MARTHA WATTS E O COLÉGIO AMERICANO: UMA EDUCADORA PIONEIRA EM PETRÓPOLIS (PARTE II)

Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula

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Grupo de alunos e alunas do Colégio Americano, no Palácio Itaboraí,
de propriedade da Igreja Metodista,  no Valparaíso.  Petrópolis. Sem data.
Crédito da Imagem: Acervo Arquivo Histórico. Museu Imperial/Ibram/MinC

A missionária norte-americana Martha Hite Watts (1845-1909) é reconhecida na História da Educação pelo seu pioneirismo e pelas inovações pedagógicas que propôs. Em 1881, em Piracicaba/SP, fundou o primeiro colégio metodista do Brasil (atual Universidade Metodista de Piracicaba), e revolucionou o ensino ao trabalhar com classes mistas, seja reunindo meninos e meninas, seja por estarem abertas tanto a alunos protestantes quanto católicos. Além disso, introduziu classes de jardim-de-infância, e defendeu a importância dos laboratórios para experimentos científicos, atrelando o conhecimento teórico à verificação prática, um paradigma pedagógico extremamente revolucionário no final do século XIX.[1]

[1] ELIAS, Beatriz Vicentini. Inovação Americana na Educação do Brasil. In: Revista Nossa História, n. 23, 2005, p. 81-83

Seu trabalho chamou a atenção de Prudente de Morais (terceiro Presidente da República do Brasil), que à época era Presidente do Estado de São Paulo, e a convidou para assessorar a reforma educacional que visava implementar em seu governo. Ela não aceitou a proposta por considerar mais importante a tarefa de criar outras escolas metodistas e, de Piracicaba, mudou-se para Petrópolis, onde fundou o Colégio Americano, em abril de 1895.

A ideia do Colégio Americano em Petrópolis surgiu também como uma resposta às demandas das famílias, particularmente as da elite, que desejavam se refugiar na cidade serrana. Se, no ramo católico, o Colégio Notre Dame de Sion, exclusivo para meninas, transferiu-se para Petrópolis, passando a funcionar no Palácio Imperial (hoje Museu Imperial), do lado protestante, os metodistas compraram o Palácio Itaboraí[2], de propriedade do arquiteto Antonio Januzzi, que havia projetado, na década de 1880, o templo da Igreja Metodista do Catete, no Rio de Janeiro. É muito provável que, desde então, Januzzi tenha estreitado a relação com os metodistas, que culminou com a venda do seu palacete em Petrópolis.

[2] Atualmente, o Palácio Itaboraí pertence à Fundação Oswaldo Cruz.

O Colégio Americano visava atender a brasileiros e estrangeiros que buscassem o que Martha Watts chamava de “educação liberal, tendo por fim o desenvolvimento moral, intelectual e físico dos alunos”.  Funcionou em Petrópolis, como internato e externato, até o início década de 1920, quando, transferido para o Rio de Janeiro, deu origem ao Colégio Bennett. O Palácio Itaboraí, no Valparaíso, pertenceu à Associação da Igreja Metodista até que, em 1939, foi desapropriado por interesse público, pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, para que servisse de residência de verão dos governadores.

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Nota sobre a desapropriação do Palácio Itaboraí, de propriedade da Associação da Igreja Metodista, publicada no jornal Pequena llustração, Ano VIII, n. 367, em 11/09/1938.
Crédito da Imagem: Acervo Biblioteca. Museu Imperial/Ibram/MinC

 

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Palácio Itaboraí, Colégio Americano, no Valparaíso. Hoje uma unidade da Fiocruz. Petrópolis. Sem data.
Crédito Imagem: Acervo Arquivo Histórico/Museu Imperial/Ibram/MinC

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Anúncio do Colégio Americano, publicado em Gazeta de Petrópolis, Ano IV, n. 77, em 05/10/1895 Crédito da Imagem: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – Memória BN