MEMORIAL DA RUA DO IMPERADOR

Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 –

“Se esta rua… se esta rua… for uma cidade?”

Introdução

“O prefeito Cardoso de Miranda, proíbe a construção de “arranha céus”, na cidade a fim de conservar suas características primeiras. “
(Proibido Arranha-céus, Tribuna de Petrópolis, 09/08/1940)

“Iniciará as obras de um grande arranha céu, entre a futura rua Centenário, com frente para a rua Alencar Lima, isto de acordo com o ato municipal que proíbe tais construções.”
(O Progredir de Petrópolis, Tribuna de Petrópolis, 09/08/1940)

Uma rua é um lugar material, quase sempre onde a memória encontra-se presente provocando o imaginário, tamanha sua funcionalidade pela exposição cotidiana e temporal das operações exercidas na mesma pela sociedade e que adquirem função de “desfiar” constantemente as memórias coletivas apresentadas pelo conjunto de relações simbólicas que se revelam proporcionando uma identidade significante.

Assim, o contexto urbano de nossas cidades apresenta diversos “lugares de memória”, como assinala Pierre Nora e que com distância temporal pode torná-los apaixonantes.

Petrópolis apresenta alguns destes casos especiais onde o contexto historiográfico procurou preservar este patrimônio imaginário, como o caso da Rua do Imperador, sua primeira e principal artéria urbana, que de um “caminho de mineiros” observou a promoção do nascimento da povoação.

Historiógrafos, historiadores, pesquisadores e cronistas petropolitanos, conseguiram reunir anotações com a presença de fatos e acontecimentos diversos ocorridos pela sesquicentenária vida desta importante rua, dos quais procuramos tecer com suas impressões um memorial onde a memória desvelada pela história construída pelas transformações ocorridas nesta rua, constrói telas tecidas de ações físicas em urdume único e inigualável pelo decorrer do século XIX, por onde se cruzaram nações, refugiados e colonizados.

Especialistas consideram a história urbana uma disciplina de máxima importância para o desenvolvimento dos estudos históricos de qualquer comunidade, principalmente quanto a organização social das comunidades humanas que pela cidade transitam e evoluem a partir de determinadas condições sociais ou econômicas próprias, ou forjadas por necessidade da própria organização política.

Petrópolis é por sua origem uma presentificação urbana característica do movimento da engenharia européia de meados do século XIX, mesmo que muitos não a considerem inserida no contexto da História Geral, sua criação não foi uma simples aventura arquitetônica de um alemão em terras tropicais, mas uma assinatura, uma marca, quem sabe uma “griffe” em pleno século de transformações e imposições que é o século XIX na seqüência do revolucionário século XVIII. Provavelmente uma escola!

Poucas são as áreas do hemisfério sul que possuem uma história de tamanho relacionamento aos universo europeu do século XIX como Petrópolis.

Fascina o incrível número de depoimentos de estrangeiros que por aqui passaram desde a “era joanina” pós Abertura dos Portos, quando esta região era simplesmente um “atalho”, caminho para as minas das Geraes. Cruzada por viajantes franceses, alemães, austríacos e ingleses que autorizados pelo Estado lusitano invadiam o interior do país, não somente para avaliar as suas possibilidades comerciais, mas também para a conquista de prestígio cultural para seus patrocinadores. Fascinados pelas inúmeras paisagens riscadas e pintadas por Thomas Ender, William Burchell, Rugendas, entre outros; fascinados pelos que ficaram ao se apaixonar por estas paragens, como Langsdorff que adquiriu a Fazenda da Mandioca, quando Petrópolis era apenas a Fazenda do Córrego Seco, descrita por Spix e Martius, como “um miserável povoado”.

Petrópolis possui uma história cultural de relevo, mas pouco pesquisada quanto aos parâmetros de sua história social ou mesmo de sua micro-história, pois os elementos opressivos enraizados na moralidade de sua elite aristocrática, nacional e veranista que se tornaram seus próprios censores, apesar de credores de seu relevo.

Conceitos absorvidos por sua população que vive fechada entre montanhas sorvendo suas próprias e limitadas diretrizes, a ponto de influenciá-la psiquicamente na formação de sua identidade, considerada por alguns como “pequena”, provinciana e imaginariamente “burguesa”.

Neste contexto da história cultural poucos observam a população operária que lhe foi dominante e reprimidamente subjugada, enterrada ideologicamente na pauperização de sua sociedade atual, refletindo como em suas origens, o caminho de ser prisioneira nos limites da própria cidade, que considerada “nova” pelos pseudo-administradores, pseudo-modernistas, procuram erigir uma vitrine histórica combalida, imune a visita do povo que lhe ocupa.

Petrópolis pode e deve ser vista como um “porto” de transição para as Minas ou para o interior brasileiro em pleno século XIX, mas impossibilitada de relacionar-se culturalmente pelas citadas e impostas limitações que a tornaram “pequena” em sua própria dimensão.

Tornou-se politiqueira e clientelista na medida em que seus destaques econômicos e sociais desejavam se apoderar historicamente do poder para fechar seu círculo de relações e impor a opressão ideológica ao restante da população que sobrevivia afastada de seu centro, longe dos privilégios e carente de recursos.

Mas a condição histórica de um marco romântico do século XIX que se perpetua ideologicamente na sociedade não pode ser furtada, por qualquer grupo que a domine, pois esta condição torna-se patrimônio universal e não local. É um domínio eterno da cultura que não pode tornar-se prisioneiro dos desejos e das mentes.

Petrópolis é linda, apesar das tentativas de desconstrução que se formularam principalmente a partir da Segunda Grande Guerra por falsas elites modernizantes. Majestosa, apesar de sua moralmente oprimida população. É eterna, pois um homem um dia lapidou a natureza para moldar a urb que sonhava. Um nome que responde a esta estrutura de construção, que se apaixonou pela região desde suas primeiras obras em estradas para o interior, Júlio Frederico Koeler.

A paixão se desloca sobre este espírito petropolitano que é imemorial que atraiu inúmeros, como meu pai, um tintureiro carioca que veio viver no meio operário seus últimos dias e saborear suas singularidades, apesar da destruição que lhe aportavam, pelos pretensos urbanistas que lhe acometeram.

Petrópolis é um vício, e por semelhante condição podemos contestar sua implosão demográfica e histórica que agora se concretiza por uma verticalidade política e eleitoreira que dominante se perpetuará na falsidade histórica de sua democratização em sua desconstrução urbana.

“A urbe, portanto, sobre ter nascido bafejada pelo trono e pela corte, surgiu das diretrizes e marcas de um gênio do urbanismo do século XIX, elementos que rotularem a proposta do novo burgo fluminense, alcandorando o seu futuro, haveriam de contribuir decisivamente para colocar Petrópolis em posição privilegiada entre as cidades brasileiras.” (Vasconcellos, p.321,) (1)

(1)  in Vasconcellos, Francisco de, Três Ensaios Sobre Petrópolis, 1984, Petrópolis

“Koeler, recebeu influência do mais substancial movimento romântico europeu.” (Júlio Ambrozio, p.23)

Ao acompanharmos a leitura de obra de Carlos Augusto de Taunay, “Viagem Pitoresca à Petrópolis” (2), podemos observar o que justamente, no projeto de Koeler, não pode ser vislumbrado com grande destaque, mas que segundo depoimentos de Taunay, torna-se um monumento da engenharia do século XIX. Referimo-nos à transformação de um “vale geofisicamente selvagem”, segundo sua expressão, “um charco, um pântano”, que se transfigura em uma área urbana de grande dimensão e significado, para uma região excessivamente montanhosa. Isto segundo suas palavras no livro que foi editado na Europa em 1862.

(2) Publicado em Cidade de Petrópolis, uma reedição de Quatro Obras Raras, pelo Museu Imperial em associação com o Ministério da Educação e Cultura em 1957.

Sua constatação não deixa de ser uma expressão característica do romantismo predominante nesta fase européia, e presente em todos as gerações do período cuja formação denunciava esta influência e ascendência cultural.

Taunay pertenceu ao Corpo de Engenheiros do Império, ao que tudo indica pertencente ao mesmo destacamento em que haviam servido tanto J. F. Koeler assim como o mordomo imperial Paulo Barbosa (3). Tanto isto é verdade, que Taunay se refere, em seu texto, a ambos quando fala da primorosa escolha da localidade e da delineação topográfica do novo povoado, e é inclusive tratado por Antônio Machado (4) como “major”, um costume presente na sociedade pela formação militar que torna-se predominante no que concerne a identificação.

(3) O exército brasileiro carecia de oficiais, principalmente para o corpo de engenheiros; Koeler, era diplomado pelo Liceu francês, foi examinado pela Academia Militar do Rio de Janeiro e admitido como primeiro tenente no Imperial Corpo de Engenheiros.
(4)  in Nomenclatura Urbana de Petrópolis, Trabalhos da Comissão do Centenário

É Taunay quem afirma segundo suas análises sobre a planta de Koeler: “As razões de higiene, bem estar, e atilada previsão que determinaram tão hábeis engenheiros na escolha da localidade e da delineação topográfica do novo povoado…” (Taunay, p.10).

