NADA CONTRA QUALQUER REGIME, PORÉM…
Túllio Xavier de Brito Baptista Teixeira, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 21 – Patrono Gustavo Ernesto Bauer, falecido
“Brasil, um país de poucos”
Os homens não são iguais. São apenas feitos da mesma maneira. O mundo inteiro está assistindo diariamente e aplaudindo entusiasmado, aos extra-ordinários espetáculos do Gran Circo Brasil, único no seu gênero – meia dúzia de trapezistas e cento e oitenta milhões de palhaços.
Millôr Fernandes
O título desta chronica-artigo, tem a ver com a apresentação que fiz de duas pessoas amigas minhas: Reynaldo Reis e Denize Frossard, dois expoentes em suas atividades, disso estou certo.. Reynaldo, já falecido, foi um dos maiores advogados do Brasil e do mundo. Procurador do antigo Distrito Federal, depois Estado do Rio de Janeiro, foi também presidente do Vasco, o “club” de coração de Pelé, eleito por aclamação, indicado que fora pelo embaixador de Portugal no Brasil. Conheci-o em 1951, no gabinete de Negrão de Lima, primeiro ministro da Justiça de Vargas, no ministério, chamado pelo presidente, de ministério de experiência, onde era consultor jurídico, e eu secretário particular. Começava então uma amizade que duraria até sua morte. Trabalhamos juntos de novo, em 1956, quando Negrão assumiu a prefeitura do Distrito Federal no governo de Juscelino. Ele como chefe de Gabinete, eu, de novo, como secretário. Meu pai nessa época era o Chefe de Policia de JK. Encontrávamo-nos sempre, toda semana, em sua casa, após o jantar, para conversas que iam geralmente até a uma, duas horas da madrugada. Às vezes com a presença do Jorge Serpa Filho, outro genial personagem. Genial e estranho personagem. Serpa nomeava, fazia ministros, no governo J.K., passando por Jango, pelos presidentes militares, Sarney e FH. Cada um de nós tocando suas vidas, até que, na década de 1980, conheci uma grande mulher, logo grande amiga, a juíza – famosa – Denize Frossard, aquela que colocou na cadeia os maiores banqueiros do “jogo do bicho”, os tubarões, os “cappi”, os chefões. Lembro-me que na ocasião, cheguei a dizer, a alertar a Denize que não fizesse aquilo, que estava, que era juíza no Brasil, não na Inglaterra. Sua carreira, mais cedo ou mais tarde seria encerrada muito antes do tempo, seria posta na “geladeira”; não me ouviu, fez, como era sua obrigação o que devia fazer e acabou colocada no limbo e pedindo aposentadoria precocemente, muito jovem ainda. Hoje é deputada federal, onde sofrerá nova decepção, no meio daqueles espertalhões, daqueles “cobras criadas”, naquele balcão do toma-lá-dá-cá que é o nosso congresso, segundo Lula, mais de trezentos picaretas.
