NELSON DE SÁ EARP, MÉDICO, POLÍTICO E ACADÊMICO

José Afonso Barenco de Guedes Vaz – Associado Titular, Cadeira n.º 11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho

Discorrer sobre a vida e obra do médico Nelson de Sá Earp, tarefa das mais complexas ante a tantas e importantes atividades nas quais se fez destacar, inegavelmente na área médica em face da prestimosa dedicação que sempre demonstrou perante o Hospital Santa Tereza e bem assim ao sem número de clientes que fez atender durante o decorrer de sua trajetória.

Nesse nosocômio criou o primeiro Banco de Sangue, foi o primeiro diretor do CTI e, ainda, o primeiro Diretor do Hospital.

Nelson de Sá Earp nasceu a 3 de maio de 1911 tendo falecido a 2 de junho de 1989.

Exemplar chefe de família foi casado com Amélia Maria de Sá Earp que o fez acompanhar por cinquenta e quatro anos resultado de uma feliz união, fossem em momentos de alegrias e tristezas.

Católico fervoroso fez parte da Ordem Terceira de São Francisco.

O ora homenageado e constantemente lembrado foi uma pessoa ímpar, dotada de privilegiada inteligência, de exemplar caráter, resultado da formação recebida certamente dos pais, Arthur e Arabela Silva de Sá Earp.

Por haver abraçado a medicina com todo ardor – protegido pelas Alturas durante o transcorrer de sua vida.

O grande médico legou-nos grandes amizades dentre os filhos, Antônio Carlos, Maria Cecília, Arthur Leonardo e Pedro Paulo, além do neto André Leonardo.

Petrópolis por seus dirigentes e munícipes reverenciam até os dias de hoje o nome do extraordinário médico, cidadão que deixou marcado, de forma indelével, o seu nome em nossa cidade, em face dos relevantes serviços prestados a milhares de petropolitanos aos quais atendeu durante anos seguidos.

Valendo-me da inesquecível figura de Maria Helena de Avellar Palma, que por muitos anos dirigiu a Biblioteca Municipal, filha querida do casal Anthero Palma, irmã do jornalista Décio de Avelar Palma que, como o pai, destacou-se escrevendo em jornais da terra (Revista da APL-nº 17-outubro/1995), num momento de extrema felicidade fez transcrever a poesia escrita pelo médico Sá Earp intitulada “Nossos Sete Filhos e o nosso Cantinho”, que me permito reproduzir ante a profunda beleza que encerra:

Deus no eterno desígnio Criador/ Uniu as nossas almas num só ser/ Notável, vimos a nos conhecer/ Que éramos dois, mas num só amor.
Foi uma coisa muito milagrosa…/ Aconteceu… e foi muito espantosa:/ De dois corações, de quatro escaninhos/ Floresceu um só, com oito cantinhos.
Em cada cantinho um só nasceu:/ Ney no primeiro, Arthur que louvor!/ Cecília, Angélica, Deus não esqueceu,/ Antônio e Pedro: Seis! Deus Criador!/ No sétimo Gabriela, Deus nos deu, /No último… o nosso elo de amor”.

Pondero, por outro lado, que deva merecer destaque o texto que fez publicar na Revista no Instituto Histórico de Petrópolis, volume do cinquentenário – 1938/1988, sob o título “Um fragmento da História da Medicina em Petrópolis, texto esse em que o médico faz discorrer sobre a assistência hospitalar – Hospital Santa Tereza – e o Dr. Hermogênio Silva, além do papel desempenhado à época pela municipalidade.

Esclareça-se que o Dr. Hermogênio Pereira da Silva exercia o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis e o fechamento do Hospital era iminente, sendo que a propriedade do mesmo, do governo do Estado do Rio de Janeiro.

As lutas e os desafios enfrentados por parte do Dr. Nelson, enormes, valendo, outrossim, recordar o nome da Madre Eustáchia Boenke, igualmente responsável pela administração do Hospital, mediante contrato mantido com o Governo do Estado. (Pág. 80-obra citada).

Ao finalizar o seu relato, o médico Sá Earp faz demonstrar como todas as dificuldades foram superadas e devidamente equacionadas:

Com o que fica aqui relatado, torna-se patente o valor da iniciativa privada na promoção do bem comum,  benemerência de instituições como a Congregação de Santa Catarina e de suas irmãs e de homens públicos, a se destacarem Hermogênio Pereira da Silva, Nilo Peçanha, Sá Earp (pai) e religiosas católicas, a Irmã Eustachia Boenke e cidadãos como o desembargador Bandeira de Mello.

E conclui: “Saibamos cultuar o passado, homenageando pessoas tão beneméritas”.

Assim é que perseverança, responsabilidade, conhecimento e empreendedorismo aliados à fé católica, lograram que suas iniciativas fossem vitoriosas e meritórias.

Não é pois por acaso que esteja eu agora a escrever estas linhas, ainda que com absoluta singeleza, mas de reconhecimento ao médico vez que nasci, justamente, pelas mãos do brilhante obstetra.

Já rapaz, lembro-me muito bem do seu consultório situado à Rua Marechal Deodoro onde atendia seus clientes com amabilidade e sapiência.

O médico, em razão do conceito e da prática de atos de caráter elogiáveis sempre levados a cabo, acabou por ingressar na política e relembrando a nova missão que abraçara, com total despreendimento de ordem financeira mas fixando seus propósitos exclusivamente no servir à comunidade, meu pai fez-lhe dirigir um discurso incentivador, uma vez que o poeta tocado por extrema sensibilidade e amizade próxima ao médico, assim concluiu suas palavras: “Avante, pois, companheiros, para as urnas, com o nome de Sá Earp, uma bandeira de honra, civismo, dignidade, pela grandeza e bom nome desta terra” (Vida e Obra do Poeta Osmar de Guedes Vaz – 2013 – Pág. 52).

Não podemos deixar de enfatizar, entretanto, quanto à intelectualidade e inspiração do caríssimo médico as quais conduziram-no a condição de integrante das Academias Petropolitanas de Letras, ocupante da cadeira número 14, de Educação, sem falar na participação como membro do Instituto Histórico de Petrópolis, da Sociedade Literária de Médicos de Petrópolis e da Academia Petropolitana de Poesia Raul de Leoni, atual Academia Brasileira de Poesia – Casa Raul de Leoni.

Termino estas palavras com o poema “Perfilando”, de lavra do poeta Guedes Vaz, homenagem ao médico no momento em que Sá Earp acabara por se eleger à Câmara Municipal de Petrópolis:

Cirurgião de peso e qualidade,/ o escalpelo com perfeição maneja;/ católico sincero, de verdade,/ toda a benção do céu sempre o bafeja./
E com esses triunfos, que não se lhe há de/ negar-rosário e bisturi- almeja/
votação, para edil, em quantidade./ E em massa, a tem, após, como deseja.
E na suprema direção da Casa,/ a que chegou por unanimidade,/ trabalha, se desdobra, enfim peleja.
Não perdendo sequer uma só vasa,/ em que possa ser útil à Cidade,/ também servindo à Santa Madre Igreja.