Estes elementos são essenciais para caracterizar a identidade do projeto da “modernidade” que é para Koeler a Rua do Imperador.

Claro que é um projeto que de certo modo reproduz a cultura dominante, a partir da Corte, e é representativo de seus modos e hábitos, fato que se torna presente inclusive na fundamentação da separação da Rua do restante da “colônia”.

Documento este, a planta, que foi alvo de estudo de grupos de arquitetura e urbanismo de várias universidades no Brasil e no exterior, no decorrer do século XX. Tornou-se inclusive tema de teses de mestrado e doutorado (5).

(5) Curso de arquitetura e urbanismo da UFRJ entre outras.

Não devemos nos esquecer de que o tópico “planejamento de cidades” foi resgatado como discussão na modernidade a partir de debates presentes nos ideais iluministas, e pelas necessidades geradas pelo avanço da Revolução Industrial, já que o mesmo fora assunto, presente anteriormente, na era renascentista com as chamadas “cidades ideais”, portadora das tradicionais plantas quadriculadas, uma herança romana, ou de projetos concebidos como os do gênio Leonardo da Vinci, que se aventurara pelo planejamento urbano, principalmente quando das cidades fortificadas, encomendas de nobres europeus interessados na defesa de suas propriedades e domínios.

O Brasil por sua vez possui suas raízes e características morfológicas urbanas baseadas na tradição portuguesa, segundo suas heranças colonialistas. Esta tradição portuguesa repete elementos eruditos de base romana e medieval com traçados regulares quatrocentistas e quinhentistas que evidenciam as novas concepções de espaço renascentista que resultam no modelo barroco ressaltado por Munford.

A partir do século XV começam também a construir-se nas ilhas atlânticas, e a partir do século XVI no Brasil, traçados urbanos regulares, evidenciando as influências daqueles modelos planejados.

Mas quando o assunto urbano é Petrópolis, precisamos observar elementos próprios, característicos do arrojado aventureirismo germânico respaldado pela ideologia geopolítica do Império Brasileiro.

Retornando a Taunay, devemos observar que para este, o encontro de dois rios que partem de pontos opostos é a demonstração do “grande esforço da natureza”, e de sua divina habilidade em formar uma maravilha, apesar da sinuosidade deles.

Machado é quem afirma que as trilhas laterais ao Rio Quitandinha, que ele denomina de vias sinuosas, já existiam bem antes da intervenção.

O “alinhamento perfeito entre tais barrancos”, nas palavras de Taunay, e a “conjunção de duas ruas gêmeas separadas por um canal”, pelo que foi idealizado e realizado por Koeler, inspirou contextualmente no próprio Taunay uma grande admiração, principalmente, quando ele afirma que “não é possível que se faça idéia das dificuldades” existentes na época. Referindo-se assim à magnífica obra de engenharia, para a qual, “modelando topograficamente” a região, se deu nova forma (6), como ele próprio afirmaria, “moldar na própria natureza” (7).

(6) Trabalho de engenharia esmerado foi também desenvolvido por Halfeld quando contratado pelo Governo do Império para desenvolver o balizamento do Rio São Francisco. Passamos a observar que o “balizamento” ou alinhamento, como processado por Koeler, torna-se estrutura fundamental para determinadas obras de engenharia no Brasil, como anteriormente nunca se processara.
(7) Apesar de observarmos tal fato como uma qualidade “barroca” como assinala Lewis Mumford, de exploração topográfica dos espaços, comum aos “urbanistas”, não presenciamos em nossas pesquisas, semelhante com o planejamento de cidades, isto é, de aproveitamento de eixos fluviais. Mesmo que observemos que as vilas brasileiras nascessem em sua maioria do processo de interiorização aproveitando as mesmas áreas fluviais. Recife seria a exceção neste processo urbanista.

Tanto os rios como também o vale por onde corriam não se apresentavam naturalmente de forma retilínea, como já anteriormente citado. E, quando se encontravam na bacia, formavam uma vasta área de pântanos, um imenso charco, resultado das constantes cheias que na região se faziam presentes pelo quadro de constantes chuvas nas cabeceiras destes rios, principalmente do Rio Quitandinha (8). Daí a intervenção humana resultante, para recriar esta confluência (9).

(8) Rio “citadino” que possui o maior número de afluentes, segundo estudos originais de Paulo Monte, in Corografia Petropolitana (1925), confirmados posteriormente pelo trabalho arqueológico-urbano de Arthur Leonardo de Sá Earp, publicado na Tribuna de Petrópolis (27-08/10-09-1994).
(9) O Rio Quitandinha recebe o Rio Palatino (Córrego Seco), como era originalmente denominado, e que integra o conjunto fluvial no centro da povoação como seu afluente (Paulo Monte).

Como ele, Taunay, acrescentava, “o grafômetro e nível dos engenheiros, a enxada, pá, alavanca e carrinho de mão dos colonos”, superaram os obstáculos, recortando os pés dos morros, alinharam praças, e com o entulho resultante destes recortes ressecaram o pântano, sedimentaram-no e auxiliaram na construção de paredões paralelos.

Foi construído então outro canal perpendicular aos que se uniam, e que seguia em direção ao “Belvedere”, isto na região que era um morro à época, e onde atualmente encontra-se a igreja matriz, nossa Catedral em seu estilo gótico, segundo seu traçado no projeto original. Acompanhando o novo canal, mais uma via foi aberta nas laterais, a então denominada Rua da Imperatriz.

O novo canal com seus paredões e vias paralelas segue até ao Largo de Dom Affonso (10), buscando geometricamente alcançar a confluência com o Rio Piabanha. O predomínio do alinhamento dos rios e das vias paralelas seguiu assim por boa parte da área nobre do centro da povoação, a aristocrática área que seria reservada por D. Pedro para “doação” ou comércio, pelo “embrião” de “Cia. Imobiliária” de sua família, que seria à época a princípio a própria “mordomia” que foi substituída tão logo pela Fazenda Imperial, procurando reforçar os princípios de “comunicação no interior da cidade” (11) como citado por Peter Burke (Burke, 1995), em seu trabalho que conduziu a constatação da existência de centros de informação e comunicação presentes nas cidades antes do processo de industrialização.

(10) Praça de Rui Barbosa (da Liberdade). O primeiro nome, D. Affonso, foi para homenagear o filho de D. Pedro que tão logo falecera.
(11) Locais particulares eram conhecidos como centros de comunicação, a vizinhança deveria ser considerada como tal. Burke assinala o púlpito da catedral de St. Paul, se tomarmos como paralelo, ainda na planta Petrópolis apresenta a Igreja Matriz vizinha ao Palácio.

Segundo Carlos O. Fróes, a construção da Rua do Imperador, iniciou-se bem antes de 1845, apesar dos transtornos apontados em uma de suas vias na época com a presença de uma pedreira. Esta pedreira, de granito, elevou o cronograma da obra das pistas e do canal em quase dez anos, pois foram necessários explosivos de maior peso, como dinamite, cujo transporte pela serra pode ter sido extremamente difícil e perigoso para a época, mas facilitada pela proximidade com a Imperial Fábrica de Pólvora da Raiz da Serra, que possivelmente tenha trabalhado especificamente para o fato com autorizações do próprio Estado.

Esta pedreira chegava à margem direita do leito original do Rio Palatino, sendo também causadora da mudança no projeto original do Palácio cuja frente estava anteriormente planejada para a Rua do Imperador, seguindo o plano tradicional europeu como afirma Munford.

Uma curiosidade que hoje observamos, talvez por hipótese, tenha também chamado a atenção de Koeler; referimo-nos ao formato e posição dos rios e seu encontro na “confluência” central, seguindo depois em direção ao “Morro do Belvedere” (12). Apresenta este a forma de um “útero”, que insere a idéia de “fertilidade”, o que pode haver contribuído para ser o elemento orgânico, gestacional do polo irradiador da povoação no referido projeto de Koeler. “A natureza romântica era o local do refúgio contemplativo e solitário (…) a nostalgia romântica buscava o invisível onipresente da natureza” (Júlio Ambrósio, p.23).

(12) Chamado posteriormente de Morro de São Pedro por D.Pedro II

A Rua do Imperador, em suas duas vias paralelas, comunicava-se por seis pontes de madeira (13), que segundo Taunay, eram de acabamento simples, porém sólidas, para sustentar grandes veículos como os “trens” da época, como eram também denominados as carruagens, diligências.

(13) Pontes de modelo tradicional que hoje ornamentam algumas passagens de pedestres sobre o Rio Quitandinha no centro da cidade.

Foi a rua criada enfim, para ser o “eixo fundamental” das comunicações na nascente povoação a partir da entrada de Petrópolis na Rua de Dona Tereza (atual Marechal Deodoro), para abrigar um grande movimento de veículos, que se estendia pelas trilhas das terras da extinta Fazenda do Córrego Seco, e com as adquiridas como a Fazenda do Quitandinha, um plano geométrico ao da Vila Imperial, a tão propalada urbanisticamente, proposta “orgânica”(14).

