MARTHA WATTS E A MISSÃO METODISTA EM PETRÓPOLIS (PARTE I) 

Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula

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Martha Hite Watts. Bardstown, 1845 – Louisville, 1909 (Kentuck, EUA)
Agente da “Womans Board of Foreign Missions” dos Estados Unidos.
Créditos da Imagem: Acervo Centro Cultural Martha Watts/Instituto Educacional Piracicabano

 

Desde o início do movimento metodista, ainda no século XVIII, na Inglaterra, a participação das mulheres foi uma realidade, a começar por Susana Wesley e, posteriormente, as 27 pregadoras autorizadas a trabalharem como leigas por John Wesley, a principal liderança do movimento que buscava reformas dentro da Igreja Anglicana.

            Nos primeiros anos do Metodismo no Brasil, há registros sobre as “mulheres visitadoras”, encarregadas de visitas e leituras da Bíblia para uma população majoritariamente analfabeta. A partir de 1880, ganhou fôlego o projeto educacional, que visava à criação de escolas como forma de expansão do campo missionário, no qual as mulheres tinham um papel essencial: de um lado, as que estavam nos EUA sustentando financeiramente a missão; por outro lado, as que vinham para o Brasil para implantar o trabalho e organizar as escolas, cujo lema “evangelizar e civilizar” atrelava-se aos ideais modernizantes e civilizatórios que permearam o clima intelectual da Belle Époque.

            É neste contexto que, em 1895, o projeto metodista foi estabelecido definitivamente em Petrópolis, a partir de duas vertentes missionárias: a organização da Igreja, com doze membros, sob o pastorado do Reverendo James L. Kennedy; e a criação do Colégio Americano, que ocupou o Palacete Januzzi (hoje Palácio Itaboraí), sob a direção de Miss Martha Watts, reconhecida pelo seu pioneirismo no campo da educação.

Como integrantes das missões metodistas norte-americanas – financiadas pela Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos -, Martha Watts e James L. Kennedy vieram juntos para o Brasil, em 1881. Mas foi em Petrópolis que, pela primeira vez, ambos se fixaram para o desenvolvimento de um trabalho conjunto. Martha Hite Watts é o primeiro nome no Rol de Membros da Catedral Metodista e, quanto à constituição da segunda igreja protestante da cidade, relata, em 1896: “(…) Desde então o irmão Kennedy preparou um grande salão em uma localidade central e nosso trabalho realmente começou. No primeiro domingo em que nos reunimos ali, ele organizou uma escola dominical com vinte e nove membros. (…).”[1]

[1] Martha Watts, carta de janeiro de 1896, publicada em MESQUITA, Zuleica (org.). Evangelizar e Civilizar: Cartas de Martha Watts, 1881-1908.  Piracicaba: Editora UNIMEP, 2001, p.102-105.

Em outra missiva, a educadora permite entrever os primeiros momentos na cidade e, em maio de 1895, registra o início do funcionamento do Colégio Americano: “(…) chegamos a Petrópolis em 5 de abril. (…). Hoje, quando abrimos a escola com nossos três alunos, na presença das mães de dois deles, sentimos que não fizemos feio.(…).”[2].

[2] Martha Watts, carta de 7 de maio de 1895, publicada em MESQUITA, Zuleica (org.). Evangelizar e Civilizar: Cartas de Martha Watts, 1881-1908.  Piracicaba: Editora UNIMEP, 2001, p.101-102.

Como é possível perceber pelo reduzido número de alunos matriculados para o começo das atividades letivas, a sua proposta educacional inovadora exigiria alguns esforços para que desse seus primeiros resultados, como atestam os repetidos anúncios publicados no jornal Gazeta de Petrópolis. De fato, o Colégio fundado por Martha Watts em Petrópolis funcionaria na cidade até 1920, quando foi transferido para o Rio de Janeiro, e deu origem ao Colégio Bennett.