Elizabeth Maria da Silva Maller, Associada Titular, Cadeira nº 31 –
Em 2010, iniciei meus trabalhos de catalogação e preservação do Arquivo Histórico da Catedral de São Pedro de Alcântara, encontrando uma vasta documentação, composta de livros, passaportes, correspondências e registros diversos, em bom estado de conservação que me permitiu realizar esta pesquisa.
A vida privada do Dr. Constantino Napoleão Thouzet é pouco conhecida pela historiografia. Os aspectos abordados da vida do Médico Francês estão baseados na sua contribuição no exercício da medicina e da licenciatura, bem como em sua habilidade no cultivo de plantas raras.
Muitos petropolitanos estão acostumados a lembrar do Dr. Thouzet apenas como nome de um bairro da cidade, merecida homenagem, em placas indicativas e letreiros de coletivos, por vezes tropeçando na pronúncia de seu nome.
Este artigo tem como objetivo não somente reverenciar a memória daquele que, embora não possuísse nenhum titulo de nobreza, foi nobre em suas ações.
Um registro encontrado no livro de número um, do Arquivo Histórico da Catedral São Pedro de Alcântara, onde se encontram registrados, batizados, óbitos e casamentos de pessoas livres e escravos, me permitiu descobrir um fato novo a respeito da vida privada no Dr. Thouzet; trata-se da anotação de seu segundo casamento, celebrado na antiga Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara.
Foto do registro/acervo Arquivo Histórico Catedral São Pedro de Alcântara
A Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara erguida por iniciativa de D. Pedro II, construída pelo Empreiteiro de obras Justino de Faria Peixoto, entre 1847 e 1848, funcionando por 77 anos, estava localizada nos arredores da residência de verão da Família Imperial, nas proximidades da atual Rua Oscar Weinschenck. Na reprodução da foto 2 podemos localizar a Igreja Matriz, retratada por Friedrich Hagedorn na Têmpera intitulada Palácio Imperial de Petrópolis.
Friedrich Hagedorn / Palácio Imperial de Petrópolis, 1855 ca. Tempera, 0,55X1,43 m. /Acervo Museu Imperial/Ibram/MinC
Friedrich Hagedorn (Alemanha, 1814 – 1889) foi um pintor alemão que esteve ativo no Brasil no século XIX. Fixou-se no Rio de Janeiro em 1850, integrando um grupo de artistas alemães que vieram documentar a paisagem e os costumes nacionais, viajando por São Paulo, Rio, Bahia, Minas Gerais e Pernambuco.
A cerimônia foi realizada pelo Padre Nicolau Germaine, coadjutor, Vigário da Freguesia de Petrópolis, na data de 29 de maio de 1854, às cinco horas da tarde, depois de feitas as três denunciações na forma do Sagrado Concílio Tridentino.
O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecumênico. É considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica, no contexto da Reforma da Igreja Católica e a reação à divisão então vivida na Europa devido à Reforma Protestante, razão pela qual é denominado também de Concílio da Contra-Reforma. O Concílio foi realizado na cidade de Trento, na Província autônoma de Trento, na área do Tirol italiano.
O Dr. Thouzet, na época, com 47 anos de idade, viúvo, casou-se com Eulalia Mathilde Pigèls, com 18 anos, nascida em Buenos Aires, de filiação francesa, moradora em Petrópolis. Foram testemunhas do ato religioso, J. M. do Amaral Vergueiro, Henrique Hottmith, V. Sigaux e J. Boquet. Vale lembrar, que o casamento civil só foi instituído no Brasil em 24 de janeiro de 1890, por Rui Barbosa através do Decreto 181.
A preservação dos Arquivos Históricos é de suma importância para os apaixonados pela pesquisa na busca do preenchimento das lacunas de nosso passado histórico.