(14) in Alves de Souza.

Taunay afirma que as ruas da cidade eram tão largas, lisas e bem macadamisadas, isto em 1862, que “duvidamos haja no Rio de Janeiro uma sequer que possa sustentar a comparação”, Machado é que o reproduz dizendo, “um tecido de comunicações entre gargantas, correntes, brenhas, pântanos, barrancos e bibocas, é o que mais assombra os visitantes” (Machado, p.144).

É Taunay quem ainda sustenta a importância da Rua do Imperador “…serve de ponto de partida. Ela é a base da área da cidade; nela vêm convergir as outras ruas, em cujo prolongamento se estendem os caminhos que conduzem aos pontos em comunicação com Petrópolis.” (Taunay , p.10)

Cidades, como convencionado por Burke, eram importantes no processo de comunicação, e a Rua do Imperador de Koeler, não escapou ao sistema.

Na Europa cinco cidades com população, de mais ou menos cem mil habitantes, eram centros de tendências, por elas desfilavam o universo comercial e cultural europeu antes de 1800 (Burke, 1995).

Sendo Koeler herdeiro deste universo cultural de informações e desafios culturais, poderia ter como visão esta preponderância para o futuro de Petrópolis, principalmente quando se observava ser esta o centro de comunicação entre o rincão interiorano brasileiro das Minas Gerais, ou mesmo com o interior da província fluminense.

A Rua do Imperador transforma-se assim no epicentro do projeto. Como diria Fróes, a “espinha dorsal” do sonho de Koeler, a base de seu sistema viário.

A “avenida” como se refere Mumford em suas pesquisas (15), “tornava-se o símbolo mais importante e o fato capital no que diz respeito à cidade barroca”, no que Koeler ressaltou como herança de seus estudos.

(15) P. 399, A Cidade na Historia, Lewis Mumford.

O decreto 155, fora criado para “erigir o Palácio” como construção primordial na região, secundando a proposta da povoação, mas quis Koeler inverter o contexto da necessidade política do próprio decreto, colocando a povoação, ou melhor, a Rua, como elemento principal do conjunto de obras ao qual ficava subordinado o Palácio.

Quem sabe, por indicação posterior do próprio Imperador, quando de sua visita em 1845, o Palácio transformar-se-ia em “uma moradia a mais” e sem distinção para o conjunto, daí sua simplicidade se comparado com outros palácios de veraneio ou não muito mais suntuosos.

Podemos confirmar o fato, com o que já foi dito sobre a posição original do Palácio na planta da Rua, voltado para a Rua do Imperador, tradicionalmente um “plano de uma capital real”, segundo Mumford, mas cujo problema com uma pedreira resultou na urgente convocação do Imperador à Petrópolis (1845), para que as obras posicionassem o Palácio com sua frente para a Rua da Imperatriz.

Outra constatação de Taunay era a de que os edifícios da Rua do Imperador possuíam muito mais “serventia comercial”, como “hotéis, oficinas, lojas, armazéns, padarias, tendas de carniceiros (16), cocheiras, etc…”, e não serviam propriamente para moradias (17). A Rua se reservava mais em “áreas para reunião de negócios”, onde carros de passageiros que chegavam da Capital, transitavam com grande constância, “apresentando” a aristocracia nacional dominante, e para quem o centro especialmente fora projetado (18).

(16) Comerciantes de “carne verde”, como era denominada a carne fresca na época. Não devemos nos esquecer que o gado era abatido na época no morro do Belvedere, atual Catedral no centro, segundo Antônio Machado. Isto, antes da matança ser condenada por reclamações públicas e de ser transferida para a Westphalia (in O Mercantil).
(17) Na citada entrevista de Koeler ao Jornal do Comercio do Rio de Janeiro em 1845, ele estabeleceu na condição de arrendatário que “poderia parecer odioso e demasiadamente excepcional a cláusula do contrato que reserva para o arrendatário o monopólio de certos ramos de negócio (…) mas é este o único meio de livrar Petrópolis do flagelo de um sem número de tabernas e botequins, focos de vadiação e de imoralidade”., in Vicente Amorim. Porém podemos observar já a forte presença da influência capitalista ao estabelecer o centro comercial e econômico de decisões da áreas produtoras cafeeiras periféricas, com casas comissárias, entre outros. Fica também evidente, a condição de procurar “livrar” o centro da presença popular (o autor).
(18) Habitações humanas eram um “empecilho”, e o “planejador teria que destruir estes obstáculos sociais” na defesa das classes dirigentes (Mumford, p.420).

Como bem afirmou Sergio Buarque de Holanda (p. 57), ocorreu no Brasil no período colonial, uma forte tendência no processo de dependência a que estavam submetidas as cidades diante dos “domínios agrários”, pois não ocorrera uma burguesia urbana independente (19).

(19) No caso petropolitano, esta burguesia urbana se desenvolve ao final do século XIX, mais precisamente com o fim do regime monárquico.

Os candidatos às funções públicas criadas eram recrutados, segundo Buarque de Holanda, “por força” entre os indivíduos da mesma classe, estrutura característica e predominante durante todo o Império.

Petrópolis não fugiu a este fenômeno, e em sua organização observamos que a dependência dos cafeicultores para a manutenção e status quo da vizinhança do Imperador na cidade era a mesma, e que sustentava a estrutura fiscal da cidade. Até mesmo muitos de seus primeiros juízes e funcionários públicos eram oriundos da área agrária, claro que alguns descendentes que já haviam cursado o bacharelado na Corte.

Novamente observamos a importância do estudo de Burke quanto ao “centro de informação e comunicação”, os hotéis de Petrópolis, neste período em grande quantidade, possuíam salões agradáveis e ambientados à européia como se fossem centros de comunicação, servindo tanto para as já citadas reuniões de negócios dos comerciantes em passagens, neste caso fazendeiros-cafeicultores e representantes de casas comissárias, assim como de política, como convinha aos representantes diplomáticos e da imprensa que neles encontravam-se sediados ou em veraneio acompanhando a Corte.

A foto de Revert Klumb, datada de 1870 e que apresenta um armazém na Rua do Imperador, portanto, próxima à época em que Taunay escreveu sua obra, confirma esta condição, além de reforçar a importância econômica da cidade como centro vital do esplendor cafeeiro. No período que se segue entre 1850/60, o café já ocupava o primeiro lugar nas exportações brasileiras (Celso Furtado, p. 121)

É Celso Furtado quem nos assinala sobre “a importância da região montanhosa próxima a capital do país”, cidades produtoras que possuíam como primeira parada para depósito, comércio e embarque de grãos, assim como a necessária muda de animais, a cidade de Petrópolis.

E nesta “rua” flagrada por Klumb que comerciantes de forma antecipada avaliavam nos armazéns (20) esta preciosa mercadoria e faziam seus lances encomendados por casas comissárias da capital.

(20) Os armazéns até a data da chegada da ferrovia situavam-se na Rua do Imperador, mas com a construção da estação ferroviária outros surgiram nas proximidades da estação chegando a estarem presentes até mesmo na Souza Franco e Porciúncula (levantamento para a História da Industrialização in O Mercantil). Estes mesmos armazéns foram motivo de revoltas como os saques populares de 1918 que levaram preocupação ao governo do Estado (Silveira, 1983).

Ainda Furtado ressalta que o café foi o responsável pela formação de uma nova classe empresarial, “homens da região”, que no caso petropolitano, utilizaram toda a “malha de serviços” da mesma Rua do Imperador e influenciaram decisivamente no modus vivendis da cidade, como ainda podem ser observados na preciosa foto de Klumb, diversos descendentes de alemães ou demais homens livres e ex-escravos, se posicionavam a espera de serviços, como carregadores. Furtado ainda assinala a importância da proximidade do porto e a presença da mula na solução para o transporte (C. Furtado, p. 122/3).

Os apontamentos de Furtado podem ser reforçados pelos estudos de Roberto Lobato (Corrêa, 1994), quando aponta que em diversas regiões do país a tendência se perpetua da cidade se transformar em um local de consumo da renda fundiária rural. E que tal fato se deveria ao “absenteísmo parcial ou completo dos proprietários rurais, especialmente os grandes que passaram a residir muito mais na área urbana de importância”, e que assim uma parcela considerável de tudo que era produzido no campo era transferida para as cidades, em um fenômeno considerado pelo autor como “drenagem da renda fundiária”, que apareceria em bairros ou ruas suntuosas da cidade, lojas de artigos refinados, hotéis, restaurantes, clubes e outros serviços (21).

(21) P. 61

Voltando ele a afirmar que a cidade neste contexto teria parte de sua existência também creditada ao campo que não é assim capitalizado. Para reforçar semelhante, Corrêa assinala a tese da complementaridade econômica, abordada por Marx e Engels.