Vai que daí, um dia, Reynaldo, sabendo que eu era amigo da famosa juíza, mostrou desejo de conhecê-la. Convidei ambos para um jantar, no “The Fox”, em Ipanema, pertinho da Praça General Ozório. Duas mentes brilhantes, logo a conversa se animou e o assunto acabou em política. Foi quando a Denize, em virtude das críticas que Reynaldo fazia a quase todos os governos do Brasil, perguntou: – “Doutor Reynaldo, então qual o regime ideal para o senhor? -“Filhinha”, o regime ideal é a ditadura”. -“?” – Mas com um ditador honrado, honesto, bondoso, justo, culto, disciplinador, austero, que tenha senso de humor, que mantenha a família longe do governo, e mais, competente e, sobretudo, não admita, não tolere áulicos, sabujos, cortesãos, aduladores, bajuladores, “ratos de palácio”, enfim, em uma palavra – palavra que não gosto de empregar – que não admita corriola”. Vê-se que Reynaldo falava de uma utopia. Nem a “Utopia” de Thomas Morus deu certo. Então só nos resta aturar o que temos mesmo. Onde o ministro Nelson Jobim, Presidente do Supremo Tribunal Federal disse, com a maior naturalidade, candidez, que o julgamento da ação de taxação dos inativos tinha sido um julgamento jurídico-político! Jogaram para o espaço a cláusula pétrea que garantia o direito adquirido de quem pagou durante uma vida inteira, para ter, na velhice, uma aposentadoria, miserável, porém isenta de taxações. Não é à-toa que, no governo Fernando Henrique, o ministro Jobim era “taxado”, pelos petistas, de favorecer o governo do PSDB e PFL; e hoje, que o quadro político se inverteu e o PT é que “está por cima da carne seca”, ele, Jobim seja acoimado de ser um ministro “chapa-branca”. De “chapa-branca” eram chamados alguns deputados da UDN, que no governo de JK, oficialmente seguiam a linha do partido, mas, por baixo do pano facilitavam as coisas pra o governo, a situação..
Num país assim, por pior que ele seja, em que o cidadão não pode confiar nem no Supremo Tribunal, na sua mais alta corte de justiça, a resposta de Reynaldo à minha amiga Denize Frossard deveria ser a de que, no Brasil, nenhuma forma de governo seria ideal, pois que viviamos, já naquela década de 80, e vivemos hoje, no Brasil, uma época sinistra e trágica, em que não pode haver melhor governo. Nem pior. Vivemos desde os tempos de Fernando Henrique, aquele pavão de egocentrismo, uma pantomima. Uma tragi-farsa de terceira classe.
Resposta parecida com a do título desta chronica dei a Aureliano Chaves, grande brasileiro, honrado e probo – ministro de Minas e Energia de Sarney, quando eu era Chefe da Assessoria de Comunicação Social da Presidência de Furnas Centrais Elétricas, e, a pedido de Camilo Pena, presidente da empresa, passei a dar uma assessoria política ao ministro. Ele me fez a pergunta que Denize fizera a Reynaldo: – “O senhor é tão crítico, então que regime político acha o melhor? -“Qualquer um, não tenho nada contra qualquer forma de governo. Comunismo é optimo, mas, tem que ter o Lenin, o Stalin, o Kruchev, não esquecendo os russos; a monarquia parlamentarista funciona perfeitamente, porém necessita de ingleses, de Winston Churchil, de Margareth Thatcher, da rainha Victoria, ou, no caso do Japão, de japoneses, e por aí vai; o presidencialismo? optimo, contudo há que ter americanos, Roosevelt, Washington, Reagan.
Aureliano morreu. O mundo mudou muito de lá para cá. As nações desapareceram. O Capitalismo Internacional chegou ao auge com a globalização. Hoje paises e o mundo são governados por uma Medusa insana, louca, insensível, que só vê dinheiro, produção, crescimento. Ora, o que não cessa de crescer é o câncer. O câncer só pára de crescer com a morte. O mundo está com câncer. E Antonio Ermírio de Moraes – um chato -, acha que o Brasil tem que crescer a taxas de mais de 7 por cento ao ano. Sempre. Não esquecendo de, antes, secar todos os rios, acabar com todos os mananciais de água, derrubar todas as florestas.
OBS – A propósito, Arnaldo Jabor escreveu, terça-feira, 24 de agosto, artigo onde diz exatamente o mesmo que escrevi linhas acima. Às vezes penso comigo mesmo: será que sou uma excepção? Será que estou louco? Se eu estou louco, loucos estão o Jabor, o Gaspari, o Veríssimo, o Ubaldo, o Janio de Freitas, o Affonso Romano de Sant Anna… Loucos não estão os colunistas amestrados (royalties para Helio Fernandes), uma legião deles, principalmente em “O Globo”..