O PALÁCIO DE CRISTAL NÃO FOI PRESENTE DE CASAMENTO ….
Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira nº 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe
O Palácio de Cristal não foi presente de casamento do Conde d’Eu à Princesa D. Isabel. Se tivesse sido, ele seria um bem particular e, dessa maneira, só poderia ter passado ao poder público por meio de doação ou de venda, tal como ocorreu com o Palácio de Petrópolis, hoje Museu Imperial. Vamos aos fatos.
A Primeira Exposição Hortícola e Agrícola de Petrópolis, realizada no Passeio Público, em 02.02.1875, foi uma iniciativa da Princesa D. Isabel. Com o êxito do evento, foi criada a Caixa Hortícola de Petrópolis, cujo conselho diretor era presidido pelo Conde d’Eu. Sendo assim, foram realizadas mais duas exposições, inauguradas em 20.01.1876 e 18.04.1877.
Mais tarde, a Caixa Hortícola transformou-se na Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis, que tinha como presidente o Conde d’Eu e como vice-presidente o Barão do Catete. A Associação decidiu construir um edifício especialmente para abrigar as exposições e obteve autorização para instalá-lo no Passeio Público, fato que, na época, gerou grande polêmica. Em 1878, o antigo pavilhão que abrigou as três primeiras exposições foi demolido e, em 02.02.1879, foi realizada a solenidade da colocação da pedra fundamental do novo edifício. Em prol da Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis, a Princesa D. Isabel e o Conde d’Eu patrocinaram um concerto público em 1882.
Assim, o Palácio de Cristal foi inaugurado em 20.04.1884, com a abertura da 4ª Exposição Hortícola e Agrícola de Petrópolis, ornamentada pelo botânico Auguste François Marie Glaziou. O edifício foi construído nas oficinas da Sociedade Anônima de Saint-Sauveur-lès-Arras, na França, por encomenda da Associação Hortícola de Petrópolis, e montado em Petrópolis pelo engenheiro Eduardo Bonjean. Foi inspirado no Palácio de Cristal projetado pelo arquiteto Joseph Paxton para a Exposição Industrial de Londres em 1851.
A Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis era, sem dúvida, a proprietária do Palácio de Cristal, mas, como fora construído em logradouro público, era necessário que as relações jurídicas entre a Municipalidade e a Associação estivessem estabelecidas no caso da dissolução desta última. O vereador Domingos Manuel Dias, presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, preocupado com essa possibilidade em virtude do fim da Monarquia, em 1889, escreveu ao barão do Catete, presidente em exercício da Associação, solicitando uma reunião para tratarem do assunto.
A extinção da Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis ocorreu em 18.12. 1890 e, segundo Ruth Judice, o Palácio de Cristal foi vendido em leilão, sendo arrematado por Manuel Buarque de Macedo que o arrendou a diversos concessionários.
Fontes: Atas da CMP e correspondência da família imperial.
JUDICE, Ruth. 100 anos do Palácio de Cristal – Petrópolis. IHP, 1984.