As suntuosas mansões e palacetes construídos em Petrópolis, tanto na Rua da Imperatriz como nas demais periféricas próximas ao Palácio por fazendeiros, barões e viscondes, comprovam esta teoria.
Ainda podemos utilizar as idéias de Mumford quanto aos seus estudos sobre a “estrutura do poder barroco” presente no projeto de Koeler, no que concerne ao movimento e à avenida:

“o movimento em linha reta ao longo de uma avenida não era meramente uma economia, mas um prazer especial: trazia para dentro da cidade o estimulo e a animação do movimento rápido, que então só o cavaleiro tinha conhecido (…) Acentuando as exigências do tráfego sobre rodas, que se tornaram urgentes no século XVII, não desejo deixar de lado uma necessidade característica que se revelou num período ainda mais remoto: a necessidade de avenidas para a movimentação militar” (p.400).

Não podemos deixa de acrescentar que a presença dos Quartéis Provinciais (22) em plena Rua do Imperador confirmam a citação de Munford, apresentando esta condição essencial de policiamento, quem sabe ao próprio Palácio, pela sua importância política. A Rua apresentava-se com ampla possibilidade de movimentação pelas pontes da mesma Rua do Imperador, um artifício das estratégias militares européias em séculos.

(22) Onde atualmente encontra-se o prédio do Fórum da cidade.

Koeler como estudante de um Liceu e com os antecedentes como oficial prussiano (alferes), possuía em seus traços a herança não somente destas estruturas barrocas, presente no estudo da evolução das cidades européias com heranças medievais, como também da importância do contexto militar para as classes dominantes, principalmente a alemã, já que “os novos urbanistas tinham as necessidades do exército constantemente em vista” (Mumford, p.401).

Este fato podia ser comprovado pela regularidade que uma “avenida” permitia, e onde semelhante pode ser observado com grande verdade. Assim como também a sua “miniatura germânica”, de ser considerada como exercícios de criação e planejamento militares “modelos de brinquedo para o desfile do poder” como diria Munford. (Munford, p.421)

Ao realizar levantamento sobre os rios petropolitanos em 1984, e por solicitação da Secretaria de Obras, o Dr. Guilherme Eppinghaus (23), reforçava as observações de Taunay, afirmando que o centro, isto é, a Rua do Imperador, fora criada para ser essencialmente o eixo comercial da povoação. Constando de um periférico “burguês” que seria a Vila Imperial, e limites extras à Vila Imperial, os chamados Quarteirões, destinados aos “populares”, sendo, neste caso, os colonos e outros nacionais, em uma área denominada por Koeler de “zona colonial”. Como diria o próprio Milton Santos, a “metrópole” (24), seria o centro da povoação, limitando a mobilidade da população, que ao viver na periferia, neste caso nos quarteirões, acusaria baixo nível de demanda consumista, fornecendo somente a prestação de serviços em trabalhos domésticos (25) e artesanais, como de serviços aos hotéis. Constata-se a existência então, de um nível hierárquico do plano urbano, onde o centro torna-se responsável pela demanda da povoação e/ou cidade.

(23) Depoimento para o nosso trabalho da Tribuna de Petrópolis do mesmo ano.(24) in Corrêa, Roberto Lobato, O Espaço Urbano, Série Princípios, 1994, Editora Ática.
(25) Observamos que com o passar das duas primeiras décadas e a “falência” do projeto agrícola, os hotéis compravam mercadorias de outras regiões que não fossem a colônia que mal conseguia suprir a própria demanda de subsistência.

O projeto de Koeler (26), ou “Plano Koeler” como é comumente denominado, não foi uma simples e comum idéia. Segundo Carlos Oliveira Fróes, que reforça o depoimento de Eppinghaus e outros, o Plano foi perfeito, transformando a Rua do Imperador em polo, centro de “germinação” da povoação-cidade, como nunca havia sido projetado na modernidade, pois a rua, pelas condições próprias do vale, por suas três vertentes, comunicava-se diretamente com os quarteirões, e pela Rua da Imperatriz, não somente com quarteirões, mas também diretamente com a futura União e Indústria, ou melhor, o caminho para as Minas, para Goiás e Mato Grosso (27).

(26) “Esse “plano” não consistiu apenas de uma “idéia”. Ele realmente existiu na forma de “um opúsculo”, conforme garantiu Araújo Porto Alegre, em seu artigo publicado na edição de 19.VI.1859 de “O PARAHYBA”, no qual atribuiu, categoricamente, sua autoria a Koeler. Infelizmente tal “opúsculo” foi extraviado!”, citação in Detalhes Interessantes Sobre O Plano de Koeler, Carlos Oliveira Fróes, IHP.
(27) Segundo Klumb, R.H., Doze horas de Diligência à Juiz de Fora.

Podemos observar assim que a “rota do ouro” transformava-se assim na “rota do café”, o “ouro verde”, uma rota de integração econômica e geopolítica da região sudeste na segunda metade do século XIX.

Se pudéssemos comparar, Petrópolis, possivelmente em sua época poderia ser comparada à importância que Brasília estaria para o segundo quarto do século XX, um polo de integração desenvolvimentista da Era Kubistcheck.

Koeler, fizera história com a arquitetura e o urbanismo, notabilizara-se pela presença em outros projetos como o do Palácio Imperial de 1845 a 1864, acompanhado de outros três arquitetos. Além dele, autor do projeto original, colaboraram na construção do mesmo: José Cândido Guillobel, Araújo Porto Alegre e José Maria Jacinto Rabelo. Sendo que estes dois últimos também o haviam sucedido na direção da Colônia.

Koeler também fora autor junto com Charles F. G. Rivière (28) do projeto da Igreja de Nossa Senhora da Glória, Largo do Machado, cuja pedra fundamental foi lançada em 1842. Também se atribui a Koeler haver trabalhado na abertura da Estrada de Praia Grande, hoje Niterói, a Campos dos Goitacases, no Rio de Janeiro, e além da Estrada da Serra da Estrela, realizou um levantamento topográfico do Rio de Janeiro (1834). Participou também do pré-projeto da primeira linha férrea do Brasil, a Rio-Petrópolis, promovida pelo Barão de Mauá (1854) e do projeto da Estrada União e Indústria, com Henrique Guilherme Fernando Halfeld , em uma iniciativa de Mariano Procópio Lage, entre a Raiz da Serra (hoje Inhomirim, Rio de Janeiro) e Juiz de Fora (Minas Gerais, 1851/1861).

(28) O mesmo engenheiro Charles Fellipe Garson Rivière, que em 08/03/1842 substituirá Koeler dispensado que foi da chefia da 2ª Seção de Obras Públicas, in Tribuna de Petrópolis:
16/03/2001, Quatro Etnias na Fundação de Petrópolis: Africanos, Alemães, Franceses e Portugueses, de Paulo Roberto Martins de Oliveira, IHP.

Um detalhe que não nos pode passar despercebido é o da atuação dos primeiros colonos alemães (29), os que haviam trabalhado com Koeler na estrada da Serra da Estrela (30) e que residiam no Itamaraty, nas obras da Rua do Imperador, instruindo os demais colonos recém chegados, tanto obreiros ou artesãos.

(29) in Paulo Roberto Martins de Oliveira
(30) Nome da região homônima de Portugal, onde se localizava seu ponto culminante a Torre com 2.000m de altitude.

Podemos observar também que por hipótese, muitos destes colonos, após a conclusão das obras, tenham se transferido para outras áreas e projetos, como talvez a própria União e Indústria, já que tamanha experiência não poderia ser abandonada, apesar de que outros movimentos coloniais se fizeram para a região de Juiz de Fora, a partir de 1852 (31). Poderíamos assim pressupor sobre a formação de uma hipotética “escola de construção e formação de mão-de-obra especializada” a partir do conjunto de obras da Rua do Imperador.

(31) in Lima Bastos, Wilson, Imigração Alemã, 150 anos da Colonização Alemã em Petrópolis, IHP/UCP, 1985.

Charles Dunlop em seu livro, Petrópolis Antigamente (32), faz referência a uma entrevista que Koeler, como Superintendente da Fazenda Imperial, dá ao Jornal do Comercio (33) da Corte, onde faz uma apologia aos tributos da cidade “que se ergue entre a Serra da Estrela”. Entre estes está a do fato de que os habitantes da Corte poderiam “aliviar-se nos meses de verão”.

(32) 1985, Editora Erca.
(33) 17 de fevereiro de 1845.

A pronta resposta a sua “entrevista” se fará sentir nos anos seguintes, principalmente quando a situação sanitária do Rio se deteriora com a presença das epidemias que encontram lugar propício na Corte, a partir de 1849, principalmente a febre-amarela (34).

(34) in No tempo das certezas, 1890;1914, Ângela Marques da Costa e Lília Moritz Schwarcz, Cia. Das Letras, 2002, São Paulo

Uma entrevista que na atualidade seria observada mais como uma peça publicitária, propaganda imobiliária, de um “condomínio fechado”. Caracteristicamente um comercial para a época. Koeler foi em resumo, um “garoto propaganda” de um “mega projeto” urbano e imobiliário.

