioso, sensível aos valores da educação e da cultura, enviou à Câmara Municipal mensagem propondo a criação da Escola Comercial de Petrópolis e do Ginásio Municipal.

Na ocasião, vinha funcionando, mantido pela Prefeitura Municipal, o Liceu de Artes e Ofícios que, além de nunca ter possuído um local condigno para o seu funcionamento, vinha ministrando cursos, diga-se de passagem, com muita eficiência, mas que não eram reconhecidos pelo Ministério da Educação e Saúde.

Em conseqüência, a solução encontrada pelas autoridades educacionais do Município foi transformar o mesmo em Escola Comercial do Município de Petrópolis, organizando-a de conformidade com a Lei Orgânica do Ensino Comercial, para que pudesse a mesma ser registrada na Diretoria do Ensino Comercial e pudessem ser validados os diplomas por ela expedidos.

Quanto ao Ginásio Municipal, fora o mesmo criado pela Deliberação nº 242, de 14 de dezembro de 1950, com a finalidade de absorver a demanda estudantil das “escolas primárias” do Município. Entretanto, por falta de verbas, local e prédio necessários à sua instalação, esta obra só viria a tornar-se realidade quando o prefeito municipal obteve junto ao ministro Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, jornalista baiano, “espírito combativo, destemido político e destacado vulto da política nacional” (1), na ocasião, ocupando o cargo de Ministro da Educação e Saúde, o apoio financeiro necessário à construção de um prédio que obedecesse a todos os requisitos exigidos pelo referido ministério.

(1) OLIVEIRA, José Teixeira de. Dicionário Brasileiro de Datas Históricas. Petrópolis, Editora Vozes, 2002, p. 1040.

Nova Deliberação foi então enviada à Câmara Municipal, objetivando atender às exigências da Portaria Ministerial nº 501, de 19 de maio de 1952.

A Câmara aprovou em 1ª e 2ª discussão, em regime de urgência, com dispensa das formalidades regimentais, em reunião realizada em 25 de julho de 1952, os citados projetos e o prefeito municipal promulgou as Deliberações nºs. 347 e 348, em 30 de julho de 1952, criando o Ginásio e a Escola Comercial do Município de Petrópolis.

Logo após, foi iniciada a construção do prédio, cujo projeto foi de autoria do engenheiro Cirênio Ambrósio, o qual por longo tempo havia trabalhado com Oscar Niemeyer, cabendo à firma Sebastião A. da Rocha & Cia. Ltda. a execução da obra.

O chefe do executivo, sempre atento e zeloso, acompanhou com grande interesse a evolução da obra, visitando-a praticamente todos os dias.

Numa dessas visitas, com a obra já quase concluída fez-se acompanhar da extraordinária artista Djanira da Mota e Silva, sem dúvida um dos valores mais expressivos da arte primitivista em nosso país, a quem devemos a extraordinária obra de arte, o magnífico painel que embeleza e enriquece o Salão Nobre do Liceu.

Selecionando elementos da tradição popular da sociedade petropolitana, a artista conseguiu combiná-los com tal maestria, imprimindo-lhes um magnetismo tão forte, que ele nos transmite uma sensação de vida, raramente encontrada em outras obras do gênero.

Assim, a autora conseguiu retratar, num estilo futurista, toda Petrópolis antiga, vendo-se o Museu Imperial, a estação da Leopoldina e sua primeira locomotiva, operários trabalhando com picaretas e teares, jovens modelando aparelhos na cerâmica, tudo em cores variadas.

Observando com atenção esta obra de arte, logo percebemos a intenção da artista e concluímos que sua presença neste espaço nobre do educandário, não objetiva preencher tão somente um espaço vazio ou servir apenas como um elemento decorativo.

Os seres humanos, conforme muito bem observa Proença, “não criam objetos artísticos apenas para se servir utilitariamente deles, mas também para expressar seus sentimentos diante da vida e, mais ainda, para expressar sua visão do momento histórico em que vivem” (2).

(2) PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo, Editora Ática, 1968.

Neste sentido, Djanira logo vislumbrou a expressão histórica e cultural da obra que ali estava sendo construída e pretendeu colocar ao alcance dos futuros alunos daquele educandário uma obra de arte, capaz de contribuir para a reflexão e percepção dos mesmos e, ao mesmo tempo, despertar neles um crescente interesse em relação à evolução histórica local.

Na criação do Liceu Municipal, contou o prefeito Cordolino Ambrósio com a valiosa cooperação do então Diretor da Inspetoria de Ensino, o ilustrado professor Décio Duarte Ennes que, no desempenho do referido cargo, vinha realizando um trabalho digno de nota, reorganizando o ensino municipal, reaparelhando escolas, fornecendo gratuitamente material escolar aos alunos e procurando elevar o nível de aproveitamento dos mesmos.

Mais tarde, como primeiro diretor do Liceu, o saudoso educador envidou todos os seus esforços no sentido de torná-lo um educandário modelo, com todos os requisitos da moderna pedagogia, imprimindo à administração do mesmo, um rigor e uma seriedade que, aliados à dedicação de um luzidio corpo docente, iriam marcar a brilhante trajetória do educandário em tela.

Foi o Liceu Municipal inaugurado em 07 de novembro de 1953, em solenidade que contou com figuras as mais representativas do país, destacando-se entre elas: o dr. Geraldo Mascarenhas, representando o Presidente da República; o dr. Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, Ministro da Educação e Saúde; o deputado Celso Peçanha, representante do Vice-Governador do Estado; o dr. Roberto Silveira, Secretário do Interior e Justiça do Estado do Rio e o Cel. João Saraiva, Comandante do 1º Batalhão de Caçadores.

Na ocasião, o deputado Murilo Cabral e Silva, de saudosa memória, num feliz improviso, como que vislumbrou a destinação histórica e cultural da obra, ao lembrar uma frase de Horácio, dizendo que o prefeito Cordolino Ambrósio, com a construção do Liceu Municipal poderia repeti-la: “Construí um monumento mais duradouro que o Bronze”.

Realmente, conforme muito bem acentuou Plutarco, “os títulos e a glória das inscrições se apagam; e só a memória dos justos se conserva” (3).

(3) PLUTARCO. Cf. Cristóvão Leite de Castro. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 181, Rio de Janeiro, 1943, p. 73.

O ideal dos criadores do Liceu Municipal sempre encontrou ressonância em seu corpo de professores, que soube dar vida e sentido ao processo educativo, fazendo com que, em cada sala de aula deste educandário, desabrochassem e crescessem a inteligência e o respeito ao próximo. Ainda hoje, os professores do Liceu Municipal têm sabido viver como poucos, a grandeza do Magistério e a riqueza do Educador.

Que o Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio continue sua fecunda e brilhante trajetória, servindo e engrandecendo a causa da Educação.