Na mesma entrevista, para atrair visitantes, Koeler enaltece as melhorias das vias de acesso e da redução de tempo na viagem, além de obras de calçamento e o aprimoramento dos carros de transporte provendo maior conforto. Um luxo para a época, condizente com o fim aristocrático a que se destinava a criação da nova urb.

Mas, sem sombra de dúvidas, a Rua do Imperador é o maior destaque do projeto urbanístico. Denota-se por semelhante obra, a posição privilegiada e política que Koeler alcançara junto a D. Pedro e a Paulo Barbosa, merecendo atribuições destacadas no empreendimento colonial, tanto de forma política como religiosa. Fatores significativos que o conduziram à opção pela mudança de nacionalidade.

Se considerarmos a presença também já citada de Henrique Guilherme Fernando Halfeld, outro engenheiro alemão do Corpo de Tropas Estrangeiras, como idealizador da Colônia de Juiz de Fora, e por outras obras, pode-se obter uma visão do “desenvolvimentismo” alcançado pelo país a partir de 1835, com a presença destes estrangeiros, que tidos à época como “mercenários” pela imprensa oposicionista, promoveram o desenvolvimento da região sudeste do “Império Brasileiro”, com obras de grande envergadura, que podem ser consideradas, para a época, como suntuosas, mas necessárias para o processo de interiorização e desenvolvimento econômico regional.

Não exaltamos a obra pela condição de genialidade de Koeler, mas sim pelas características fundamentais que esta fornece para que se qualifique como obra de uma “escola”. Se assim, pudermos nos referir, aos engenheiros alemães, que como Koeler, migraram para o Brasil (35). Obras que antecederam as diversas e grandiosas obras públicas que foram realizadas na França do Segundo Império (36), com Napoleão III, que antecederam inclusive à construção do Canal de Suez (37), magnífica obra de engenharia (38) que marcaria internacionalmente a segunda metade do século XIX, ligando o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo (39).

(35) Estas referências não se fazem presentes nem mesmo em Emílio Willems, A Aculturação dos Alemães no Brasil, considerado um clássico sobre o assunto no Brasil.
(36) 1858
(37) 1859/1869
(38) Com a presença de engenheiros militares franceses.
(39) Hobsbawm, Eric J., in A Era do Capital, 1848/1878, Editora Paz e Terra, 1979.

Estas obras, como a do canal, desenvolvidas tanto na Europa como fora dela, a partir de 1848, são consideradas por Hobsbawn (40), como símbolos da era progressista promovida a partir da era revolucionária de 1848, uma extensão, que consolida o capitalismo industrial, já que aumenta o espaço das transações comerciais, e consequentemente dos investimentos necessários para que ela continue a se desenvolver por mercados.

(40) “A Grande Expansão”

Já a obra de Koeler, segundo nossas observações, teria passado despercebida até por um estudioso clássico e meticuloso como Mumford, por considerar de forma genérica todas as construções urbanas americanas como “barrocas” por excelência, em seu quadro, mesmo que ele considerasse que elementos barrocos estivessem presentes na maioria das cidades planejadas até meados do século XX, “A corte barroca teve direta influência sobre a cidade em quase todos os aspectos da vida: é mesmo a mãe de muitas novas instituições que a democracia mais tarde reclamou como suas.” (Munford, p. 409).

Quando nos referimos à obra de uma “escola”, com relação aos projetos dos engenheiros alemães no Brasil, recorremos às constatações de Carl Schorske (41), em sua obra recente onde configura que, no conjunto das idéias do século XVIII, desenvolveu-se a partir da filosofia do Iluminismo, a visão da cidade como “virtude”, já a industrialização no começo do século XIX, apresenta a cidade como concepção de “vício”.

(41) Schorske, Carl E., Pensando com a História, Cia. das Letras, 2000. pg. 54/59

Assinala Schorske, que os “filhos do Iluminismo”, como Voltaire (42), Adam Smith e o alemão Fichte (43) teriam formulado a visão de cidade como uma “virtude civilizada”, em termos adequados às suas respectivas culturas nacionais.

(42) François Marie Arouet de Voltaire (1694-1778)
(43) Johann Cottlieb Fichte (1762-1814)

Para Schorke, o francês Voltaire e o inglês Adam Smith, consideravam a aristocracia o agente crucial do progresso dos costumes, e ainda segundo ele, os intelectuais alemães interessaram-se pouco pela “cidade”, até o começo do século XIX.

As cidades alemãs, no século XVIII, eram fundamentalmente de base medieval em suas origens, ou então eram consideradas como novos centros políticos barrocos a exemplo de Berlim. O barroco na obra de Koeler não passava de traços comuns, presentes em todos os projetos europeus como uma forte herança desta escola sob a qual nasceram inúmeras cidades.

Fichte adotou a noção de cidade dos pensadores ocidentais que se processou a partir das guerras napoleônicas, mas ao contrário de Voltaire, Fichte admitia a cidade como criação pura do “Volk” (44), fortalecendo, assim, a consciência de si mesma da burguesia alemã em sua luta pelo nacionalismo. Para Fichte, a cidade, como comunidade, encarnava a virtude sob forma social.

(44) povo

Júlio Ambrozio em um de seus ensaios ao divagar sobre Koeler, assinalaria “…teria ele lido Fichte…”, “…não é difícil perceber a idéia romântica no urbanismo de Koeler, cidade umbilicalmente ligada à natureza, com um traçado cujas partes eram, a um tempo, meio objeto final, esta orgânica Petrópolis…”.(Júlio Ambrozio, p.23)

Koeler nascera na cidade portuária alemã de Mogúncia, em 1804. Que estava então sob a dominação francesa. Filho de um médico-botânico, portanto pertencente à classe média, e cuja dedicação à natureza talvez o tenha influenciado na opção pela região e registrado o seu particular empenho ecológico.

Estudou no Liceu francês de Mayença, e prestou serviço no exercito prussiano em 1822, chegando a ocupar o posto de alferes. Procurou estudar medicina em Giessen para, quem sabe, dar continuidade aos projetos de seu pai, mas logo abandonou o curso, para migrar para o Brasil. Assim podemos observar como o ideário francês se fez presente em sua vida.

Segundo Nobert Elias (Elias, 1989) (45), a cultura era uma forma de liberdade ou domínio para os membros das “classes médias alemães educadas” para se protegerem das pressões de um Estado que lhes outorgara a posição inferior de “cidadãos de segunda classe”, e que lhes negava o acesso à maioria das posições de liderança no mesmo Estado assim como responsabilidades de poder e demais prestigio inerentes.

(45) P. 123, in Os Alemães.

Para Elias esta era uma Alemanha feudal e semi-autocrática no século XIX, onde as classes médias viviam um enorme dilema, e o que resultava em processos de “sufocação” de qualquer forma de oposição contra a estrutura dominante que era principesca e aristocrática.

Para Koeler e seus conterrâneos e contemporâneos de estudos, esta vibrante discussão teórica e o processo social de que era produto, resultariam na realização dos seus “sonhos urbanos”. Tornando-se possível mais para Koeler, da concretização dos mesmos, com a criação do povoado petropolitano, assim como sua aliança a Paulo Barbosa da Silva, um membro do poder representativo do Estado brasileiro no período. Semelhante processo lhe conferia distinção e relevo tanto político como social, não somente dentro da Europa como fora da mesma, repercutindo em sua pátria.

Devemos considerar que seu projeto, encarnava o elo nacionalista de Fichte, mais precisamente na concepção dos “quarteirões”, a tão divulgada miniatura de sua Renânia, destacada por pesquisadores como José Henrique Rabaço. Fato que ressaltava o espírito nacionalista dos europeus, principalmente os de formação acadêmica, antes dos movimentos nacionalistas propriamente ditos de 1848, pelo fato de estarem ausentes do seio de seu povo, de sua pátria.

Não podemos nos esquecer que o espírito revolucionário francês havia contagiado a intelectualidade alemã do período, sejam filósofos como Kant, Herder, Fichte, Schelling e Hegel, poetas como Schiller, Hoelderlin e Klopstock e músicos como Van Beethoven.

Mas esta onda nacionalista característica do período não se apresentava em Koeler sob a forma doentia (46), xenofobista que vigorou na Alemanha de fim de século XIX e resultou no nazismo do primeiro quarto do século XX. Um processo doentio cujos antecedentes se vislumbram embrionariamente ainda no próprio século XIX, principalmente a partir do momento, que segundo Simon Schwartzman, o “falso nacionalismo”, “varre”, em seus primórdios as concepções darwinistas, resultando na extinção da primeira associação de cientistas de língua germânica, que foi estabelecida em 1822 por iniciativa de Lorenz Oken, a Deutscher Naturforscher Versammlung.

(46) O Progresso e o Progresso da Ciência, Simon Schwartzman, publicado em O Estado de São Paulo, 13 de julho de 1979, página 2.

Esta associação, segundo Schwartzman, identificava o progresso da ciência alemã com o progresso da própria nacionalidade germânica, antecedendo, em algumas décadas, os princípios que conduzem à unificação dos diversos estados germânicos e possuem em Bismark o seu ápice.

O nacionalismo ressaltado em Koeler, se assim o pudermos denominar, “koeleriano”, é por demais “sadio”, construtivo e possui suas origens neste processo de realização da sociedade, do povo alemão, mesmo quando em conseqüência do processo de ocupação de Berlim por Napoleão. Podemos observar também o fato da nacionalização brasileira e o casamento com uma brasileira, de seu desprendimento e a não existência de radicalismos xenófobos.

Seu projeto não poderia deixar de conter esta “alma nacionalista”, já que Koeler estudara e desenvolvera-se culturalmente em um momento onde o alicerce de transformação alemã, tinha por raiz a filosofia liberal dominante no período da avalanche napoleônica. Haja vista, que se desenvolvia em conjunto com a estruturação comercial das citadas regiões germânicas, que caminhavam lentamente para a abolição da política de taxas (zoolvenrein), e o pleno investimento no nascente industrialismo artesão, apesar de “engatinhar”.

Este processo político-econômico influenciava a Kultur de escolas como as de engenharia e arquitetura da área germânica e as identificava na procura por uma unificação e organização nacional, mas cuja população, para a elite aristocrática, por seu componente demográfico, comprometia esta proposta de desenvolvimento, o que segundo alguns estudiosos, resulta portanto na política migratória de toda primeira metade do século XIX, e a busca de novas esperanças de sobrevivência além mares.

É Nobert Elias (Elias, 1989) que afirma que “os homens oriundos da classe média alemã conservaram, seu amor-próprio, sua integridade pessoal e o sentido de seu próprio valor em face de um crescente sistema de crenças nacionalistas”, o que identifica suas realizações no exterior.

Retornando a questão sobre as cidades, observamos que outra proposta que aponta para semelhante teoria, são as afirmações de Hobsbawn, em A Era do Capital, onde afirma que “quem diz cidade de meados do século XIX, diz superpovoada e cortiço” em uma referência ao processo industrial.

A proposta européia era, portanto a de transformação, adaptação, dos espaços urbanos, e não de criação propriamente dita, planejamento de cidades. Abertura de avenidas, construção de edifícios, tudo que pudesse sufocar a ação do operariado e sua presença. Sua referência a “planejadores de cidades”, era a de que os arquitetos europeus procuravam sim, adaptar as estruturas existentes para as nascentes “metrópoles capitalistas”, onde “A cidade era sem dúvida o mais impressionante símbolo exterior do mundo industrial” acrescentaria Hobsbawn, para o fenômeno de urbanização cada vez mais crescente a partir de 1850 na Europa e na América.

Luis Antônio Alves de Souza (47), em suas considerações sobre o Plano Koeler, afirma que ele, Major Koeler, já demonstrava desde 1837 à Corte, portanto, isto desde a época em que reformava ou construía estradas (48), o desejo da construção entre o Rio e Minas uma cidade inteiramente européia, pois já possuía conhecimento e experiência sobre a Mata Atlântica e referia-se à similaridade que a região possuía com áreas européias, principalmente a alemã de suas origens.

(47) Sócio do IHP, in, pg. 21, 150 anos da Colonização Alemã em Petrópolis, IHP/UCP, 1995.
(48) Nos territórios das províncias de Minas, do Rio e de São Paulo.

Para Luis Antônio, o Decreto por si apresenta a fusão dos interesses de Koeler, com os de D. Pedro, que se apresentam na pessoa de Paulo Barbosa, seu representante direto. Porém, Alves de Souza, engana-se ao identificar o projeto de Koeler com o modelo definido por E. Howard, conhecido como o das “cidades-jardins” e idealizado em 1889.

Orgânico? Sim! Koeler, um precursor? Quem sabe? Talvez Howard, por informações posteriores ao projeto Koeler, tenha se baseado no mesmo para desenvolver sua estrutura teórica, já que o projeto de Koeler ganha dimensão “publicitária” em todos os jornais europeus do período das décadas de 50 a 70 do século XIX, ou mesmo pelas impressões transmitidas por viajantes cientistas importantes.

O que podemos observar nitidamente é que, em verdade, o “Plano Koeler” antecede sim, aos modelos de Ebenezer Howard, assim como os de Arturo Señor Soria y Mata (cidade linear, planta em grade – 1892). Enfim, como de todas as concepções urbanísticas desenvolvidas até ao final do século XIX, incluindo a de Belo Horizonte por Aarão Reis.

Alves de Souza teria observado propostas de defesa do ecossistema no projeto de Koeler e associado o mesmo ao modelo das cidades-jardim de Ebenezer? O projeto de Koeler privilegiava a preservação, mesmo que para implantar o epicentro da nova cidade tenha reorganizado topograficamente o espaço fluvial. Koeler implantou um sistema piloto onde as residências encontravam-se voltadas contrariamente para os rios, em oposição ao que se fazia tradicionalmente na Europa, onde os rios transformaram-se em verdadeiros esgotos. E, por outro lado, também conduzia à preservação da mata ciliar dos morros, principalmente de nascentes, tanto que o corte de madeira para carvão era medido com base na necessidade, ocorrendo a perseguição dos carvoeiros alemães que exploravam excessivamente as matas em detrimento do comercio, principalmente para os hotéis (49).

(49) Legislação municipal 1857.

Procuramos assim, estabelecer um pioneirismo na concepção de cidade desenvolvida por Koeler, uma cidade de cunho “orgânico”, como assinalado por Alves de Souza. Talvez quem saiba uma virtude na concepção liberal iluminista. Óbvio que sem esquecer a comunidade ou seus conterrâneos, mesmo sob a forma de uma colônia, além de satisfazer os propósitos burgueses do período.

Porém foi o industrialismo que se comportou como invasor, intruso, apresentando-se inesperadamente no projeto, mediante a edificação das instalações pioneiras da indústria local de tecidos. Koeler não visualizara condições industriais para a nova cidade, elas apresentam-se como um fenômeno capitalista na região, que corroem a estrutura original. Apesar de que, por esta época, as estruturas urbanas do “vicio”, segundo Hobsbawn, já se fazem presentes nas cidades européias, subvertendo tanto o traçado “barroco” como o “palaciano”.

Em Petrópolis surge primeiramente a “Imperial Fábrica de Tecidos da Rhenania” de 1864 e depois a “Imperial Fábrica de Tecidos São Pedro de Alcântara” de 1873 -, construções essas que impediram definitivamente o prosseguimento da duplicação das pistas ao longo do Rio Quitandinha no sentido de suas nascentes, como citado por Fróes (50), prejudicando o projeto de Koeler, mas marcando outra época de grande importância da cidade para a história econômica da região e do país.

(50) in Detalhes interessantes sobre o Plano Koeler.

As mudanças resultantes deste “progressismo” se refletiram ainda mais no centro de Petrópolis, onde o cenário, outrora comercial, modesto, mas essencial para atender a demanda populacional, transforma-se, com o final do século, cedendo lugar aos armazéns e depósitos de mercadorias que se destinavam a Juiz de Fora, principalmente a partir do sucesso da União e Indústria e o advento da ferrovia, no escoamento das produções cafeeiras.

Portanto, todo o progresso europeu enunciado como desenvolvimento, principalmente na concepção de cidades, desembarcou no próprio território europeu, posteriormente à onda revolucionária de 1848, da “Primavera dos Povos”. O que pode determinar teoricamente que tenha ocorrido uma escola alemã de engenharia, urbanismo e arquitetura em pleno Brasil, e não na Austrália ou nos Estados Unidos, celeiro de imigrantes, na primeira metade do século XIX. Isto quase uma década anterior às primeiras cidades européias planejadas dos anos 50 e 60.

Semelhante proposta teórica deve marcar a História do Brasil em duas épocas distintas, com relação ao que de simbólico se apresenta quanto a desenvolvimento estrutural urbano que acompanha nossa economia.

O primeiro momento é o desenvolvimento urbano de Recife com os holandeses, em meados do século XVII, uma verdadeira revolução no hemisfério sul, ou propriamente no mundo colonial europeu. E o segundo, a criação de Petrópolis em meados do século XIX, marcando a evolução do Brasil durante o Segundo Reinado, e a importância da região sudeste no cenário desenvolvimentista e de interiorização econômica do Brasil com a integração das regiões que até então se beneficiaram somente da mineração.

Como podemos confirmar tal plano teórico?

Ainda em Celso Furtado (Furtado, p.82), considerado um clássico para os estudos econômicos brasileiros, pode-se estabelecer a importância da região e de suas origens no caminho das Minas, com o fluxo de habitantes (p.81) da região que passou de “modestos” 300.000 para 3.250.000 habitantes em 1800, o que aponta para a confirmação da importância em que se consistiu a construção e manutenção do “atalho” do Caminho Novo da região das minas.

Acompanhando a analise de (Furtado p.83/85), observamos que a exportação de ouro, chegou ao seu auge em 1760 com um declínio a partir de 1770/80. Porém o estabelecimento de ferreiros e pousos para viajantes e tropeiros abundou na região periférica ao Córrego Seco (51), como conhecido o Alto da Serra , área onde as tropas faziam tradicional parada (52), uma “infraestrutura” se assim podemos considerar para o “complexo sistema de transporte” de Furtado, e que se desenvolveu no Caminho, chegando até a uma manufatura de ferraduras como a da Fazenda do Padre Correas com 500 escravos, que abastecia toda a região das Minas à área portuária.

(51) É Antônio Machado quem assinala a importância do ferreiro da Fazenda do Córrego Seco.
(52) Antônio Machado

Estes antecedentes apontaram para a importância da região como principal via de acesso ao interior da Colônia que D. João, preocupado com o empobrecimento da mesma em seu período, procura observar a importância do Caminho, dando-lhe um calçamento, o primeiro macadamizado de uma longa estrada no país, para que os cientistas europeus convidados e contratados transitassem para alcançar novas riquezas econômicas para o Reino.

Mas só com seu neto é que a importância da criação desta malha viária será definida, tendo como ápice a criação da povoação, pois o café já se afirmara na década de 30 do século XIX, como o mais importante produto de exportação, erguendo-se Petrópolis no centro deste “anel” viário de diversas áreas produtoras, ou, como afirma Furtado, “forma-se um sólido núcleo de estabilidade próximo à capital”, que passara a atuar como elo de resistência econômica, ilha de prosperidade ante a critica situação econômica e política do restante do país.

Podemos reforçar estas teoria não somente com a tese de Furtado, mas também com a análise econômica e conjuntural de Frédéric Mauro sobre o período econômico mas que destaca a importância tanto dos “caminhos” assim como do capital e da mão-de-obra disponíveis (Mauro, 1969):

“Depois de 1820, o Brasil corre o risco, por conseguinte, de viver, como Portugal, uma crise bastante grave e tanto mais grave porque o conjunto da economia mundial passa por uma grande depressão, uma fase b de um movimento de longa duração (Kondratiev). É então que intervém o café. Este foi, para a economia brasileira, o grande salvador. Rapidamente, absorve os capitais e mão de obra disponíveis. Principia pelo vale do Paraíba onde os caminhos tradicionais do Rio ou de Minas permitem um acesso fácil e um escoamento relativamente cômodo da mercadoria. À altura de 1850, quando a fase b de Kondratiev termina para a Europa, o Brasil estará definitivamente salvo.” (p.264/265)

É Paulo Roberto Martins de Oliveira (53), quem enumera uma série de projetos desenvolvidos na primeira metade do século XIX, como consequência do calçamento da Estrada Real, e de que tornasse esses projetos, parte integrante de, quem sabe, um “megaprojeto de desenvolvimento” no período na lógica de compromissos políticos de realização do Estado brasileiro objetivando o desenvolvimento.

São inúmeras as coincidências que podem ser vislumbradas em pouco mais de uma década:
– o fato de D. Pedro haver adquirido a fazenda (1831);
– o de Koeler, em 1832, ter o primeiro contato com a Serra da Estrela para dirigir trabalhos de reparos necessários na Estrada de “Calçada de Pedras” (54);
– o de que, em 1835, a Província do Rio de Janeiro ter sido dividida em quatro seções de obras públicas;
– o de ser Koeler nomeado chefe da 2ª Seção; o fato de ser incumbido de executar o plano e orçamento da construção da ponte sobre o Rio Paraíba (Paraíba do Sul – RJ) e das obras que se faziam necessárias na estrada, desde o Porto da Estrela até o Córrego Seco – trabalho este concluído em 1840;
– o de que, em 1838, conforme determinação do Presidente da Província, Koeler dar início aos estudos de um projeto para a construção de uma nova estrada, que partiria do Porto da Estrela até o Rio Paraibuna;
– o de que em 1843, Rivière, com o projeto de Koeler e acompanhado de 55 operários, dar início à construção da nova Estrada da Estrela, sendo que, nesta época, Koeler já era proprietário da Fazenda do Quitandinha e estava ultimando planos para arrendamento da Fazenda do Córrego Seco, o que conduziu a criação de uma colônia germânica e a construção de um palácio para o Imperador, além de ser o decreto de arrendamento assinado pelo próprio D. Pedro;
– finalizando temos a construção da Estrada União e Indústria e da cidade de Juiz de Fora.

(53) Ibdt
(54) Estrada Real

Enfim uma série sucessiva de acontecimentos que reforçam a tese. Se retornarmos a Taunay (Taunay, p. 7), “Com efeito, Fragoso (Raiz da Serra), tornou a ser mera fazenda, perdendo seu movimento comercial, bem como o Porto da Estrela, de que Petrópolis herdou durante alguns anos para perder também tão transitória importância em prol de Pedro do Rio que a não guardará muito tempo.” Ele ainda ressalta esta importância de forma futurista, isto em 1862, “Que matéria para reflexões político-econômicas se a locomotiva deste tempo!…”

Para finalizar esta análise histórica da importância urbana da Rua do Imperador, constatamos que com o advento da República, os denominados por Vasconcellos “republicanos de última hora”, os coronéis de “punho-de-renda”, procuraram retirar a nomenclatura urbana tradicional, presente na planta de Petrópolis de Koeler em 1846, e substituí-la por outra, como “diríamos”, mais de acordo para com o “civilismo” republicanista de então.

É assim que a Rua do Imperador passou a ser denominada de Avenida XV de Novembro, condizente com o pseudo-ufanismo dos coronéis urbanos. Segundo determinação da Câmara Municipal em cinco de dezembro de 1889, como se assim pudessem apagar vestígios do regime monárquico na cidade.

Ainda quanto a nomenclatura devemos transcrever alguns aspectos que foram abordados por Antônio Machado.

O quarteirão Vila Imperial ocupava a área central das terras imperiais, e abrangia todo o vale da confluência Palatino-Quitandinha. Sua artéria principal mereceu o nome de Rua do Imperador quanto ao largo criado junto da confluência denominou-se Praça do Imperador.

Machado afirma que a Rua teve a principio sua numeração disposta ao contrário do que se encontra atualmente e que esta prevaleceu durante todo o período monárquico. Começava onde hoje situa-se a Rua Washington Luis (início da Rhenania), pois a Rua possuía como eixo a chegada à cidade pela Rua de Dona Teresa, onde atualmente encontra-se a avenida Marechal Deodoro, por onde penetravam as diligências e carroções oriundos da serra, aproveitando-se da presença do então magnífico Hotel Bragança, famoso na Corte.

Com o advento do republicanismo e o patrulhamento ideológico que se processou, trocando em 1989 as denominações das Ruas a partir da do Imperador, ocorrendo a inversão, que passa a favorecer principalmente a Estação da Leopoldina.

O fato é que a chegada da Ferrovia do Grão-Pará, junto às mudanças políticas, transforma radicalmente o eixo da Rua do Imperador (então Avenida XV de Novembro). Acentua Machado, que semelhante se processara também por modismo já que a Estação da Leopoldina tornava-se o principal ponto de chegada da elite “carioca ou fluminense” de então, e o local apresentava-se mais animado para receber com grande constância na “belle-époque” o “trem dos maridos” como assinalava Nair de Teffé em suas caricaturas.

A Praça do Imperador, como ficou denominada desde sua criação, consistia de duas porções fronteiras, centralizadas na confluência dos rios, e separadas pelo Quitandinha. Estas praças jardins foram durante o período monárquico ligadas por um passadiço denominado de “Ponte dos Suspiros”, passadiço dos namorados, tradicional para os moradores e que ligava as duas vias da Rua da Imperatriz a do Imperador (que passou a chamar-se na Era republicana Sete de Setembro).

Machado é quem assinala que a praça, talvez devido a um “secreto” zelo monárquico dos republicanos de “última hora”, fugiu de denominar-se Praça da República. E que por outro lado ela também escapou de ficar denominada por Praça da Imperatriz, como se fizera presente em diversos registros das Obras Públicas da Província. “Seria muita Imperatriz”, referindo-se tanto à Rua que saia da do Imperador, como a que chegava ao Imperador.

O nome das irmãs do Imperador assim como de seus falecidos herdeiros foram dados sequencialmente aos entroncamentos e saídas da Rua do Imperador e da Imperatriz.

A importância da Rua no contexto desenvolvimentista da região interiorana do país, mais precisamente como via de passagem, entra em declínio justamente com o apogeu da industrialização da cidade e com a crescente importância que a comunicação ferroviária passa a fornecer, substituindo a via macadamizada no transporte de mercadorias e a cidade tornam-se mais um entreposto. Não se chegava mais à cidade pela Rua de Dona Teresa e não se estendia em direção às “gerais”.

A importância da Rua-Cidade no contexto desenvolvimentista da região interiorana do país, mais precisamente como eixo de ligação com às Minas Gerais, entra em colapso. Os motivos observados são a ligação ferroviária e a União e Indústria que retiram sua primeira caracterização.

Petrópolis ganha estrutura urbana diferenciada respondendo à chamada da industrialização na cidade que inaugura novos contornos principalmente pela via macadamizada no transporte de mercadorias e a cidade torna-se mais um entreposto (Vasconcelos, 1984).

Não se chegava mais à cidade pela Rua de Dona Teresa; não mais se estendia desta em direção às “gerais”; o veraneio republicano era distinto do imperial, constitui em uma necessidade pela fuga das epidemias; os italianos chegaram em direção às industrias misturando-se aos descendentes de alemães; operários não se satisfaziam mais com os Secos & Molhados dos quarteirões, necessidades maiores os conduziam ao comércio da rua-avenida com suas variedades; lotações e bondes são os últimos elementos a serem adicionados à paisagem urbana já no inicio do século XX promovendo mobilidade a uma cidade que anteriormente fechava-se em seu sítio (Silveira Filho, 2005).

Enfim, a cidade se transforma, ganha contornos diferenciados, nova constituição que atrai inclusive as artes e a cultura com as companhias teatrais do Rio, São Paulo e européias como a Scolnn Caramba. Jogos, vícios. Assim como atraí a especulação imobiliária, com incêndios criminosos em suas velhas casas coloniais dispostas nas proximidades da Estação da Leopoldina que objetivavam a construção de sobrados arquitetonicamente definidos já nas duas primeiras décadas do século.

Com o crescimento populacional, principalmente operário, a “Rua do Imperador”, ou melhor, então Avenida XV de Novembro, a republicana, passa a ganhar importância política no contexto histórico da mesma comunidade, com movimentos, protestos e outros acontecimentos sócio-históricos, que antes pela sua condição comercial e aristocrática seriam impossíveis de serem presenciados pelo fato que só com a industrialização e a presença do operariado, e a rápida integração com os bairros tornou-se possível com a chegada dos bondes.

A rua ganha importância no cenário financeiro do Estado do Rio, com a presença de núcleos bancários que promovem o capital local ao destaque do cenário nacional e internacional. Do Banco Construtor ao rival Banco de Petrópolis, transformado em Banco do Brasil, um eixo econômico para industrial nenhum “botar defeito”. Comportando até mesmo uma revolucionária central telefônica como a dos anos trinta.

Com o desfile de uma elite econômica industrializada que substitui a veranista e outrora a comerciante em sua presença pelos hotéis locais. Mas também registra a chegada do operariado e de sua firme presença consumista pelo comércio local que se amplia, fugindo aos tradicionais e nada competitivos “secos & molhados” dos quarteirões, mas permanecendo contido e limitado a somente uma área do centro da “cidade”, como passa a ser conhecido o centro do município.

A rua também registra suas várias transformações, algumas modificações urbanas celebradas, como a majestosamente conhecida intervenção urbana de Sá Earp no inicio do século XX, e outras amplamente criticadas pelo decorrer do século XX, como a de Castrioto após a Segunda Grande Guerra.

Sá Earp, junto a Antonio Cardoso Fontes e outros (Silveira Filho, 1983), pertenceram ao grupo de médicos formados na transição dos séculos XIX para o XX, que ciente “de seus dotes profissionais, cumpririam o que imaginavam ser uma missão regeneradora nacional” (Mota, 2003) ao exercer cargos, desempenhando tarefas, ocupando posições completamente distintas da medicina, uma “luta patriótica” com a missão também elitista e europeizante tão comum à época de restaurar a sociedade, um hábito “haussmaniano” de higienizar o mundo a partir do ocorrido em Paris, combater as causas da insalubridade mórbida que apresentavam altos níveis de vitimas entre a população. Médicos e higienistas que observavam no sanitarismo a “mão que limparia e civilizaria o país” (Mota, p.16/17).

Como antecedente informativo, possuímos a descrição de uma viagem do engenheiro Pereira Passos com Mauá à Paris onde foram estudar em 1871 a questão do prolongamento da Estrada de Ferro da serra de Petrópolis e tomaram contato com o desenvolvimento do plano urbanístico de Georges-Eugène Haussmann entre 1852 e 1870 o que de certo modo deve ter impressionado a ambos.

Registre-se que em 1883 (Fróes, 2000) passa sobre o viaduto da Grota Funda, pela primeira vez, um trem composto de locomotiva a três vagões, fato histórico assistido pelos engenheiros Cristiano Ottoni e Francisco Pereira Passos.

Já em 1874, Passos empossado como engenheiro nomeado do Ministério do Império passou a acompanhar as obras do governo e integrou a comissão que apresentaria o plano geral de reformulação urbana da capital que somente se processou quando Passos foi nomeado prefeito no Rio de Janeiro na primeira década consoante com as reformas sanitaristas promovidas por Oswaldo Cruz que posteriormente foi alçado ao cargo de primeiro prefeito petropolitano, em uma ação contestada pelos tradicionais políticos petropolitanos, mas referenciada por sanitaristas como Cardoso Fontes e outros. (Silveira Filho, 1983)

A Rua Quinze de Novembro (Imperador) transforma-se junto com suas vertentes periféricas que se apresentavam como quadro de cartão postal que a belle-époque petropolitana poderia oferecer ao mundo, como obra de Sá Earp, uma simbiose de urbanista e sanitarista.

A Rua Quinze de Novembro transforma-se mais radicalmente com o cenário de especulação urbana que se instala a partir das primeiras décadas. São incêndios criminosos que atingem os prédios antigos e são denunciados por Arthur Barbosa pela Tribuna de Petrópolis e logo adquiridos por investidores locais principalmente imigrantes enriquecidos com as diversões da cidade durante o período em que se transformou em sede de capital do Estado.

Derrubada dos antigos e clássicos hotéis presentes na literatura nacional do século XIX, assim como a derrubada de um acanhado monumento arquitetônico que é referência em inúmeras cidades do interior deste país, a estação ferroviária do final do século XIX, mas que para os novos modernistas dos anos 30 era um contraste para uma cidade que alçava ser moderna no cenário do país. Sendo erguido em seu lugar um prédio de arquitetura duvidosa característico da Alemanha nacionalista do período.

Pelos jornais não somente se constatava a presença de uma avalanche de veículos que exigiam uma estrada moderna de acesso à cidade como também o fim dos bondes que para os “chaffeurs” do período incomodavam seu trajeto e cujos trilhos perfuravam seus “pneumáticos”. Foram atendidos em ambas as reclamações pois eram os donos do novo capital, novos moradores do centro. Veranistas que se eternizavam procurando fugir de um Rio sem atrativos.

Porém a rua tomba definitivamente como patrimônio, na transição dos anos 30 para os 40, diante do avassalador movimento pseudo-modernista que acompanha a “Era dos Cassinos” de Joaquim Rola, quando administradores municipais e legisladores influenciados por capitalistas mineiros iniciam um processo de desmonte patrimonial dos sobrados que habitavam a “rua”, confirmado pela contextualizada especulação imobiliária que de há muito deseja mudanças extremas na rua (Silveira Filho, 2005).

Sobem os espigões, privilegiando interesses até então subterrâneos da história local, e modificando a cidade aperfeiçoada ao inicio do século até a década de 20 com construções de relevância arquitetônica em seus projetos.

Nos anos 50, um prefeito desejoso de imprimir sua assinatura na história da cidade implanta a reforma urbana da mesma rua retirando suas árvores e modificando os paredões da mesma, acabando com a famosa “ponte dos suspiros”, para implantar um monumento digno de federalistas norte-americanos e assentados ao centro da rua, descaracterizando por completo o proposto por Koeler, já que outra onda especulativa e mais espigões se segue a esta, com sua aprovação política e presença no poder pelas duas décadas seguintes.

Fato este de contemplação política ancorado em uma proposta de invasões de propriedades pelos quarteirões e loteamentos que segundo os jornais da época “estas medidas visavam atender as necessidades demográficas do povo petropolitano e de sua expansão em busca por moradias”, processo político eleitoreiro e populista que se estendeu por décadas comprometendo o desenho de uma cidade que assustadoramente contém trezentos mil habitantes, muito além dos prováveis cem mil do plano Koeler.

A rua deixou de ser uma simples via, um eixo de comunicação urbana para se transformar no que os habitantes dos “bairros” e quarteirões não cansavam de afirmar, – Vou à cidade. Outros estranham e questionam – Por que cidade se você já se encontra nela? Não compreendem que para o petropolitano da periferia dos anos 30 aos 90 do século XX, a cidade é um universo completamente diferente do qual ele habita e que compreende como civilização. Para estes habitantes encontram-se distantes com seu desenvolvimento, portando escolas, mercados, cinemas, enfim, coisas que a periferia não possui.

Uma rua-avenida ou uma cidade? Petrópolis sempre precisou de uma definição, uma identidade urbana que a caracterizasse no complexo universo citadino nacional.

Um lugar de memórias como afirmaria Pierre Nora, poucas mais ainda relevantes se sobreviverem à sanha dos administradores contemporâneos.

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